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ERIKA BANDIERA RENGEL
ATLETISMO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: SABERES QUE ESTÃO SENDO ENSINADOS
LONDRINA 2015
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ERIKA BANDIERA RENGEL
ATLETISMO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: SABERES QUE ESTÃO SENDO ENSINADOS
Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Educação Física na Educação Básica da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Educação Física na Educação Básica. Prof. Dr. Orlando Mendes Fogaça Júnior
LONDRINA 2015
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ERIKA BANDIERA RENGEL
ATLETISMO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: SABERES QUE ESTÃO SENDO ENSINADOS
Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Educação Física na Educação Básica da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Educação Física na Educação Básica.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Prof. Dr. Orlando Mendes Fogaça Júnior
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Profª. Drª. Ana Cláudia Saladini
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Profª. Drª. Karina de Toledo Araújo
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, 22 de Setembro de 2015.
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DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado primeiramente a Deus, por me conceder o privilégio de estar concluindo mais esta etapa em minha vida.
À minha mãe, que sempre esteve ao meu lado me incentivando e motivando para a realização deste trabalho. Ao meu Pai (in memorian).
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela oportunidade de conhecer pessoas
maravilhosas na realização deste curso e pela oportunidade de continuar os estudos
com excelentes professores, os quais contribuíram muito durante minha graduação e
agora no curso de especialização.
Agradeço ao meu orientador Professor Dr. Orlando Mendes Fogaça Júnior
por suas valiosas contribuições durante este trabalho, me auxiliando e orientando da
melhor maneira possível.
À minha mãe que sempre me deu total apoio e sempre acreditou em mim,
nunca deixando que eu desistisse dos meus sonhos.
Aos colegas e amigos que fizaram parte dessa caminhada, os quais
contrubuíram grandemente na construção de conhecimentos valiosos para nossa
atuação profissional.
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“O maior educador não é o que controla, mas o que liberta. Não é o que aponta os erros, mas o que os previne. Não é o que corrige comportamentos, mas o que ensina a refletir”.
(Augusto Cury)
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RENGEL, Erika Bandiera. ATLETISMO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: SABERES QUE ESTÃO SENDO ENSINADOS. 2015. Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Educação Física na Educação Básica da Universidade Estadual de Londrina, 2015.
RESUMO
O presente estudo abordou os saberes relacionados ao Atletismo ensinados nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II. O ensino desse esporte se faz necessário, pois ele está fortemente presente em nossa cultura, e por isso, os estudantes devem conhecer e compreender essa manifestação cultural. Quando o professor ensina o Atletismo ele deve levar em conta a realidade dos estudantes, assim, este processo necessita fazer o sujeito apreender sobre esse esporte e compreender qual o sentido e significado que o mesmo possui. Diante disso, este estudo investigou os saberes relacionados ao Atletismo ensinados nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II. Para atingir o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa de campo com quatro professores da rede pública da cidade de Londrina-PR. Assim, foi organizada uma entrevista semiestruturada, com o entrevistador tendo em mãos um roteiro de questões já estabelecidas e, dependendo da situação das respostas dos entrevistados, poderão ser feitas outras questões que não fazem parte do roteiro inicial. Nosso estudo será organizado tendo em vista os seguintes capítulos: “O Atletismo como conteúdo nas aulas de Educação Física”; “História e composição do Atletismo” e “Proposta de ensino do Atletismo para o Ensino Fundamental II”. No primeiro capítulo evidenciamos o ensino do Atletismo nas aulas de Educação física através de um olhar crítico, superando as aulas pautadas somente na técnica e tática desse esporte, buscando a construção de um sujeito integral. No segundo capítulo abordamos a história e origem do Atletismo, destacando suas provas e atletas participantes, entre outras características que compõe essa modalidade esportiva. No terceiro e último capítulo, organizamos uma proposta dos saberes do Atletismo como uma possibilidade de ensino dessa manifestação cultural nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II. Podemos concluir que o ensino do Atletismo nas aulas de Educação Física está centrado na realização de suas provas e técnicas, não havendo a preocupação por parte dos professores com as outras dimensões que compõe essa manifestação, como suas questões históricas, sociais, culturais e políticas.
Palavras-Chave: Ensino; Atletismo; Educação Física Escolar.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................09
2 O ATLETISMO COMO CONTEÚDO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA .......12
3 HISTÓRIA E COMPOSIÇÃO DO ATLETISMO .....................................................17
4 PROPOSTA DE ENSINO DO ATLETISMO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
II..................................................................................................................................25
5 METODOLOGIA .....................................................................................................34
5.1 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS ............................................................................35
5.2 ENSINO DO NÚCLEO O MOVIMENTO E O ESPORTE.....................................................36
5.3 PROFESSORES QUE ABORDARAM O ENSINO ATLETISMO.............................................39
5.4 ENSINO DO ATLETISMO ...........................................................................................43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................48
REFERÊNCIAS..........................................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO
O Atletismo vem ganhando cada vez mais espaço dentro da nossa
sociedade. Uma das evidências deste fato, são as várias corridas de rua que
acontecem pelo nosso país, as quais fazem parte das diferentes provas que compõe
o Atletismo.
Deste modo, fica claro que essa manifestação esportiva deve ser ensinada
aos estudantes, pois faz parte da sua realidade e está fortemente presente dentro do
meio social que eles vivem, por isso, o professor deve ensinar sobre esta
modalidade esportiva.
Isso não significa que o professor não possa ensinar diferentes
manifestações presentes em outras culturas, entretanto, se o Atletismo faz parte da
realidade do sujeito, o mesmo precisa compreender essa manifestação.
Sendo assim, a Educação Física deve preocupar-se com a formação de um
sujeito capaz de pensar e refletir sobre o mundo e o meio social vivido por ele,
possuindo autonomia para participar ativamente nas relações que o cercam em
busca de sua transcendência.
A Educação Física na escola sofreu diversas modificações ao longo dos
anos. Inicialmente ela se organizou tendo em vista os métodos ginásticos e a
instituição militar, e com o tempo foi se caracterizando de acordo com as mudanças
ocorridas na sociedade (PALMA et al, 2010).
No inicio da década de 1940, as aulas de Educação Física assumiram o
papel esportivo do rendimento. Neste momento, a escola passa a objetivar uma
pirâmide esportiva visando a formação de atletas. Com isso, não se tratava mais do
esporte da escola e sim do esporte na escola, ou seja, os professores de Educação
Física ficaram responsáveis por reproduzir o esporte em suas aulas e de cobrar dos
educandos a técnica e o rendimento de atletas (PARANÁ, 2008).
A partir dos anos 1980 começaram a surgir críticas em relação a essa
Educação Física tecnicista, essas críticas trouxeram uma nova concepção sobre a
mesma, voltada para a compreensão da identidade dos indivíduos e do seu valor
enquanto ser humano.
Considerando esse contexto, fica explícito que a Educação Física precisava
contribuir para a formação de um ser humano crítico, entretanto, isso não poderia
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acontecer se ela estivesse voltada para a reprodução do esporte buscando a
formação de atletas.
Assim, a Educação Física volta-se para a formação integral do sujeito,
levando-o a refletir e compreender o mundo, buscando sua autonomia. Com isso, o
objetivo desta disciplina é a formação de um sujeito integral, que participe
ativamente da sociedade em que vive.
Nesse processo, a aula de Educação Física preocupa-se com o movimento
culturalmente construído, “[...] como expressão da identidade corporal, como prática
social e como uma forma do homem se relacionar com o mundo” (PARANÁ, 2008, p.
47).
Atualmente há uma grande preocupação por parte dos professores que
buscam modificar a ação docente nesta disciplina, deixar de realizar atividades com
um fim em si mesmas para uma efetiva ação do ensino de conteúdos que
possibilitem aos educandos uma efetiva compreensão dos saberes específicos desta
área e sua relação com a realidade.
Cabe lembrar que a visão tecnicista ainda está em vigor, ou seja, a forma
tradicional de ensino ainda se faz muito presente nas aulas de Educação Física.
Para isso, nós professores devemos repensar nossa prática docente, e de fato,
possibilitar aos nossos alunos a compreensão de sua motricidade e das
manifestações culturais pertinentes aos saberes específicos desta disciplina escolar.
Sendo assim, o presente estudo irá apresentar o Atletismo enquanto
conteúdo da disciplina de Educação Física, abordando esse esporte que está
fortemente inserido em nossa sociedade e que por isso, nossos estudantes precisam
conhecer e compreender essa manifestação esportiva da nossa cultura.
A escolha sobre este tema foi para dar continuidade ao meu trabalho de
conclusão de curso realizado na graduação. Outro fator que me levou a estudar
sobre este assunto foi o interesse sobre esse esporte, por ter sido atleta e nunca ter
aprendido sobre ele enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física.
Nossa pesquisa foi organizada em três capítulos. No primeiro capítulo
destacamos o ensino do Atletismo para além da realização de suas provas e dos
seus movimentos técnicos e táticos. No segundo capítulo vamos tratar
especificamente sobre o Atletismo, apresentando suas origens, onde ele surgiu, as
primeiras corridas e, atualmente, suas competições, provas e categorias oficiais.
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No terceiro e último capítulo elaboramos uma proposta de ensino do
Atletismo para o Ensino Fundamental II, elencando os saberes básicos que o
professor poderá ensinar para seus estudantes de forma significativa, levando-os a
uma efetiva compreensão deste conteúdo, para que possam usufruir do mesmo,
seja assistindo, participando ou buscando um centro de treinamento visando
resultando esportivo. Tal proposta foi decorrente dos resultados da pesquisa
realizada para identificar quais saberes sobre o Atletismo são ensinados no Ensino
Fundamental II.
O problema do nosso estudo foi o de analisar quais saberes do conteúdo
Atletismo são ensinados para os estudantes nas aulas de Educação Física no
Ensino Fundamental II. Para tanto, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar
os saberes relacionados ao Atletismo ensinados nas aulas de Educação Física no
Ensino Fundamental II e como objetivos específicos: apresentar o Atletismo como
um dos conhecimentos a serem ensinados e aprendidos nas aulas de Educação
Física e identificar quais são os saberes relacionados ao Atletismo ensinados nas
aulas de Educação Física.
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2 O ATLETISMO COMO CONTEÚDO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
As aulas de Educação Física têm igual importância que qualquer outra
disciplina dentro da escola, e de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica (2008), essas disciplinas são compostas por: Arte, Biologia, Ciências,
Educação Física, Ensino Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua
Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia.
Portanto, a Educação Física é uma disciplina como qualquer outra no
currículo escolar e, por isso, é de grande importância, não podendo ser considerada
como um momento de relaxar, descansar, entre outras coisas, revelando uma ação
equivocada. Ela deve ser vista complexamente, para que possamos compreender
que ela possui um conjunto de saberes situado em um contexto e que deve ser
ensinado aos estudantes.
Nesse processo, o ensino dos conteúdos da Educação Física, deve superar
a realização de atividade pela atividade que ainda encontramos com frequência nas
escolas nos dias de hoje. É sabido que a disciplina de Educação Física possui
saberes que favorecem o desenvolvimento da autonomia dos educandos e por isso,
deve levá-los a pensar sobre o movimento e não apenas realizá-lo.
No ensino do esporte não é diferente. Os estudantes precisam conhecer
essa manifestação cultural e não apenas realizarem sua prática, o que muitas vezes
não acontece, pois o professor acaba excluindo o que de mais valioso pode ensinar
sobre determinada modalidade esportiva.
Desta forma, a Educação Física não deve estar comprometida somente com
o saber-fazer, mas também com o saber-pensar, e com isso, elencamos alguns
saberes que podem e devem ser abordados em relação ao ensino do esporte nas
aulas de Educação Física.
Esses saberes podem ser organizados de acordo com Palma et al (2010, p.
54) nos seguintes núcleos de conhecimento: “o movimento e a corporeidade; o
movimento e os jogos; o movimento e os esportes; o movimento em expressão e
ritmo e o movimento e a saúde”.
O esporte é um núcleo de conhecimento da disciplina de Educação Física,
podemos entender assim, que o núcleo “o movimento e os esportes”:
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[...] compreende o estudo da cultura de movimento elaborada em relação ás manifestações corporais. Contemplar o maior número de situações de vivência e de estudos daquelas que o homem construiu e estruturou com suas ações é a função básica deste núcleo. A sociedade pode ser demonstrada e estudada por meio dos conteúdos deste núcleo, e o estudo pormenorizado dos conteúdos aqui tratados poderá contribuir no entendimento maior de como esta se organiza. Os jogos e os esportes, bem como suas múltiplas variações, são os componentes centrais (PALMA et al, 2010, p. 55).
Dentro do núcleo “o movimento e os esportes”, existe uma riqueza enorme
de saberes, podemos destacar entre esses saberes alguns que consideramos como
conteúdos básicos deste núcleo, que são: “Aspectos socioculturais e biológicos do
esporte, esporte e suas diferentes manifestações (tradicionais, olímpicos e não
olímpicos, contemporâneos, de aventura ou radicais, as lutas e as relações com o
esporte)” (PALMA et al, 2010, p. 57).
Inserido no núcleo “o movimento e os esportes”, há um tema denominado
Esportes olímpicos, e dentro deste tema está inserido o Atletismo. Assim, esse
esporte deve ser ensinado aos estudantes. Para tanto é necessário no contexto
escolar “desmitificá-lo”, por meio de conhecimentos que permitam aos alunos,
“criticá-lo dentro de um determinado contexto sócio-econômico-político-cultural”
(KUNZ, 2006, p. 20).
Logo, a prática pedagógica do professor deve superar a preocupação
exclusiva com o desempenho esportivo, a aptidão física e a aprendizagem motora.
Isso não significa deixar de ensinar a realizar essas atividades. No entanto, as
mesmas devem levar os estudantes a pensarem e compreenderem o movimento
executado, além da reflexão e construção do conhecimento sobre os mesmos.
Portanto, o sujeito deve ter uma formação integral, e para isso, a aula de
Educação Física precisa superar a proeminência dada a realização dos gestos
técnicos. Consequentemente, o estudante deve ser levado a exercer uma postura
crítica e reflexiva em relação aos conteúdos aprendidos através da intervenção
mediadora do professor.
Neste processo, o docente deve possibilitar aos educandos a compreensão
das várias dimensões que compõem uma manifestação cultural, no caso deste
trabalho uma modalidade esportiva, o Atletismo.
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Assim, o ensino do Atletismo deve possibilitar que o estudante tenha acesso
ao saber cultural dessa modalidade esportiva, para que possa compreendê-la e
consequentemente, compreender-se enquanto sujeito histórico, participando
ativamente e com autonomia do meio social em que vive.
Logo, o ensino deve ir além do senso comum e superar a transmissão de
informações, para que assim, possa constituir-se como momento de construção de
conhecimentos e de valores, que irão propiciar a formação de um sujeito
emancipado.
Nas aulas, para além do “o quê” e do “como”, deve-se ensinar também “a pensar”, aspectos que se determinam e se condicionam mutuamente, configurando o ensino como atividade do professor e do aluno, acentuado na atividade do primeiro, e a aprendizagem como atividade do professor e do aluno, acentuada na atividade do segundo (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 208, grifo do autor).
Para tanto, professores e estudantes devem estar envolvidos no processo
de ensinar e aprender, ficando o professor com responsabilidade no ensino e os
educandos por sua vez, fazendo sua parte na busca da aprendizagem, que aí se faz
juntamente com o professor, na qual ambos constroem conhecimentos juntos.
Nessa relação, a aula de Educação Física deve possibilitar aos discentes a
reflexão sobre seus conteúdos, trazendo assuntos que provoquem seu interesse,
sua curiosidade e atenção pela disciplina. Neste contexto, o professor deve buscar
relacionar o Atletismo com o seu mundo vivido, para que assim, este ensino tenha
sentido no dia a dia dos estudantes.
Portanto, a Educação Física está voltada para a formação de um sujeito que
compreenda o meio social e cultural que o cerca, construindo seu conhecimento
através do movimento e da interação com o ambiente. “Ela representa uma
alternativa aos métodos diretivos de ensino, pois o aluno constrói o seu
conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas” (DARIDO;
RANGEL, 2005, p. 11).
Desta forma, a aula de Educação Física deve levar o estudante a construir
seu conhecimento, a se compreender enquanto ser humano ativo e capaz de viver
com autonomia dentro do seu meio social. Portanto, “Conhecer o mundo é agir sobre
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ele e transformá-lo, transformando-se a si mesmo” (BECKER; MARQUES, 2010, p.
17).
Com isso, os educandos necessitam compreender os movimentos que
compõe o Atletismo, pois assim como as outras disciplinas, a Educação Física é
uma matéria escolar e possui seus conhecimentos específicos com a
responsabilidade de serem ensinados aos estudantes.
O ensino dos conhecimentos na escola não deve se reduzir a um simples armazenamento de informações, ou ainda apenas propiciar momentos de práticas estéreis, mas constituir-se como situação privilegiada para a reelaboração de conceitos e definições, atitudes, valores e habilidades de pensamentos, que poderão implicar numa prática social consciente e inovadora (PALMA, 2008, p. 130).
Logo, a aula de Educação Física deve levar o sujeito a refletir e
compreender seu movimento, pois, “[...] não é qualquer movimento, não é todo
movimento. É o movimento humano com determinado significado/sentido, que por
sua vez, lhe é conferido pelo contexto histórico-cultural” (BRACHT, 1992, p. 16).
Essa reflexão tem a finalidade de propiciar a construção do conhecimento
para os estudantes, para que sejam capazes de entender as manifestações culturais
inseridas na sociedade, observando que o movimento está presente em todas essas
relações. Assim, o professor deve possibilitar aos educandos a compreensão de que
o movimento:
[...] reveste-se de uma dimensão humana, uma vez que extrapola os limites orgânicos e biológicos onde comumente se enquadra a atividade física, pois o homem é um ser eminentemente cultural e o movimento humano, por conseguinte, representa um fator de cultura, ao mesmo tempo em que também se apresenta como seu resultado (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 220).
Deste modo, a Educação Física deve voltar-se para a compreensão crítica
do movimento. Assim, no ensino do Atletismo, os estudantes precisam entender
essa manifestação esportiva em diferentes contextos, para que possam conhecer os
valores dados a ela e compreender seu significado no mundo.
Ainda sobre esse aspecto, a aula de Educação Física tem a
responsabilidade de levar os estudantes a pensarem sobre quais são as influências
que determinam o valor dado a essa modalidade esportiva em cada região, para que
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assim, eles entendam que existe um contexto histórico, político e social que justifica
o modo como o Atletismo é tratado e valorizado em diferentes lugares do Brasil e do
mundo. Neste sentido, podemos observar que:
O objeto de ensino da Educação Física é assim, não apenas o desenvolvimento das ações do esporte, mas propiciar a compreensão crítica das diferentes formas da encenação esportiva, os seus interesses e os seus problemas vinculados ao contexto sociopolítico (KUNZ, 2006, p. 73).
Para que se possa buscar a construção desse conhecimento com os
estudantes, é preciso levar em consideração a história, a cultura, a política, a
economia, entre outros fatores característicos de diferentes regiões, para então
compreendermos essa manifestação cultural, o Atletismo.
No próximo capítulo, iremos abordar sobre o que é o Atletismo, sua origem,
as primeiras competições, suas provas, os diferentes tipos de participantes dessa
modalidade, entre outros assuntos, para que o leitor possa compreender um pouco
sobre a história dessa modalidade esportiva.
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3 HISTÓRIA E COMPOSIÇÃO DO ATLETISMO
O Atletismo nasceu na Grécia e está fortemente vinculado aos Jogos
Olímpicos Gregos. Nesses jogos os atletas tinham que cumprir três exigências para
poderem competir. Era necessário ser homem, ter origem grega e serem livres. As
mulheres, os estrangeiros e escravos não participavam.
Os registros históricos também evidenciam a extinção de provas tais como a do “estádio” – stádion (em grego) ou stadium (em latim) -, uma corrida de 192, 27m própria dos Jogos Olímpicos da antiguidade, cuja partida ocorria pela retirada de um cordão ou barra colocada à frente dos competidores, visando evitar o que se conhece como saída falsa (RAMOS, 1983 apud
MATTHIESEN, 2007, p. 43).
A história diz que os primeiros eventos esportivos organizados foram
realizados por volta de 1200 a.C. no “monte Olímpicus”, na Grécia. Posteriormente
os gregos começaram a realizar jogos e os jogos mais importantes tinham caráter
religioso que era feito em homenagem a Zeus no santuário de Olímpia, tais jogos
eram realizados de quatro em quatro anos, e com o tempo foram chamados de jogos
olímpicos.
As performances atléticas nos Jogos Gregos têm sentido mais amplo do que apenas estético. Eles mantinham uma ligação íntima com a religiosidade e os Jogos Olímpicos faziam parte dos festivais sagrados. Acreditava-se na época que os vencedores dos jogos eram pessoas
próximas aos deuses (FRANCESCHI NETO, 1998 apud TURINI; DACOSTA, 2002, p. 12).
Os gregos acreditavam que os deuses ajudavam os homens e os meninos
que tinham corpos fortes e saudáveis, por isso, estimulavam a prática dos exercícios
físicos. Os atletas passavam óleo no corpo para mostrar sua robustez e aptidão
física. Eles acreditavam ainda que atletas desonestos estivessem insultando os
deuses, por isso, atletas com comportamento imoral eram banidos para sempre do
esporte.
Os atletas de atletismo e ginástica competiam em um estádio chamado
Panathinaiko, que era um dos maiores palcos olímpicos dos jogos gregos. Ele
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possuía um formato alongado e tinha uma pista de aproximadamente 200 metros
feita com cinza batida.
Com o passar dos anos esse estádio foi se modificando e hoje se tornou a
atual pista de atletismo que conhecemos, com grandes recursos tecnológicos para o
melhor desempenho dos atletas. Logo, as mudanças nessa pista foram necessárias,
para que fosse possível chegar ao nível que ela está atualmente.
No entanto, existem pistas feitas com pó de carvão mineral, onde ainda são
realizadas competições, até mesmo a nível estadual em algumas regiões do Brasil.
Porém, quando se trata de campeonatos brasileiros ou competições de nível
internacional, é exigido que seja realizado em uma pista oficial segundo as normas
da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo).
Essa associação é responsável por gerenciar o Atletismo em todo o mundo.
As regras do Atletismo, assim como as modificações dessas regras são de
responsabilidade da IAAF. Ela é responsável também por conferir recordes mundiais
e também alterações nas provas combinadas quando necessário.
De acordo com a IAAF, as pistas devem ser construídas com piso sintético e
possuindo oitos raias. Entretanto não são todas as pistas que possuem as
recomendações da IAAF, sendo assim, essas pistas não podem receber
competições de alto rendimento. No site da Confederação Brasileira de Atletismo é
possível encontrar todas as recomendações exigidas pela IAAF para a construção
de uma pista oficial.
Dentro desta associação existem seis confederações continentais que são
subordinadas as regras da IAAF, sendo elas: Confederação Sul-Americana de
Atletismo (CONSULDATLE), Associação de Atletismo da América do Norte, Central
e Caribe (ANACC), Associação Europeia de Atletismo (AEA), Confederação Africana
de Atletismo (CAA) e Associação Asiática de Atletismo (AAA). O Brasil faz parte da
Confederação Sul-Americana de Atletismo (CONSULDATLE), e têm a sua própria
federação nacional, as quais as federações estaduais estão subordinadas.
As provas do Atletismo nem sempre foram compostas como são atualmente.
Na Grécia antiga as provas do Atletismo eram apenas corridas, saltos e arremessos,
além disso, existia o pentatlo que era composto pelo salto em distância, arremesso
de disco, arremesso de dardo, lutas e a corrida.
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[...] É preciso registrar que a palavra “atletismo” vem do grego “ethos”, que significa “combate”, sendo nítidos os registros históricos de atividades, tais como a corrida, o salto em distância, o lançamento do disco e do dardo, desenvolvidas pelos gregos na Grécia antiga, ainda que com movimentos técnicos e normas específicas bastante diferentes dos atuais
(MATTHIESEN, 2007, p. 07, grifos do autor).
Não podemos deixar de falar da maratona, que teve sua origem por meio
“[...] do soldado grego Fidípides” (SEED, 2015), que correu cerca de 30 km,
atravessando a planície de nome Maratona para anunciar a vitória sobre os persas.
A atual distância da prova Maratona é de 42km 195m que foi estabelecida na
Olimpíada de Londres em 1908 e a partir desta tornou-se a distância oficial da prova.
Nos dias de hoje as provas do Atletismo mudaram e são compostas por
provas de pista (corridas), de campo (saltos, lançamentos e arremesso), provas
combinadas (decatlo e heptatlo), o pedestrianismo (corridas de rua), cross country
(corridas na grama ou na terra), marcha atlética (marchas na rua e na pista) e
corrida em montanha.
As provas são divididas nas seguintes categorias: Master, Adulto, Sub-23,
Juvenil, Menores, Mirins e Pré-Mirim. As categorias adulto, sub-23 e juvenil são
basicamente as mesmas provas, abaixo da categoria menores algumas provas se
diferenciam ou não são realizadas por serem corridas muito longas. A categoria
Master segue todas as determinações da WMA (World Master Athletics) e todas as
competições dessa categoria realizadas no Brasil seguem as determinações da
ABRAM (Associação Brasileira de Atletismo Master), a quem cabe a direção do
Atletismo Master no Brasil, por delegação da CBAt (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA
DE ATLETISMO, 2002 - 2010).
As provas de pista olímpicas são constituídas por corridas rasas: 100
metros, 200 metros, 400 metros, 800 metros, 1.500 metros, 5.000 metros, 10.000
metros; corridas com barreiras: 100/110 metros e 400 metros; corrida com
obstáculos: 3.000 metros e os revezamentos: 4x100 e 4x400 metros.
As provas de campo olímpicas são compostas por saltos: em distância, em
altura, triplo e com vara; lançamentos: do dardo, do martelo e do disco e arremesso
de peso.
As provas combinadas olímpicas são dez provas no masculino (decatlo) e
sete provas no feminino (heptatlo), incluindo provas de pista e de campo realizadas
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pelos atletas durante a competição. O decatlo é composto pelas seguintes provas:
100 metros, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura, 400 metros, 110
metros com barreiras, lançamento do disco, salto com vara, lançamento do dardo e
1500 metros.
No heptatlo as provas são: 100 metros com barreiras, salto em altura,
arremesso de peso, 200 metros, salto em distância, lançamento do dardo e 800
metros. Nessas duas provas (decatlo e heptatlo), os atletas somam pontos em cada
prova de acordo com sua colocação, e o campeão é aquele que apresentar a maior
pontuação no final da competição.
O pedestrianismo são corridas de rua como a maratona, meia maratona e
circuitos de corridas com distâncias e percursos variados, já as provas de cross
country caracterizam-se por corridas realizadas em percursos gramados e que
podem contar obstáculos naturais a serem transpostos pelos atletas, sendo admitido
até um pequeno curso de água (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO,
2002 - 2010).
A marcha atlética é uma prova realizada tanto na pista como na rua. Na
categoria adulto feminino o percurso dessa prova é de 20 km, já no masculino são
20 e 50 km. Existem os circuitos de rua da marcha atlética, que também são
realizados de acordo com essa distancia, a qual é determinada pela Confederação
Brasileira de Atletismo. Nas categorias anteriores essa distancia diminui, pois a
idade dos participantes também é inferior.
As provas de corrida em montanha são basicamente iguais as provas de
cross country, mas existem longas subidas e descidas. Essas provas:
[...] são dirigidas no mundo pela Associação Mundial de Corrida em Montanha (WMRA). São realizadas normalmente quando os atletas de fundo estão no período de treinamento de base, após o final da temporada e durante o inverno no hemisfério norte, razão dos Campeonatos Mundiais de Cross Country serem realizados anualmente no mês de março (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO, 2002 - 2010).
O Atletismo enquanto esporte olímpico tem suas regras oficiais com algumas
diferenciações entre as provas femininas e masculinas. As corridas rasas são iguais
tanto para os homens quanto para as mulheres, já nas corridas com barreiras, os
homens realizam 110 metros e as mulheres 100 metros, os 400 metros continuam
iguais para ambos, porém, a altura das barreiras se diferencia das provas
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masculinas para as provas femininas. Nos 110 metros masculino as barreiras
possuem 1,06 metros e no feminino 0,83 metros. Já nos 400 metros masculino as
barreiras têm 0,91 metros e no feminino 0,76 metros. Lembrando que essas medidas
são referentes à categoria adulto.
Na marcha atlética as mulheres realizam uma prova de 20.000 metros e os
homens tem a opção dos mesmos 20.000 metros e também 50.000 metros, as
mulheres não realizam esta última prova.
No arremesso de peso, a prova feminina conta com um peso de 4 kg,
enquanto que na prova masculina o peso é de 7,260 kg, lembrando que essas
provas oficiais aqui apontadas estão sendo analisadas na categoria adulto.
No lançamento de disco, a prova masculina possui um disco de 2 kg e a
prova feminina o disco pesa 1 kg. No lançamento de dardo, o mesmo conta com um
peso de 800g para o masculino e 600g para o feminino, sendo que o dardo
masculino tem 2,70 metros e o feminino 2,30 metros. No martelo, os pesos também
se diferenciam entre as provas masculinas e femininas, sendo no masculino 7,260
kg e no feminino 4 kg.
No salto em distância existe um corredor com 40 metros e com largura de
1,22 metros. O atleta deve utilizar esse corredor para a corrida e respeitar o limite da
tábua de impulsão, que fica enterrada no mesmo nível do corredor. O atleta não
pode, ao dar impulsão, tocar o solo depois da linha de impulsão com qualquer parte
do seu corpo. A área de queda deverá ser preenchida com areia e deve ter largura
mínima de 2,75 metros e máxima de 3 metros. A distância entre a linha de impulsão
e o final da caixa de areia deverá ser de pelo menos 10 metros.
O salto triplo consiste de um salto com impulsão em um só pé, uma passada
e um salto. O salto com impulsão em um só pé será feito de modo que o atleta caia
primeiro sobre o mesmo pé que deu a impulsão; na passada ele cairá com o outro
pé do qual, consequentemente, o salto é realizado (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA
DE ATLETISMO, 2012 - 2013).
No salto em altura o atleta se impulsiona com apenas um pé. O corredor terá
um comprimento mínimo de 15 metros e os postes devem ter suportes para que o
sarrafo seja fixado a eles, possuindo altura suficiente para que esse sarrafo seja
elevado em no mínimo 10 centímetros da altura inicial. A área de queda deverá ter
um colchão de no mínimo 5 metros por 3 metros e ficará atrás da barra.
22
Na prova do salto com vara, o atleta corre com uma vara flexível na mão e
ao final dessa corrida, deve apoiar a vara em um encaixe enterrado ao nível do
corredor, o qual dará a impulsão para o salto. O atleta não poderá derrubar a barra
que está no suporte durante seu salto, caso isso aconteça seu salto será inválido.
Nas provas do Atletismo a cronometragem é realizada automaticamente,
mas nem sempre foi assim. Há alguns anos atrás a cronometragem era feita
manualmente, havendo árbitros com cronômetros que registravam o tempo dos
atletas. Os cronômetros eram acionados pelos árbitros no momento que a pistola
disparava o tiro e eram paralisados assim que os atletas cruzassem a linha de
chegada.
Os cronometristas eram posicionados no lado exterior da pista e ficavam em
um local um pouco mais elevado para terem uma visão melhor da linha de chegada.
Cada atleta tinha um árbitro responsável por cronometrar seu tempo, havendo
também um árbitro geral, responsável por toda a equipe de arbitragem.
Com o avanço tecnológico a cronometragem passou a ser realizada
automaticamente. No momento do disparo da largada um sensor é ativado pelo som
do tiro e os cronômetros são acionados, desta mesma forma, mas através de um
sensor de movimento, o cronômetro é paralisado quando os atletas cruzam a linha
de chegada.
Com um avanço ainda maior, os tiros de largada foram substituídos nas
olimpíadas de Londres 2012, por um sinal sonoro, e os sensores dos blocos de
partida, utilizados pelos corredores de velocidade para o apoio dos pés no momento
da saída, ficaram mais sensíveis para detectar atletas que queimam a largada.
Na linha de chegada há também o photofinish, responsável por registrar
através de duas câmeras a chegada dos atletas, pois mesmo com as mais
avançadas tecnologias de cronometragem, não é possível identificar a olho nu uma
chegada veloz entre dois atletas com tempos mínimos de diferença.
Nesta situação sempre há incerteza de quem realmente venceu a corrida, e
o recurso do photofinish não deixa nenhuma dúvida em relação a isso, pois ele filma
a chegada e manda as imagens divididas em linhas para um computador, e assim,
pode-se observar claramente o ganhador.
O Atletismo em sua essência é um esporte individual, e tem um grande
diferencial entre outros esportes, principalmente os coletivos, pois encontramos
23
atletas com variados fenótipos, alguns com 50 kg até atletas com mais de 100 kg, o
que não acontece na maioria dos esportes.
Isso é possível no Atletismo justamente porque ele é um esporte individual e
principalmente por suas diferentes provas. Alguns atletas precisam de muita
resistência muscular para realizar maratonas, percorrendo mais de 42 km, enquanto
outros necessitam de muita força muscular para correrem 100 metros rasos no
menor tempo possível.
Por este motivo, um corredor de maratona não poderá vir a correr uma prova
de velocidade em nível de alto rendimento, da mesma forma que um atleta de
velocidade não irá conseguir realizar uma maratona com o mesmo desempenho de
um maratonista. Isso acontece pelo fato de o genótipo desses dois atletas serem
distintos, o que está diretamente ligado ao estilo de prova de cada um.
Podemos observar assim, que as fibras musculares possuem funções
diferentes, permitindo que várias atividades motoras sejam executadas de forma
eficaz. Deste modo, existem três tipos diferentes de fibras musculares esqueléticas,
que são: fibras de contração lenta, fibras mistas e fibras de contração rápida.
As fibras de contração lenta estão associadas a atividades de longa duração
e de resistência, como por exemplo, a maratona e o ciclismo, e necessitam de um
suprimento permanente de oxigênio para que seja possibilitado a produção
energética.
As fibras mistas apresentam rápida velocidade de contração e menor
suprimento de oxigênio, elas também possuem metabolismo anaeróbico de média
duração, produzindo energia mesmo sem a presença de oxigênio. Possuem
predisposição a hipertrofia e menor capacidade para produzir força muscular.
Já nas fibras de contração rápida é predominante o metabolismo
anaeróbico, estando presente em atividades que precisam de maior força muscular,
porém, fadigam mais rapidamente. Estas fibras são predominantes em atletas que
realizam provas de 100 metros rasos e arremesso de peso, por exemplo, que exige
desses indivíduos alta potência com o menor tempo possível.
É por este motivo que um corredor de 100 metros rasos, por exemplo, não
tem capacidade para correr uma maratona no nível de um corredor desta prova,
assim como um maratonista não conseguirá correr 100 metros rasos e obter tempos
baixíssimos como os corredores de velocidade.
24
No próximo capítulo vamos abordar uma proposta de ensino do Atletismo
para o Ensino Fundamental II.
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4 PROPOSTA DE ENSINO DO ATLETISMO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II
Ao tratarmos da manifestação cultural Atletismo, entendemos que o
professor deve trazer para a sala de aula assuntos relacionados a esse esporte que
ultrapassem os aspectos técnicos e táticos, pois este possui uma riqueza de saberes
que na maioria das vezes deixa de ser ensinado para os estudantes.
Os estudantes precisam conhecer a manifestação esportiva Atletismo em
suas aulas para compreender como ocorre a relação desse esporte com sua vida
dentro e fora do ambiente escolar, e assim, poder usufruir adequadamente desse
conhecimento onde quer que esteja.
O conhecimento sobre esse esporte não fica limitado apenas aos seus tipos
de provas, regras e competições. O Atletismo vai muito além desses aspectos,
perpassando por várias outras questões de grande valor, as quais os educandos
precisam ter o conhecimento necessário.
A compreensão que os estudantes precisam ter sobre o Atletismo está no
conhecimento da grandeza desse esporte e de como ele é rico em todas as suas
dimensões, como por exemplo, as questões históricas, sociais, culturais e políticas
que estão fortemente presentes.
Quando os professores ensinam sobre este conteúdo devem possibilitar que
os mesmos compreendam do que realmente é composta essa modalidade esportiva.
Estimulam os sujeitos a correr, a saltar, a arremessar, no entanto, em muitos casos,
não possibilitam aos educandos compreender a realidade deste esporte na
sociedade, as dificuldades que os atletas enfrentam, a falta de patrocínio, de apoio
(no caso do Brasil), ou seja, o que realmente precisa ser ensinado para além dos
aspectos técnicos e táticos.
As aulas de Educação Física acabam ficando destinadas apenas ao correr,
lançar, arremessar, deixando de lado a compreensão mais aprofundada sobre este
conteúdo. Não estamos negando a realização dessas atividades, mas as mesmas
precisam levar os estudantes a compreenderem essa manifestação em sua
totalidade e não apenas estarem voltadas para a realização dos movimentos.
Consequentemente, “Deve ser oportunizada a reflexão e o diálogo sobre
essas práticas para conduzir a uma verdadeira superação do ensino tradicional
pelas destrezas técnicas” (KUNZ, 2006, p. 129).
26
Desta forma, este estudo busca destacar que os estudantes precisam
aprender sobre esse esporte em suas aulas de Educação Física, mas este ensino
deve fazer sentido para o estudante, este precisa entender que o Atletismo faz parte
da sua cultura e tem significações diferentes em determinados períodos, e por isso,
deve compreender essa manifestação. Portanto, o professor deve levar o sujeito a
entender que:
[...] seu corpo sempre estará expressando o discurso hegemônico de uma época e que a compreensão do significado desse “discurso”, bem como de seus determinantes é condição para que ele possa vir a participar do processo de construção do seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos signos a serem gravados em seu corpo (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 221).
O ensino do Atletismo nesta perspectiva irá possibilitar aos estudantes o
conhecimento da trajetória pela qual esse esporte se desenvolveu ao longo dos
anos e o que ele representa no mundo e na sociedade nos dias de hoje.
Neste contexto, o ensino do Atletismo poderá superar a visão tradicional de
ensinar esporte através da realização de movimentos e técnicas, o que não deve
deixar de existir, entretanto, os alunos precisam alcançar o entendimento de que
esse esporte vai além de um simples fazer, aprendendo as diversas questões
culturais a qual ele está envolvido.
Para que isso seja possível, a Educação Física assim como as outras
disciplinas escolares, deve possibilitar aos indivíduos o entendimento do mundo e da
sua realidade através da motricidade humana, trazendo para a aprendizagem dos
educandos as manifestações presentes em nossa sociedade.
Trata-se, portanto, no concernente à Educação Física no Brasil, de apostar na imperiosidade de traduzir o acesso ao saber – produzido, sistematizado e acumulado historicamente – pelas Classes Subalternas, nas “coisas” pertinentes à Motricidade Humana, através da socialização do corpo de conhecimento existente a respeito do conhecimento do Homem em movimento (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 220).
Neste sentido, a Educação Física é a área de conhecimento que estuda
sobre o movimento humano, objetivando o ensino da consciência corporal e também
27
das manifestações culturais, para que seja possível entender as influências advindas
de diferentes momentos históricos, ao mesmo passo em que se transformam no
decorrer dos tempos.
Para isso, a aula de Educação Física, deve favorecer uma compreensão
aprofundada acerca dos seus conteúdos. Assim, no ensino do Atletismo o sujeito
precisa compreender a relação desse esporte com o seu cotidiano, o professor deve
possibilitar aos educandos o entendimento das várias dimensões que esta
modalidade comporta além de possibilitar sua experimentação.
O discente também deve ser levado a pensar sobre as influências que a
mídia provoca nos telespectadores por meio do esporte. É ela que define o que
vamos assistir em vista de seus próprios interesses. A emissora transmite o que
mais irá lhe trazer lucros e não nos proporciona a totalidade do esporte, mas apenas
o que ela considera necessário. Desta forma, a mídia televisiva transmite para as
pessoas o que lhe convém e da forma que lhe convém.
O Atletismo é retratado pela mídia apenas nos evento de grande
importância, e ainda assim, ela exibe somente os atletas que se destacam nesses
eventos. Dificilmente vamos nos deparar com a mídia exibindo as dificuldades dos
atletas, a busca por patrocínios, a falta de salários, as más condições de
treinamento, a falta de um tênis adequado, entre outros.
Mais difícil que esta situação é encontrarmos a mídia televisiva do nosso
país exaltando um atleta que conquistou o segundo ou terceiro lugar, mesmo em
competições internacionais. Esse atleta recebe pouca ou nenhuma atenção, pois
está enraizado na nossa cultura que o atleta valioso é somente aquele que
consegue subir no lugar mais alto do pódio, ou seja, a “[...] história dos atletas é
sempre construída e reconstruída, pontuada sempre pelos melhores momentos”
(BETTI, 2001, p. 107).
Diante disso, o professor deve ensinar aos estudantes os fatores que levam
os atletas de alto rendimento a conseguirem bons resultados, como por exemplo,
estarem em um bom centro de treinamento, tendo uma alimentação saudável,
vestuário adequado cedido pelo clube, treinamento específico para sua prova,
salário em dia, entre outros.
Entretanto, sabemos que esses fatores não são os únicos que levam um
atleta a desenvolver tempos extraordinários. Infelizmente existem outras formas de
28
chegar a esses resultados, o doping é uma delas, o problema é que este meio é
irregular e desleal para a conquista de performances esportivas.
Mesmo sabendo disso, muitos atletas buscam por meio do doping o
rendimento esperado, pois sofrem pressão diariamente para obterem resultados nas
competições. Além disso, também buscam reconhecimento através da fama e do
dinheiro, entre outros benefícios como a publicidade.
Logo, a mídia possui total relação com o fator do doping, pois como já
elencamos somente atletas campeões têm o reconhecimento merecido, por isso
alguns buscam esse resultado mesmo que de forma inconsequente. Com isso, o
doping “[...] provoca uma vantagem tão grande sobre os que não o usam que
dificilmente um talento natural, por melhor que seja, conseguiria superar um atleta
“tratado” com esta substância” (KUNZ, 2006, p. 56).
Nessa relação, o ensino voltado para esta perspectiva irá possibilitar aos
estudantes um pensamento mais complexo sobre o que realmente significa o
Atletismo em todas essas dimensões, ou seja, os conteúdos aprendidos na escola
devem ter sentido para além dela, para todas as situações na vida do estudante.
Nesse contexto e de acordo com Mizukami (1986, p. 88), “A participação do homem
como sujeito na sociedade, na cultura, na história, se faz na medida de sua
conscientização”.
Assim, os estudantes devem ser instigados a pensar, a refletir sobre os
conteúdos que o professor ensina. Nessas aulas a ênfase não pode ser dada
somente à prática do esporte, “[...] pois não é tarefa da escola treinar o aluno, mas
ensinar-lhe o esporte, de forma atrativa, o que inclui sua efetivação prática.” (KUNZ,
2006, p. 126). Com isso, o discente será motivado a pensar, ou seja, compreender o
que está fazendo.
As ações docentes nas aulas de Educação Física devem valorizar o
processo de construção do conhecimento, possibilitando que os estudantes
construam e compreendam sua motricidade, relacionando-a com o conteúdo
aprendido, ao mesmo tempo em que este conteúdo se relaciona com a realidade do
sujeito.
Devemos entender que os docentes da disciplina de Educação Física,
devem preocupar-se com a formação de um sujeito emancipado, para que assim, o
ensino dos seus conteúdos garanta aos estudantes a compreensão e a relação dos
mesmos com a realidade vivida de forma crítica.
29
Para tanto, iremos apresentar uma proposta de organização dos saberes do
conteúdo Atletismo fundamentada nas Diretrizes Curriculares da Educação Física do
estado do Paraná e nos estudos de Palma et al (2010) para o Ensino Fundamental
II.
Cabe ressaltar que os assuntos (saberes) escolhidos para serem abordados
neste nível de ensino são algumas possibilidades de assuntos que temos para
ensinar sobre este conteúdo.
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NÚCLEO: O movimento e os esportes.
OBJETIVO: Promover a construção do conhecimento da manifestação
esportiva Atletismo, a qual faz parte da nossa cultura, possibilitando ao sujeito
compreender o significado desse esporte em nossa sociedade além de vivenciar
suas diversas provas.
TEMA: Esporte Olímpico.
SUBTEMA: Atletismo
6ºANO
- Caracterização do Atletismo.
- Caracterização das provas de corrida em pista.
- Tipos de provas de corrida em pista.
7ºANO
- Caracterização do Atletismo.
- Caracterização das provas de saltos, lançamentos e arremesso.
- Tipos de provas de saltos, lançamentos e arremesso.
8ºANO
- Caracterização do Atletismo.
- A inserção de atletas iniciantes nesse esporte.
- As dificuldades que esses atletas iniciantes irão enfrentar.
9ºANO
- Caracterização do Atletismo.
- A utilização de doping entre os atletas.
- As circunstâncias que levam os atletas a usarem doping.
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O quadro a seguir irá mostrar detalhadamente a proposta de ensino do
Atletismo para o 8º ano do Ensino Fundamental.
TEMA SUBTEMA ASSUNTO EXEMPLOS
Esporte Olímpico
Atletismo
Caracterização do Atletismo
O Atletismo nasceu na Grécia e está fortemente ligado aos jogos olímpicos gregos. Há quatro grupos de provas: Corridas, saltos, lançamentos e arremesso.
A inserção de atletas iniciantes
nesse esporte
O Atletismo possibilita o início de sua prática sem a utilização de materiais e equipamentos caros.
As dificuldades enfrentadas por atletas iniciantes
Salários baixíssimos ou muitas vezes sem salários; sem patrocínios e carência de condições para comprar tênis ou sapatilhas que o clube em muitos casos não disponibiliza; entre outros.
Apresentamos agora como podemos tornar essa proposta real através do
plano de aula. Na primeira aula teremos dois objetivos: “Caracterização do
Atletismo” e “A inserção de atletas iniciantes nesse esporte”. Na segunda aula
vamos ter como objetivo “As dificuldades enfrentadas por atletas iniciantes”.
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Série/Turma: 8° ano Ensino Fundamental II
Bloco/eixo de conhecimento: O Movimento e o Esporte
Tema: Esporte Olímpico
Subtema: Atletismo
Assunto da aula: Caracterização do Atletismo e a inserção de atletas iniciantes
nesse esporte.
Objetivo(s) da aula: Caracterizar o que é o Atletismo e como ocorre a inserção de
atletas iniciantes nesse esporte.
Materiais: Televisão e pen drive.
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS:
Atividade 01: Problematização inicial.
Disposição: Os alunos deverão estar em suas carteiras.
Desenvolvimento: O professor vai apresentar e caracterizar o que é o Atletismo para seus alunos. Exemplo: O Atletismo nasceu na Grécia e está fortemente ligado aos jogos olímpicos gregos; Há quatro grupos de provas: corridas, saltos, lançamentos e arremesso.
Atividade 02: Debate entre os alunos.
Disposição: Os alunos deverão estar em suas carteiras.
Desenvolvimento: O professor vai iniciar um debate questionando os alunos sobre os atletas que começam a praticar o Atletismo: qual classe social observamos com mais frequência nesse esporte e o por que; quais as dificuldades que esses atletas podem enfrentar; qual a necessidade em comprar materiais para iniciar a prática do Atletismo; é possível começar a praticar esse esporte até mesmo descalço? Entre outros.
Atividade 03: Visualização de vídeos.
Disposição: Os alunos deverão estar em suas carteiras.
Desenvolvimento: Os alunos irão visualizar alguns vídeos de atletas que estão iniciando no Atletismo e também vídeos de atletas profissionais contando como foi o início da carreira nesse esporte.
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Avaliação da Aula: Problematização final realizada pelo professor sobre os assuntos estudados; Apontamento dos alunos sobre os assuntos aprendidos em sala.
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5 METODOLOGIA
Para que possamos alcançar nossos objetivos, será realizada uma pesquisa
de campo, que segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 186), “[...] é aquela utilizada
com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um
problema, para o qual se procura uma resposta”.
A pesquisa foi realizada por meio de uma entrevista com quatro professores
do Ensino Fundamental II, da rede pública da cidade de Londrina-PR, sendo
professores de escolas localizadas na região oeste da cidade. Escolhemos essa
região por eu morar neste local e ter um acesso mais fácil a essas escolas. O critério
utilizado para esta pesquisa permite uma amostra de como está sendo ensinado
este conteúdo em toda a rede.
Como instrumento para a coleta de dados do presente estudo, elaboraremos
um roteiro para a entrevista semiestruturada, a qual será aplicada aos professores.
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 195).
Será realizada uma entrevista piloto com um professor, sendo esta um pré-
teste das questões que serão perguntadas, posteriormente aos professores
entrevistados. A entrevista será gravada em um celular da marca Samsung, modelo
GT-S5360B.
A entrevista semiestruturada será realizada com o entrevistador tendo em
mãos um roteiro de questões já estabelecidas, entretanto, dependendo da situação
das respostas dos entrevistados, poderão ser feitas outras questões que não fazem
parte do roteiro inicial.
As entrevistas serão realizadas nos dias, locais e horários agendados com
os professores. A entrevista será realizada tendo em vista o roteiro de questões
abaixo:
- Qual o papel da Educação Física na escola?
- Você já ensinou sobre esporte em suas aulas? Quais esportes?
- Você ensinou sobre o Atletismo em suas aulas?
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- Quais saberes do Atletismo foram ensinados em suas aulas?
- Como você ensina sobre o Atletismo em suas aulas?
- Você dá continuidade no ensino do Atletismo?
5.1 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS
Para realizar a discussão e análise dos dados, organizamos três categorias
a partir das respostas dos professores. Essas categorias são: “Ensino do núcleo O
Movimento e o Esporte”, “Professores que abordaram o ensino Atletismo” e “Ensino
do Atletismo”.
Vamos identificar os professores através da letra “P” juntamente com o
número que irá representar cada um. Desta forma serão identificados como P1, P2,
P3 e P4.
A primeira categoria “Ensino do núcleo O Movimento e o Esporte” foi criada
para verificar se os professores abordam este núcleo em suas aulas. Assim, todos
os professores entrevistados afirmaram que já haviam “trabalhado” (utilizando essa
terminologia) as modalidades esportivas como futebol, futsal, ginástica, vôlei,
badminton, basquete, handebol e Atletismo. Alguns professores citaram como
esporte o dardo e slackline, entretanto, essas atividades não são consideradas como
esporte. Iremos abordar essa discussão mais adiante.
A segunda categoria “Professores que abordaram o ensino Atletismo” foi
criada para identificar se os professores ensinam sobre o Atletismo em suas aulas.
Assim, todos os professores que disseram que abordam o ensino do Atletismo em
suas aulas foram incluídos nesta categoria, porém, quando foi perguntando quais os
saberes do Atletismo foram ensinados eles relatam que “trabalham” o Atletismo, mas
não identificam quais saberes foram ensinados.
A terceira e última categoria “Ensino do Atletismo” foi criada visando
especificamente a questão do ensino. Assim, identificamos nessa categoria através
da fala dos professores, que o Atletismo é “trabalhado” através das habilidades
motoras, da prática e técnica desse esporte.
Não podemos afirmar que não houve ensino neste processo, entretanto, o
ensino está focado apenas na técnica das corridas, dos saltos, lançamentos e
arremessos, não considerando o sujeito integral que precisa conhecer não apenas o
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movimento técnico de um esporte, mas também o que ele representa e quais seus
valores perante a sociedade. Com isso, dizer que o Atletismo é “trabalhado” na aula
de Educação Física não significa ensinar sobre essa manifestação cultural,
posteriormente vamos nos aprofundar nessa discussão.
5.2 ENSINO DO NÚCLEO O MOVIMENTO E O ESPORTE
Nessa categoria tivemos o propósito de averiguar se os professores haviam
ensinado sobre o Movimento e o Esporte em suas aulas e identificamos que os
mesmos usaram a terminologia “trabalhar” sobre o ensino do esporte, evidenciando
assim, que já “trabalharam” ou “trabalham” o esporte durante as aulas.
Nessa relação, os professores ressaltaram que “trabalham” as modalidades
esportivas como futebol, futsal, ginástica, vôlei, badminton, basquete, handebol e
Atletismo. Entretanto, podemos observar na fala do professor P4 que o mesmo
aborda o dardo e slackline, porém, estes não são considerados como uma
modalidade esportiva.
Bom, partindo do básico né, que é os esportes coletivos que é o futebol, vôlei, basquete e handebol; o Atletismo é agora a gente tá procurando é diversificar, eu tenho trabalhado com esportes individuais como slackline, jogos de dardo, boliche e tentando procurar alguma coisa que é possa atender melhor o aluno que chame a atenção do aluno pra fugir um pouquinho do esquema tradicional.
Podemos observar que o professor cita o dardo e slackline como modalidade
esportiva, entretanto, essas atividades não se encaixam nessa categoria, pois “[...] o
fenômeno esporte envolve uma atividade física competitiva que é institucionalizada”
(BARBANTI, 2006, p. 55). Desta forma,
As regras da atividade são padronizadas. Isto significa que as regras não são simplesmente o produto de um simples grupo que se reúne informalmente e não são apenas expressões espontâneas de interesses e preocupações individuais. No esporte, as regras do jogo definem um conjunto de procedimentos com guias e restrições (BARBANTI, 2006, p. 56).
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Diante disso, constatamos que uma atividade física só pode ser considerada
como esporte se a mesma possuir instituições como federações, confederações,
comitês olímpicos, que estabeleçam regras para cada modalidade esportiva. Neste
processo e de acordo com as Normas Gerais Sobre Desporto (9615/98) em seu
Capítulo l, parágrafo primeiro define que “A prática desportiva formal é regulada por
normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada
modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do
desporto”.
Sendo assim, as atividades físicas que o professor enunciou como o boliche,
dardo e slackline, quando perguntado sobre quais esportes ele havia ensinado não
são consideradas como modalidades esportivas, pois essas atividades possuem um
caráter lúdico e suas normas são estabelecidas pelos próprios participantes.
Portanto, todos os professores entrevistados afirmaram que “trabalharam” ou
“trabalham” o esporte, identificando os esportes coletivos e também o Atletismo,
relatando que o mesmo é “trabalhado” em suas aulas.
Ainda na fala desse professor, ele aborda que busca diversificar suas aulas
para torná-las mais atrativas para seus estudantes, no entanto, uma aula
diversificada não significa que o professor tenha ensinado um conteúdo significativo
para os discentes. Qualquer pessoa pode passar uma brincadeira, um jogo, um
esporte, enfim, uma atividade diferente e deixar os alunos realizarem essa atividade
sem nenhum compromisso com o ensino.
Os estudantes irão participar da aula e podem ter muito interesse pela
mesma por ser uma novidade para eles, entretanto, o professor deve ensinar sobre
essa atividade e não simplesmente trazer e deixar os estudantes realizarem a
mesma sem ter o conhecimento das várias dimensões que estão presentes por trás
dessa manifestação cultural. O professor poderá trazer uma atividade diferente sem
deixar de ensinar um conteúdo para os estudantes, desde que esses temas sejam
abordados no ensino dessa manifestação. Portanto, a resposta que o professor nos
deu mostra que não houve ensino em suas aulas.
Podemos definir processo de ensino como uma sequência de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais os alunos aprimoram capacidades cognitivas (pensamento independente, observação, análise-síntese e outras) (LIBÂNEO, 1994, p. 54, grifo do autor).
38
Assim, se o professor apenas diversificar sua aula ele não estará ensinando
um conteúdo significativo para seus estudantes, pois o ensino exige muito mais que
tão somente uma aula diferenciada.
Trazer para os discentes uma nova brincadeira, um novo jogo ou deixá-los
jogando futebol a aula inteira não exige a atenção de um profissional com anos de
formação. Para isso, uma pessoa que até mesmo não tenha estudo é capaz de
realizar essas atividades com as crianças.
Diante disso, o professor não pode acreditar que trazendo uma aula
diversificada para seus estudantes estará ensinando algum assunto. O docente deve
ter uma sistematização dos conteúdos, antecipar os objetivos das suas aulas, ter o
conhecimento dos métodos mais eficientes de ensino, saber lidar com as diferenças
entre os estudantes, estimulá-los a aprender um novo assunto em aula, entre outros.
Nesta relação, o ensino “[...] exige constantes balanços críticos dos
conhecimentos produzidos no seu campo (as técnicas, os métodos, as teorias), para
deles se apropriar” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 204).
Logo, o ensino deve fazer os estudantes pensarem, refletirem criticamente
sobre determinado assunto para construírem conhecimento a respeito do mesmo.
Assim, uma aula diversificada que leve os estudantes a essas reflexões estará
cumprindo com sua real função que é o ensino e consequentemente resultará na
aprendizagem por parte dos discentes.
Por outro lado, se a aula diversificada for apenas uma realização de
atividades novas/diferentes como citado pelo professor, sem haver o ensino sobre
essa determinada manifestação, o docente não estará cumprindo com seu papel de
ensinar, que tem a responsabilidade de levar os estudantes a compreenderem o
movimento realizado e sua relação com o mundo vivido.
No ensino da Educação Física isto deve significar que pelo ensino de Movimentos, Jogos e Esportes, o aluno também apreenda e “decifre”, além da realidade esportiva, o próprio Contexto Social mais amplo, em que esta prática se realiza. O que, mais uma vez, só pode acontecer num processo de “Ação-Reflexão” no ato pedagógico, através do qual os alunos tomam consciência (KUNZ, 2004, p. 149, grifo do autor).
Como podemos observar, o professor de Educação Física precisa construir
junto com seus estudantes a compreensão do mundo através da sua corporeidade,
e isso não será possível apenas diversificando suas aulas. A tarefa não é fácil, mas
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para que haja um ensino significativo o professor vai precisar ter o conhecimento
aprofundado dos conteúdos que irá ensinar e mais ainda, a compreensão da
realidade do sujeito para que possa fazer os mesmos compreenderem a relação dos
assuntos aprendidos em sala com o mundo vivido fora dela.
Na próxima categoria vamos verificar quais professores abordaram o ensino
do Atletismo em suas aulas e como ensinaram sobre esse esporte, identificando se
o ensino levou em conta a construção do conhecimento e a relação dos conteúdos
com o mundo que vivem os estudantes.
5.3 PROFESSORES QUE ABORDARAM O ENSINO ATLETISMO
Essa categoria foi criada para identificar se os professores ensinam ou
ensinaram sobre o Atletismo. Com isso, todos relataram que já haviam ensinado o
Atletismo ainda que de forma indireta como descreveu um professor. Porém a
terminologia usada por eles foi que “trabalham” ou “trabalharam” o Atletismo em
suas aulas. Podemos observar na fala do professor P4:
Quando você trabalha com, por exemplo, salto em distância, como não tenho caixa de areia a gente vai improvisando, vamos fazer na grama né, procurando sempre adaptar uma coisa ou outra.
O professor P2, também quando perguntado sobre o ensino do Atletismo
afirma já ter “trabalhado” esta modalidade esportiva, como podemos ver em sua fala:
Eu trabalhava muito na rua com eles. Eu interditava a rua aí fazia competição de 50 metros, 100 metros, salto em distância na grama, arremesso de peso, com o 6º ano eu fazia arremesso de pelota, corrida de revezamento, o que a gente tinha condições de fazer, participamos de muitas competições de Atletismo.
Os dois professores relataram que já “trabalharam” o Atletismo e citaram as
provas que os alunos realizavam, não reportando um ensino aprofundado sobre este
conteúdo. O professor P2 evidenciou ainda que seus alunos participavam de muitas
competições de Atletismo.
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Como sabemos, a aula de Educação Física não deve preocupar-se em
desenvolver competições ou levar os estudantes a participarem das mesmas. O
professor deve mobilizar o sujeito para que ele possa construir conhecimento em
relação ao esporte, e, consequentemente ele precisará conhecer as diferentes
competições realizadas nessa modalidade esportiva, o que não significa que o
sujeito tenha a obrigação de competir.
Assim, a motricidade humana não pode ter um sentido repetitivo, compensatório ou preparatório, tampouco pode ter marcas atléticas a alcançar. Deve ser compreendida pelo professor como uma manifestação
viva e complexa da corporeidade (PALMA et al, 2010, p. 54).
A responsabilidade do professor é levar o discente a conhecer essa
manifestação presente em nossa cultura, o público participante, a visão que a
sociedade possui, a iniciação, a chegada ao sucesso, depois de conseguir alcançar
fama e prestígio, a diferença entre um atleta célebre desse esporte com outros
(como por exemplo, o futebol), a importância que o nosso país demostra em relação
a ele, entre outros.
Quando perguntamos aos professores sobre quais saberes eles haviam
ensinado sobre o conteúdo Atletismo, eles nos relataram que haviam “trabalhado”
esse esporte para desenvolver a capacidade física, coordenação motora e apenas a
realização das provas. Podemos ver esta situação no discurso do professor P1:
Eu gosto de iniciar bem no começo do ano por que eu inicio com corrida de velocidade, resistência, corrida de revezamento. O salto em distância e altura já não dá por que não tem o material né.
O professor destaca que começa ensinando o Atletismo com corridas de
velocidade e posteriormente as outras provas, ele ainda aborda que não é possível
trabalhar os saltos por não haver materiais para sua realização. A origem e história
do Atletismo também não são ensinadas aos estudantes, ficando apenas na
realização da modalidade esportiva.
Em momento algum o professor trás em sua fala as diversas outras
questões que envolvem esse esporte, como sua questão social, política, como por
exemplo, o doping, atletas iniciantes e de alto rendimento, entre outros. Para que o
41
professor possa ensinar sobre esses assuntos, ele precisa ter o conhecimento
desses problemas que afetam os atletas em diferentes níveis nessa modalidade.
Esclarecer para melhor compreender o esporte que se pratica, no caso das relações pedagógicas no ensino escolar dos esportes, implica que professores de Educação Física tenham melhor conhecimento de determinados problemas que atingem atletas e o seu processo de escalada ao sucesso (que na maioria das vezes nem ocorre) (KUNZ, 2006, p. 47).
Sendo assim, os professores precisam ter o conhecimento de que apenas a
realização do esporte e suas técnicas não serão suficientes para ensinar os
estudantes, pois o ensino neste processo não terá nenhuma relação com a vida do
sujeito, ele simplesmente irá realizar a atividade porque é “legal” e ao final da aula
não compreenderão o significado dessa modalidade esportiva dentro do seu meio
cultural.
Muitas vezes o estudante não aprende sequer a realização de movimentos
adequados na prática do esporte, pois o professor não tem a mínima preocupação
de ensinar nem mesmo sobre isso, logo, um ensino aprofundado sobre determinado
assunto será muito improvável.
Não devemos esquecer que o estudante também realizará esses
movimentos relacionados com a manifestação esportiva que está aprendendo,
entretanto, ele precisará conhecer as diversas questões que envolvem essa
manifestação cultural, avançando em relação a prática unicamente. “Assim, é
preciso analisar criticamente o esporte, voltando atenções para o esclarecimento das
implicações que ele pode ter na conjuntura social existente” (PALMA, 2008, p. 133).
No discurso do professor P3 ele aborda alguns assuntos que avançam um
pouco em relação aos outros professores, que apenas citaram o ensino do Atletismo
pela realização das corridas, saltos, lançamentos e arremessos. Podemos observar
em sua fala:
Eu trabalho da seguinte maneira: eu vou trabalhar o Atletismo. Ele tem que saber o porquê do Atletismo, quando surgiu, a base dele, trabalho muito a frequência cardíaca, o que acontece no corpo. Eu acho muito importante esse trabalho, não só a técnica, mas o porquê do que eu estou fazendo. Sempre trabalhar dessa maneira.
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Este professor destaca que os estudantes precisam saber como surgiu o
Atletismo, que não se deve “trabalhar” apenas a técnica e que os estudantes
precisam saber o porquê do Atletismo, porém, ele não avançou em relação a esse
“por que”, abordando somente a frequência cardíaca e aspectos biológicos do corpo,
não destacando a importância dos outros fatores que estão presentes nessa
modalidade esportiva.
O ensino do Atletismo vai muito além desses aspectos citados pelo
professor, entretanto, ele ainda aborda algumas questões que avançam em relação
ao ensino desse esporte exclusivamente pela realização das suas provas, mas isso
não é o suficiente para que os estudantes possam ter a construção de um
pensamento crítico e a compreensão dos movimentos que realizam.
No instante em que compreende o que fez, o sujeito será capaz de regular sua ação, e então esta deixa de ser exterior ao seu pensamento e passa a ser abstraída em forma de conceitos. Compreender é construir estruturas de
assimilação, e não proceder a intermináveis repetições (PALMA et al, 2010, p. 204).
Desta forma, os estudantes precisam entender os movimentos e ações que
executam durante as aulas, pois se esse entendimento não acontecer, a realização
dessas ações ficarão subordinadas as ilimitadas repetições sem nenhum
entendimento sobre o que está se fazendo, não conduzindo o sujeito a construir
suas concepções em relação ao conteúdo aprendido.
No ensino do Atletismo os professores não podem fazer os estudantes
realizarem suas provas considerando que estão ensinando sobre essa modalidade,
muito menos levarem os mesmos a competições, tratando-os como atletas. Ao
contrário, o docente pode levar seus estudantes para conhecer uma pista oficial de
Atletismo, conversar com os atletas sobre a realidade dentro desse esporte, as
dificuldades que enfrentam, entre outros.
Portanto, os estudantes precisam ter o conhecimento da realidade desse
esporte no meio social em que vivem, para que o ensino tenha relação com o mundo
vivido por eles, o que não significa deixar de realizar os movimentos dessa
modalidade esportiva, entretanto, esses movimentos devem vir acompanhados pela
compreensão e construção do conhecimento pelo sujeito sobre essa manifestação
cultural, o Atletismo.
43
5.4 ENSINO DO ATLETISMO
Esta categoria foi criada pensando na questão especificamente do ensino.
Diante disso, os professores nos relataram que haviam abordado o Atletismo em
suas aulas, mas isso não significa que tenham ensinado sobre essa manifestação
cultural.
O ensino do Atletismo não é simplesmente expor essa modalidade esportiva
e fazer os estudantes executarem suas técnicas e movimentos, deixando de lado o
que de mais valioso essa manifestação têm para oferecer, como suas questões
sócio-culturais que mostram a realidade desse esporte para o sujeito.
Desta forma, quando os professores relatam que “trabalham” o Atletismo,
estão abordando apenas a prática desta modalidade através da realização das suas
provas, deixando de lado as questões que favorecem o ensino de assuntos que irão
propiciar aos estudantes a construção de um pensamento crítico em relação a essa
manifestação cultural.
Portanto, ensinar deveria ser “[...] um processo, ou seja, caracteriza-se pelo
desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos
alunos em direção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação”
(LIBÂNEO, 1994, p. 54).
Desta maneira, se os alunos ficarem centrados na prática pela prática o
ensino não estará cumprindo sua função, pois os estudantes irão realizar as
atividades sem haver o conhecimento sobre elas. “Conhecimento é uma forma de
entendimento da realidade; é a compreensão inteligível daquilo que se passa na
realidade” (LUCKESI, 1994, p. 102).
Consequentemente, os alunos não poderão construir seu conhecimento a
cerca da realidade se as aulas estiverem pautadas tão somente na realização de
atividades. Logo, no ensino do Atletismo os professores deverão trazer a realidade
desse esporte para os estudantes. Ensinar sobre essas questões é fundamental
para que se concretize um verdadeiro e significativo ensino.
Assim, podemos observar na fala do professor P4 quando perguntado sobre
quais saberes do Atletismo ele havia ensinado:
As modalidades, as habilidades que são desenvolvidas durante a prática de Atletismo, técnicas, as técnicas básicas pra realizar a prática do Atletismo, principalmente voltado pro conhecimento e domínio das habilidades,
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entender um pouco sobre a importância dessas habilidades, a diversidade, a bagagem motora, a diversidade dessas práticas se torna importante a partir do momento em que você vai possibilitando eles conhecerem e realizarem movimentos, criarem movimentos e descobrir a capacidade que o seu corpo faz e essa capacidade pra ajudar no desenvolvimento desse aluno de uma forma mais ampla, dar a ele mais experiência de atividade.
De acordo com a fala do professor nós vemos que o ensino ficou relegado,
pois o docente estava pautado somente nas ações de fazer a atividade pela
atividade, tendo como intenção maior o desenvolvimento das habilidades motoras.
Quando perguntamos a esse professor se ele elaborava uma sistematização dos
saberes do Atletismo, ele nos deu a seguinte resposta:
Hoje eu tô trabalhando no ensino médio né, mas quando chega no ensino médio a gente observa uma dificuldade muito grande dos alunos do ensino médio na realização dessas práticas, eles têm mais receio do seu corpo, eles procuram temas, a gente tem procurado trabalhar temas que vá ao encontro das necessidades deles. A gente observa que tem muita jovem, muito jovem também com dificuldade de expressão corporal, com bloqueios corporais e a gente procura trabalhar voltando a atender essas necessidades.
Podemos constatar que o professor nos deu uma resposta evasiva em
relação ao que foi perguntado e em nenhum momento ele falou que faz alguma
sistematização desses saberes, ou seja, ele não dá continuidade nesse
conhecimento ao longo dos anos da educação básica.
Fica evidente na fala do professor que ele está sempre focado na prática das
atividades, alegando que o ensino médio possui dificuldades em relação as mesmas
e por isso, o ensino do Atletismo se torna inviável para esses jovens.
Muito pelo contrário, o Atletismo pode e deve ser ensinado também no
ensino médio, para que haja uma continuidade no ensino deste conteúdo e assim,
possibilitar aos estudantes a construção do conhecimento ao longo dos anos na
educação básica. Portanto, o conhecimento deve possibilitar “[...] o desenvolvimento
das capacidades cognoscitivas dos alunos, isto é, das funções intelectuais entre as
quais se destaca o pensamento independente e criativo” (LIBÂNEO, 1994, p. 128).
Quando perguntamos ao professor P1 sobre os saberes do Atletismo que
ele havia ensinado, ele nos relatou da seguinte maneira:
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A corrida né, resistência, a corrida de revezamento, o arremesso né. A aula passada mesmo eu estava ensinando a corrida de revezamento, aí eu fiz na quadra duas raias, primeiro eu tinha passado um vídeo pra eles entender que são oito raias tal daí eu passei. Aí eu passei a voz de comando atenção, preparar, já né, a saída certinho como eles medir pra passada do bastão né. Então eu gastei o que, três aulas né na corrida de revezamento, uma na prática, a outra eu passei o vídeo, a outra eles fizeram as pesquisas.
Diante da fala desse professor, observamos que o ensino do Atletismo está
direcionado apenas para a realização das provas. O professor destaca ainda que
suas aulas são divididas em três partes, uma aula prática, uma teórica e a outra para
as pesquisas, entretanto, essas situações não devem ser separadas, pois em todas
elas há o momento de realização dos movimentos e o momento de pensar e refletir
sobre eles.
O professor não ensina sequer as questões técnicas do Atletismo de
maneira certa para os estudantes, pois a forma correta da voz de comando nas
provas de velocidade é: “às suas marcas, prontos”, e então é dado o tiro de partida,
diferente de “atenção, preparar já”, como ele nos relatou.
É notório que os professores têm dificuldade de ensinar sobre a execução
correta das técnicas e táticas do Atletismo, que é claro, também devem ser
ensinadas corretamente aos educandos, mas essas questões deveriam estar
acompanhadas do que é mais valioso no ensino desse esporte, como fazer o sujeito
compreender essa manifestação de modo integral, ou seja, aprender sobre os
movimentos corretos dessa modalidade e principalmente, construir um pensamento
crítico sobre essa manifestação e sua representação em nosso meio cultural.
Neste processo, o ensino do Atletismo “[...] pode contribuir para que o aluno,
por meio do esclarecimento e da reflexão e abstração crítica, apreenda e
compreenda a realidade da sociedade à qual pertence” (PALMA, 2008, p. 134).
Assim, o ensino do esporte nas aulas de Educação Física não pode
considerar apenas a sua realização “prática”, mas levar o sujeito a conhecer a
complexidade dessa manifestação cultural e o que ela simboliza no meio social
vivido por ele.
A tematização do esporte enquanto mundo vivido permite, assim, questionar de forma contextualizada os momentos em que corporeidade e movimento ganham significado na infância e na adolescência. E, neste sentido, percebendo-se a relação do mundo vivido enquanto mundo de movimento,
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pode-se compreender a importância do se-movimentar do homem na constituição de uma relação muito especial de homem-mundo (KUNZ, 2006, p. 66, grifo do autor).
O ensino do Atletismo nessa relação vai possibilitar ao sujeito a
compreensão do seu movimento no mundo, e consequentemente, poderá
transformar-se em um ser humano emancipado e com autonomia para tomar suas
decisões diante dos acontecimentos cotidianos. Entretanto, se este ensino visar
apenas a sua realização técnica, esta compreensão de mundo ficará relegada aos
estudantes, não propiciando aos mesmos a riqueza de saberes desta manifestação
sociocultural.
Nessa relação, perguntamos ao professor P3 sobre o ensino do Atletismo e
os saberes que ele ensinava sobre esse esporte.
Eu acho importante ele saber desde a base né, da onde surgiu, desde os primórdios da humanidade que a gente já, não tinha o nome de Atletismo, mas correr, saltar, lançar, arremessar, então eles aprendem isso pra depois ir pra prática.
Também perguntamos a ele se o ensino deste conteúdo tinha continuidade,
e o mesmo respondeu que sim.
A sim, com certeza. É mais até o nono ano, no ensino médio eu já não, porque eles já são mais preguiçosos sabe, então eu trabalho mais assim a importância da atividade na vida diária, não exijo tanto, só se algum aluno assim, que destaca pra ir pra jogos, pra competições, caso contrário não.
Nas duas respostas do professor, percebemos que ele não conhece a
história e origem do Atletismo, e por isso, relaciona o mesmo com os movimentos
naturais do ser humano. Ele também divide sua aula em dois momentos, a teoria e a
prática, não compreendendo que uma ação complementa a outra.
Quando o professor respondeu sobre a continuidade do ensino, ele relata
que no ensino médio os alunos são “preguiçosos” e remete suas aulas aos jogos e
competições, evidenciando que o Atletismo somente é abordado para direcionar
algum estudante para a participação em jogos.
Entendemos que as aulas de Educação Física não têm a preocupação em
formar atletas e o professor está muito equivocado em falar que os estudantes do
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ensino médio são preguiçosos e por isso ele não ensina o Atletismo. Se de fato
fosse assim, os alunos teriam preguiça em relação a qualquer conteúdo e não
apenas ao Atletismo.
Portanto, o ensino perante a fala desse professor ficou relegado, pois ele vê
o Atletismo com o objetivo do rendimento e não destaca as questões cruciais
relacionadas a esse esporte e que não poderiam deixar de ser ensinadas. Diante
disso, o ensino dessa manifestação “[...] não pode ter um sentido repetitivo,
compensatório, preparatório, nem marcas atléticas a alcançar, mas compreendida
pelo professor como uma manifestação viva e complexa da corporeidade” (PALMA,
2008, p. 140).
Nessa relação, quando perguntamos ao professor P2, sobre o ensino do
Atletismo ele nos deu a seguinte resposta.
Olha o Atletismo, eu já trabalhei com o Atletismo, mas não de forma específica. Então trabalhar alguns aspectos motor básicos, como a corrida, o salto, mas não o Atletismo de forma específica, as modalidades específicas do Atletismo eu ainda não trabalhei com os alunos.
Posteriormente a essa resposta, perguntamos então se ele tinha a intenção
de ensinar sobre o Atletismo, se este conteúdo estava no seu plano de ensino.
Sim pretendo, eu acho que durante esses três anos que eu estou na educação básica, eu acho que o Atletismo ele foi um pouco negligenciado pela minha parte e a ideia, após alguns estudos, algumas reflexões eu percebi que é importante sim trabalhar o Atletismo na escola.
Averiguando essa resposta do professor, percebemos que durante os três
anos que ele está na educação básica o Atletismo não foi ensinado para os
estudantes, entretanto, ele afirma que esse esporte é importante e que vai ensinar
sobre ele. Contudo o ensino dessa manifestação cultural não aconteceu até o
momento nas aulas desse professor.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disciplina de Educação Física é uma área de conhecimento e tem papel
fundamental para a vida e formação dos estudantes, levando-os a compreender e
refletir sobre as relações existentes dentro da sociedade em que vivem.
Neste processo, a Educação Física assim como as outras disciplinas possui
conteúdos valiosos para a construção de um ser humano crítico e ativo perante a
sociedade, possibilitando que o mesmo seja capaz de pensar e agir em relação a
sua motricidade.
Assim, os conteúdos dessa disciplina não podem ser submetidos a práticas
estéreis, mas possibilitar ao sujeito a compreensão do seu movimento, tornando-se
possível através da ação refletida intencional. Com isso, a Educação Física que
estuda o movimento culturalmente construído, deve favorecer aos educandos a
construção do conhecimento sobre as diversas manifestações culturais inseridas em
nossa sociedade e também no mundo.
Considerando que o objetivo geral dessa pesquisa foi verificar se o Atletismo
faz parte dos conteúdos a serem ensinados no Ensino Fundamental II e quais
saberes são abordados neste nível de ensino, evidenciamos que esse conteúdo é
abordado pelos professores, entretanto o ensino não fica caracterizado, pois os
docentes nos deram respostas evasivas quando perguntado sobre quais saberes do
Atletismo foram ensinados em suas aulas.
Nos objetivos específicos preocupamo-nos em identificar quais os saberes
do conteúdo Atletismo são ensinados nas aulas de Educação Física nas turmas
pesquisadas e apresentar uma proposta dos saberes a serem ensinados sobre o
Atletismo enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental
II.
Nessa relação, identificamos que os saberes sobre o Atletismo que estão
sendo ensinados no Ensino Fundamental II estão fortemente direcionados à
realização dos movimentos, não havendo a construção do conhecimento sobre eles.
Assim, foi elaborada uma proposta dos saberes a serem ensinados sobre o
Atletismo enquanto conteúdo, considerando as diversas questões que envolvem
essa manifestação esportiva.
Portanto, o primeiro capítulo deste trabalho foi direcionado ao ensino do
Atletismo nas aulas de Educação Física, evidenciando que este ensino deve
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possibilitar a compreensão de mundo pelo sujeito, ou seja, que ele possa utilizar em
sua vida os conteúdos que aprende na escola.
No segundo capítulo preocupamo-nos em apresentar a história e origem do
Atletismo, evidenciando o seu desenvolvimento no decorrer dos tempos. Abordamos
também suas provas e categorias, as confederações e os atletas participantes dessa
modalidade esportiva.
No terceiro e último capítulo apresentamos uma proposta de ensino do
Atletismo para o Ensino Fundamental II, onde ressaltamos que o ensino desse
conteúdo deve superar a realização somente por movimentos e técnicas,
possibilitando por meio dos seus saberes a formação integral do sujeito.
O objetivo geral deste trabalho foi alcançado, pois todos os professores
entrevistados relataram que ensinam o Atletismo no Ensino Fundamental II,
entretanto, nenhum deles nos deu uma resposta convincente sobre quais saberes
do Atletismo foram ensinados em suas aulas, ou seja, o ensino do Atletismo ficou
relegado, sendo o mesmo, abordado por todos os professores como atividade para
melhora da coordenação motora, movimentos técnicos, habilidades para realizar
suas provas, entre outros.
Diante dessas respostas dos professores, o estudo indicou uma
possibilidade de saberes do Atletismo que podem ser ensinados no Ensino
Fundamental II, visando a formação de um sujeito práxico, com a intenção em
contribuir com os professores e futuros professores durante sua atuação profissional.
É importante pensarmos a disciplina de Educação Física sob um olhar
crítico, pois ela deve propiciar aos educandos essa criticidade nas relações sociais
em que ele vive, ou seja, possibilitar que o sujeito compreenda as manifestações
existentes na sua cultura e agir ativamente sobre elas, através da sua corporeidade.
50
REFERÊNCIAS
BARBANTI, V. (2006). O que é Esporte? Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v.11, No 1. BECKER, Fernando; MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre: Mediação, 2010. BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia. Motrivivência. Florianópolis, v12, n. 17, p. 107-111, set 2001. BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. BRASIL. Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Congresso Nacional. CASTELLANI FILHO, Lino. Educação física no Brasil: A história que não se conta. Campinas, SP: Papirus, 1988. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. Provas Oficiais. Disponível em http://www.cbat.org.br/provas/provas_oficiais.asp. Acesso em: 15 out. 2014. DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. KUNZ, Elenor. Educação física: ensino & mudanças. 3. ed. -- Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. ______. Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. 7. ed. -- Ijuí: Ed. Unijuí, 2006. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção magistério 2.º grau. Série formação do professor). LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. MATTHIESEN, Sara Quenzer. Atletismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. (temas básicos de educação e ensino).
51
PALMA, Ângela P. T. V.; OLIVEIRA, Amauri A. B.; PALMA, José A. V. Educação Física e a organização curricular: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2.ed. Londrina: Eduel, 2010. PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Educação Física para a Educação Básica. Paraná, SEED, 2008. PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Docência em Formação). PIRES, Antonio Geraldo M. G.; JÚNIOR, Anísio Calciolari; HONORATO, Tony. Representações sociais e imaginário no mundo esportivo. O esporte na escola como conteúdo da educação física. Londrina: Lazer & Sport, 2008. (capítulo 10, p. 129-1). TURINI, Marcio; DACOSTA, Lamartine. Coletânea de textos em estudos olímpicos. 2002. Disponível em: <http://http://www.uel.br/projetos/cenesp/livros/estolimpicos/Texto%20%28Volume%202%29.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2015.
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ANEXOS
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ANEXO A
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Prezado(a) Senhor(a)
Gostaríamos de convidá-lo a participar do nosso estudo Atletismo: Saberes que
estão sendo ensinados no Ensino Fundamental ll, que tem como objetivo investigar
quais os saberes do Atletismo os professores estão ensinando nas aulas de
Educação Física no Ensino Fundamental II.
Parte desta pesquisa consistirá na realização de gravação de entrevista
semiestruturada junto aos participantes do estudo e posterior análise dos dados.
Trata-se de uma Monografia, desenvolvida por Erika Bandiera Rengel e
orientada pelo Prof. Dr. Orlando Mendes Fogaça Junior, do curso de Licenciatura em
Educação Física do Departamento de Estudos do Movimento Humano, Centro de
Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina.
A qualquer momento da realização desse estudo qualquer
participante/pesquisado poderá receber os esclarecimentos adicionais que julgar
necessários. O professor(a) selecionado poderá recusar-se a participar ou retirar-se da
pesquisa em qualquer fase da mesma, sem nenhum tipo de penalidade,
constrangimento ou prejuízo aos mesmos. O sigilo das informações será preservado
através de adequada codificação dos instrumentos de coleta de dados.
Especificamente, nenhum nome, identificação de pessoas interessa a esse estudo.
Todos os registros efetuados no decorrer desta investigação serão usados para fins
unicamente acadêmico-científicos e apresentados na forma de TCC, monografia ou
artigo científico, não sendo utilizados para qualquer fim comercial.
Em caso de concordância com as considerações expostas, solicitamos que
assine este “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” no local indicado abaixo.
Desde já agradecemos sua colaboração e nos comprometemos com a
disponibilização à instituição dos resultados obtidos nesta pesquisa, tornando-os
acessíveis a todos os participantes.
ERIKA BANDIERA RENGEL
Pesquisadora
Especialização em Educação Física EMH/CEFE/UEL
Prof. Dr. ORLANDO MENDES FOGAÇA JUNIOR
Orientador (a)
EMH/CEFE/UEL
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Eu, ____________________________________________________________,
assino o termo de consentimento, após esclarecimento e concordância com os
objetivos e condições da realização da pesquisa, permitindo, também, que os
resultados gerais deste estudo sejam divulgados sem a menção dos nomes dos
pesquisados.
Londrina, ____ de ______ de 201_.
Assinatura do Pesquisado/da Pesquisada
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