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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA UTILIZAÇÃO DOS DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Fabíola Anita Romêro Gomes1 (CEFET-MG)
Resumo: O presente artigo visa refletir sobre os limites e as possibilidades trazidas
pelo contexto emergente de aprendizagem com mobilidade – mobile learning, considerando os recursos e ferramentas presentes nos aparelhos celulares. Os dados foram coletados em uma escola pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Contagem em Minas Gerais, através da pesquisa qualitativa, por meio do estudo de caso. Os resultados obtidos indicam que os estudantes e os professores participantes na investigação são favoráveis à utilização do celular enquanto recurso pedagógico, sendo viabilizado por meio dos projetos de trabalho. Palavras-chave: mobile learning; projetos de trabalho; EJA. Abstract: This article aims to reflect on the limits and possibilities brought by the emerging context of learning mobility - mobile learning, considering the resources and tools available in the mobile handsets. Data were collected in a public school in Education for Youth and Adults (EJA) Count the city of Minas Gerais, through qualitative research, through the case study. The results indicate that students and teachers participating in the study are
favorable to the use of mobile as a pedagogical resource, being made
possible through the work projects. Keywords: mobile learning; work projects; EJA.
Introdução
A sociedade atual é fortemente marcada pelas tecnologias, que fazem parte
do cotidiano das pessoas, a exemplo dos dispositivos móveis e, em específico, os
telefones celulares. Trazendo este pensamento para o âmbito escolar, há o desafio
1 Fabíola Anita Romêro GOMES, Mestranda
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudo de Linguagens fabiolaanita@yahoo.com.br
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de se desenvolver uma compreensão sobre os dispositivos móveis e as
potencialidades de seu uso pedagógico.
A escola ainda apresenta dificuldades e barreiras em relação à crescente
“invasão” dessas tecnologias através dos estudantes. Na EJA, este quadro fica
ainda mais visível, considerando que a tecnologia mais utilizada por estes jovens e
adultos são os celulares. (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, 2012; IBGE, 2011).
Tive a oportunidade de observar esta relação mais de perto quando conclui,
em 2009, o curso de Pedagogia e fui atuar como pedagoga na EJA, na rede
municipal de Contagem, Minas Gerais. Havia um embate entre professores e
estudantes em relação à utilização dos telefones celulares na escola. Os estudantes
usavam os celulares exclusivamente para fins pessoais, mas ultrapassavam os
limites impostos pela escola, ao ouvir músicas e atender ligações durante as aulas.
Em contrapartida, os professores optaram pela “tolerância zero” aos celulares na
escola, recorrendo a leis que proibiam sua utilização em sala de aula. Esta relação
conflituosa me incomodava porque penso que a escola deveria se aproximar da
realidade dos estudantes, através, também, dos recursos que os mesmos dispõem,
transformando vivência e recursos individuais em aprendizagem coletiva.
Este interesse foi ampliado quando entramos em contato com a literatura
específica da área, mais precisamente os estudos relacionados ao uso de
dispositivos móveis como ferramentas voltadas para o processo de ensino-
aprendizagem, de forma ubíqua, conduzidos recentemente no Brasil e na Europa
(BRITO GUERRA et al, 2012; BOTTENTUIT JÚNIOR, 2012; FERREIRA, 2009; MACEDO,
2008; MOURA, 2010).
Este artigo está baseado em estudos como os citados acima e na consideração
de que o uso da tecnologia computacional na educação não é um evento recente,
mas uma realidade cada vez mais presente nas salas de aula. No entanto, isso não
significa que o ensino mediado pelas novas tecnologias deve ser visto como algo
melhor ou pior do que o ensino tradicional. Entendemos, com o apoio de Moran
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(2013), Levy (1997), Prensky (2001), Leffa (2006) e Macedo (2008) que a tecnologia,
por si só, não é capaz de trazer contribuições para a área educacional se for
utilizada como o ingrediente mais importante do processo educativo, ou sem a
reflexão humana. Ela deve adequar-se às necessidades de determinado projeto
político-pedagógico, colocando-se a serviço de seus objetivos e nunca os
determinando.
Considerando o quadro apresentado, acreditamos que os dispositivos móveis
apresentam possibilidades pedagógicas pouco exploradas por estudantes e
professores. Desse modo, essas observações nos levaram a investigar as
potencialidades e limites pedagógicos dos dispositivos móveis na EJA, em
específico, dos telefones celulares, em uma escola pública do município de
Contagem, em Minas Gerais.
Para desenvolver o estudo buscamos contribuições nas teorias interpretativas,
considerando a interação entre os sujeitos intermediada pelas novas tecnologias,
bem como um enfoque qualitativo, pois o recorte delimitado visava responder
questões sobre uma situação específica e contextualizada. Além disso, os
instrumentos de coleta e análise de dados tiveram fundamentação metodológica
nos conceitos de estudo de caso (Ludke e Andre, 1986).
Para a coleta de dados, utilizamos questionários, entrevistas, diário de bordo
e arquivo contendo a troca de mensagens enviadas e recebidas (SMS) entre a
pesquisadora e os sujeitos participantes da pesquisa.
Contexto da investigação
A investigação foi realizada em uma escola pública de Educação de Jovens e
Adultos em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. As
tarefas pedagógicas elaboradas foram construídas junto com os professores e
estudantes que se disponibilizaram a participar do estudo.
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Desta forma, vinculado ao tema que estava sendo trabalhado pelos mesmos –
sobre astronomia por meio do projeto “B. nas estrelas”, foram desenvolvidas
atividades que envolvessem a utilização pedagógica do telefone celular.
Os dados desta investigação foram coletados durante o final do primeiro e o
início do segundo semestre de 2012. Neste período os estudantes utilizaram os
próprios telefones celulares para desenvolver as tarefas propostas.
No desenvolvimento do questionário inicial, que tinha por objetivo levantar
o perfil do público da instituição e a afinidade com as tecnologias, obtivemos a
adesão de 51 estudantes e 3 professores. Posteriormente, na realização do grupo
focal, tivemos a adesão voluntária de 8 estudantes, sendo mais participativos 03
estudantes, identificados no estudo como E01, E02 e E03 e o envolvimento mais
ativo de 01 professor, de Geografia e História, identificado como PRM.
As tarefas que deveriam ser desenvolvidas pelo grupo focal, visavam a
utilização das funcionalidades presentes nos aparelhos celulares dos 8 estudantes
que fizeram parte do grupo focal, sendo: 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao
Observatório da UFMG; 2º) Entrevistar uma pessoa – amigo, familiar, colega, sobre
o tema Astronomia. A resposta podia ser filmada ou gravada; 3º) Durante a visita ao
Observatório, entrevistar um estudante da escola que estava participando da visita,
registrando a sua opinião em relação à atividade. A resposta podia ser filmada ou
gravada; 4º) Elaborar uma pergunta para entrevista ao professor PRM e enviar a
pergunta por SMS à pesquisadora e 5º) Gravar ou filmar a entrevista ao professor
PRM sobre o projeto “B. nas Estrelas”, com a participação de todo grupo focal.
Jovens e adultos na era digital
Cada vez mais visualizamos os impactos tecnológicos sobre o homem,
principalmente em seu modo de viver e de se relacionar com o mundo. Convivemos
com diversos tipos de tecnologias que fazem parte de nosso cotidiano, e elas vêm
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ocorrendo em um menor intervalo de tempo, principalmente as tecnologias
relacionadas à informação e a comunicação.
Este avanço tecnológico é sentido por pessoas de todas as idades, sobretudo
aquelas nascidas na era digital – os nativos digitais (PRENSKY, 2001) e também
aqueles que são adultos, que são chamados de imigrantes digitais (PRENSKY, 2001).
De acordo com o PNAD/ IBGE (2011), de 2005 para 2011, os bens duráveis
com maior crescimento nos lares brasileiros foram o microcomputador com acesso
à internet, o microcomputador e o telefone celular.
Em relação ao telefone celular, chegou a 115,4 milhões o número de pessoas
com dez anos ou mais de idade que têm celular de uso pessoal, ou seja, a
população com celular cresceu 107,2%. Os mais velhos e os mais novos foram os
que mais fizeram crescer o contingente. A proporção de pessoas com 60 anos ou
mais com celular aumentou 161,3% e a proporção das jovens de dez a 14 anos com
celular cresceu 118,2%.
Jovens e adultos na escola: novas perspectivas
A educação de jovens e adultos (EJA), de acordo com a LDB (1996), é uma
oferta de educação regular, destinada às pessoas que não tiveram acesso à
escolarização na idade própria ou cujos estudos não tiveram continuidade nos
níveis fundamental e médio. Assim, estudantes a partir de 15 anos completos
podem cursar o ensino fundamental e estudantes a partir de 18 anos completos
podem cursar o ensino médio, ambos na modalidade de EJA.
Os estudantes que procuram as escolas de EJA são pessoas que por algum
motivo pessoal, social, econômico ou cultural, abandonaram a escola regular, no
tempo em que deveriam estar estudando. São indivíduos com idades entre 15 e 60
anos aproximadamente e normalmente de classes sociais mais baixas.
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De acordo com o IBGE (2011), o Brasil ainda possui 8,6% de analfabetismo
na população de 15 anos ou mais. Isto equivale a 12,9 milhões de brasileiros. Neste
sentido, de acordo com Di Pierro (2004, p. 16), “para aumentar, flexibilizar,
diversificar e qualificar as oportunidades educacionais, o lugar da Educação de
Jovens e Adultos na agenda da política educacional brasileira terá de ser revisto”.
Segundo Paulo Freire (2000), principal referência na EJA, a escola deve
primar pela participação ativa e dinâmica do estudante trabalhador na sala de
aula. Por meio de sua pedagogia dialógica e problematizadora, ele defende que a
experiência de vida dos estudantes é a base para a construção dos novos
conhecimentos dos mesmos. Freire (2000) acredita que o sujeito deve ser
autônomo, procurando construir o seu próprio conhecimento, através da
curiosidade e interesse pelo saber e que cabe a escola instigar este processo.
Desta forma, a EJA se apresenta como mais um espaço de construção da
autonomia, como tempo de aprendizagem, movimento de vida e possibilidade de
concretização de um direito (CUNHA & SILVA, 2004).
Pensar, portanto, o cidadão como sendo o principal agente de mudança da
realidade em que vive é pensar numa educação libertadora (FREIRE, 1997) em que
os conhecimentos construídos pelo sujeito aprendiz são a possibilidade de compor e
transformar a si próprio e o meio com o qual se relaciona.
Nesta perspectiva, os Projetos de Trabalho se apresentam como uma opção
para a EJA.
Projetos de Trabalho: uma opção para a EJA
Fernando Hernandez & Montserrat Ventura (1998) definem projeto como
uma forma de organizar a atividade de ensino e aprendizagem ou os conhecimentos
escolares, adotando como aspectos essenciais a aprendizagem significativa e o
conhecimento globalizado.
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De acordo com Almeida & Moran (2005), o trabalho com projetos questiona o
currículo engessado, ao propor atividades que partam das problemáticas que
permeiam o cotidiano dos estudantes. Desta forma, Hernandez & Ventura (1998)
pontuam que um projeto pode organizar-se seguindo determinado eixo: a definição
de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-
relacionadas, uma temática que valha a pensa ser tratada por si mesma.
Nesta perspectiva, conforme ressalta Espíndola (2005), os conteúdos não se
apresentam mais como “um fim em si mesmos”, mas ganham significados diversos a
partir das vivências sociais dos estudantes e passam a ser meios para a ampliação
de seu universo cognitivo, mediando seu contato com a realidade de forma crítica
e dinâmica.
Nesta prática, os estudantes são sujeitos ativos da aprendizagem, onde os
professores devem propor estratégias e reflexões que contemplem a autoria dos
estudantes e preservem, de acordo com Hernandez & Ventura (1998), a função
principal da escola: o desenvolvimento da autonomia do ser humano, a produção
de conhecimento e a construção da cidadania.
Para levar adiante a organização curricular a partir de Projetos de trabalho,
Hernandez & Ventura (1998) destacaram as seguintes bases teóricas, que os
fundamentam:
1. Aprendizagem significativa, partindo do que os estudantes já sabem a
respeito do tema abordado;
2. Aprendizagem conectada com os interesses dos estudantes, buscando uma
atitude favorável para o conhecimento e aprendizagem;
3. Previsão, por parte dos docentes, de uma estrutura lógica e sequencial dos
conteúdos, numa ordem que facilite sua compreensão;
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4. Sentido de funcionalidade do que se deve aprender, considerando os
procedimentos e as diferentes alternativas organizativas aos problemas
abordados;
5. Valorização da memorização compreensiva de aspectos da informação, que
constituem-se em base para novas aprendizagens e relações;
6. A avaliação, que se destina, sobretudo, a analisar o processo seguido ao
longo de toda sequencia e das inter-relações criadas na aprendizagem.
Assim, os projetos de trabalho são uma forma de fazer com que o estudante
seja participante ativo na construção de seu conhecimento, incluindo-o em todo o
processo de aprendizagem. A partir dessa ótica, de acordo com Freire et al. (1998),
o estudante, sujeito ativo da aprendizagem, aprende ao levantar, fazer e testar
ideias, experimentar, construir conhecimentos e representar o pensamento. Cabe
ao docente, como mediador da aprendizagem, possibilitar situações que promovam
a interação, o trabalho em grupo, a busca de informações e de novas
possibilidades, assim como a construção de novos conhecimentos, principalmente
nesta era da aprendizagem móvel, como apresentado a seguir.
Dispositivos móveis na EJA – m-learning
Para Ferreira (2009), ao testemunharmos as novas formas de viver e de
aprender fora da escola, baseadas em formas de interação mediadas por
tecnologias digitais, podemos questionar se a escola, tanto no que se refere ao que
ensina como a forma que ensina, está adequada aos tempos atuais, ou se está
defasada em relação ao mundo a sua volta.
Desta forma, a educação, as novas tecnologias e o conhecimento têm sido
alvo de atenção, se considerarmos que o uso das mesmas pode contribuir para
novas práticas pedagógicas desde que baseadas em novas concepções de
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conhecimento, de estudante e de professor, transformando uma série de elementos
que compõem o processo de ensino-aprendizagem.
A grande maioria dos jovens e adultos possui telefones celulares e o uso
pedagógico dos mesmos, de acordo com Ferreira (2009), promove o
desenvolvimento de competências na utilização de conteúdos digitais e na
realização de tarefas colaborativas essências na era digital, caracterizada pela
globalização, interação e mediação.
A utilização destes dispositivos pelos estudantes é incontornável, portanto a
escola precisa criar oportunidades para utilizar estes dispositivos a favor das suas
práticas pedagógicas. É neste contexto que surge o m-learning.
Mobile learning (m-learning), de acordo com Moura (2010), é um termo
didático-pedagógico, usado para designar um “novo” paradigma educacional,
definido como o processo de aprendizagem que ocorre apoiado pelo uso de
dispositivos móveis, tendo como característica fundamental a portabilidade dos
dispositivos e a mobilidade dos sujeitos. Resumidamente, de acordo com Ferreira
(2009), o termo m-learning, em português, pode ser traduzido por aprendizagem
móvel.
Uma das características do m-learning, de acordo com Moura (2010) é o
aproveitamento dos dispositivos que os estudantes, jovens e adultos, usam e levam
com eles para todo o lado, que consideram dispositivos pessoais e amigáveis, que
são fáceis de usar, que usam constantemente em todos os momentos da vida e
numa variedade de situações, exceto ainda na esfera educativa.
É, pois, urgente, enfrentar esta questão e ter em consideração, tanto
metodologias, como conteúdos (MOURA, 2010). Mudar as metodologias em primeiro
lugar e aprender a comunicar na linguagem e estilo dos estudantes, ou seja, se
letrar digitalmente (RIBEIRO, 2009), fatores que verificamos no estudo conforme
mostrado a seguir.
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Limites e possibilidades
Por se tratar de uma investigação qualitativa, optamos pela tematização dos
dados nas seguintes categorias: EJA; Projetos de Trabalho; Funcionalidade; Mobile
Learning e Letramento Digital, considerando os limites e as potencialidades em
cada um deles.
Dinâmicas da EJA
No decorrer da investigação enfrentamos algumas dificuldades relacionadas
ao fluxo dos estudantes e ao calendário escolar, ou seja, aos tempos da EJA.
Uma das características da EJA é a infrequência dos estudantes, e na escola
onde aconteceu esta pesquisa não era diferente. Por se tratarem de jovens e
adultos, esses sujeitos possuem diversas demandas extra-escolares. Como
ressaltado por Cunha & Silva (2004, p. 50), “olhamos para sujeitos que vivenciam
uma variedade de situações concretas, formadoras de subjetividades”.
Desta forma, os estudantes faltavam com freqüência e isso refletiu na coleta
de dados e no desenvolvimento do Grupo Focal.
Na EJA também existe uma rotatividade de professores, e no decorrer do
projeto alguns professores saíram e outros entraram. O professor de Ciências, que
estava envolvido no projeto “B. nas estrelas”, por diversos motivos, acabou não
acompanhando as fases finais do projeto, ficando mais ao cargo do professor de
Geo./História encaminhar as atividades.
No entanto, a escola, por meio da iniciativa de alguns professores, buscou
trabalhar com estas características da EJA a seu favor, por meio dos projetos de
trabalho.
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Projetos de Trabalho
A escola investigada já tinha a prática de desenvolver projetos. Na EJA eles
acontecem com mais freqüência, devido as possibilidades de flexibilidade e
(re)significação dos tempos e espaços.
Uma grande parte dos projetos e atividades desenvolvidos pelos professores
acontecia fora do espaço escolar, mas no horário das aulas. Os projetos que
aconteciam dentro da escola, demandavam reorganização dos tempos, não sendo
marcados por horários rígidos.
O projeto “B. nas estrelas” abarcou estes dois momentos: dentro e fora da
escola. A atividade fora da escola foi a visita ao Observatório da UFMG. O
professor responsável já tinha o costume de trabalhar com projetos e de acordo
com ele, os projetos de trabalho são
a sobrevivência da educação, no sentido que você consegue, através de projetos, desenvolver uma linguagem mais direta, uma proposta mais eficaz. Tem projetos que você fica ali nos duzentos dias letivos, talvez infinitos. Então a eficácia está nos projetos. (PRM)
O seu pensamento vem ao encontro de teóricos que defendem os projetos de
trabalho. De acordo com Almeida & Moran (2005), o trabalho com projetos
questiona o currículo engessado, ao propor atividades que partam das
problemáticas que permeiam o cotidiano dos estudantes, que considere a demanda
e a vivência dos sujeitos.
Podemos perceber então que este trabalho conjunto, entre pesquisa e
projeto, considerando o interesse dos estudantes, ajudou na aprendizagem
significativa dos mesmos, como demonstrado na fala de E02
Ajuda sim. É o conhecimento. Muitas coisas que pelo menos eu não sabia, coisas que eu nunca tinha ouvido falar, eu aprendi... São conhecimentos que a gente guarda para a vida toda...
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Verificamos então que os projetos de trabalho contribuem para a utilização
do telefone celular como ferramenta pedagógica, considerando a disponibilidade,
envolvimento e flexibilidade da comunidade escolar.
No entanto, quais funcionalidades do aparelho celular, voltadas para a
aprendizagem, os estudantes poderiam utilizar?
Funcionalidades do telefone celular
Em primeiro lugar, destacamos a familiaridade dos estudantes com este
dispositivo móvel, como também constataram Ferreira (2009), Macedo (2009) e
Moura (2010). Como apresentado pelos dados do questionário, a maioria dos
estudantes possuíam telefones celulares com recursos de câmera, jogos, internet,
Bluetooth, mp3 e utilizavam com freqüência a maioria destas funções, somando a
isso o envio de mensagens (SMS).
Desta forma, o telefone celular não é apenas um aparelho para se fazer
ligações. São verdadeiras centrais multimídias (ANTÔNIO, 2010). Na fala de PRM,
Eu acho que o celular é uma central de multimídia, ele atende plenamente todas as oportunidades: ouvir música, ouvir rádio, tirar foto, filmar, falar, ouvir, conectar internet.
Praticamente 100% dos estudantes participantes do grupo focal possuíam
celulares com os recursos de câmera, jogos, internet, Bluetooth e mp3 e sabiam
utilizar estas funções. O gravador de voz foi a função que eles menos utilizavam,
sendo que alguns estudantes não sabiam como ela funcionava, buscando instruções
de uso para pesquisadora e colegas da escola.
Assim, analisando as tarefas propostas ao grupo focal, observamos que os
estudantes que desenvolveram as atividades não apresentaram dificuldades para
utilizar a maioria dos recursos disponíveis em seus aparelhos celulares.
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Os limites para o desenvolvimento das tarefas se condicionaram aos recursos
dos aparelhos celulares, como baixa qualidade da câmera e vídeo e ao envio de
SMS, sendo esta uma das atividades de menor retorno, aproximadamente 50% dos
estudantes.
Ao avaliar as funções utilizadas, os estudantes gostaram de filmar, tirar foto
e gravar. Esta última foi a que eles mais gostaram.
Desta forma, considerando a utilização das funcionalidades do telefone
celular nas atividades propostas, questionamos os estudantes e o professor M. sobre
o potencial do telefone celular como ferramenta de aprendizagem e eles avaliaram
que a sua utilização é possível. Na fala de PRM
O celular é o vislumbre do momento. É o objeto de desejo de todo mundo. Menino de 10 anos já quer ter um celular... Eu acho que o celular tendo esta característica de multimídia e ele sendo portátil, eu acho que ele atende bastante, atende plenamente. Eu acho até que supre ai um custo maior de notebook, de netbook, tablet. O celular é uma conexão portátil e multimídia. Eu acho fantástico... e com um preço acessível.
Sobre as características que os telefones celulares devem ter para se
tornarem ferramentas de aprendizagem eles apresentaram em primeiro lugar a
internet, seguido da câmera, mensagem e calculadora.
No que se refere aos limites para a instauração desta tecnologia como
ferramenta útil de aprendizagem, eles apresentaram os altos custos da internet, a
conexão lenta, os recursos de alguns aparelhos celulares e a incompatibilidade
entre alguns destes dispositivos.
Mobile Learning
Neste tópico, os questionários apresentaram que no grupo focal, 87% dos
estudantes já haviam utilizado o telefone celular para atividades escolares e 100%
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considerava positiva a utilização deste aparato tecnológico para atividades
escolares, reconhecendo o seu potencial como ferramenta de aprendizagem.
Acreditamos, como apresentado por Moura (2010), que estes dados
favoreceram a aceitação às atividades propostas para este grupo relacionadas à
utilização do telefone celular. Na entrevista eles disseram que a possibilidade de
utilizar o próprio aparelho facilita o processo, demonstrando um favorecimento à
apropriação do telefone pessoal como ferramenta de aprendizagem.
No entanto, E01 e E02 pontuaram que tem que ser um celular que permita
tirar fotos, gravar, e ter acesso à internet, ou seja, que tenha recursos para
desenvolver as atividades, conforme apresentado no tópico anterior.
De acordo com Coscarelli (2011, p. 28), com a internet “o que era impossível
passa a ser alcançável. O que não era realidade dos alunos (e que muita gente
acredita que não deve ser) passa a poder fazer parte do dia a dia deles”.
Além das funcionalidades, E01 acrescentou que também depende da
matéria, de como o professor vai encaminhar e de quais atividades ele vai solicitar.
Para isto, PRM ressalta que é necessário promover formações aos professores para
lidar com esta ferramenta.
Desta forma, questionamos aos estudantes e ao professor, sobre o potencial
do telefone celular como ferramenta para aprender em qualquer lugar e a qualquer
hora, ou seja, a aprendizagem ubíqua, e eles avaliaram positivamente, ou, na fala
de E01, uma “mão na roda”.
Como constatado por Moura (2010), acreditamos que os estudantes
compreenderam que o telefone celular dilui as fronteiras da sala de aula e a
aprendizagem pode acontecer em qualquer momento, adotando esta prática no seu
dia-a-dia, conforme apresentado na fala de E02
O celular hoje para gente é uma aprendizagem. Muitas coisas que você não sabe, se você tem dúvida, você busca ali na internet que você acha. Alguma noticia que você quer saber, informação que você quer saber que
não tem. Hoje em dia eu acho que é importante. Eu uso direto, no meu trabalho, em casa.
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Nesta fala também percebemos a autonomia do estudante para construir o
seu próprio percurso de aprendizagem, outra característica do m-learning, de
acordo com Sharples et al. (2007).
Em relação à aprendizagem colaborativa, os estudantes consideraram
significativas as atividades de interação, entre estudante e estudante, e professor
e estudante. Eles reforçaram a importância da interação entre os sujeitos, bem
como um trabalho mais próximo e significativo, dados estes também levantados por
Moura (2010) e Sharples et al. (2007).
Letramento Digital
Ao analisar os dados do questionário, bem como as entrevistas, consideramos
relevante fazer uma reflexão sobre o letramento digital.
Os dados do questionário demonstraram que grande parte dos estudantes
que consideraram o telefone celular sem utilidade para atividades escolares, se
encontra na faixa dos 30 a 39 anos, e acreditamos estar ligado, dentre outros, a
não familiaridade com esta tecnologia, já que foi nesta faixa também que tivemos
menos estudantes que utilizavam variadas funções dos dispositivos móveis, mesmo
os aparelhos possuindo os recursos.
Logo associamos este quadro às características presentes nos imigrantes
digitais (PRENSKY, 2001), devido às dificuldades destes estudantes em
compreender e expressar-se digitalmente.
No entanto, esta não é só uma dificuldade apresentada pelos estudantes.
Mesmo apoiando a utilização do telefone celular como ferramenta de
aprendizagem, PRM confessa
A gente (considerando as pessoas e os professores da sua idade) ainda não sabe lidar com a tecnologia. Nós pegamos o final dos anos 90, e entramos nesta tecnologia de informática e celular. Ainda não domino.
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Mesmo assim, estas dificuldades não impedem que os estudantes e
professores possam aprender a utilizar estas tecnologias, buscando se letrar
digitalmente. De acordo com Lévy (1999), letramento digital pode ser entendido
como um
conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, como sendo um novo meio de comunicação. (LÉVY,1999, p. 17)
Desta forma, Ribeiro (2009) ressalta que as pessoas precisam aprender a
fazer uso da tecnologia para gerar um benefício ou comodidade para ela. Foi esta
postura que o professor e os estudantes entrevistados buscaram desenvolver,
frente as suas dificuldades com a tecnologia.
Mas não são somente os imigrantes digitais que precisam se letrar
digitalmente. De acordo com a análise dos dados do questionário e das entrevistas,
os nativos digitais também precisam aprimorar o seu grau de letramento digital, já
que, como apresentado por Buzato (2001), letramento digital não quer dizer
apenas saber como utilizar as tecnologias digitais, mas também entrar em contato
com elas de maneira significativa, entendendo seu uso e possibilidades em nossa
vida em sociedade, de maneira crítica e com responsabilidade.
Na escola pesquisada, conforme apresentado, a proibição do aparelho
celular estava muito associada a forma do estudante não saber lidar com a
tecnologia no espaço escolar, ouvindo música alta, utilizando o aparelho celular
dentro da sala de aula, durante a aula, para ouvir música, ligar e enviar mensagem.
Ou seja, o estudante precisa saber como utilizar esta tecnologia nos
diferentes espaços, buscando, como apresentado por Coscarelli (2013), uma
educação digital, que discuta suas implicações éticas e morais, para além da
utilização instrumental. Este termo também apareceu na fala de PRM
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O estudante não tem educação digital. Não é culpa dele. É uma coisa recente, que nos ainda estamos caminhando. E hoje estourou mais de um aparelho por habitante no Brasil, em muito pouco tempo, realmente não sabemos lidar com isso.
Desta forma, cabe à comunidade escolar, por meio do trabalho conjunto
entre os nativos e imigrantes digitais, buscarem o letramento e a educação digital.
O que não deve acontecer, como apresentado por PRM, é a escola fechar os olhos
para a tecnologia, no caso o telefone celular, que se apresenta como uma “super
ferramenta... e uma grande oportunidade” (PRM).
Considerações finais
Este estudo buscou analisar o uso da tecnologia móvel de comunicação
voltada para a aprendizagem com mobilidade e o ensino na Educação de Jovens e
Adultos (EJA), considerando as suas potencialidades e limites pedagógicos. Neste
contexto, consideramos o mobile learning como um novo paradigma educacional,
sendo possível a sua inserção por meio dos projetos de trabalho.
Os dados do estudo também caminharam neste sentido. Por meio de uma
coleta de dados qualitativa, através do desenvolvimento de atividades que visavam
à utilização do aparelho celular no projeto “B. nas Estrelas”, os estudantes e
professor demonstraram ser possível a utilização do celular enquanto ferramenta
pedagógica.
As principais limitações encontradas foram: a infrequência dos estudantes;
alteração do calendário escolar; dificuldades em lidar com algumas
funcionalidades; incompatibilidade entre aparelhos diferentes.
As principais possibilidades para a utilização pedagógica do aparelho celular
na Educação de Jovens e Adultos são: a flexibilização dos tempos e espaços; os
projetos de trabalho; as funcionalidades - internet, vídeo e câmera; a familiaridade
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com a tecnologia; a autonomia e a interação entre os sujeitos e a disponibilidade
para se letrarem digitalmente, tanto o professor, quanto os estudantes.
Assim como apresentado por Moura (2010), um dos aspectos mais relevantes
da utilização do telefone celular como ferramenta pedagógica está relacionada ao
fato de ser utilizado, no contexto escolar, um aparato tecnológico que é
propriedade dos estudantes.
A utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação na
educação tem consequências, tanto para a prática docente como para os processos
de aprendizagem. O futuro sucesso do m-learning em ambiente escolar dependerá
da predisposição dos professores em adotar as tecnologias móveis na sala de aula.
Para tanto, é necessário mudar a forma do ensino baseado na transmissão ou
exposição, em que o professor transmite informação para alunos passivos e sem
conhecimento.
Os professores devem se transformar em mediadores do conhecimento. Eles
precisam acreditar que a integração de uma ou outra tecnologia é positiva para as
experiências de aprendizagem. Para tanto, precisam buscar se letrar digitalmente,
(re)significando sua prática docente.
Como apresentado por Moura (2010), os dispositivos móveis, ferramentas
ubíquas, multimídias e portáteis, mudam a natureza do conhecimento e discurso e
consequentemente, a natureza da aprendizagem e a forma como se aprende.
Mesmo não sendo o objetivo da investigação, verificamos que os estudantes
E01, E02 e E03, a partir das tarefas desenvolvidas com seus telefones celulares,
bem como o professor PRM, considerando a proposta do estudo e as conversas
informais com a pesquisadora, (re)significaram o papel das tecnologias na sua vida,
estendendo as possibilidades de sua utilização para atividades extra-escolares,
como trabalho, vida pessoal, passeios, dentre outros.
Como possibilidades futuras, avaliamos que seria significativa uma parceria
entre empresas de telefonia e escola, visando uma redução de custos; formação
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continuada para os professores sobre as possibilidades pedagógicas do uso de
dispositivos móveis e o estreitamento das relações entre universidade e escola.
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