Post on 20-Jul-2015
Entrevista a Germano Silva sobre 25 de Abril
João Velosa, 6º A
Germano Silva, 83 anos
- Nasceu em Penafiel (S. Martinho de Recezinhos), a 13 de Outubro de 1931.Veio com a família para o Porto quando tinha somente um ano de idade.
- Foi jornalista, iniciando a sua carreira em 1956 na redação do “Jornal deNotícias”, onde foi colaborador, estagiário, repórter informador, redator, sub-chefe e chefe de redação. Aposentou-se em 1996, ao fim de 40 anos.
- Colaborou ainda com o “Expresso”, “O Jornal” e com a revista “Visão”, entreoutras publicações.
- É presidente da Assembleia Geral da Associação dos Jornalistas e Homens deLetras do Porto
- Como jornalista especializou-se na história da cidade do Porto, sendo autor demais de uma vintena de livros versando a história do Porto e da sua gente.
• No 25 de Abril que idade tinha o SrGermano Silva?
- No 25 de Abril tinha 42 anos.
• Que profissão exercia nessa altura? - Era jornalista. Trabalhava no “Jornalde Notícias”.
• Mudou muito a sua vida?
- Como jornalista, sim. A censura, que não nos deixava escrever o quequeríamos, foi abolida. Também a DGS (Direção Geral de Segurança) ou a PIDEfoi extinta.
- Estas instituições condicionavam a vida cívica e política das pessoas. Não erapossível fazer reuniões nem encontros para debater certos temas, por exemplo,a liberdade das mulheres. Colóquios culturais eram vigiados por agentes daPIDE. Até pequenos grupos de pessoas a falar na rua eram mandados dispersar.
- As mulheres casadas não podiam viajar para o estrangeiro sem a autorizaçãodos maridos. Tudo isto acabou. Do ponto de vista profissional a mudança foitotal. Suicídios, consumo de droga e críticas ao governo não podiam antes serpublicados.
• Onde estava quando o 25 de Abril aconteceu?
- Desde o dia 16 de Março que estávamos à espera que alguma coisa acontecesse,pois os nossos colegas de Lisboa tinham-nos avisado da revolução.
- No dia 24 de Abril, eu e o Manuel António Pina, que na época era jornalista do JN,fomos comer uma isca à lapa, vimos então os soldados do quartel todos em fila emfrente da igreja. Foi aí que percebemos que algo poderia acontecer e regressámosnovamente para a redação do jornal.
- Percebemos que era o dia, esperámos toda a noite e na madrugada do dia 25 tudoaconteceu!
- O jornal de notícias publicou logo pela manhã uma edição especial a dar conta dosucedido. E ao longo do dia foram saindo novas edições. Foi a primeira vez queescrevi sem censura.
- A primeira edição ainda foi à censura mas o contínuo que lá estava tinha idoembora… Foi a primeira vez que escrevi em liberdade!
• Ouviu o “Grândola Vila Morena”? - Sim, pois sabíamos que iria haver um sinalna rádio. Mas a primeira música a tocar foi“E depois do adeus” do Paulo de Carvalho.
• E no Porto como se passou tudo? - Para o Porto vieram as tropas de Lamego queprimeiro passaram junto do quartel doCarmo a fim de perceberem a reação daGuarda Republicana. O comandante veio àjanela e cruzou os braços, dando sinal àstropas que não iam mostrar resistência.
- Ocuparam tudo rapidamente e foi pacífico.Do quartel de Serpa Pinto saíram canhões, oque fez despertar a curiosidade dapopulação. As pessoas de manhã foram parajunto do edifício do jornal, para a câmara e,de rádio na mão, foram tomandoconhecimento de tudo o que se passava.Libertaram os presos políticos e mandaramos documentos da censura ao lixo.
- Não, naquela altura os monumentosestavam quase todos ao abandono.Havia um descuido muito grande emrelação ao património. Só mais tardequando se criaram novos ministérios,como o da cultura, é que começarama ser recuperados.
- O Palácio do Bispo (Passo Episcopal)no Porto foi um dos monumentosque foi recuperado. O Largo da Sé foimelhorado ainda no Estado Novo.Como gostavam de fazer grandesparadas militares, fanfarras paraimpressionar o povo, recuperavamlugares com esse objetivo.
• No Porto há algum monumento relacionado com o 25 de Abril?
- Não propriamente, mas já houveprojetos para um na avenida dosAliados, e outro para a avenida 25 deAbril.
• Os monumentos estavam bem conservados, podiam ser visitados?
- Sim , pois isto começou quando umdos meus chefes de redação me disseque só seria bom repórter seconhecesse bem a cidade. A partirdaí comecei a interessar-me cada vezmais pela história da cidade.
- Sim, mas era contada de uma maneiradiferente porque o Estado Novocondicionava a forma de como sefalava da história...
- Por exemplo: a Câmara do Portofuncionava numa casa que se chamavaCasa do Senado, até o Estado começara chamar-lhe casa dos 24. Muita genteainda lhe chama assim.
• Naquela altura já sabia tanto de história do Porto?
• Ness altura, as pessoas sabiam tanto sobre história como hoje em dia?