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A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO CONTEXTO ESCOLAR I

(fundamentos à prática)

2ª aula

Profª Rachel Leão

PSICOPEDAGOGIA ATUANDO NO ÂMBITO DA INSTITUIÇÃO

• Caracterizar a Psicopedagogia na instituição requer acompreensão das inter-relações das diferentesunidades de análise da Psicopedagogia, indivíduo,grupo, instituição e comunidade.

• Atenção! Psicopedagogia Institucional ePsicopedagogia Clínica estão inseridas em uma mesmadisciplina que atua em diferentes âmbitos. Nãopodemos caracterizar práticas diferenciadas em cadauma delas.

COMO A PSICOPEDAGOGIA CHEGOU ATÉ A INSTITUIÇÃO?

• Estudos voltados cada vez mais para uma ação preventiva.• Compreensão de que muitas dificuldades apresentadas

pelos sujeitos em suas aprendizagens voltam-se para asrelações institucionais.

• Identificação do deslocamento do sintoma (a dificuldade) enão sua eliminação. Sujeito adaptado!

• Transformação das práticas: funcionamento daaprendizagem e não seus obstáculos.

• Passagem de uma visão reducionista e mecanicista parauma visão de circularidade e totalidade.

• Indivíduo: deve-se empenhar um trabalho, segundo Visca (1997),que mostre a evolução da atenção ao indivíduo com dificuldade deaprendizagem até o atendimento no nível preventivo.

• Grupo: constitui um nível de integração superior ao indivíduo, é umsistema ativo, no qual é possível reconhecer processos que sãoestratégias e mecanismo intrapsíquicos (do próprio sujeito) comotambém aprendizagens intragrupais, configurando-se no alcance detodos os graus de estabilidade.

• Instituição: é concebida como um conjunto de normas, costumes,usos, etc. que permanecem por um tempo em funcionamento eservem como referencial para a conduta grupal.

• Comunidade: o entorno e suas influências.

Colocando o foco na instituição educacional, oumelhor, na prática da Psicopedagogia no âmbitoda instituição educacional, a rede de relaçõesque permeia a ação do psicopedagogo exige,desse profissional, um estudo aprofundado detodos os aspectos que se constituem comofundamentais para essa ação.

ASPECTOS A CONSIDERAR• A instituição educacional cumpre uma importante função

social, socializando conhecimentos disponíveis,promovendo o desenvolvimento cognitivo e a construçãode regras de conduta, dentro de um projeto social maisamplo.

• O espaço escolar sistematizado vem ao longo de suahistória priorizando a dimensão cognitiva em detrimentode um lugar para a instância afetiva, no que diz respeitoao processo de aprendizagem.

• O fenômeno da aprendizagem continua a serpercebido como um processo racional, no qualo educador manipula o cognitivo, repetindoinformações que devem ser acumuladas ememorizadas.

A ESCOLA ENQUANTO INSTITUIÇÃO• Escola: âmbito de referência da apdz.• Maior demanda: inabilidade da escola em lidar

com os sujeitos que “supostamente” nãoaprendem.

• Caráter das demandas: “clínicas” e institucionais,externas aos próprios sujeitos.

• Superação da relação da causa e efeito defenômenos institucionais que sustentam oprocesso de aprendizagem.

• Segundo Gaspariam (1997, p.56) [...] pensar aescola à luz da Psicopedagogia significaanalisar um processo que inclui questõesmetodológicas relacionais e socioculturais,englobando o ponto de vista de quem ensinae de quem aprende, abrangendo aparticipação da família e da sociedade.

A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO ÂMBITO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

• Caracteriza-se o sujeito da aprendizagem como aprópria instituição escolar, com sua complexarede de relações, sendo ela uma instituição queaprende a partir das transformações de seusgrupos, seja na dimensão horizontal (o grupocomo organismo), seja na dimensão vertical (cadamembro do grupo).

• Para Jorge Visca (1988, p.178) a escola é [...]aquela que se opera no interior da instituiçãoeducativa, mediadora da sociedade, órgãoespecializado em transmitir os conhecimentos,atitudes e destrezas que a sociedade estimanecessárias para a sobrevivência, capazes demanter uma relação equilibrada entre aidentidade e a mudança. Estas instituições, alémdisso, provêm ao sujeito as aprendizagensinstrumentais que irão permitir o acesso a níveismais elevados de pensamento.

TAREFAS DO PSICOPEDAGOGO• Analisar a adequação da estrutura e funcionamento

instituição.• Refletir sobre o currículo.• Pensar sobre as estratégias de ensino.• Desfocar o olhar do aluno, identificado por sua

dificuldade.• Focar nos fatores intraescolares e intrainstitucionais,

de ordem social, econômica e política.• Entender sobre as relações humanas (papéis

desempenhados, normas, valores e regras).

VISÃO DA ESCOLA• Estrela (1994, p.44) se referiu a escola como

sistema social, como instituição e comoorganização:

• Como sistema: a ênfase é posta na interação daspartes.

• Como instituição: a ênfase é posta nos valoresque recebe e transmite, nas convenções esituações estabelecidas

• Como organização: nas estruturas formais einformais.

OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR

• Cultura organizacional: normas e valores dosistema formal e sua reinterpretação pelosistema informal (KATZ; KAHN apud ESTRELA,1994, p.44).

• Estrela (op.cit., p. 45) também nos auxiliaestabelecendo uma pirâmide quadrangular,sistematizando a escola enquanto instituição:

A base representa a estrutura material e humana, formadapor quatro componentes:1. Humana: grupos sociopedagógicos existentes na escola,

as configurações grupais que se estabelecem por funções,por aproximação afetiva, por tarefa, etc.

2. Programática-normativa: pontos de referência comunsaos diversos grupos, demarcam a convivência grupal,delimitam cargos, funções, direitos e deveres, é a base emque se assenta a escola.

3. Financeira-administrativa: fontes de financiamento eformas de gestão determinam as relações de poder.

4. Física: espaços físicos e equipamentos que limitam oufacilitam certos tipos de relação.

A dinâmica seria formada pelas quatro faces dapirâmide:• A hierarquia, estabelecendo relações de poder,

normatividade e autoridade.• Funções e papéis de vários grupos: funções e

papéis desempenhados e esperados, formais einformais.

• Comunicação formal e informal, com as suasredes e normas formais e informais.

• Currículo real, diferente do currículo proposto, nasua dimensão expressa e escondida.

• O clima é o topo da pirâmide proposta porEstrela (1994) composto de normas, expectativase crenças compartilhado pelos participantesdesse sistema. O clima coloca a instituição escolarno status de organização.

• Pode-se dizer que escolas eficazes combinam:preocupação com o rendimento do aluno +processos mais adequados de ensino + bomambiente relacional, fortalecido por um conjuntode regras coerentes e consistentes.

OS ELEMENTOS DO SISTEMA ESCOLAR

Ela os caracteriza em três grandes áreas:

• Programação• Recursos materiais• Pessoal escolar

• Programação: consiste na previsão dasatividades a serem realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que osobjetivos possam ser alcançados. As diretrizesda programação estão contidas na legislaçãogeral escolar e no regimento da escola:mecanismo administrativo, plano didático,plano de trabalho.

• Recursos materiais: expressão física daprogramação, compreende prédio escolar,instalação, mobiliário, equipamento didático,material permanente e de consumo, verbas.Eles são dispostos na escola em função daprogramação.

• Pessoal escolar: o contingente humano quepertence à instituição educacional pode serclassificado como:

• Pessoal administrativo

• Pessoal técnico

• Corpo docente

• Pessoal auxiliar

• Corpo discente

A ESCOLA E SEUS SUBSISTEMASA instituição escolar, ao mesmo tempo em que fazparte de um macrosistema, tendo seu papel desubsistema, possui no seu interior umasuborganização que são seus subsistemas, alunos,professores, corpo técnico. Dependendo da formacomo os subsistemas da escola interagem entre si,a escola possuirá uma organização e uma estruturaespecíficas.

É papel do Psicopedagogo perceber as possibilidades de troca entre ossubsistemas.

A VISÃO SISTÊMICA E A PSICOPEDAGOGIA

A TEORIA GERAL DOS SITEMAS• Não é apenas uma invenção básica da tecnologia

computacional para fazer coisas maiores e melhores.

• É uma transformação nas características básicas depensamento (GASPARIAN, 1997, p.19).

• O pensamento mecanicista e reducionista (visãounidirecional) dá lugar a um pensamento científico.

• O esquema causa-efeito, isolando fatos ecomportamento, tornou-se insuficiente,principalmente, para as ciências biossociais.

• O homem vê a necessidade de lidar com questõesmais complexas que envolvem a percepção detotalidades.

• A teoria que transforma o pensamento das partespara o todo foi introduzida pelo biólogo LudwingBertalanffy, na década de 1920.

CONCEITOS E PROPRIEDADES DO PENSAMENTO SISTÊMICO

UNIDADES DE ANÁLISE

• As unidades de análise se articulam eaprendem mutuamente.

• Cada unidade de análise é a representação doorganismo vivo que aprende, sendo que umainfluencia a outra e cada uma possuielementos constitutivos que se movimentamem interação constante em seu interior.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE CADA UNIDADE DE ANÁLISE

• Sujeito: estrutura afetiva e cognitiva, caracterizando umaaprendizagem intrapsíquica.

• Grupo: conjunto de indivíduos e as estratégias e mecanismosinterpsíquicos, caracterizando a aprendizagem intragrupal.

• Instituição: conjunto de grupos e estratégias e mecanismosintergrupais, que caracterizam a aprendizagem institucional.

• Comunidade: conjunto de instituições e os mecanismos eestratégias comunitárias, concebendo a aprendizagemcomunitária.

A partir daí...

• Sistema é o conjunto de elementos materiaisou não que dependem reciprocamente unsdos outros, de maneira a formar um todoorganizado (GASPARIAM, 1997, p. 27).

• Podemos dizer que um sistema aberto possuialgumas propriedades fundamentais para acompreensão da organização efuncionamento das instituições, dentre elas aescola.

• Essas propriedades podem ser definidas comoas que seguem:

A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

• Transita tanto na instância do aprender como doensinar.

• Ação interventiva: assumir um compromisso éticocom a educação.

• Crescimento de uma ação interventiva preventivaem detrimento do foco individual.

• Coerência entre a posição teórica e aestruturação de sua prática.

• Identificar no funcionamento institucional asconfigurações relacionais que podem estarobstaculizando o fluxo entre o ensinar e oaprender.

• Obstáculos: integração de diferentes forças.

• Ação interventiva segue o foco de reflexãosobre o espaço das relações entre quemensina e quem aprende, das famílias com aescola e da comunidade como um todo.

TENDÊNCIAS NA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

CONCLUSÕES POR HORA...• Ultrapassamos a ideia da “reprodução” do sistema capitalista no

sistema escolar.• É importante ao psicopedagogo pensar nas demandas atuais da

escola em coerência com a sua ação.• As necessidades da escola não são algo estático e pré-fixado, mas

dinâmico e mutável, que se configuram de diversas maneiras emmomentos distintos e, de certa forma, obedecem as expectativasque a sociedade projeta sobre ela.

• Ao psicopedagogo cabe estar atento às diferentes formas defuncionamento explícito e implícito e como a instituição respondeaos desafios que lhe são impostos no cumprimento de sua funçãode ensinar, envolvendo sua estrutura física, administrativa ehumana.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO CONTEXTO ESCOLAR II

(aportes teóricos)

A APRENDIZAGEM HUMANA• Ao nascer, o bebê humano é recebido num mundo de

cultura e linguagem que o antecede e ao qual necessitater acesso.

• Porém, falta-lhe os equipamentos necessários para tal.Sua prematuração ímpar cria a necessidade inexorávelda presença do outro para garantir sua possibilidade deexistência.

• E é nesse espaço que se situa a aprendizagem humanaque estará marcada de forma indelével pela história deseus relacionamentos.

• O “instinto” não ensina o que é ser homem oumulher, falar esta ou aquela língua, construirabrigos e vestimentas, se alimentar, produzir,apreciar, divertir-se... desta ou de outra maneira.

• A aprendizagem tem papel fundamental naconstituição do sujeito humano. Ela se dá semprepela intermediação de um outro – primeiro damãe, lugar de excelência, depois pelos demaisrepresentantes da cultura.

• “Ao nascer a criança é dotada de alguns reflexos ede um psiquismo absolutamente primitivodecorrente diretamente dos aspectos orgânicos.Será precisamente o contato com quem faz afunção materna que promoverá a organizaçãodaquele caos em que se constitui o psiquismo dacriança e a progressiva diferenciação econstrução do mundo interno”.

A APRENDIZAGEM

• Longe de possuir uma definição exata, aaprendizagem é um fenômeno complexo quepermite interpretações de diferentes enfoquesteóricos, cada qual evidenciando aspectos que ainfluenciam ou a determinam. Desse modo, podeser abordada do ponto de vista biológico,psicológico, cognitivo e sociocultural, fato quemuitas vezes gera concepções discordantes entresi.

TEORIAS• A primeira afirma que ela está associada a um processo de

memorização e entende que o ato de aprender se reduz auma operação intelectual de acumular informações. Oambiente externo, formado por objetos e pessoas com osquais o indivíduo se relaciona teria, segundo essa vertente, acapacidade de determinar toda a formação do indivíduo, queé entendido como aquele que é “moldado” pelo meio. Essaconcepção de aprendizagem, por supervalorizar a importânciado meio para a formação do indivíduo, acaba por relegar aosegundo plano a importância dos processos psicológicos e dascaracterísticas individuais.

TEORIAS• A segunda corrente teórica coexistiu no

mesmo momento histórico que a primeira ese caracterizou pela evidência dada aosfatores internos do indivíduo no processo daaprendizagem, tais como sua hereditariedadee sua maturação neurológica.

Estudos posteriores, orientados pelas contribuições dasdiversas áreas do conhecimento como a psicologiacognitiva e sócio histórica, a psiconeurologia, aantropologia e a linguística ajudaram na formação deuma nova concepção de aprendizagem, que a entendecomo um fenômeno multideterminado. De acordo comesses estudos, os fatores internos do indivíduo e externosa ele (meio) se inter--relacionam continuamente,formando uma complexa combinação de influências.

Assim, para compreendermos o processo deaprendizagem, devemos considerar que eleresulta da relação entre as condições externasao indivíduo – seu contexto familiar, social,cultural e educativo – e de suas condiçõesinternas – suas características individuais,orgânicas e psicológicas.

• A aprendizagem abrange os hábitos queformamos ao longo de nossas vidas, aspectos davida afetiva, os conceitos científicos e os valoresculturais que assimilamos. Resulta, portanto, deuma interação entre as condições singulares,internas de um indivíduo e os recursosdesafiadores do meio sociocultural no qual estáinserido. Nesse diálogo constante, ambos setransformam: indivíduo e meio.

A APRENDIZAGEM ESCOLAR

A sala de aula é um universo constituído por “sujeitos”, cada qual com sua história.

A criança, diante das primeiras experiências deaprendizagem escolar, revive, repete e expressasua maneira pessoal, particular de lidar com arealidade . Esta maneira representa umareedição da história de suas relações passadas.

A APRENDIZAGEMEnvolve:

• O corpo individual herdado;

• O corpo construído especularmente;

• O desejo;

• A inteligência construída na interação com omeio.

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS A APRENDIZAGEM

• A dimensão biológica corresponde aos fatoresneurofisiológicos do indivíduo. Pertence a essadimensão o ciclo de desenvolvimento do sistemanervoso central, conhecido por maturação, problemasrelacionados à dinâmica das funções cerebrais, seja porlesões mínimas no cérebro ou por outros fatores quepossam interferir nas funções elementares daaprendizagem, tais como percepção, atenção, memóriae concentração, entre outras.

• A dimensão sociocultural da aprendizagem corresponde àscircunstâncias sociais, econômicas e culturais as quais o indivíduoestá submetido e que podem limitar ou reduzir seu potencial deaprendizagem. Entre esses fatores, encontram-se incluídos adesnutrição, pobreza e desorganização familiar, fraca interaçãoentre adultos e crianças, quer no plano lúdico, quer no planolinguístico. Cabe considerar também os sinais de risco, próprios dealgumas instituições educacionais que acabam por causar algunsentraves ao longo da aprendizagem em vez de facilitá-la. Entretais entraves, pode-se citar a rigidez e o despreparo de algumasescolas para lidar com a diversidade cultural de seus alunos,evidenciada por atitudes pessimistas ou negativas de educadores,por problemas de organização curricular etc.

• A dimensão psicoafetiva corresponde aos fatorespsicológicos sobre os quais não é possível falar semlevar em consideração as disposições biológicas esocioculturais do indivíduo. Essa dimensão refere-se àmaneira de encarar os desafios do meio e àdisponibilidade afetiva para aprender.

Os fatores psicológicos abrangem a relação com o meiofamiliar e as condições socioculturais também fornecemelementos fundamentais à estruturação da personalidadedo indivíduo, e também, as vivências ao longo datrajetória escolar.

Convém reafirmar a importância do olharmultidisciplinar sobre a aprendizagem. Ela não éum fenômeno isolado, previsível. Tampoucodepende unicamente do aluno ou da escola,mas nos impõe a consideração de inúmerasvariáveis que se dinamizam e se encontram emum permanente diálogo.

A INTELIGÊNCIA• a inteligência vista como capacidade geral, tal como na visão

psicométrica, ignora as habilidades específicas potenciais e asdiferenças individuais;

• a inteligência vista como fator inato ou intrínseco ao indivíduo geraobstáculos ao desenvolvimento, uma vez que influencia a conduta doeducador que acaba por não investir em todas as potencialidades doaluno;

• a inteligência, quando verificada, testada por instrumentospadronizados, ignora o papel do contexto sociocultural e as diferençassubjacentes a eles;

• a inteligência não é definida a priori, portanto não pode sermensurada, mas potencializada por meio da educação.

A INTELIGÊNCIA NA TEORIA DE PIAGET

• De acordo com Piaget, os atos intelectuais tal como aaprendizagem são entendidos como atos deorganização e de adaptação ao meio externo. Todoindivíduo nasce com uma capacidade inerente deaprender. Tal capacidade se dá porque o indivíduopossui um aparato biológico, constituído de estruturasneurológicas que, quando em relação com o meioexterno, promove o desenvolvimento das estruturascognitivas estruturando a inteligência.

• A inteligência é um recurso mental organizadoque está a serviço da adaptação do indivíduo aomundo em que vive. É a própria engrenagem efuncionamento das estruturas mentais. Essaorganização mental da experiência ocorre a partirda interação de quatro componentes que são, deacordo com Piaget: os esquemas, a assimilação, aacomodação e a equilibração.

• Os esquemas correspondem a estruturas mentais oucognitivas pelas quais os indivíduos se adaptam àsexperiências proporcionadas pelo meio. Podem serpensados como conceitos ou categorias, tais comofichas de um arquivo: nesse caso, o arquivo é a nossaestrutura mental e as fichas são os esquemas, quecorrespondem aos conhecimentos e registros damemória, permitindo-nos reconhecer e interpretar osestímulos do ambiente.

Como ocorre a modificação dos esquemas ao longo davida? Para responder a essa questão, Piaget recorre aosconceitos de assimilaçãoe acomodação.

• A assimilação corresponde ao processo pelo qual aexperiência é incorporada pelo indivíduo, ou seja, é oprocesso cognitivo que permite a integração de umnovo dado perceptual, motor, conceitual aos esquemasexistentes. Poderia ser compreendida como oreconhecimento da experiência.

• A acomodação é o processo pelo qual o dado novo éincorporado aos esquemas já existentes.

• Vale notar que os processos de assimilação eacomodação são necessários para o crescimento edesenvolvimento cognitivo. O mecanismo que permitea regulação de tais processos é denominado por Piagetde equilibração.

• Desde o nascimento até o final da vida, oconhecimento é construído pelo indivíduo, sendoos esquemas do adulto construídos a partir deseus esquemas de criança. A equilibração é omecanismo interno que regula os processos deassimilação e acomodação, visando adaptação doindivíduo ao mundo e ao desenvolvimentointelectual.

• Para Piaget, as funções essenciais da inteligênciaconsistem em compreender e inventar; ou ainda,construir estruturas mentais de forma a organizara realidade. Por isso, acredita-se que o futuro daeducação está em tirar proveito do desejo inatoda própria criança de reinventar o mundo do seumodo. Toda criança tem o direito de percorrerseu processo de desenvolvimento, por ser a únicaresponsável por construir conhecimentos que seencontram no âmbito de sua sociedade e cultura.

• No entanto, muitas vezes, a escola não considera osprocessos cognitivos do aluno e suas diferentes etapaspor desconhecer o desenvolvimento infantil. A escolapiagetiana entende que a criança não tem dificuldadesde aprender, mas problemas a resolver. Essa mesmacriança possui inúmeras hipóteses a serem formuladassobre o mundo que a rodeia de forma que ocompreenda gradativamente, de acordo com o estágiode inteligência que vivencia no momento.

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM• Os problemas de aprendizagem podem ser

caracterizados por um conjunto de variáveis einfluências que bloqueiam ou dificultam o seuprocesso natural. Como vimos, ela decorre daconjugação entre fatores externos e internos aoindivíduo. De modo geral, os problemas ocorremquando internamente, no aluno, a síntese dessesfatores não se realiza de maneira harmoniosa, gerandoobstáculos ao aprendizado.

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM• De acordo com Ciasca (2003), as dificuldades de

aprendizagem correspondem a uma categoria ampla defenômenos que podem influenciar negativamente oaprendizado. Abrangem os problemas de aprendizagem eos problemas escolares, isto é, o modo como a escola lidacom o processo de ensino-aprendizagem. Enquanto osproblemas de aprendizagem concentram o peso dadificuldade no aluno, as dificuldades de aprendizagemincluem os fatore externos ao aluno. No caso da escola, sãoos problemas de origem pedagógica.

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM• É um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de

alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisiçãoe uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidadesmatemáticas. Essas alterações são intrínsecas ao indivíduo epresumivelmente devidas à disfunção do sistema nervosocentral. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrerconcomitantemente com outras condições desfavoráveis (porexemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ouemocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferençasculturais, instrução insuficiente/inadequada, fatorespsicogênicos), não é resultado direto dessas condições ouinfluências. (COLLARES; MOYSÉS, 1993, p. 32)

• Alguns autores utilizam a expressão dificuldade de aprendizagempara se referirem aos distúrbios anteriormente mencionados. Entreesses autores está Fonseca (1995) que afirma que as dificuldadesde aprendizagem são desordens consideradas intrínsecas aoindivíduo, podendo advir de uma disfunção do sistema nervosocentral. Os alunos considerados portadores de dificuldade deaprendizagem são aqueles que, mesmo não possuindoinferioridade intelectual global, nem limitações sensoriaisdecorrentes de deficiência auditiva, visual, física ou múltiplaapresentam dificuldades para aprender.

• De acordo com Fonseca (1995), fatores externos como condiçãosocioeconômica, oportunidades de acesso aos bens culturais,ambiente familiar podem agravar as manifestações dessasdificuldades, mas elas não desaparecem, mesmo na presença deuma pedagogia eficaz.

INDICADORES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

• As dificuldades de aprendizagem podem seranalisadas a partir de alguns indicadoresexpressos nas respostas do aluno durante asituação da aprendizagem escolar. Vamosconhecer agora alguns indicadoresapresentados por Fonseca (1995).

PROBLEMAS DE ATENÇÃO• Muitas crianças podem apresentar dificuldades

em focar a atenção, fato que lhes dificultaselecionar os estímulos mais relevantes daquelesde menor importância. Essa suposta distração oufalta de foco acaba por influenciar o aprendizadodo educando, pois um ambiente muito carregadode estímulos impede que sejam processadas eselecionadas as informações necessárias aoaprendizado.

PROBLEMAS PERCEPTIVOS• Os problemas perceptivos que mais se destacam na

criança com dificuldade de aprendizagem são os dediscriminação visual e os de discriminação auditiva.

• A criança com deficiência perceptiva tem dificuldadepara distinguir, diferenciar, analisar estímulossutilmente semelhantes, mas com significados muitodiferentes, comprometendo a sua compreensão demuitos dos materiais de aprendizagem. Como exemplopodemos citar o caso de crianças que apresentamproblemas em identificar as diferenças entre sons eletras, confundido-as.

PROBLEMAS EMOCIONAIS• Os problemas emocionais quase sempre acompanham as

dificuldades de aprendizagem. Às vezes correspondem à origem dadificuldade, outras vezes, são consequência.

• É comum ouvirmos pais e educadores queixarem-se de que seusfilhos e alunos, cujo histórico já apresenta dificuldades deaprendizagem, são “nervosos”, “desorganizados”, “tímidos”,“instáveis”, “dependentes”, “agressivos”, entre outras adjetivações.

• Efetivamente, nenhuma criança está imune à atmosfera daaprendizagem e tem de lidar com as cobranças da família e daescola em relação ao seu desempenho, o que pode gerar umestresse emocional que se manifestará sob a forma de baixaautoestima, fobias, instabilidade, agressividade, impulsividade,entre outras formas de desajustamento comportamental.

PROBLEMAS DE MEMÓRIA• A memória é um processo neuropsicológico

imprescindível à aprendizagem. É o reconhecimento ea reutilização do que foi retido e aprendido. Criançascom problemas relacionados à memória possuemdificuldade em reter informações.

• Para uma boa aprendizagem é necessário que amemória sequencial, visual e auditiva esteja emperfeito funcionamento, visto que podem influenciarmais significativamente no êxito ou fracasso damesma.

PROBLEMAS PSICOLINGUÍSTICOS• Os problemas psicolinguísticos referem-se à dificuldade do cérebro

em recepcionar, integrar e expressar informações, resultando emdesordens da linguagem falada e escrita.

• Podemos relacionar a essa categoria de dificuldades os seguintescasos: problemas de compreensão do significado das palavras, defrases, histórias e conversas; problemas em seguir e executarinstruções simples e complexas, de fazer associações auditivas oudificuldade de expressão, vocabulário restrito e limitado, aaquisição e compreensão de regras gramaticais e fonológicas,dificuldades em relacionar palavras com imagens, discriminar sonse sílabas sem significado, lentidão na associação entre os fonemas(sons) e grafemas (letras).

PROBLEMAS PSICOMOTORES• Os aspectos psicomotores da aprendizagem referem-se ao

modo como o conjunto constituído por mente, corpo eafetividade se integram na relação do indivíduo com omeio. Assim, o movimento do corpo expressa um estadoafetivo e cognitivo.

• Grande parte das crianças com dificuldade deaprendizagem apresenta problemas de organizaçãopsicomotora. O exagero ou rigidez na expressão domovimento, dificuldade de orientação no espaço,problemas de equilíbrio, movimentos imprecisos sãoalgumas das características observadas em casos de falhana organização psicomotora.

• Entre as implicações para a aprendizagempodemos citar as dificuldades nacompreensão das noções espaciais etemporais, necessárias à aprendizagem de,por exemplo, conceitos de geografia, história,ou mesmo à percepção da orientação espacialdas letras e palavras na composição da escrita.

A QUEIXA ESCOLAR• As queixas relacionadas às dificuldades de

aprendizagem parecem já estar constituídas mesmoantes de ocorrerem.

• Portanto, na instituição educacional é necessário queos mecanismos institucionais sejamproblematizados.

• Os mitos relacionados à queixa escolar parecem fazerparte da história institucionalizada da aquisição doconhecimento sistematizado.

QUEIXAS COMUNSQuestões relativas ao conteúdo escolar: Escrita

• processos cognitivos;

• capacidade de simbolização;

• linguagem / fala (relação fonema – grafema);

• processos psicomotores;

• condições emocionais.

QUEIXAS COMUNS

Matemática

• raciocínio lógico (seriar – classificar – conservar);

• cálculo (aspectos figurativos – operativos);

• leitura dos problemas e questões;

• condições emocionais (aspectos simbólicos das operações e não dos fatos).

MITOS QUE CIRCULAM PELA ESCOLA

• É importante se refletir na concepção da queixa escolar, que devedeslocar o seu eixo de análise, do sujeito para o conjunto derelações que se faz presente e constitui a história do seudesenvolvimento.

• A constituição teórica, proposta por Jorge Visca, em que ele focalizao processo de aprendizagem como um construto histórico que seestabelece por axiomas construtivistas, interacionistas eestruturalistas, pode respaldar uma abordagem teórica que auxilieno entendimento desses pressupostos. Ele nos fala em uma matrizde aprendizagem e que, a partir dela, o sujeito vai ao longo de seudesenvolvimento estabelecendo relações que caracterizam a suamodalidade de aprendizagem. Esta é única que, pela sua história,pelas suas características, não pode ser descrita a partir de mitosque cristalizam o movimento de vida do sujeito.

O MODELO NOSOGRÁFICO

PARA ENTENDER ESTE MODELO, VAMOS NOS REPORTAR ALGUNSCONCEITOS PROPOSTOS POR VISCA.

JORGE VISCA

ESTADOS PATOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM DE ACORDO COM O MODELO NOSOGRÁFICO

• Nível semiológico

• Nível patogênico

• Nível etiológico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS