Post on 24-Jul-2020
Faculdade de Educação
Departamento de Educação em Ciências Naturais e Matemática
Licenciatura em Educação Ambiental
Monografia
ANÁLISE DA CONSCIENCIA AMBIENTAL NA PREVENÇÃO DA CÓLERA NO
BAIRRO LUÍS CABRAL NO MUNICÍPIO DE MAPUTO
Margarida João Cossa
Maputo, Fevereiro de 2019
ANÁLISE DA CONSCIENCIA AMBIENTAL NA PREVENÇÃO DA CÓLERA NO
BAIRRO LUÍS CABRAL NO MUNICÍPIO DE MAPUTO
Monografia apresentada ao Departamento de Educação
em Ciências Naturais e Matemática como requisito final
para a obtenção do grau de Licenciatura em Educação
Ambiental
Margarida João Cossa
Supervisor: dr. Alcídio Gustavo Tomé Macuácua
Co-supervisor: dr. Pedro Francisco Notisso
Maputo, Fevereiro de 2019
i
Declaração de Originalidade
Esta monografia foi julgada suficiente como um dos requisitos para a obtenção do grau de
Licenciatura em Educação Ambiental e aprovada na sua forma final pelo curso de
Licenciatura em Educação Ambiental, Departamento de Educação, Ciências Naturais e
Matemática da Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane.
dr. Armindo Ernesto
______________________________
(Director do Curso de Licenciatura em Educação Ambiental)
O Júri de Avaliação
O Presidente do Júri O Examinador O Supervisor
___________________ _________________ __________________
ii
Agradecimentos
A Deus por ter iluminado os meus caminhos.
Aos meus amigos e familiares por toda força e apoio que me deram.
Aos colegas do curso, em especial a Judite Vilanculos, Deolinda Mudumbe, Eugênia Majeia
e companheiros da jornada que além de serem conselheiros, deram de si para que criássemos
uma verdadeira comunidade científica.
Em especial aos drs. Alcídio Macuácua e Pedro Notisso pela orientação magnífica que me
prestaram durante o curso e na produção da presente monografia.
À todos que directa ou indirectamente contribuíram positivamente na concretização deste
trabalho. E que por serem muitos não haveria páginas suficientes para escrever todos os seus
nomes.
iii
Dedicatória
Ao meu marido Rogério De Sousa Salvador por todo apoio que generosamente dispensou
durante o tempo de formação.
Aos meus filhos Willy e Winny que durante muitos anos de formação se viram sem a sua
mãe para os apoiar.
Dedico em especial a minha mãe Luisa da Conceição Pondja que me deu a vida e por ela
chegui até onde cheguei, embora ja não esteja entre nós, kanimambo mama.
iv
Declaração de Honra
Declaro por minha honra que esta Monografia nunca foi apresentada para a obtenção de
qualquer grau académico e que a mesma constitui o resultado do meu labor individual,
estando indicadas ao longo do texto e nas referências bibliográficas todas as fontes utilizadas.
A candidata:
_______________________
(Margarida João Cossa)
v
Índice
Declaração de Originalidade ............................................................................................................ i
Agradecimentos .............................................................................................................................. ii
Dedicatória ..................................................................................................................................... iii
Declaração de Honra ...................................................................................................................... iv
Lista de Tabelas e Figuras............................................................................................................... v
Lista de abreviaturas ...................................................................................................................... vi
Resumo ......................................................................................................................................... vii
CAPITULO I: INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.2. Formulação do problema ......................................................................................................... 2
1.3. Objectivos ................................................................................................................................ 4
1.3.1. Geral ...................................................................................................................................... 4
1.4. Perguntas de pesquisa .............................................................................................................. 4
1.5. Justificativa .............................................................................................................................. 4
CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 6
2.2. Educação ambiental ................................................................................................................. 8
2.3. Estratégias de Educação Ambiental ....................................................................................... 10
2.4. Conceito da cólera e factores de risco .................................................................................... 13
2.5 Prevenção da Cólera ............................................................................................................... 14
2.5. Papel da educação ambiental na prevenção da cólera ........................................................... 15
2.6. Lições aprendidas sobre a revisão de literatura ..................................................................... 16
CAPÍTULO III: METODOLOGIA .............................................................................................. 18
vi
3.1. Descrição do local de estudo .................................................................................................. 18
3.2. Abordagem metodológica ...................................................................................................... 18
3.3. Amostragem ........................................................................................................................... 19
3.4. Técnicas de recolha e análise de dados .................................................................................. 20
3.4.1. Técnicas de recolha de dados .............................................................................................. 20
3.4.1.1. Formulário........................................................................................................................ 20
3.4.1.2. Observação Assistemática ............................................................................................... 21
3.4.1.3. Tecnica de Análise de Dados ........................................................................................... 21
3.5. Questões éticas ....................................................................................................................... 22
3.6. Limitações do estudo ............................................................................................................. 23
4.1. Nível de Consciência Ambiental dos Moradores do Luís Cabral .......................................... 24
4.2. Estratégia de Educação Ambiental Para a Prevenção da Cólera em Luís Cabral. ................. 28
CAPÍTULO V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................... 32
5.1. Conclusão ............................................................................................................................... 32
5.2. Recomendações...................................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................... 35
Apêndices ..................................................................................................................................... 37
Anexos .......................................................................................................................................... 42
v
Lista de Tabelas e Figuras
Tabelas
Tabela 1– Indicadores da Consciência Ambiental 9
Tabela 2– Niveis de Consciência Ambiental 10
Tabela 3– Objectivos de Educação Ambiental 13
Tabela 4– Estratégias de Educação Ambiental 14
Tabela 5– Níveis de Ocorrência de Respostas 42
Tabela 6– Avaliação da Consciência Ambiental 27
Figuras
Figura 1: Distribuição dos casos da cólera na cidade de Maputo 17
Figura 2 – Gestão de Resíduos Sólidos e Saneamento do Meio 29
Figura 3– Gestão de Aguas Residuais 37
vi
Lista de abreviaturas
EA Educação Ambiental
DSCM Direcção de Saúde da Cidade de Maputo
MISAU Ministerio da Saúde
CMCM Conselho Municipal da Cidade de Maputo
MICOA Ministerio para a Coordenação da Acçao Ambiental
DSPM Direcçao de Saúde da Provincia de Maputo
vii
Resumo
O presente trabalho analisou a Consciência Ambiental na prevenção da cólera no bairro Luís
Cabral no Município de Maputo. A pobreza que caracteriza a maioria das famílias neste
bairro, conjugados ao elevado nível do lençol freático, o desordenamento territorial,
deficiência no abastecimento de água potável e a deposição inadequada dos resíduos sólidos e
líquidos são factores que contribuem para propagação da cólera. Este estudo, baseou-se numa
abordagem qualitativo que permitiu pela sua natureza colher opiniões dos moradores e de
pessoas vinculadas no bairro, foram seleccionadas por uma amostragem não probabilística
por conveniência 17 pessoas, socorrendo-se do formulário e observação para a recolha de
dados. Analisados os dados constatou-se que os residentes do bairro Luis Cabral apresentam
uma consciência ambiental não muito satisfatória. Em conformidade com a situação que se
observou de águas estagnadas, fraca gestão de resíduos sólidos e saneamento do meio revela
que os informantes têm conhecimento sobre os cuidados a ter com o meio mas falta o
protagonismo.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Prevenção, Saneamento do meio
1
CAPITULO I: INTRODUÇÃO
Segundo Ramos (1996), diante da crise ambiental dos anos 1970 e pressionados pelas
manifestações da sociedade civil contra agressões ao meio ambiente, os governos de vários
países do mundo foram progressivamente incorporando questões ambientais na sua agenda
política e económica, desencadeando uma série de iniciativas que culminaram com o
reconhecimento de que, para superar a crise ambiental, decisões políticas precisavam ser
tomadas.
Conforme Franco e Vaz (2007), inúmeras medidas técnicas e institucionais foram adoptadas,
entre essas medidas destaca-se o surgimento da educação ambiental como uma proposta
internacional emergente, que parte do pressuposto de que, é preciso informar o homem sobre
os problemas ambientais, tendo em vista a formação de consciência, comportamentos e
acções adequadas ao uso correcto do meio ambiente.
Dentro desta perspectiva, Reigota (2009) reafirma que, a educação ambiental enquanto um
instrumento de transformação social, nasce com uma visão clara de possibilitar análises das
relações políticas, económicas, sociais e culturais, bem como das relações entre os seres
humanos, visando superar os mecanismos de controlo e de dominação que muitas vezes
impedem a participação livre e consciente de todos cidadãos. Entendendo esta análise como
reflexão crítica sobre as relações que os homens estabelecem entre si e para com a natureza.
Entretanto, para Franco e Vaz (2007) a proposta de situar a educação ambiental no âmbito da
saúde pública, concretamente nos esforços de prevenção de doenças decorrentes dos
problemas de saneamento básico, reforça o vínculo existente entre os dois campos, uma vez
que ambos tratam de sujeitos colectivos que lutam por direitos sociais, por direitos humanos
básicos, como saúde, saneamento básico e qualidade de vida.
Assim e de acordo com Pelicioni e Philippi (2002) torna-se evidente que, o papel da educação
ambiental na prevenção de doenças relacionadas ao saneamento do meio supera o tradicional
enfoque sanitarista da educação em saúde, resrita às práticas centradas unicamente em regras
de higiene pública e individual. Pois que, o papel desta é promover a participação dos vários
agentes da sociedade na reflexão sobre a realidade, objetivando a construção e o exercício da
cidadania ambiental.
2
Segundo a DSCM (2017) a colera e uma doenca diareica aguda causada pela enterotoxina do
vibriao colerai atraves da ingestao de alimentos ou água contaminada pela bactéria vibrião
colérico.
Esta doença manifesta se através de diarreia aquosa com ou sem vómitos, dor abdominal e
quando não tratada prontamente pode evoluir para desidratação grave e consequente morte
em poucas horas. Um dos meios de prevenção desta doença e através do abastecimento de
água potável em quantidade e qualidade o que se torna difícil no bairro em estudo, devido ao
desordenamento territorial.
Portanto, dentro deste contexto, surge o tema deste estudo "Análise da Consciência
Ambiental na prevenção da cólera no Bairro de Luís Cabral no Município de Maputo",
motivado pelo actual cenário vivido no Bairro de Luís Cabral, caracterizado pelo
desordenamento territorial, deposição inapropriada de resíduos sólidos e líquidos, acções
cujos efeitos negativos resultam em mau cheiro, proliferação de moscas e outros vectores da
cólera. Acreditando que, a análise do papel da educação ambiental, pode abrir novos
caminhos nos esforços de combate à cólera.
A presente pesquisa tem um contributo para o MISAU, e o CM na medida em busca soluções
para o controle destas epidemias que tem assolado o país na época chuvosa, aliando-se as
estratégias de EA.
Este trabalho está estruturado em cinco (5) capítulos, nomeadamente: introdução, revisão de
literatura, metodologia, apresentação e discussão de dados e conclusões e recomendações.
1.2. Formulação do problema
Segundo WHO (2004), para a manutenção da saúde e da qualidade de vida da população é
indispensável haver saneamento e salubridade do meio, uma vez que 80% de todas as
doenças incluindo a cólera, está associado à falta destas benfeitorias. O mesmo autor afirma
que, pelo menos um terço das mortes em países em via de desenvolvimento relaciona-se com
a insuficiência das condições acima citadas.
Neste caso e de acordo com DSCM (2017), sendo Moçambique um país em via de
desenvolvimento, marcado fortemente pela pobreza extrema, deficiência no saneamento
3
básico e do ambiente, caracterizado por fraca capacidade no abastecimento de água potável,
deficiência na recolha e eliminação de resíduos sólidos e dejectos humanos, fraco controlo
efectivo dos alimentos, maus hábitos de higiene individual e colectiva e o caracter
reaccionário dos programas de educação para saúde, aumentam as possibilidades de
incidência e prevalência da cólera e outras doenças causadas por determinantes sociais e
ambientais, reafirmando o quadro estatístico da Organização Mundial da Saúde.
Dentro deste contexto, o Ministério da Saúde preocupado com a incidência e a prevalência
dos casos da cólera, vem melhorando as estratégias de prevenção e controlo, onde a educação
para saúde é apontada como uma das formas de reduzir o impacto da morbidade por esta
doença. A educação para a saúde neste âmbito, passa pelo envolvimento de todos
trabalhadores de saúde, em particular a participação dos agentes e técnicos de medicina
preventiva na promoção de boas práticas, com particular destaque para higiene das águas e
alimentos, higiene individual e colectiva, uso correcto de latrinas e disposição correcta dos
resíduos sólidos e líquidos (MISAU, 2016).
A pesar disso, a incidência e prevalência de casos de cólera e doenças diarreicas nas épocas
chuvosas ainda continua preocupante nos bairros periféricos, nos quais o acesso a serviços
básicos como: ordenamento territorial, abastecimento de água potável e recolha de resíduos
sólidos é deficiente e o efeito dos programas de educação para a saúde não tem sido eficaz.
Pois, o problema transcende a dimensão sanitarista dos programas da saúde e evoca a
participação de outras áreas, tal como é o caso da educação ambiental.
Assim, a educação ambiental aparece como um interlocutor válido nos programas de
educação para saúde, isto porque o seu papel representa uma oportunidade para superar o
enfoque sanitarista tradicional da educação em saúde patente nos seus programas, restrita às
práticas centradas unicamente em regras de higiene pública e individual e passar para uma
reflexão sobre a realidade, objectivando a construção e o exercício da cidadania ambiental
(Jacobi, 1998).
De acordo com Guedes (sd) a requalificação dos bairros e vista como uma das soluções para
minimizar os problemas ambientais, apesar de não serem causados apenas pela falta de
ordenamento, mas pelo pouco conhecimento que as pessoas aparentam ter sobre a prevenção
dos problemas ambientais.
4
O bairro Luís Cabral é pantanoso, de difícil acesso e apresenta problemas de ordenamento
territorial, deficiência na distribuição de água potável, depositação inapropriada dos resíduos
sólidos e líquidos, entupimento das valas de drenagem o que leva a propagação da cólera.
É dentro deste contexto apresentado acima que se procurou pelo presente trabalho encontrar
uma resposta para a seguinte questão: Em que medida a consciência ambiental pode
contribuir prevenção da cólera no Bairro Luís Cabral no Município de Maputo?
1.3. Objectivos
1.3.1. Geral
Analisar a consciência ambiental na prevenção da coléra no bairro Luís Cabral no Municipio
de Maputo
1.3.2. Específicos
Identificar o nível de consciência ambiental dos moradores do bairro Luís Cabral;
Analisar as estratégias de educação ambiental utilizadas nos programas de prevenção da
cólera no bairro Luís Cabral.
1.4. Perguntas de pesquisa
Qual é o nível de consciência ambiental dos moradores do Bairro Luís Cabral?
Como são usadas as estratégias de educação ambiental utilizadas nos programas de prevenção
da cólera no Bairro Luís Cabral?
1.5. Justificativa
A escolha do tema deste estudo justifica-se pelo facto de recorrentemente se verificar casos
de cólera no Bairro Luís Cabral, tal como se deu a conhecer no Relatório de Surto de Cólera
na Cidade de Maputo (DSPM, 2017). De acordo com este documento o bairro registou 27
casos de cólera no primeiro semestre de 2017, configurando-se neste caso ao nível da Cidade
de Maputo como o bairro com maior número de casos desta doença.
5
Para área de educação ambiental, este estudo justifica-se na medida em que se propõe a
conhecer os reais problemas sócio-ambientais que apoquentam a comunidade do Bairro Luís
Cabral, aliado ao facto de registar de forma recorrente casos de cólera. O conhecimento dos
problemas ambientais constitui um dos princípios fundamentais para uma consciência
preventiva ambientalmente. Pois, ajuda a desenvolver programas de educação ambiental
adequados ao contexto social em que emerge.
Adicionalmente justifica-se o estudo para a educação ambiental, na medida em que concorre
para
a legitimação do que ficou estabelecido no Congresso Internacional de Educação Ambiental
(PIEA) realizado em Moscovo no ano de 1987, que a educação ambiental devia primar pela
pesquisa. Entre vários aspectos celebrados no (PIEA) sobre a pesquisa em educação
ambiental, a identificação de pontos de convergência e complementaridade com actividades
educacionais relacionadas à saúde mereceu lugar de destaque. Assim, torna-se evidente que a
pesquisa em educação ambiental, especificamente no âmbito da saúde foi um aspecto
previsto no programa internacional de educação ambiental. Pois, a pesquisa é um elemento
básico para a realização dos programas de educação ambiental assim como o é importante a
interacção e complementaridade entre a educação ambiental e a saúde.
Do ponto de vista das instituições ligadas à saúde (MISAU, DSCM, CMCM), o estudo
justifica-se na medida em que ao analisar o papel da educação ambiental na prevenção da
cólera podia se fornecer subsídios e ferramentas para a melhoria das estratégias de educação
ambiental, ampliando desta forma o escopo do papel da educação ambiental no âmbito de
prevenção da cólera e outras doenças diarreicas. Como também podia despertar no seio das
instituições públicas implicadas com o binómio educação ambiental e saneamento básico, a
importância de realização de projectos e programas de educação ambiental direccionados à
prevenção de doenças.
O estudo, do ponto de vista social justifica-se na medida em que pode despertar a consciência
ambiental da comunidade do Bairro Luís Cabral no que diz respeito a protecção do ambiente.
Assim como pode contribuir para a construção social do conhecimento da relação simbiótica
que o saneamento do meio estabelece com a saúde.
6
CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo apresenta-se os conceitos fundamentais do estudo, nomeadamente, consciência
ambiental, educação ambiental e prevenção da cólera, ao mesmo tempo que se discute os
temas como medição da consciência ambiental, estratégias de educação ambiental e o papel
da educação ambiental na prevenção da cólera tendo em conta o tema do estudo. Por fim,
apresenta-se as principais lições aprendidas sobre a revisão de literatura.
2.1. Conceito e medição da consciência ambiental
A consciência ambiental é definida por Amaral (2008) como faculdade por meio da qual o ser
humano aprova ou desaprova as suas acções, tomando em consideração os conhecimentos de
preservação e conservação ambiental adquiridos e acumulados ao longo do tempo.
Entretanto, os autores Bedante e Slongo (2004) conceituam a consciência ambiental como a
tendência que um indivíduo tem de se posicionar frente aos assuntos relativos ao meio
ambiente seja a favor ou contra.
Assim, na óptica de Waldman e Schneider (2000), indivíduos com maiores níveis de
consciência ambiental tendem a tomar decisões, levando em consideração o impacto
ambiental de suas posturas e acções.
A vista disso pode-se concluir que, a consciência ambiental é uma disposição resultante de
um processo de consciencialização ambiental ao longo dos tempos, que torna um individuo a
favor ou contra acções e comportamentos com impactos directos ou indirectos sobre os
componentes ambientais.
Já, no que diz respeito a medição da consciência ambiental, esta pode ser feita através do
modelo de medição proposto por Bertolini e Possamai (2006). Este modelo consiste na
interacção entre os indicadores de consciência ambiental e os pesos atribuídos aos níveis de
consciência ambiental correspondentes. Neste caso, conforme Bedante e Slongo (2004) são
considerados como indicadores de consciência ambiental os produtos da conexão entre as
dimensões psicoafectivas e o comportamento que o individuo tende a manifestar em relação
ao meio ambiente, como se pode ver na tabela 1.
7
Tabela 1: Indicadores de consciência ambiental
Consciência
ambiental
Dimensão Indicador Descrição
Cognitiva
Percepção ambiental Manifestação de vontade que parte dos
valores intrínsecos do individuo
Conhecimento ambiental Capacidade de definir conceitos, teorias e
fazer demostração de procedimentos
ambientais relevantes
Responsabilidade individual
Disposição individual em manifestar
acções de responsabilidade no que refere a
manutenção da qualidade ambiental
Afectiva
Eco-centrismo Propensão para supervalorização das
posições ligadas a protecção integral dos
ecossistemas e seus recursos
Antropocentrismo Tendência em se comover pelas crenças
de dominação e exploração da natureza
elo homem
Activa
Gestão de resíduos Situação em que o individuo opta pela
gestão adequada dos resíduos sólidos e da
qualidade ambiental
Separação de resíduos
sólidos
Posição tomada por um indivíduo em
relação a separação dos resíduos sólidos
domésticos
Participação em actividades
de protecção ambiental
Disposição individual em optar pela
protecção do meio ambiente
Adaptado de Bedante e Slongo (2004)
Já, no que se refere aos níveis de consciência ambiental, Bertolini e Possamai (2005) afirmam
que, os mesmos são resultantes dos desdobramentos dos indicadores de consciência
8
ambiental em escalas correspondentes ao grau de sensibilidade que um indivíduo apresenta
em relação aos problemas ambientais.
De acordo com Bertolini e Possamai (2005) são considerados como níveis de consciência
ambiental decorrentes da interacção entre indicadores de consciência ambiental e a pontuação
correspondente, os seguintes: alto, médio, baixo e nenhum traço, como se pode ver na tabela
2.
Tabela 2: Níveis de consciência ambiental
Níveis Classificação Pontuação
4º Alto Alto nível de consciência ambiental 4 a 3.5
3º Médio Potenciais traços de consciência ambiental 3.5 a 2.5
2º Baixo Poucos traços de consciência ambiental 2.5 a 1.5
1º Nenhum traço Nenhum traço de consciência ambiental 1.5 a 1
Fonte: Adaptado de Bertolini & Possamai (2005)
Para a medição, o modelo compõe-se de um formulário de 16 perguntas fechadas com escala
Likert de 4 níveis, que a sua elaboração está fundamentada em levantamentos bibliográficos
sobre os indicadores de consciência ambiental (Bertolini e Possamai, 2006).
De acordo com Gil (2002) o formulário é uma técnica de recolha de dados que se situa entre
o questionário e a entrevista, constituído essencialmente por um questionário com perguntas
fechadas e de escala, em que o seu preenchimento é feito pelo pesquisador durante a
realização da entrevista com base nas respostas do entrevistado.
2.2. Educação ambiental
Segundo a conferência de Tbilisi sobre educação ambiental, realizada em 1977, a educação
ambiental é uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para
resolução de problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e
de uma participação activa e responsável de cada indivíduo e da colectividade (Souza, 2003).
9
No entanto, MICOA (2009) diz que educação ambiental é um processo permanente, no qual
os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem
conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir,
individual e colectivamente na resolução dos problemas ambientais presentes e futuros.
Por conseguinte, dos conceitos disposto acima, depreende-se que a educação ambiental é um
conjunto de acções educativas voltadas para a compreensão dos problemas socio-ambientais,
tendo em vista, a preparação do individuo e da colectividade para se integrarem criticamente
ao meio ambiente, questionando a si mesmo, a sociedade, a tecnologia, os valores,
comportamentos e a relação que estabelecem com o seu ambiente.
De acordo com Brasil (2002) para a educação ambiental garantir sua efectividade, deve
abranger todos os tipos de educação, inclusive a educação da comunidade, cujos
comportamentos cotidianos têm influência decisiva na preservação do meio ambiente.
Desta forma, Lima (2015) e MICOA (2009) defendem que existem três (3) tipos
fundamentais de educação ambiental, nomeadamente: formal, não formal e informal, onde:
Educação ambiental formal é aquela que se desenvolve de forma estruturada e dentro do
sistema formal de ensino, através da inclusão de termos, conceitos e noções sobre o ambiente
nos planos curriculares (MICOA, 2009).
Entretanto, a educação ambiental não formal é a que se desenvolve de forma semi-estruturada
e fora do currículo formal, através de actividades como, palestras, seminários, clubes
ambientais, jornadas de limpeza, plantio de árvores e programas comunitários (MICOA,
2009).
Porém, educação ambiental informal é um tipo de educação que se dirige a ampliação da
consciência de um grande público, valendo se desta forma, dos meios de comunicação de
massas, tais como, jornais, revistas, radio, televisão e internet, como também, de estratégias
como, cartazes, folhetos e boletins informativos (Lima, 2015).
Já, de acordo com MICOA (2009) para que a educação ambiental atinja os seus objectivos,
torna-se necessário compreendê-la como um processo educacional completo, cujo sucesso
está intrinsecamente ligado ao cumprimento integral de todas as fases que o constituem
(informação, sensibilização, mobilização e acção). Sendo que, nenhuma destas fases deverá
10
ser desenvolvida isoladamente ou de modo linear, dado que, todas são inter-relacionadas e a
educação ambiental não pode se resumir à uma delas somente.
Portanto, é dentro desta óptica que Dias (1999) reforçando, reafirma que, a planificação, o
controlo e avaliação permanentes no âmbito de um programa de educação ambiental, são
elementos imprescindíveis para o alcance dos seus objectivos.
Entretanto, conforme Souza (2003) constituem objectivos da educação ambiental,
especificamente, a consciência, o conhecimento, o comportamento, as habilidades e a
participação, como se pode ver na tabela 3.
Tabela 3: objectivos de educação ambiental
Objectivo Descrição
Consciência
Apoiar os grupos e os indivíduos a adquirirem consciência do meio
ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas questões
Conhecimento Ajudar os grupos sociais e o individuo a adquirirem diversidade de
experiências e compreensão do meio ambiente e dos seus problemas
Comportamento Apoiar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se com uma
série de valores e a sentirem interesse e preocupação pelo meio ambiente
Habilidades Ajudar os grupos sociais e indivíduos a adquirirem as habilidades
necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais
Participação Proporcionar aos grupos sociais e indivíduos a possibilidade de
participarem activamente das tarefas que tem por objectivo resolver
problemas ambientais
Fonte: Souza (2003)
2.3. Estratégias de Educação Ambiental
Segundo RECESA (2010), as estratégias de educação ambiental são instrumentos
instrucionais utilizados para apreender conteúdos didácticos, promovendo a conexão entre as
11
informações técnicas pertinentes e o universo de comunicações, signo e linguagens existentes
no cotidiano.
No entanto, para que as informações consigam comunicar o que se deseja é necessário que as
estratégias utilizadas estejam adequadas ao tipo de comunicação bem como ao público ao
qual se destinam. Isto porque, a selecção desses instrumentos pode ser determinante para os
resultados que se deseja alcançar, tornando-se assim, muito importante o cuidado na escolha
da estratégia para a informação que se deseja transmitir (Nascimento, 2003).
Assim, para MICOA (2009) uma estratégia de educação ambiental que se pretenda eficiente e
eficaz deve atender a dois requisitos, nomeadamente: atingir o público-alvo e comunicar
eficientemente a informação sobre o programa. Adicionalmente observados os seguintes
factores na escolha da estratégia: aspectos socioculturais, meios de comunicação usados,
características do público-alvo, língua a usar, brevidade e clareza do conteúdo da mensagem,
recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis para o programa e o conhecimento das
estratégias dos programas anteriores, como se pode ver na tabela 4.
Tabela 4: Estratégias de educação ambiental
Estratégias Descrição Requisitos
Cartaz É m material didáctico usado para
transmitir uma mensagem destinada a
um público grande
Deve ter uma organização
visual atractiva e uma
linguagem simples, clara e
directa
Panfleto É um material didáctico usado para
anunciar uma intervenção e transmitir
informações sobre as acções que estão
acontecendo na comunidade
Deve ter uma linguagem
simples com frases e
parágrafos curtos e
informações gerais sobre as
acções em curso
Registo
fotográfico
É um instrumento de divulgação e
avaliação dos resultados e observação
dos impactos concretos no meio
Deve ter um objectivo claro e
dar atenção aos elementos da
cena como, condições do
ambiente, da cultura e dos
12
ambiente costumes
Palestra É uma exposição de conhecimentos
sobre temas candentes, ou seja, temas
que geram preocupações no quotidiano
Deve ser usada uma linguagem
simples, prática, directa e
adaptada a audiência
Debate É um confronto de ideias e reflexões
sobre assuntos de interesse comunitário,
tendo em vista a busca de soluções
praticas
Deve se ter um guião de debate
com assuntos bem estruturados
e um moderador para amainar
as posições
Teatro educativo É uma actividade lúdica que facilita a
interacção com o público,
principalmente, quando o público-alvo
são crianças
Deve ter um enredo com uma
linguagem simples, clara e
directa sobre o objecto da
instrução
Audiovisuais É uma sequência de imagens animadas
e com som, explorando elementos do
ambiente, da cultura e dos costumes,
geralmente utilizada como material
didáctico para despertar a consciência
Deve ter um roteiro
estruturado e com uma
sequência de imagens
abordando objectivamente o
assunto em causa
Jornadas de
limpeza
É uma actividade prática que estimula e
eleva a consciência das comunidades
em relação a necessidade de protecção
ambiental
Deve ter um objecto claro,
bem planeado e um conjunto
de equipamentos para auxiliar
a actividade de limpeza
Grupos de
interesse
É uma técnica que consiste em conferir
responsabilidade a membros da
comunidade com vista a criar o espirito
de pertença
Deve se criar conteúdos claros,
simples e directos sobre o
objecto com vista a orientar os
trabalhos dos grupos de
interesse
Fonte: Adaptado de MICOA (2009): RECESA (2010)
13
2.4. Conceito da cólera e factores de risco
A cólera é entendida como uma doença infecciosa intestinal aguda causada pela enterotoxina
do vibrio cholerae predominantemente presente em recursos hídricos, sendo que, as
manifestações clinicas da doença ocorrem de formas variadas, desde infecções inaparentes ou
assintomáticas até aos casos graves como diarreias profusa, podendo assinalar desidratação
rápida, acidose e colapso circulatório, devido a grandes perdas de água e electrólitos
corporais em poucas horas, caso tais perdas não sejam restabelecidas de forma imediata
(Ministério da Saúde, 2010).
De acordo com a DSCM (2017) uma vez que a transmissão da cólera, esta associada a gestão
inadequada do meio ambiente, a falta de água potável, higiene individual e colectiva
deficiente, a transmissão ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos
contaminados por fezes ou vómitos de um doente ou portador, bem como pela manipulação
ou por moscas. A contaminação pessoa a pessoa e também importante na cadeia
epidemiológica.
Segundo o mesmo autor a notificação do primeiro caso da cólera, foi feita por via rápida
pelos serviços de urgência do HGJM, tendo permitido rapidamente notificação de mais dois
(2) casos da mesma residência no bairro Xipamanine-Distrito Municipal Nlhamankulu. No
todo foram notificados trezentos sessenta e sete (367) casos de cólera, sendo vinte e dois (22)
com confirmação laboratorial, um (1) óbito (taxa de letalidade de 0,3%) de uma criança de
treze (13) de idade- masculino. Do total de casos 80% foram notificados no HGJM, e sendo
4% notificados directamente da comunidade (durante as de busca activa e de porta a porta).
14
Figura 1: Distribuição dos casos da cólera na cidade de Maputo
Fonte: Plataforma ODK, 2017
Os três (3) distritos mais afectados (KaMubukwana, KaMavota e KaMaxaquene) tiveram
como bairro mais afectados, respectivamente, Luís Cabral, Ferroviário e Maxaquene “B”.
2.5 Prevenção da Cólera
No entanto, a prevenção da cólera é definida como um conjunto de acções interventivas
orientadas para evitar o surgimento da cólera, reduzindo sua incidência e prevalência nas
populações, assim, a prevenção da cólera fundamenta-se na divulgação de informação
científica e de recomendações normativas sobre mudança de hábitos (Czeresnia, 1999).
Já, de acordo com Brasil (2004), a presença de doenças como diarreia, cólera, leptospirose,
malária e dengue está ligada às condições do ambiente, de higiene, deficiência no acesso de
água potável e ao saneamento básico e salubridade.
MISAU (2016) afirma que o melhor meio de prevenção contra epidemias de cólera é através
do abastecimento de água potável em quantidade e qualidade, boas condições de saneamento
15
do meio, boa higiene individual e colectiva, produção e disseminação de mensagens para a
promoção da higiene e saúde e a mobilização de outros sectores para apoiar nesta actividade.
MISAU (2016), assegura ainda que o adequado saneamento do meio pode reduzir
significativamente o risco de transmissão do vibrião colérico, enquanto o saneamento
deficiente pode levar à contaminação das fontes de água. As populações devem conhecer a
importância de construir e usar correctamente as fontes de água e da importância de lavar as
mãos com sabão ou cinza depois de qualquer contacto com excrementos.
Desta forma, torna-se evidente que a prevenção da cólera é um conjunto de esforços
combinados que vão desde acções direccionadas ao rastreamento epidemiológico até às
acções de provisão de serviços de saneamento básico, fornecimento de água potável e
educação dos indivíduos.
2.5. Papel da educação ambiental na prevenção da cólera
Segundo Bigliardi e Cruz (2007) a educação ambiental visa nitidamente favorecer a adopção
de acções responsáveis e solidárias frente à sociedade e ao meio ambiente. Pois que, não se
pode desenvolver uma crítica satisfatória a respeito do modelo de desenvolvimento humano
que orienta a atitude mundial, sem no entanto, incluir nessa crítica componentes económicos,
políticos, técnicos, históricos, morais, estéticos e naturais.
No entanto, RECESA (2010) afirma que, a educação ambiental visa fomentar a mobilização e
a participação dos diversos agentes sociais presentes no tecido social, no sentido de responder
aos problemas de saneamento e ambientais vivenciados quotidianamente pela população.
Para Jacobi (1998) é papel central da educação ambiental favorecer a adopção da
compreensão e de posicionamentos ético-políticas referenciados em princípios tais como:
solidariedade, cooperação, alteridade e compreensão. Dado que, a educação ambiental se
configura como uma ferramenta de informação, sensibilização, consciencialização e
empoderamento da população tendo em vista a construção de valores e práticas individuais e
colectivas que visam uma mudança cultural, política e social necessária à construção de uma
sociedade mais justa, ambientalmente sustentável e economicamente viável. Porém, para que
isso aconteça Bigliardi e Cruz (2007) sugerem que é preciso promover oportunidades
16
pedagógicas e didácticas que venham a favorecer a concretização efectiva de direitos sociais
e culturais dos cidadãos, rumo a uma educação de qualidade, que respeite as diferenças,
tratando diferentemente os desiguais, preconizando o atendimento aos grupos em abandono
ou comunidades desfavorecidas. Isto porque, a mudança de comportamento é decorrente de
um processo educativo e é condição indispensável para que se possa viver em condições de
equidade, sustentabilidade socio ambiental e prevenir doenças.
Desta forma, de acordo com RECESA (2010) torna-se obviamente legítimo o papel da
educação ambiental na prevenção da cólera, quer seja, na formação de cidadãos conscientes e
comprometidos com a vida, bem-estar de cada um e da colectividade, que através das suas
atitudes mostrem preocupações em relação aos problemas ambientais, buscando promover a
saúde publica e a salubridade ambiental para todos, ou quer seja, através do fortalecimento e
qualificação do exercício de controlo social dos serviços públicos de saneamento básico,
salubridade e distribuição de água potável no que diz respeito à qualidade, equid vade e
universalidade dos mesmos.
2.6. Lições aprendidas sobre a revisão de literatura
De acordo com o que foi discutido na secção (2.1) deste capítulo, conclui-se que consciência
ambiental é o conhecimento da relação directa e indirecta entre o comportamento do
indivíduo e os diversos problemas ambientais.
Sendo que, para que um individuo seja considerado ambientalmente consciente, o mesmo
deve ter entre outros aspectos, atitudes voltadas à conservação do meio ambiente e possuir
um comportamento ético em relação aos sistemas ecológicos, minimizando ao máximo, os
efeitos negativos sobre o ciclo natural de regeneração dos ecossistemas. Porém, a consciência
ambiental é decorrente de um processo denominado consciencialização, uma prática
essencialmente da educação ambiental.
Com base no que se discutiu na secção (2.2) compreende-se que, qualquer definição que seja
dada a educação ambiental, a construção de valores, conhecimentos, experiências e
habilidades voltadas para a compreensão e resolução dos problemas ambientais concretos,
constituem elementos basilares para explicação do conceito.
17
Assim e conforme o que se assimilou na secção (2.3), para que o processo de educação seja
efectivo nos seus mais variados tipos torna-se necessário o uso de estratégias de educação
ambiental que consigam comunicar o que se deseja ao público-alvo ao qual se destinam.
Sendo que, as principais estratégias de educação ambiental são: cartaz, panfleto, palestra,
debate, teatro educativo, audiovisuais, jornadas de limpezas e grupos de interesse.
Conclui-se igualmente, de acordo com o que se discutiu na secção (2.5), que a educação
ambiental no âmbito dos programas de prevenção da cólera tem como papel central a
formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a vida, bem-estar de cada um e da
colectividade e o fortalecimento do exercício de controlo social dos serviços públicos de
saneamento básico e salubridade com vista a questionar a sua qualidade e universalidade.
18
CAPÍTULO III: METODOLOGIA
Neste capítulo são apresentadas as seguintes secções: descrição do local de estudo,
abordagem metodológica, amostragem, técnicas de recolha e análise de dados, questões éticas
e limitações do estudo. Importa salientar que a clarificação detalhada destas secções tem em
vista mostrar como é que serão alcançados os objectivos do estudo.
3.1. Descrição do local de estudo
Segundo DMPUA (2016) o Bairro Luís Cabral está localizado no Distrito Municipal
Kamubukwana no Município de Maputo e encontra se limitado a sul pela Baia de Maputo, a
este pela Avenida de Moçambique e a oeste pelo Distrito de Infulene no Município de
Matola.
De acordo com o terceiro (3º) recenseamento geral da população e habitação, realizado em
2007 pelo Instituto Nacional de Estatística, o Bairro Luís Cabral é mais populoso do Distrito
Municipal Kamubukwana com trinta e três mil oitocentos (33800) habitantes (CMCM, 2010).
O Bairro Luís Cabral é um dos mais antigos assentamentos da cidade de Maputo que a
semelhança de muitos outros bairros periféricos do Município de Maputo, ainda enfrenta
problemas que vão desde assentamentos desordenados, mau saneamento do meio até ao
deficiente sistema de distribuição de água potável, factos que nos períodos chuvosos e não só
propiciam o surgimento de doenças como cólera e diarreias agudas (DSPM, 2017).
3.2. Abordagem metodológica
O presente trabalho é uma pesquisa quantitativa. Segundo Knechtel (2014), a pesquisa
quantitativa é uma modalidade que actua sobre um problema humano ou social, é baseada no
teste de uma teoria e composta por variáveis quantificadas em números, as quais são
analisadas de modo estatístico, com o objectivo de determinar se as generalizações previstas
na teoria se sustentam ou não.
19
A pesquisa quantitativa é baseada na medida (normalmente numérica) de poucas variáveis
objectivas, na ênfase em comparação de resultados e no uso intensivo de técnicas estatísticas.
A pesquisa quantitativa preocupa-se com a quantificação dos dados, comprovando se uma
teoria é válida ou não a partir de análises estatísticas. Obedece à quantificação dos dados, na
experimentação, na mensuração e no controlo rigoroso dos factos.
No presente trabalho, a escolha desta pesquisa quantitativa justifica-se pelo facto de permitir
avaliar as opiniões, reacções, hábitos e atitudes da população em estudo, por meio de uma
amostra seleccionada para o efeito.
3.3. Amostragem
Este estudo utilizou o método de amostragem não probabilística por conveniência. De acordo
com Levy (1980), a amostragem por conveniência é aquela que é destituída de qualquer rigor
estatístico, o pesquisador selecciona os elementos que lhe convém, admitindo que estes
possam representar um universo.
No entanto, Mutimucuio (2008) afirma que a amostragem por conveniência é aquela que
envolve pessoas que estão disponíveis e dispostas a participar.
Para efeitos, constituiu população-alvo da presente pesquisa, os residentes do Bairro Luís
Cabral. Para o efeito, abrangeu a 17 pessoas que predispuseram como informantes para o
presente trabalho. Participaram também pessoas vinculadas ao bairro Luís Cabral, ou seja,
todos aqueles que trabalham ou tem experiência com os programas de educação para a saúde
na Direcção Distrital KaMubukwana e na Direcção Nacional de Saúde Pública.
Deste universo de indivíduos que se disponibilizaram a prestar informação que corporiza o
presente estudo, a maioria é constituído por estudantes, professores, funcionários públicos,
carpinteiro, doméstica e conta própria. Um participante omitiu a sua profissão. Todos foram
seleccionados de forma aleatória e por conveniência, pois todos são residente no bairro Luís
Cabral. Esta composição, em função da ocupação profissional, mostra que na sua maioria são
pessoas que possuem noções básicas de saúde e higiene ambiental, colectiva e individual.
20
3.4. Técnicas de recolha e análise de dados
3.4.1. Técnicas de recolha de dados
Para a recolha de dados, o presente trabalho socorreu-se de formulário do modelo de medição
de consciência ambiental proposto por Bertolini e Possamai (2006) e observação
assistemática.
3.4.1.1. Formulário
Segundo Gil (2002) o formulário é uma técnica de recolha de dados que se situa entre o
questionário e a entrevista, constituído essencialmente por um questionário com perguntas
fechadas, em que o seu preenchimento é feito pelo pesquisador durante a realização da
entrevista com base nas respostas da entrevista
De acordo com Bertolini e Possamai (2006), o modelo é baseado na elaboração de um
formulário com 16 perguntas fechadas e de estimação ou avaliação. Segundo Marconi e
Lakatos (2003) as perguntas de estimação são questões que consistem em emitir julgamentos
através de uma escala com vários graus de intensidade para o mesmo item.
Desta forma, durante a aplicação do formulário o pesquisador solicitou que os moradores
respondessem enquanto este ia assinalando somente a alternativa correspondente a opinião do
entrevistado. Isto porque o modelo sugeria a elaboração de quatro alternativas para cada
pergunta e a atribuição de pesos consoante a relevância da alternativa na protecção do meio
ambiente. Importa salientar que, as perguntas do formulário foram elaboradas com base nos
indicadores de consciência ambiental de Bedante & Slongo (2004).
O formulário do modelo de medição da consciência ambiental foi aplicado às pessoas
vinculadas ao Bairro Luís Cabral e residentes, tais como: Chefe do Posto, Chefes de
Quarteirões, Chefes de 10 Casas, Chefes e Membros de famílias (pai, mãe e filhos). Isto
porque estes indivíduos representam estruturalmente o Bairro e são alvos dos programas de
educação ambiental no contexto da prevenção da cólera levados acabo pelo Ministério da
Saúde. O formulário entregue aos participantes não apresentava muitas questões o que
possibilitou recolher uma informação singularizada de cada participante. Apenas um iten foi
21
valorizado inerente à ocupação/profissão de cada participante. A colocação deste iten deveu-
se à necessidade de querer perceber a rotina dos residentes, relacionando com pequenos
detalhes inerentes à preocupação com o saneamento do meio, em particular a consciência
ambiental.
3.4.1.2. Observação Assistemática
A observação assistemática foi feita por meio de registo escrito e fotográfico de estratégias de
educação ambiental na prevenção da cólera desenvolvidas no Bairro Luís Cabral como:
cartazes e panfletos. A observação também estendeu-se ao registo de imagens sobre
elementos de saneamento básico e ambientais tais como, gestão de resíduos sólidos, águas
residuais e gestão de dejectos humanos. Assim, a observação assistemática tem em vista
subsidiar os dados recolhido pelo formulário para a satisfação do segundo objectivo
específico do estudo.
Segundo Marconi e Lakatos (2003) a técnica da observação assistemática, consiste em
recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos
especiais ou precise fazer perguntas directas. A observação assistemática é mais empregada
em estudos exploratórios e não tem planeamento e controle previamente elaborados.
3.4.1.3. Tecnica de Análise de Dados
O processo de análise da informação recolhida envolveu os seguintes passos: selecção das
informações obtidas no local da pesquisa, tendo em conta os objectivos estabelecidos no
trabalho; organização da informação a ser analisada com destaque para aquela que permita
alcançar os objectivos pré-estabelecidos; interpretação dos dados baseados nas informações
obtidas na revisão de literatura, nas respostas do formulário e na situação observada no local
de estudo.
Assim sendo, após a determinação da pontuação, se o resultado da análise for maior que 3.5 o
mesmo tem alto nível de consciência ambiental, se for de 3.5 a 2.6 o indivíduo apresenta
potenciais traços de consciência ambiental, já para os casos em que o indivíduo está entre 2.5
22
a 1.6 o mesmo tem poucos traços de consciência ambiental e se tiver 1.5 a 1 não possui
consciência ambiental.
A análise das informações recolhidas através do formulário envolveu a codificação,
categorização preconizada no modelo proposto por Bertolini e Possamai (2006). Ainda, na
esteira destes teorizadores, focalizando o modelo proposto, as alternativas das respostas às
perguntas do formulário são dadas um peso diferente, embasado na escala Likert de 4 níveis.
Neste caso, a distribuição da pontuação varia entre 1 a 4 numa escala decrescente que é a
seguinte: A=4 Pontos, B=3 pontos, C=2 pontos e D=1 pontos, respectivamente.
Assim, para medir o nível de consciência ambiental fez-se a correcção de cada formulário,
aplicando a cotação necessária para cada alternativa. Depois, fez-se o somatório das respostas
das perguntas do formulário, dividindo o resultado pelo número de perguntas. Na sequência,
obteve-se um número que se enquadra na pontuação necessária para a avaliação da
consciência ambiental.
3.5. Questões éticas
Para a realização deste estudo foi feito um pedido de autorização junto ao chefe do posto e
das estruturas do bairro Luís Cabral através de credencial fornecida pela Faculdade de
Educação da Universidade Eduardo Mondlane. A recolha de dados foi antecedida de
anuência dos informantes, sendo que, nos casos de indisponibilidade e falta de interesse,
dentro da população alvo, foi acautelada a questão do respeito ao posicionamento,
prosseguindo com os indivíduos disponíveis e dispostos a participar do estudo.
Durante o processo de aplicação do formulário, os participantes foram informados acerca das
razões que determinaram a realização do estudo e da importância das respostas para atingir os
objectivos deste.
Igualmente, os participantes foram informados previamente sobre a garantia do anonimato no
tratamento dos dados disponibilizados, assim como da observância de confidencialidade de
toda informação recolhida no âmbito do estudo.
23
3.6. Limitações do estudo
A pesquisa teve como principais limitações, a falta de publicações nacionais específicas sobre
o tema, papel da educação ambiental no âmbito de prevenção da cólera e a falta de uma
estratégia nacional sobre educação ambiental. Estas limitações foram ultrapassadas com uso
do manual de prevenção da cólera elaborado pelo Ministério da Saúde de Moçambique, pela
utilização do manual do educador ambiental concebido pelo então Ministério para
Coordenação Ambiental, assim como pelo uso de publicações científicas do universo
académico.
O facto de ter realizado a presente pesquisa num único bairro não permite fazer
generalizações cabais sobre o assunto em causa e, em contrapartida oferece uma análise
profunda dos problemas da mesma área de pesquisa. Por outro lado, a amostra pode não ser
representativa, tomando em consideração o universo da população residente no bairro Luís
Cabral mas o intervalo de confiança é maior, pois sentimos que os informantes foram fiéis.
Falta de interesse por parte da população em cooperar com o estudo e o mesmo foi
ultrapassado com a disponibilidade dos 17 moradores.
24
CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Este capítulo é dedicado a apresentação e discussão dos resultados recolhidos através da
observação assistemática e formulário realizado no bairro Luís Cabral. Este processo foi
realizado, obedecendo aos pressupostos metodológicos propostos neste trabalho para
responder aos objectivos e perguntas de pesquisa formuladas no capítulo I, secções (1.3 e 1.4)
respectivamente.
4.1. Nível de Consciência Ambiental dos Moradores do Luís Cabral
Em conformidade com a orientação metodológica, segundo a qual deve-se identificar o
número de vezes em que ocorre cada resposta, foi produzido uma tabela no processo de
sistematização e tabulação de dados que ilustra o nível de ocorrência das respostas:
Tabela 5. Nível de ocorrência das respostas
Alínea
No de questões
a)
Todas vezes
b)
Algumas vezes
c)
Pouquíssimas vezes
d)
Nunca
1 3 8 1 5 17
2 3 8 1 5 17
3 7 4 2 4 17
4 5 5
7 17
5 5 3
9 17
6 7 4 2 4 17
7 4 4 1 8 17
8 3 4 2 8 17
9 12 4 1
17
10 6 5 3 3 17
11 15 1
1 17
12 8 3 3 3 17
13 6 4 2 5 17
14 6 6 3 2 17
15
1
16 17
16 5 4 1 7 17
Frequência 95 68 22 87 272
% 34.9 25.0 8.1 32.0
25
Gráfico 1. Nível de ocorrência das respostas
No concernente ao nível de consciência ambiental dos residentes do bairro Luís Cabral
observou-se os pressupostos metodológicos sugeridos no presente trabalho que tem alicerce
na proposta de Bertolini e Possamai (2006). Para o efeito, foi construído a seguinte tabela que
ilustra o enquadramento dos participantes em níveis de consciência ambiental:
Tabela 6. Avaliação da Consciência Ambiental
No Níveis de Cons Ambiental Fr fr%
1 Alto nível (3,6 - + ) 0 0.0
2 Potenciais traço (2,6 - 3,5) 8 47
3 Poucos traços (1,6 - 2,5) 7 41
4 Não possui (01 - 1,5) 2 12
17
Fonte: Autora
Gráfico 2. Avaliação da Consciência Ambiental
26
A tabela e o gráfico mostram que 47% dos informantes possuem potenciais traços de
consciência ambiental, 41% poucos traços e 12% que não dispõe de nenhum traço. Nenhum
informante foi identificado com alto nível de consciência.
A pesquisa constatou que os moradores do bairro do Luís Cabral têm potências traços de
nível de consciência ambiental. No que concerne a deposição de resíduos sólidos os
residentes têm pensado em como poderiam reutilizar. Não obstante, os mesmos têm feito a
separação do lixo reciclável, o caso de papel, sacos plásticos, metais, vidros e lixo orgânico.
Como também têm evitado deitar água no quintal, nas ruas e alguns afirmam que tem
eliminado as águas estagnadas ou paradas quando surgem no bairro embora não com maior
frequência (vede tabela no 5 em apêndice C).
Em conformidade com a tabela, percebe-se que 2 dos participantes a luz da escala proposto
por Bertolini e Possamai (2006), não possuem traços de consciência ambiental. Significa que
não tem nenhum conhecimento sobre os cuidados a ter com o ambiente. 7 participantes
submetidos ao formulário possuem poucos traços de consciência ambiental. Fazendo uma
análise, socorrendo-se da escala de indicadores de consciência ambiental sugerida por
Bendante & Slongo (2004) este grupo alvo apresenta uma dimensão cognitiva bastante
elementar que se situa na percepção ambiental. Portanto, agem por motivos intrínsecos para a
resolução dos problemas ambientais. Bertolini e Possamai (2006), consideram o nível mais
baixo de consciência ambiental.
Cerca de 8 participantes possuem potenciais traços de consciência ambiental. Bertolini e
Possamai (2006), consideram o nível médio de consciência ambiental. Relacionando com os
indicadores proposto por Bendante & Slongo (2004) pode-se assumir que atingiram a fasquia
cognitiva e afectiva. Portanto, tem a sensibilidade ambiental e tem conhecimento sobre os
cuidados a ter com o ambiente, no entanto não o fazem.
Nenhum indivíduo participante foi enquadrado como possante do alto nível de consciência
ambiental. A este nível, o indivíduo reúne as 3 dimensões da consciência ambiental,
nomeadamente: cognitiva, afectiva e activa. Portanto, possui conhecimentos suficiente sobre
os cuidados a ter com o ambiente, mostra uma grande sensibilidade quanto aos problemas
27
ambientais e desenvolve acções pro-ambientais de prevenção e mitigação como a separação
de lixo.
Esta análise mostra que os residentes do bairro de Luís Cabral apresentam uma consciência
ambiental satisfatória do ponto de vista cognitivo e afectivo, isto é, possuem conhecimento e
a sensibilidade ambiental e podem não estar a aplicar na prática, pois as informações colhidas
e a realidade factual mostram uma tendência de distância muito grande, como se pode
observar em algumas imagens feitas no local.
Figura 2. Resultado da observação assistemática sobre a má gestão de lixo e águas residuais.
Como se pode observar na figura 2, não se pode falar de alto nível de consciência ambiental
quando o meio que os rodeia apresenta-se nestas condições de lixo deitado a sorte, águas
estagnadas misturada com o lixo, relva não cortado, etc. Portanto, a classificação obtida
inerente à consciência ambiental é razoável ou satisfatória, tendo em consideração o cenário
que se pode observar nas imagens. Isto significa que, no contexto de prevenção, a situação é
28
desafiante, reconhecendo que os solos do bairro Luís Cabral são pantanosos e com o
agravante de desorganização territorial que se assiste a olhos visto, podendo propiciar a
eclosão de várias doença se não se observar os elementos básicos de higiene.
Analisando a informação prestada pelos informantes no tocante à consciência ambiental,
enquadrando-a no quadro de indicadores proposto por Bendante e Slongo (2004), permite
perceber que, na dimensão cognitiva, os informantes têm a percepção do problema e
conhecimento ambiental na medida em que sabem o que deve ser feito para a prevenção de
doenças. No entanto, falta a responsabilidade ambiental individual que consistiria em acções
individuais ou colectivas, tendentes à melhoria da qualidade ambiental.
4.2. Estratégia de Educação Ambiental Para a Prevenção da Cólera em Luís Cabral.
Nesta etapa faz-se análise da estratégia de educação ambiental no contexto da prevenção da
Cólera em Luís Cabral. Esta análise não se dissocia da avaliação da consciência ambiental e,
em contrapartida é tomada como pressuposto básico para o efeito.
Tomando em consideração a mesma avaliação, mostra que alguns residentes possuem
conhecimentos e sensibilidade ambiental. Esta situação revela uma tendência de educação
ambiental interiorizada, possivelmente havida nos anteriores momentos de eclosão da cólera,
pois informações colhidas no local mostram uma ausência da educação ambiental. Se
considerar que acontece, não é uma acção direccionada para os residentes do bairro mas a
partir de auto-informação através das redes sociais e médias (televisão e rádio).
Para uma análise profunda da educação ambiental para a prevenção da cólera no bairro Luís
Cabral e seu impacto tomou-se como base a tabela numero 5, que ilustra o nível de
ocorrência das respostas dos informantes como um todo e, centrando as atenções para as
questões 2, 7, 8 e 14 inerentes à separação de lixo, participação em actividades de limpeza e o
protagonismo comunitário para resolução dos seus problemas, respectivamente. Para um
maior subsídio, juntou-se esta informação à aquela prestada pela liderança durante as
entrevistas efectuadas.
A questão 2 inerente à separação do lixo, a maioria dos informantes optaram em alínea b)
correspondente a ideia de algumas vezes. Esta resposta remete-nos à falta de interesse e
persistência em separar lixo e, ou ausência de condições para o efeito.
29
As questões 7 e 14 são inerentes à participação em jornadas de limpeza no bairro. Na
primeira, a maioria escolheu a alínea d) correspondente ao nunca Na segunda, os informantes
estão divididos entre todas vezes e algumas vezes, correspondente às alíneas a) e b). Estas
opções mostram que ainda existe um certo cepticismo quanto à participação da comunidade
em actividades de limpeza na zona.
A questão 8, associa-se às questões 7 e 14 e, é referente ao protagonismo entre vizinhos para
a consciência ambiental. É um papel de extrema importância pois parte da percepção dos
problemas a volta da comunidade, tomando-os como seus problemas e assumir o
protagonismo para a resolução. No entanto, a maioria dos informantes assumiu a alternativa
d) inerente ao nunca. Esta abordagem em relação às questões revela a falta de cometimento
com os problemas emergentes localmente, em particular a consciência higiene colectiva e
individual. Possivelmente, a dinâmica da vida dos residentes do bairro Luis Cabral não
permita que tenha um momento de reflexão sobre a situação real do seu bairro e não a deixa
sensível, tomando em consideração o recorrente registo de casos de cólera.
A responsabilidade de criação de condições favoráveis para uma educação ambiental depende
em parte dos governantes do distrito Municipal Kamubukwana e um reforço material que vai
desde a colocação contentores de lixo e o incentivo a jornadas de limpeza à espaços comuns.
Da observação feita, constatou-se que não há contentores para o lixo, nem separadores com
indicação para facilitar a separação dos resíduos produzidos. Certamente que, este facto
contribui para que os canais de água fiquem cheio de lixo. Ainda, observa-se com frequência
a ausência de materiais de informação, educação e comunicação, concretamente panfleto e
cartazes para mudança de comportamento. As latrinas estão em contacto com o lençol
freático, favorecendo a poluição da água, numa zona sem água canalizada.
30
Figura 3 Observação da má gestão de águas residuais
Em conformidade com as imagens pode-se observar que as condições físicas do bairro Luís
Cabral podem concorrer ou favorecer a eclosão de doenças (malária e cólera). Segundo a
liderança local, quanto a incidência da cólera neste bairro, para além das razões anteriormente
arroladas, aponta a situação de ser uma zona proibida para a construção de residência, tendo
registado construções desordenada contra a vontade do governo local. Possivelmente, seja o
facto para uma menor assistência sanitária no local.
Em relação a consciência ambiental, no seu estudo sobre “Consciência Ambiental e Mudança
de Atitude”, Santos (2005), entende que: as pessoas são dotadas de consciência ambiental ou
não, precisam ser motivadas a desenvolver atitudes práticas, e que cada um a seu tempo, a
partir de um estímulo interno, é tomado de vontade de realizar as mudanças necessárias para
a preservação e conservação de um mundo integrado entre eles e a natureza, estabelecendo
uma relação harmónica.
Os chefes do bairro assumem haver pouca preocupação com o saneamento básico do bairro.
Esta afirmação é um iten que permite avaliar o cometimento da liderança quanto à
necessidade de se manter o bairro limpo. Nestas condições, a liderança deve-se engajar para
desenvolver a consciência ambiental e promover a prática de limpeza.
31
Santos (2005) considera que a Educação Ambiental mostra-se a longo prazo como o melhor
caminho para criar a consciência crítica na comunidade, a partir da análise dos problemas por
ela vividos e a partir disto, estabelecer efectivamente sua participação na solução destes
mesmos problemas.
Portanto, e importante que se planifique acções de Educação Ambiental. No que concernente
às actividades desenvolvidas no local em prol da educação ambiental para a prevenção de
doenças, a liderança manifestou que é quase ausente. Aponta o registo de uma campanha
porta-a-porta e reuniões comunitárias na perspectiva de sensibilização para uma educação o
ambiental e melhoria do saneamento do meio. Reconhece-se a importância desta actividade,
mas acha que com um pouco mais de campanhas e palestras com recurso aos meios de
comunicação social podia haver uma mudança de mentalidade. Há uma actuação no
momento em que eclode a cólera e, quando é controlada, não há seguimento com actividade
preventiva.
A luz das informações prestadas pela liderança e a analisada dos residentes do bairro Luís
Cabral pode-se perceber que o impacto da educação ambiental para a prevenção de doenças,
em particular a cólera, ainda não é observável, pois há ausência do protagonismo para a
resolução dos problemas locais. Este protagonismo devia ter o incentivo da liderança e
estender-se ao simples residente deste bairro.
32
CAPÍTULO V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. Conclusão
Feita a pesquisa pode se constatar que os moradores do bairro Luís Cabral apresentam um
nível satisfatório de consciência ambiental, afigurando uma perspectiva cognitiva e afectiva.
Portanto, possuem conhecimentos e a sensibilidade ambiental. Contudo não se mostram
responsáveis e activos a estes problemas, faltando-lhes o protagonismo em espaços comuns.
Do ponto de vista de educação ambiental, o nível de consciência ambiental registado revela
que já houve alguma acção para o efeito, provavelmente em momento anteriores ligadas à
eclosão da cólera. Por outro lado, suspeita-se que os residentes estejam a interiorizar este
conhecimento através das médias (radio e televisão) e redes sociais (facebook e whatsup). No
que concerne as estratégias de educação ambiental utilizadas constatou-se a ausência de
meios e recursos para o efeito aliada falta de vontade da liderança local. Esta situação pode
minar acções de prevenção de doenças.
A estas constatações, observa-se ainda a falta de latas de depósito de lixo, fracas acções
tendentes à melhoria do saneamento do meio e ausência do protagonismo comunitário para a
resolução destes problemas.
Esta situação coloca em causa a consciência preventiva que é agravada pela fraca educação
ambiental no bairro. Reconhece-se a importância da educação ambiental mas só acontece em
momento em que eclode doenças diarreicas, em particular a cólera. Logo, o impacto deste
processo ainda é pouco visível, mas a situação é desafiante.
Portanto, este cenário leva-nos a concluir que acções tendentes à educação ambiental para
construção de uma consciência ambiental efectiva e preventiva de doenças diarreicas são
bastante reducionista incipiente, faltando a responsabilidade e um pouco de sensibilidade dos
residentes quanto gestão de lixo, águas residuais e ervas daninhas.
33
5.2. Recomendações
O bairro Luís Cabral, em particular a área em estudo, devido à sua localização, o aspecto
geofísico e outros problemas arrolados inerentes ao saneamento do meio afigura-se como um
espaço propício para a ocorrência de doenças diarreicas e malária. Em conformidade com a
informação prestada, para a melhoria da consciência ambiental e promoção de educação
ambiental, o presente estudo recomenda:
Ao Ministério da Saúde
Pulverização do bairro Luís Cabral de 3 em 3 meses;
Realização de palestras que incentivem o uso de desinfetantes como cloro, lixivis e
certeza;
O Ministério da saúde em coordenação com o Conselho Municipal devem promover
palestras e campanhas de EA de modo a despertar nos moradores do bairro Luís
Cabral uma consciência ambiental e habilidades para uma boa qualidade de vida.
Ao conselho Municipal da cidade de Maputo
Alocar contentores para os depósitos de lixo e desenhar-se um circuito de recolha do
mesmo no bairro;
Melhorar o sistema de drenagem de modo a evitar águas estagnadas.
Ao chefe de quarteirão
A liderança local (Chefes de quarteirões, bloco, 10 casas) deve incutir o protagonismo
comunitário como forma de resolver os problemas locais;
A liderança deve assumir a vanguarda na resolução dos problemas do bairro e evitar o
crescimento, em particular nas zonas proibidas à construção de residências;
34
Aos moradores do bairro Luís Cabral
Recomenda-se que organizem-se em pequenos grupos para a realização de jornadas
de limpezas no bairro, de modo a eliminar focos de acomodação dos vectores da
cólera e da malária;
Que assumam com responsabilidade a luta pela salvaguarda do meio ambiente como
garantia de uma vida saudável, praticando as boas práticas;
Evitar depositar lixo nas valas de drenagem e nas ruas do bairro;
Lavar e desinfetar as mãos antes e depois das refeições
Evitar o consumo de alimentos não lavados.
35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Czeresnia, D. (1999). O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. Rio de
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36
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DMPUA. (2016). Mapa da localização geográfica do Distrito Municipal Kamubukwana.
Maputo.
37
Apêndices
38
Apêndice A
Instrumento 1: Formulário
Formulário para a recolha de dados sobre o nível de consciência ambiental dos
residentes e pessoas vinculadas ao Bairro Luís Cabral.
Meu nome é Margarida Cossa, estudante da Universidade Eduardo Mondlane. Estou aqui
para conduzir uma entrevista destinada a colher informações relativas á Análise do papel de
Educação Ambiental na prevenção da cólera no Bairro Luís Cabral no Município de
Maputo. Por favor sinta-se a vontade, pois toda a informação será tratada
confidencialmente, servindo somente para fins académicos.
Número do entrevistado____/___/_____ Profissão__________________________
1. Antes de deitar algo na lixeira você pensa em como poderia reutilizá-lo?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
2. Você separa o lixo reciclável, como papel, sacos plásticos, metais, vidro e lixo orgânico?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
3. Você tem evitado queimar o lixo doméstico como plástico, vidro e restos de comida?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
4.Voce preocupa-se em não deitar lixo na rua?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
5.Voce preocupa-se em não deitar água suja no seu quintal?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
6. Você preocupa-se em não deitar água suja na rua?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
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7. Você participa em actividades de limpeza do seu Bairro?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
8. Você já falou com os seus vizinhos sobre a importância de manter o Bairro limpo?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
9.Você já se interessou em poupar água?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
10.Você já se interessou pelas questões ambientais como limpeza e gestão do lixo?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
11. Você utiliza casa de banho ou latrina quando vai fazer necessidades?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
12. Você preocupa-se com a forma como estão dispostos os assentamentos do seu bairro?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
13. Você elimina águas estagnadas ou paradas quando surgem no seu bairro?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
14.voce iria a uma jornada de limpeza no seu bairro em vez de ficar em casa?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
15.Você deitaria águas sujas no quintal do seu vizinho?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca-----
16.Você tem o hábito de enterrar o lixo (restos de comida, sacos plásticos e metais)?
a)Todas as vezes------ b)Algumas vezes------ c)Pouquíssimas vezes------ d)Nunca------
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Apêndice B
Instrumento 2: Grelha de observação
Grelha de observação da situação ambiental local e das Estratégias de Educação Ambiental
utilizadas no âmbito de sensibilização dos moradores do Bairro Luís Cabral sobre a
prevenção da cólera.
Tabela 1: Grelha de observação
Aspectos a observar Existe Não existe Observações
Separação de resíduos sólidos
Eliminação de resíduos sólidos
Eliminação de águas paradas
Eliminação de dejectos humanos
Cartazes
Panfletos
Outros elementos não descritos previamente, mas que concorrem para o alcance dos objetivos
do estudo
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
NB: Por tratar-se de uma observação assistemática, esta grelha não é em si um instrumento
acabado, porém, um guia de orientação.
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Apêndice C
Tabela 5. Nivel de ocorrência das respostas
Alínea
No de questões
a)
Todas vezes
b)
Algumas vezes
c)
Pouquíssimas vezes
d)
Nunca
1 3 8 1 5 17
2 3 8 1 5 17
3 7 4 2 4 17
4 5 5
7 17
5 5 3
9 17
6 7 4 2 4 17
7 4 4 1 8 17
8 3 4 2 8 17
9 12 4 1
17
10 6 5 3 3 17
11 15 1
1 17
12 8 3 3 3 17
13 6 4 2 5 17
14 6 6 3 2 17
15
1
16 17
16 5 4 1 7 17
Frequência 95 68 22 87 272
% 34.9 25.0 8.1 32.0
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Anexos