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AGRADECIMENTOS
Este trabalho é o fruto da minha história pessoal, que se pautou nos últimos anos
por uma série de mudanças e um leque alargado de conhecimentos que me
proporcionaram um enorme treino em diversas áreas do saber e que consubstanciaram o
caminho para a arte rupestre como síntese de arqueóloga e pintora. Uma caminhada
desta natureza só foi possível graças à ajuda de pessoas amigas, colegas e alguns
familiares, que disponibilizaram o ânimo e a compreensão necessária para me
auxiliarem nas alturas propícias.
Um agradecimento muito especial ao Professor Emmanuel Anati e Ariela Anati,
com quem tive o privilégio de trabalhar e conviver, pelos seus ensinamentos, espirito
crítico, a atenção, o carinho e encorajamento que sempre me revelaram.
Agradeço ao Professor Doutor Luís Jorge Gonçalves, a atenção e o carinho que
dedicou à orientação desta dissertação. Hoje um amigo.
À Faculdade de Belas Artes e à Universidade de Lisboa, que viabilizaram e
tornaram possível a realização deste mestrado.
Ao Professor Doutor Fernando Coimbra, pelo apoio, profissionalismo e
compreensão que sempre promoveu.
Ao Professor Doutor Manuel Calado, meu professor de mestrado, pelo apoio e
compreensão que sempre manifestou.
Ao Yang Qinglin, à Leslie Zubieta, à Vanda Luciano, à Conceição Roque, ao
Santiago Guimarães e outros colegas de uma longa lista que por economia de espaço
não são aqui mencionados, agradeço a paciência e preciosa colaboração.
1
RESUMO
Os pilares teóricos que sustentam a análise da investigação é uma abordagem
cognitiva da arte rupestre da gruta do Escoural localizada em Montemor-o-Novo,
Portugal. Para a contextualização da arte rupestre desta gruta utiliza-se o método de
analogia com alguns dos principais sítios de arte rupestre do Paleolítico europeu devido
a semelhanças no tratamento e na temática das pinturas e gravuras. As figuras no seu
interior levadas a cabo durante o Paleolítico Superior, com datação relativa entre 25 000
a.C. e 12 000 a.C. tem paralelos estilísticos com algumas estações arqueológicas
francesas, espanholas e italianas.
Morfologicamente a gruta é constituída por trinta galerias e diversas salas e
corredores, dispostos em vários níveis. A representação das gravuras e das pinturas
divide-se em dois grupos, um constituído por motivos zoomórficos, isto é sobretudo
equídeos e bovídeos, e outro por signos geométricos abstratizantes.
Sabemos que toda a arte paleolítica utiliza uma gama cromática relativamente
restrita, aqui constatamos que os artistas utilizaram para os equídeos e bovídeos
principalmente o pigmento negro, enquanto nas composições de sinais e linhas foi
utilizado sobretudo o vermelho. Um traço largo, firme e seguro delimita as diversas
gravuras com algumas ocorrências de filiformes.
A musealização da arte rupestre europeia será aqui foco de análise. Como se
preserva, se divulga e se integra na sociedade atual, a primeira expressão das
representações simbólicas levada a cabo pelo Homo sapiens.
Para uma sistematização mais coerente nas matérias aqui tratadas foi
relevante introduzir algumas linhas de pesquiza que se inserem na Arqueologia da
Paisagem.
Palavras-chave: Arte rupestre; Gruta do Escoural; Processos museológicos;
Portugal.
2
ABSTRACT
The pillars that support the theoretical analysis of research is a cognitive
approach of rock art in the cave located at Escoural, Montemor-o-Novo, Portugal. For
the context of rock art in this cave is used the method of analogy with some of the main
European Paleolithic rock art sites based on similarities in the treatment and themes of
paintings and engravings.
The figures inside the cave undertaken the Upper Paleolithic, with relative
dating between 25,000 BC and 12,000 BC, we can find stylistic parallels with some
french, spanish and italian archaeological sites.
Morphologically, the cave consists of thirty galleries and several halls and
corridors, arranged on multiple levels. The representation of the engravings and
paintings are divided into two main groups, one consisting of zoomorphic motifs, which
is especially horses and oxen, and other with geometric abstract signs.
We know that all Paleolithic art uses a relatively narrow color range, we note
here that artists used to do horses and oxen mainly with black pigment, while in the
compositions of signs and lines the red was used. A draw off, firm and secure limits are
around the engravings.
The musealization of rock art sites in Europe will be the focus of analysis here.
How preserves, promotes and integrates itself in today's society, the first expression of
symbolic representations undertaken by Homo sapiens.
For a more coherent systematization in the matters described herein had been
introduced some relevant research lines that can be include in the Archaeology of
Landscape.
Keywords: Rock Art; Escoural Cave; Museological processes; Portugal.
3
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO _________________________________________________ Pág. 9
1. ARTE RUPESTRE E PROCESSOS MUSEOLÓGICOS_______________ Pág. 11
1.1. Conceitos operacionais na arte rupestre ___________________________ Pág. 12
1.2. Arte Rupestre ________________________________________________ Pág. 15
1.3. Outras experiências Museológicas ________________________________ Pág. 16
1.3.1. La Pileta ___________________________________________________ pág. 16
1.3.2. Valcamónica ________________________________________________ Pág. 19
1.3.3. Vale do Côa ________________________________________________ Pág. 25
1.3.4. Museu de Altamira ___________________________________________ Pág. 29
1.3.5. Niaux _____________________________________________________ Pág. 32
1.3.6. Museu de Mação ____________________________________________ Pág. 39
2. A GRUTA DO ESCOURAL ______________________________________ Pág. 44
2.1. Localização___________________________________________________ Pág. 44
2.1.1. Aspetos geológicos e geomorfológicos____________________________ Pág. 45
2.2. A arte rupestre da gruta do Escoural _______________________________ Pág. 48
2.2.1. Descrição das pinturas e gravuras ________________________________Pág. 50
2.2.2. Pinturas_____________________________________________________Pág. 51
2.2.3. Gravuras ___________________________________________________ Pág. 58
2.3. Modelo expositivo do Escoural ___________________________________ Pág. 65
4
3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO _________________________________ Pág. 70
3.1. Atividades ao ar livre em complemento às visitas à gruta ______________ Pág. 71
3.2. Sistemas de comunicação _______________________________________ Pág. 71
3.3. Ateliês tecnológicos da Pré-história _______________________________ Pág. 72
3.4. Integração em roteiros de turismo de qualidade ______________________ Pág. 73
3.5. Complementaridade com eventos culturais _________________________ Pág. 77
3.6. Horário específico de visitas à gruta ______________________________ Pág. 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________ Pág. 78
BIBLIOGRAFIA_________________________________________________ Pág. 80
5
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 – Mapa da gruta ____________________________________________ Pág. 17
Fig. 2 – Foppe de Nadro, Ceto ______________________________________ Pág. 20
Fig. 3 – Paisagem do Valcamónica __________________________________ Pág. 20
Fig. 4 – Entrada do Parque de Naquane _______________________________ Pág. 21
Fig. 5 – Estela-menir com armas da idade do cobre em Naquane ___________ Pág. 21
Fig. 6 – Uma das grandes rochas de Foppe di Nadro, Ceto ________________ Pág. 23
Fig. 7 – Rocha nº 27 de Foppe di Nadro ______________________________ Pág. 23
Fig. 8 – Rocha nº 27 de Foppe di Nadro ______________________________ Pág. 24
Fig. 9 – Placar explicativo da rocha nº 27 de Foppe di Nadro ______________ Pág. 24
Fig. 10 – Mapa do Parque Arqueológico de Foz Côa ____________________ Pág. 26
Fig. 11 – Legenda do mapa ________________________________________ Pág. 26
Fig. 12 – Museu do Côa __________________________________________ Pág. 27
Fig. 13 – Museu do Côa __________________________________________ Pág. 28
Fig. 14 – Bisonte de Altamira ______________________________________ Pág. 31
Fig. 15 – Planta do Museu de Altamira _______________________________ Pág. 31
Fig. 16 – Vista geral da Neocueva ___________________________________ Pág. 32
Fig. 17 – Vista do “Parc de la Prehistoire”_____________________________ Pág. 33
Fig. 18 – Entrada do “Parc de la Prehistoire”___________________________ Pág. 33
Fig. 19 – Mapa do Parc Naturel Régional des Pyrénées Ariégeoises _________ Pág. 33
Fig. 20 – Exposição no “Parc de la Prehistoire”_________________________ Pág. 34
Fig. 21 – Oficina didática “Parc de la Prehistoire”_______________________ Pág. 35
Fig. 22 – Oficina didática “Parc de la Prehistoire”_______________________ Pág. 35
Fig. 23 – Acampamento “Parc de la Prehistoire”________________________ Pág. 35
Fig. 24 – Placar “Parc de la Prehistoire”_______________________________ Pág. 35
6
Fig. 25 – Bisontes do “Salon Noir” de Niaux __________________________ Pág. 36
Fig. 26 – Visita guiada em Niaux ___________________________________ Pág. 37
Fig. 27 – Vista de Niaux __________________________________________ Pág. 38
Fig. 28 – Museu de Mação ________________________________________ Pág. 40
Fig. 29 – Interior do Museu de Mação _______________________________ Pág. 41
Fig. 30 - Projeto Andakatu - Educação pelas Artes e Património __________ Pág. 43
Fig. 31 -Mapa de Portugal, em destaque a região de Montemor-o-Novo_____ Pág. 44
Fig. 32 -Mapa da gruta do Escoural _________________________________ Pág. 44
Fig. 33 - Equídeo pintado a vermelho ________________________________Pág. 51
Fig. 34 - Equídeo pintado a vermelho ________________________________ Pág. 51
Fig. 35 – Equídeo pintado a negro ___________________________________ Pág. 52
Fig. 36 -Painel com conjunto de pinturas ______________________________ Pág. 53
Fig. 37 - Conjunto de animais _______________________________________ Pág. 54
Fig. 38 - Cabeça de cavalo _________________________________________ Pág. 55
Fig. 39 - Cabeça de cavalo _________________________________________ Pág. 55
Fig. 40 - Quadrúpedes _____________________________________________ Pág. 55
Fig. 41 - Signos geométricos________________________________________ Pág. 56
Fig. 42 - Signos geométricos________________________________________ Pág. 57
Fig. 43 - Signos geométricos________________________________________ Pág. 57
7
Fig. 44 - Conjunto zoomórfico ______________________________________ Pág. 58
Fig. 45 - Conjunto zoomórfico ______________________________________ Pág. 58
Fig. 46 - Equídeo _________________________________________________ Pág. 59
Fig. 47 - Equídeo _________________________________________________ Pág. 59
Fig. 48 - Cabeça de bovídeo _________________________________________ Pág. 59
Fig. 49 - Cabeça de bovídeo _________________________________________ Pág. 59
Fig. 50 - Equídeo _________________________________________________ Pág. 60
Fig. 51 - Cabeça de bovídeo _________________________________________ Pág. 61
Fig. 52 - Cabeça de bovídeo _________________________________________ Pág. 61
Fig. 53 - Três cabeças de equídeo _____________________________________ Pág. 62
Fig. 54 - Três cabeças de equídeo _____________________________________ Pág. 62
Fig. 55 - Signos geométricos ________________________________________ Pág. 63
Fig. 56 - Painel de signos geométricos _________________________________ Pág. 63
Fig. 57 - Signos geométricos ________________________________________ Pág. 64
Fig. 58 - Signos geométricos ________________________________________ Pág. 64
Fig. 59 - Entrada do Centro Interpretativo ______________________________ Pág. 66
Fig. 60 – Receção do Centro Interpretativo _____________________________ Pág. 66
Fig. 61 - Entrada da Exposição ______________________________________ Pág. 67
Fig. 62 – Placar explicativo _________________________________________ Pág. 67
Fig. 63 – Espólio arqueológico ______________________________________ Pág. 68
Fig. 64 – Placar explicativo _________________________________________ Pág. 68
8
Fig. 65 – Zona de merchandising _____________________________________ Pág. 69
Fig. 66 – Entrada da gruta __________________________________________ Pág. 69
Fig. 67 – Andakatu ________________________________________________ Pág. 72
Fig. 68 – Andakatu ________________________________________________ Pág. 73
Fig. 69 – Site http://www.paladareseaventuras.com/index.php ______________ Pág. 73
Fig. 70 – Site http://www.l-andvineyards.com/pt/ ________________________ Pág. 74
Fig. 71 – Site http://www.l-andvineyards.com/pt/ ________________________ Pág. 74
Fig. 72 – Fotografia do site http://www.l-andvineyards.com/pt/ _____________ Pág. 74
Fig. 73 – Fotografia do site http://www.l-andvineyards.com/pt/ _____________ Pág. 74
Fig. 74 – Fotografia do site http://www.conventodoespinheiro.com/ _________ Pág. 75
9
INTRODUÇÃO
Entende-se por arqueologia cognitiva “o estudo das antigas formas de
pensamento a partir de vestígios materiais” (Renfrew C. e Bahn P., 2004: 393). Partindo
deste postulado e constatando que a gruta do Escoural, é o mais ocidental dos
santuários/gruta europeus, onde o homem paleolítico executou o seu legado artístico
para a posteridade merece destaque e é de suma importância o seu estudo.
Descoberta em 1963, a gruta do Escoural constitui um património precioso
dentro do quadro geral que é a arte paleolítica da Europa. Há ainda que salientar que foi
descoberto no seu interior vestígios de ocupação humana do Homo de Neanderthal, ou
seja desde o Paleolítico Médio até ao Neolítico Final (Homo sapiens). No seu exterior
encontra-se um conjunto de gravuras tardo-neolíticas, um monumento de falsa cúpula,
assim como as ruinas de um povoado fortificado calcolítico que se lhe sobrepõem.
A região do Escoural apresenta-se como uma encruzilhada situada entre as
bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e a peneplanície alentejana. Estes rios são vias
naturais de penetração para o interior peninsular e a localização tornou-se bastante
relevante para o enquadramento dos mecanismos de subsistência e habitat que tornaram
este local um ponto de referência para as comunidades pré-históricas.
A arte rupestre do Escoural, integra a evolução crono estilística com três grandes
períodos. Representações zoomórficas e signos pintados, de cor negra ou vermelha, ou
gravados, com incisão larga e profunda, situados em zonas com boa visibilidade e de
fácil acesso, mostram características que permitem a sua datação no Solutrense antigo e
médio correspondendo ao período da grande expansão da arte quaternária. Gravuras de
animais, onde encontramos sobretudo cabeças de equídeos (Santos, M.F. dos, Gomes,
M.V. e Monteiro, J.P., 1980), preenchidas com traços múltiplos, signos geométricos,
principalmente reticulados, constituem o segundo período da arte da gruta do Escoural,
e podem-se classificar como pertencentes ao Solutrense Superior Magdalenense Inicial.
Finalmente, temos o último período, datável no Magdalenense Médio e Final, formado
por signos geométricos (reticulados, escaliformes, tectiformes, cometas…).
10
No Paleolítico Superior a gruta é aproveitada como santuário rupestre, pelos
primeiros homens anatomicamente modernos. As paredes da cavidade serviram de
suporte ao imaginário destas comunidades de caçadores-recolectores, que aí deixaram
imagens da sua “visão do mundo”, tratava-se possivelmente de uma arte de cariz
mágico-religioso (Lewis-Williams D., 2002). É a partir do Neolítico que a gruta é
transformada em cemitério das comunidades de agricultores-pastores da região. É um
novo ciclo artístico representado, uma nova postura do homem perante o Mundo.
No final do Neolítico, a gruta encerra-se e não foi possível descortinar qual o
motivo que levou ao seu encerramento. As comunidades do Neolítico, num contraste
evidente com aquele que era o paradigma dos caçadores paleolíticos, fizeram do
exterior o seu espaço simbólico. Procederam à ritualização desse espaço exterior, e as
grandes lajes existentes no topo da colina, onde se situa a gruta, foram profusamente
gravadas com motivos esquemáticos e representações estilizadas de animais. É a
sacralização do espaço com uma tradição ancestral.
Na Idade do Cobre as populações residentes, constroem um povoado fortificado
e o monumento que irá ser o fiel depositário dos seus mortos. Este monumento
funerário, designado por Tholos do Escoural, localiza-se a cerca de 600 metros da gruta
e do povoado fortificado. É a partir de todos os vestígios arqueológicos, aqui
identificados que se reconstituem os comportamentos humanos, nas suas mais diversas
vertentes e se constroem os modelos interpretativos, com base na tecnologia utilizada,
modo de subsistência, morte e espiritualidade.
A arte rupestre pelas suas características específicas, condiciona a sua
musealização. Naturalmente que existem uma serie de condicionantes que contribuem
decididamente para as soluções encontradas nas diversas formas de processos
museológicos, desenvolvidos nos vários sítios musealizados que serão aqui tratados.
Neste trabalho serão desenvolvidas linhas de análise, referentes aos processos
museológicos empregues nalguns dos mais relevantes sítios de arte rupestre europeus.
11
1. ARTE RUPESTRE E PROCESSOS MUSEOLÓGICOS
Após a 2ª Grande Guerra, principalmente na Europa, reconstroem-se ou
constroem-se de raiz um número considerável de novos museus. O que aconteceu
também na América do Norte e no Japão. Grandes nomes da arquitetura são chamados,
a partir da década de 50 para elaborar projetos de museus, tais como Le Corbusier que
projetou o Museu de Arte Ocidental de Tóquio, Frank Lloyd Wright o Museu
Guggenheim, em Nova Iorque, ou a equipa Gardella, Michelucci, Scarpa e Guido
Morozzi na remodelação da Galeria dos Uffizi em Florença, entre outros.
Todavia, as grandes modificações foram implementadas sobretudo pelo Museu
de Arte Moderna de Nova Iorque, o primeiro a adquirir obras de todas as tendências de
arte contemporânea e fotografias, e a organizar de forma sistemática, exposições
temporárias e itinerantes, conferências, debates com artistas, etc. A sua atividade
permanente, servirá de exemplo a todo o mundo, surgindo assim um novo período para
a vida dos museus. Criam-se condições para assistir a espetáculos, tomar uma refeição,
consultar livros, revistas e publicações na biblioteca, ou adquirir na sua loja, não apenas
reproduções, catálogos e livros, mas também objetos de bom design que servem
também para incrementar as ações de merchandising da própria instituição.
Em 1984 surge no âmbito da UNESCO1, a denominada “Declaração de Quebec”
na qual se reafirma a projeção social do Museu moderno em detrimento das funções
tradicionais que costumava deter. A partir deste momento a museologia é encarada
como uma ciência multidisciplinar, e que aspira a oferecer uma visão relativamente
global, dos problemas de um ponto de vista científico, social, cultural e económico.
O Museu é “Uma instituição ao serviço da sociedade, que adquire, conserva,
comunica e apresenta para fins de estudo, de salvaguarda e de desenvolvimento do
património, de educação e de cultura, os testemunhos representativos da natureza e do
homem.” (George-Henri Riviére, 1989) Este museólogo nas suas inúmeras visitas a
Portugal trouxe-nos preciosos ensinamentos, fez-nos conhecer uma nova linguagem,
1 Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
12
entusiasmou-nos na introdução dos audiovisuais, atualmente tão em voga, e falou do
interesse dos ecomuseus, que hoje têm uma expansão mundial.
A musealização da arte rupestre pelas suas particularidades impõe algumas
condicionantes. Desde logo há a considerar que ao contrário da arte móvel, encontra-se
in situ, por outro lado e sobretudo quando está em ambiente de gruta, exige precauções
extra para a sua preservação. Nalguns dos casos que serão aqui alvo de análise veremos
que foram encontrados diferentes modelos de gestão, de conservação e de divulgação ao
público deste património.
Nos diversos casos aqui citados, constatamos que diferentes soluções foram
desenvolvidas. Nalguns dos sítios foram criados museus, noutros centros
interpretativos, outros estão sem intervenção institucional, outros ainda estão inseridos
em parque temáticos que oferecem um pacote de atividades que vão para além do
estritamente cultural. São soluções que proporcionam um leque alargado de atividades
em que são otimizadas as potencialidades das características ambientais e sociais dos
espaços onde se inserem. Contribuindo assim para uma maior afluência do público,
especialmente quando se consegue aliar a cultura ao lazer.
1.1 . Conceitos operacionais na arte rupestre
A arte rupestre das populações Sapiens é o espelho da sua mente e espirito e
constitui um precioso registo da matriz conceptual e psicológica em que foi
desenvolvida. As populações de cuja subsistência dependia da caça e recoleção, estão
hoje praticamente extintas, e as que resistem estão confinadas às partes mais inóspitas
do planeta. No entanto, muitos dos aspetos do comportamento humano, continuam a
revelar características adquiridas pelos nossos antepassados. Segundo Anati, «Os
processos fundamentais de associação e “lógica” desenvolveram-se durantes as eras nas
quais a espécie humana adquiriu os seus padrões comportamentais básicos (Postulado
EA1).» (Anati, 2010:29). A arte como algo que é inerente ao Homem, está subjacente,
uma vez que quando surgiu o Homo sapiens surgiram as representações simbólicas, em
formato artístico. É um processo que não pode ser analisado pelo determinismo, mas
antes responde a um apelo criativo, que pode ser espiritual, estético, simbólico ou
doutra natureza e que transcende a própria condição humana.
13
Como define Anati: “Reflexões universais condicionadas pela forma de vida
influenciam o comportamento, pensamento, ideologia, processos associativos, e
consequentemente as manifestações artísticas.” (Anati, 2010:58). Segundo o mesmo
autor, As figuras ou motivos pintados ou gravados, podem ser de três espécies:
ideogramas, pictogramas e psicogramas. Ideogramas são signos repetitivos e sintéticos,
tais como grupos de pontos ou linhas, signos fálicos e vulvares, formas-arvore, etc.
Pictogramas são figuras em que podemos reconhecer formas identificáveis de sujeitos
reais ou imaginários, geralmente figuração de antropomorfos ou zoomorfos.
Psicogramas são signos que não parecem representar sujeitos ou símbolos, são
descargas violentas de energia que parecem representar pontos de exclamação
conceptual. Por sua vez, para Laming-Emperaire, “as obras de arte são testemunhos
voluntários. Elas foram feitas para significar. Já representam uma linguagem, uma
escrita, uma mensagem que nós tentamos compreender e traduzir”.
Para outros autores “arte é a criação plástica e simbólica, fruto de uma cultura
determinada, que tem lugar num tempo e num espaço definido” (Lasheras Corruchaga,
2003: 66-67). Com um modelo explicativo análogo encontram-se os investigadores
Balbín e Alcolea (1999-2003), que promulgam que a arte rupestre mostra a vinculação
do homem, com o espaço no qual se move e atua. É o meio de expressão que reflete as
conceções e ideologias do homem paleolítico, visto como um meio de comunicação de
causas múltiplas. Também autores como Ucko y Rosenfeld (1967) consideram a criação
das representações devido a causas múltiplas, condicionadas pelo contexto económico,
social e geográfico e certamente incorporando elementos mágico-religiosos.
No contexto estruturalista surge um conceito de cultura que valoriza sobretudo o
carater adaptativo dos grupos humanos, como uma lógica organizativa do pensamento
que estrutura as ações e as relações sociais (Leroi-Gourhan, 1982; Leví-Strauss, 1991).
André Leroi-Gourhan, juntamente com Annette Laming-Emperaire, é responsável por
um paradigma científico à época inovador. Usando o estruturalismo para a interpretação
de arte paleolítica, com base em premissas semelhantes às desenvolvidas nas
escavações. Isto é, cada gruta é interpretada como uma unidade na qual é necessário, tão
completamente quanto possível, discernir as relações entre cada um dos seus elementos.
Ele visitou mais de 70 grutas decoradas com arte rupestre, da Espanha, até aos
Urais, de 30.000 a. C. a 10.000 a.C. e constatou que, em quase todas se poderia
estabelecer um padrão na relação de proximidade ou afastamento das figuras, e a sua
14
posição na topografia das cavernas em que se encontravam. A sua conclusão é de uma
interpretação simbólica das representações de cada uma das imagens binárias como
signos opostos, alternativos e complementares. Para Leroi-Gourhan, num santuário
típico, existem dois tipos de "animais preponderantes," são os auroques e bisontes
(elemento feminino) e os cavalos (elemento masculino). Esses animais por vezes estão
com representações periféricas muito mais variadas e ambíguas, tais como cervos,
javalis, cabras, ideomorfos e, às vezes, antropomorfos. Para além do mais usual binómio
bisonte/cavalo, existem naturalmente outras composições, por exemplo, Baptista
defende a ocorrência da tríade cavalo, auroque e capríneo, para a região de Foz-Côa
(Baptista, A.M. 1999).
Já Clottes e Lorblanchet (1995), optam por uma abordagem em que se nega o
conceito de estilo, em detrimento do conceito etnocultural. Com um profundo
significado de caracter religioso, onde o oculto, misterioso e ritual se mesclam com o
xamânico, totémico e a magia propiciatória para a caça e a fertilidade na gruta santuário.
Segundo David Lewis-Williams, o modelo neuro psicológico humano, isto é o
funcionamento do sistema nervoso central, é moldado pelas circunstâncias culturais,
experiências vivenciadas e estados alterados de consciência. Tendo realizado estudos
aprofundados com os San da Africa do Sul (Lewis-Williams, 2002: 136) ou com a
população do deserto de Mojave (Lewis-Williams, 2002: 163). É a própria rocha que
em muitos casos determina a composição.
Este facto contraria o conceito de “santuário” dos estruturalistas como Annette
Laming-Emperaire ou Leroi-Gourhan que promulgavam que os artistas tinham um
esquema ideal, desenhando animais e signos em função de um programa prévio. A
busca constante e minuciosa de perfis naturais que recordassem animais, evidencia uma
intencionalidade diferente, já que é a gruta que impõe a representação de um animal
particular (Clottes e Lewis-Williams, 2007: 52-53).
Percebemos que a partir do Paleolítico Superior o aparelho cognitivo da nossa
espécie demonstrou capacidades anteriormente inacessíveis. Ou seja o pensamento
abstrato, ou habilidade de agir com referências a conceitos abstratos, não limitados pelo
tempo e espaço. A capacidade de planeamento, de formular estratégias baseadas em
experiências passadas e agir num contexto grupal. Desenvolveram um comportamento
económico e tecnológico inovador, associado a um comportamento simbólico e à
habilidade de representar objetos, seres e símbolos abstratos. Que demonstra uma
15
consciência neurológica e social (Lewis-Williams, 2002: 96-97). Os componentes
explicativos e emocionais da religião, levaram muitos investigadores a focarem-se nos
processos neurobiológicos.
O primeiro é o chamado “operador causal”, isto é o lóbulo parietal inferior e as
suas interconexões, estas por sua vez geram conceitos tais como deuses, espíritos, etc.
os componentes pragmáticos da religião estão intimamente ligados ao segundo
componente, ou estados alterados de consciência, que “verificam” a existência de
entidades espirituais. Os estados alterados de consciência, podem decorrer de diversos
estímulos, ou privações. Os elementos ditos essenciais da religião são assim
“conectados” no cérebro. Os contextos culturais podem diminuir o efeito, mas estão
sempre operacionais, por isso Andrew Newberg na sua frase provocativa afirmou «…é
por isso que Deus não se vai embora» (Lewis-Williams, 2002: 290-297).
1.2 . Arte Rupestre
Por “arte rupestre” entende-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras)
deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, ou rochas
ao ar livre). A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes (rocha); trata-se,
portanto, de obras imobiliárias, no sentido de que não podem ser transportadas,
diferenciando-se das obras mobiliarias, como estatuetas, ornamentação de armamento
ou objetos de adorno, entre outros.
Alguns autores utilizam o termo “parietal” ao invés de “rupestre”, pois que a
denominação “rupestre”, remete-se à “rocha”, e pode gerar confusão, uma vez que a arte
móvel, em alguns casos pode também utilizar este tipo de suporte. Mas o termo
“parietal” também traz alguns problemas, uma vez que nem sempre a arte se encontra
em paredes verticais. Utiliza-se, então, o termo “arte rupestre”, já consagrado pelo uso,
com o objetivo de pesquisar a arte imóvel, ou seja aquela presente em afloramentos
rochosos de várias espécies, porém fixos ao solo, o que significa que só podemos
encontrá-la in situ.
Esta arte exprime-se em duas categorias quanto à sua técnica de confeção: as
técnicas aditivas (que adicionam pigmento ao suporte rochoso) que são as pinturas e os
16
dibujos2 e as técnicas subtrativas (que retiram parte do suporte rochoso) que são as
gravuras e os relevos (Sanchidrián, 2005). Constatamos que as gravuras podem ser
executadas com o uso de diversas técnicas, ocorrendo principalmente a picotagem
(direta ou indireta), a incisão e a abrasão. Para um enquadramento mais explícito, infra
são descritos os tipos de sítio onde a arte rupestre se encontra.
Rochas ao ar livre: podem situar-se no alto de montanhas ou vinculados a cursos
fluviais. A arte neste tipo de sítio está exposta aos elementos da natureza, e por isso,
possivelmente apenas as gravuras se preservaram.
Abrigos sob rocha: possuem tanto gravuras como pinturas e mesmo esculturas em
baixo-relevo. Neste caso, embora parcialmente ao abrigo das intempéries, a arte rupestre
foi feita com o apoio da luz solar e é como a encontramos hoje em dia, em cavidades
rochosas pouco profundas, em que pelo menos em parte do dia ou em épocas
específicas são visíveis sem auxílio de luz artificial.
Grutas: São cavidades profundas, onde para se ter acesso à arte rupestre, assim
como foi para produzi-la, faz-se necessária a utilização de luz artificial.
1.3 . Outras experiências museológicas
Os processos museológicos são diversos e condicionados por vários fatores. Desde
logo pela importância do sítio, entidades que o tutelam e parcerias que essas mesmas
entidades efetuam. São aqui desenvolvidas linhas de análise sobre esses aspetos e
experiências museológicas nalguns sítios de arte rupestre europeia.
1.3.1. La Pileta
A gruta de La Pileta, é bom exemplo pela arte rupestre pré-histórica e pelo seu
modelo de gestão. Localiza-se em Espanha, Andaluzia, província de Málaga na comarca
2 Dibujos é um termo espanhol para desenhos confecionados aplicando-se diretamente o pigmento sobre o suporte rochoso, diferente das pinturas, em que o pigmento é aplicado sob a forma de tinta.
17
de Ronda, localidade de Benaoján. Está a uma altitude e 670 m na vertente sul do
penhasco de Las Mesas. É um monte rochoso situado entre a serra de Palo e a serra de
Juan Diego, que descem ambas paralelas ao rio Guadiaro, juntando-se na sua base a sul
da povoação de Benaoján e encontra-se em propriedade privada.
Fig. 1 – Mapa da gruta (wikimedia)
Do seu inventário foram identificados mais de 3000 motivos distribuídos em 463
pontos topográficos. Por ordem decrescente os zoomorfos que aí estão se encontram
são: equídeos, caprídeos, cervídeos, bovídeos, peixes e inúmeros grafismos puros ou
ideomorfos. O sistema de trabalho para a documentação gráfica das gravuras e pinturas,
quanto às suas técnicas e conceção do método, poderiam enquadra-se no denominado
relevé collectif, utilizado por Ucko em Hornos de la Peña, Clottes e Vialou em Niaux,
ou Mlorblanchet em Pech-Merley. Pertencente a distintos horizontes pré-históricos, e
com diferentes cronologias foram identificados no Solutrense Médio a Superior
representações em ocres, cujo binómio principal é o touro e cavalo ou cabra.
18
Numa segunda fase, integrada no Solutrense e Gravetense encontramos o santuário
vermelho de escassas figuras de animais e abundantes signos com predominância para o
tema bovídeo e cavalo ou bovídeo e ideomorfos. Temos ainda o santuário negro com
animais completos e poucos signos com binómio idêntico ao anterior. Numa terceira
fase pertencente ao Magdalenense Médio enquadra-se a capela de cabras negras, o
santuário de grandes figuras negras, com o tema de bovídeo e cervídeo/ideomorfos e o
santuário de grandes figuras amarelo pardo com binómio touro com
cervídeo/ideomorfos.
Numa quarta fase pertencente ao Magdalenense Superior e Final existe a capela
monocromática de signos amarelos com diferentes series de representações. Finalmente
numa quinta fase pós-paleolítica existem todos os pictogramas esquemáticos. Em 1905
José Bullón Lobato, descobre a gruta de La Pileta, e esta é mantida como propriedade
familiar até à atualidade, passadas que são já quatro gerações de Bullón. Sendo
nomeado por ordem real em 25 de Abril de 1924, Tomás Bullón, filho de José Bullón,
guarda oficial da gruta.
Em 1985 o património histórico do Estado espanhol passa a ser competência das
comunidades autónomas, neste cenário inicia-se um inventário por parte da Concelhia
da Cultura da Junta da Andaluzia de todos os vestígios gráficos da gruta. Iniciou-se em
1993 uma tentativa de expropriação desta entidade, com o fundamento de a gruta ser de
utilidade pública. No entanto este processo não se concretizou e a família, continuaram
na sua condição de proprietários e guardas da gruta, recorrendo aos tribunais e
ganhando sempre a causa. Atualmente Rosario Bullón Almagro bisneta do descobridor
é a guia e zeladora de La Pileta.
A gestão é familiar, sendo as receitas obtidas através do valor dos bilhetes dos
visitantes. É também essa receita que serva para melhorar as condições e acesso e de
visita à gruta. O regime de visitas é controlado no intuito de minimizar o impacto
ambiental por parte dos visitantes. Processam-se por ordem de chegada e em grupos de
um máximo de 25 pessoas, entrando um grupo quando o seu anterior tiver saído.
A gruta está aberta todos os dias do ano das 10 h às 13 h e das 16h até às 18 h (até
às 17 h de Outubro a Março) Os bilhetes não tem horário fixo, variam consoante o
tempo despendido na visita (aproximadamente uma hora) e da afluência dos visitantes.
Quanto aos preços, adultos (até 10 pessoas) pagam 8 euros, adultos (mais de 10
pessoas) 7 euros, crianças de (2 aos 12 anos) 5 euros e estudantes (grupo de mais de 15
19
pessoas) pagam 5 euros. No seu interior não há luz elétrica para uma melhor
preservação e cada visitante recebe uma lanterna para o percurso no seu interior.
Concluindo a análise, encontramos em La Pileta estilos originais enquanto outros
parecem representar um sincretismo cantábrico-mediterrâneo. Assim a gruta funcionou
como um catalisador de conceitos artístico-religiosos em bastantes momentos da pré-
história. Quanto à sua musealização apesar das especificidades que foram anteriormente
referidas, está bem conseguida tanto para o visitante como para os investigadores. O
marketing institucional obedece a alguns condicionalismos devido a especificidades
atrás mencionadas.
Na sequência das visitas guiadas por monitores os públicos são introduzidos nas
diferentes épocas que estão representadas na gruta, com uma linguagem acessível,
embora sem grandes detalhes técnicos e de comparação com outras grutas e conjuntos
artísticos rupestres.
1.3.2. Valcamónica
A arte rupestre de Valcamónica, nos Alpes Italianos, região da Lombardia, constitui
uma das maiores coleções de gravuras pré-históricas do mundo e foi tutelada como
Património Mundial, pela UNESCO em 1979. Os petróglifos estão dispersos um pouco
por todo a área do vale, com maiores concentrações nas zonas de Darfo Boario Terme,
Capo di Ponte, Nadro, Cimbergo e Paspardo. Os oito parques que integram esta vasta
área são respetivamente; Parco Nazionale delle incisioni rupestre di Naquane, Parco
Archeologico Nazionale dei Massi di Cemmo, Parco Archeologico comunale di
Seradina-Bedolina, Parco Archeologico di Asinino-Anvóia, Parco comunale delle
incisioni rupestre di Luine, Parco comunale Archeologico e minerário di Sellero, Parco
Archeologico comunale di Sonico e Riserva naturale di Incisioni rupestre di Ceto,
Cimbergo e Paspardo.
Nas superfícies das rochas cinzentas, polidas pela ação dos glaciares, as antigas
comunidades, que viviam no vale produziram imagens, gravando a rocha com
ferramentas líticas ou de metal. As tribos locais, cujos temas eram objetos simbólicos da
sua vida quotidiana ou do seu trabalho espiritual, impregnados de grande simbolismo,
imediatamente identificado e percebido na sua época, na atualidade apenas podemos
formular modelos interpretativos.
20
A grande quantidade de gravuras de armas torna esta região icónica nessa temática,
embora não sejam exclusivas as cenas de luta ou de caça, pois para alem de existirem
figuras sem aparente conexão, aparecem embora em menor quantidade, outros
símbolos, como por exemplo a “Rosa Camuna” que foi adotada como símbolo oficial da
região da Lombardia. A cronologia situa-se entre o Neolítico (5º e 4º milénio a. C.) e a
Idade do Ferro (1º milénio a. C.), sendo que é possível encontrar mais gravuras da fase
romana, medieval e moderna. O período mais representativo, marcado por um aumento
exponencial em gravuras e temas bastante diversificados, foi a idade do ferro.
Fig. 2 – Foppe de Nadro, Ceto (fotografia da autora)
Fig. 3 – Paisagem do Valcamónica, Ceto (fotografia da autora)
Um dos mais visitados e dotado de melhores infraestruturas é o Parque de Naquane
no Município de Capo di Ponte e foi o primeiro a ser estabelecido em 1955. O seu
território cobre mais de 14 hectares, entre os 400 e 600 metros acima do nível do mar.
no parque é possível visitar 104 rochas com gravuras rupestres. Ambiente com clareiras
esporádicas e bosque plantado recentemente, de bétulas e abetos. Há a presença de
grandes maciços rochosos com diferentes níveis de gravação. É uma área com grande
concentração de gravuras rupestres, com destaque para a “Grande Rocha” com mais de
800 figuras. Entre elas, existem grandes guerreiros, carros, veados com hastes solares,
composições topográficas, cenas de caça, etc.
Este é certamente o Parque com mais visitantes, pela sua localização promoção e
acessibilidade. É propriedade do Estado italiano, tutelado pelo Ministero per i Beni e le
21
Attività culturali e a Soprintendenza per i Beni Archeologici della Lombardia. O Parque
está aberto todo o ano, encerando à segunda-feira, com horário de funcionamento das
8h30m até às 16h (Inverno) ou 19h (Verão). Tem bilhete de acesso diário, com desconto
para jovens dos 18 aos 25 anos.
Fig. 4 – Entrada do Parque de Naquane (fotografia da autora)
Fig. 5 – Estela-menir com armas da idade do cobre, Naquane (fotografia da autora)
O Parque de nacional de Massi de Cemmo, encontra-se no fundo do vale, com boa
acessibilidade e é relativamente pequeno. Tem duas grandes rochas com profusamente
gravadas com armas da idade do cobre e um santuário megalítico. Em 2000 foi
retomada com vigor a escavação já anteriormente iniciada, o projeto desvela as
estruturas de um santuário megalítico, com um grande muro em semicírculo colocado
em frente às duas estelas menir com gravuras de armas, animais, cenas de lavoura,
discos solares, etc. em seu redor foram recuperadas mais de vinte estelas inteiras ou
fragmentadas. O local foi abandonado na Antiguidade Tardia (séc. IV- V d. C.) quando
a infiltração do cristianismo, ergue outro local de culto na sua vizinhança a (Pieve di
San Siro, atualmente visitável embora com sinais de degradação dos frescos). Tem guia
que acompanha os visitantes de forma profissional prestando informações em inglês e
italiano e a visita é gratuita.
O Parque de Seradina-Bedolina, encontra-se em ambiente de baixa altitude, com
vegetação escassa numa área com grande concentração de gravuras rupestres. Como
características especiais, destaca-se a “grande rocha nº12” com cenas de trabalho,
veados com hastes solares e duelos e composições topográficas. Está localizado na
22
aldeia de Cemmo perto da igreja de San Siro. É necessário pagar bilhete de ingresso e
não tem guia. Tem horário de Verão de 1 de Março a 31 das 10h às 17h, horário de
Inverno de 1 de Novembro a 29 de Fevereiro, das 10h às 16h, fecha à quinta-feira. A
gestão do Parque é Municipal.
O Parque arqueológico de Asinino-Anvòia, situa-se em vertente média da
montanha, em ambiente de coníferas e clareiras. Distingue-se por ter estelas com
gravuras rupestres in situ na sua posição ereta permitiram confirmar através de
escavação a estratigrafia da idade do cobre. Neste período muitos Massi (grandes
rochas) gravados com símbolos celestes, animais, armas, fileiras de seres humanos e
outros signos, foram erguidas em santuários como é o caso de Massi de Cemmo e no
Parque de Anvòia em Ossimo, possivelmente ligadas ao culto dos antepassados que
funcionava provavelmente como um símbolo de identidade da comunidade.
O Parque de Luine situa-se na colina acima de Darfo Boario, delimitada pelos rios
Oglio e Dezzo. Numa zona de grandes prados e vegetação rasteira. Ai se encontra
gravuras rupestres da fase mais antiga de Vale Camonica denominado Protocamuno
(8000 – 10000 a.C.) com representações de animais num estilo subnaturalista, assim
como gravuras do período Camuno II e III, isto é do Neolítico à Idade do Bronze com
figuras geométricas, conjuntos de armas (machados, punhais e alabardas) rosas camunas
e inscrições alfabéticas. O parque é de gestão municipal.
O Parque arqueológico de Sellero encontra-se numa zona de baixa altitude, com
predominância de árvores de nozes. A concentração de gravuras rupestres é média-
baixa, com petróglifos pré-históricos e proto-históricos, com grande presença de fases
posteriores. Está dividido em quatro zonas, cada uma delas com o seu próprio itinerário
e rotas com trilhos assinalados. Como características especiais, pode-se apontar que são
em xisto, quanto à temática são sobretudo rosas camunas, grandes guerreiros e
composições topográficas. Está aberto todo o ano e o acesso é livre, o visitante pode
solicitar uma visita guiada contactando com o Município de Sellero.
O parque arqueológico de Sonico encontra-se em zona de baixa altitude, com
predominância de árvores de nozes. A concentração de gravuras rupestres é média-baixa
e como particularidades encontram-se gravuras rupestres em xistos, círculos
concêntricos e representações de pás. Este é o Parque que dentro dos Parques temáticos
incluídos no sítio nº 94 da UNESCO (Arte Rupestre de Valcamónica) que fica mais a
norte.com o nome de “Coren das fadas” está localizado na extremidade superior do
23
vale. Na junção de três vias; uma na direção do Tonale Trentino, uma segunda para
Aprica e a terceira em direção ao médio Valcamonica. As primeiras manifestações
parecem datar do Neolítico à Idade do Cobre com uma série de gravuras de circulares e
em espiral, correspondente a uma segunda fase as representações topográficas e
finalmente na Idade do Ferro figuras geometrizadas. Está aberto todo o ano e o acesso é
livre.
A Reserva natural de Ceto, Cimbergo e Paspardo abarca um território relativamente
extenso, com gravuras rupestres pré-históricas e proto-históricas. Situa-se na vertente
média da montanha num ambiente com coníferas, terraços escalonados e vegetação
esparsa. Com sítios de culto da idade do cobre em Foppe di Nadro (Ceto) e Paspardo.
Existem composições monumentais de armas pertencentes à idade do cobre,
topográficas, grandes guerreiros e rosas camunas entre outras.
Fig. 6 – Uma das grandes rochas de Foppe di Nadro, Ceto (fotografia da autora)
Fig. 7 – Rocha nº 27 de Foppe di Nadro (fotografia da autora)
Na rocha nº 27 (Fig. 7) vemos a representação de um cavalo com cavaleiro armado
e escudeiro, em que a proporção do cavalo em relação ao cavaleiro sugere um
significado simbólico. Esta imagem é particularmente relevante e reflete a importância
atribuída ao cavalo, como um símbolo de status durante a Idade do Ferro. Esta gravura
pode ainda sublinhar uma clara distinção sobre os papéis entre o cavaleiro e armado
24
com lança e escudo e o escudeiro com a segunda lança que orienta o cavalo a pé. Estas
representações são bastante comuns, tais como cenas de lutas ou duelos. No entanto em
termos percentuais quantitativos a maior representatividade é certamente a das armas.
Estas estão em grande profusão tanto nas gravuras rupestres executadas nas rochas, dos
diversos parques, como nas estelas-menir.
O afloramento rochoso designado como rocha 27-26, representa uma das maiores
concentrações de arte rupestre na região e é uma das maiores rochas gravadas em todo o
Valcamónica. A parte oeste está gravada com vários petróglifos, datados da primeira e
segunda Idade do Ferro, nas suas gravuras tem muitas representações de figuras
armadas, guerreiros, cães, veados e os denominados “Templo de Nadro” (uma casa
complexa com vários símbolos relacionados), signos concêntricos, pás, impressões de
pegadas e outros símbolos geométricos. Como se pode constatar pelas fotografias
existem diversas formas de placares informativos com os desenhos das gravuras e um
texto sintético explicativo toda a sinalética foi bem trabalhada.
Fig. 8 – Rocha nº 27 de Foppe di Nadro (fotografia da autora)
Fig. 9 – Placar explicativo da rocha nº 27 de Foppe di Nadro (fotografia da autora)
O Museu da Reserva regional das gravuras de arte rupestre de Ceto-Cimbergo-
Paspardo está situado em Nadro, dentro de um antigo núcleo habitacional do século
25
XVI. Possui um posto de informações bilheteira e para adquirir bilhetes para toda a
reserva. Dentro do Museu está patente uma exposição sobre a arte rupestre camuna com
uma sala de multimédia para informação mais generalista, dentro da mesma temática.
Estabelecidos em diferentes etapas, os oito Parques estão sob distintas jurisdições e
organização administrativa, mas no quadro geral a musealização foi bem conseguida,
sobretudo no que toca aos parques, mais visitados. Pelos aspetos anteriormente
referidos, é de facto um exemplo para a musealização deste género de maciços rochosos
e pela grande área geográfica em que estão inseridos. Contam ainda com uma boa
divulgação institucional sobretudo nacional e parcerias com instituições académicas e
internacionais que contribuem para a divulgação preservação e estudo do seu
património.
1.3.3. Vale do Côa
O Parque Arqueológico do Vale do Côa foi criado em Agosto de 1996 tendo como
objetivos gerir, proteger, musealizar e colocar em visita pública a arte rupestre do Vale
do Côa. A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e
Património da Humanidade em 1998 pela UNESCO com os seguintes critérios:
“A arte rupestre do paleolítico superior do Vale do Côa é uma ilustração excecional do
desenvolvimento repentino do génio criador, na alvorada do desenvolvimento cultural
humano; A arte rupestre do Vale do Côa demonstra, de forma excecional, a vida social,
económica e espiritual do primeiro antepassado da humanidade”.
A arte rupestre do Vale do Côa é considerada como um dos mais importantes sítios
de arte rupestre do mundo e é o mais importante sítio com arte rupestre paleolítica de ar
livre. Aqui foram identificados cinco dezenas de núcleos de arte, ao longo dos últimos
17 quilómetros do Rio Côa, até à sua confluência com o Douro.
Estes núcleos apresentam gravuras datadas, na sua maioria, do Paleolítico superior, mas
o vale guardou também exemplos de pinturas e gravuras do Neolítico e Calcolítico,
gravuras da Idade do Ferro e dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX, altura em que os
moleiros, os últimos gravadores do Côa, abandonaram o fundo do vale. Diferentes
homens e mulheres deixaram a sua marca nas rochas, desde há cerca de 25.000 anos até
à contemporaneidade.
26
De forma a preservar os núcleos de arte rupestre e os sítios arqueológicos coevos, o
PAVC (Parque Arqueológico do Vale do Côa) criado em 10 de Agosto de 1996, gere
um território de duzentos quilómetros quadrados em torno dos últimos quilómetros do
vale do rio Côa e junto à sua confluência com o Douro. Este território integra parcelas
dos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Meda, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa.
O Parque Arqueológico organizou um sistema de visitas às gravuras do Vale do
Côa tendo como preocupação a sua boa fruição por parte dos visitantes, em equilíbrio
com a conservação da arte rupestre e da paisagem. O visitante tem à sua escolha quatro
dos mais importantes núcleos de arte rupestre do Vale do Côa: Penascosa, Canada do
Inferno, Ribeira de Piscos e Fariseu (visita apenas sazonal). As visitas a estes núcleos
fazem-se em viaturas todo-o-terreno e sempre acompanhadas por um guia, a partir da
sede do Parque e de dois centros de receção, nas aldeias de Castelo Melhor e Muxagata.
As visitas aos núcleos de arte rupestre devem ser marcadas antecipadamente.
Fig. 10 – Mapa do Parque Arqueológico de Foz Côa, no site do IGESPAR
Fig. 11 – Legenda do mapa, no site do IGESPAR
O Parque Arqueológico para marcação de visitas, funciona de Terça-feira a
Domingo, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 e encerra às Segundas-feiras e nos
dias 1 de Janeiro, 1 de Maio, Domingo de Páscoa e 25 de Dezembro. O bilhete
individual é de 10 € e o bilhete para a visita “No rasto dos caçadores paleolíticos”,
27
mínimo de 4 pessoas – 14 €. Existe bilhetes especiais para utentes com idade igual ou
superior a 65 anos (mediante comprovativo); portadores de deficiência: 50%; Cartão
Jovem: 60% e bilhete de Família; 50% de desconto para os filhos menores (15-18 anos)
desde que acompanhado por um dos pais. Existe ainda uma larga lista de membros de
certas instituições que beneficiam de tarifas especiais.
A gestão do PAC é feita através da Fundação Côa Parque (FCP). Os sócios
fundadores da FCP são o Ministério da Economia, Ministério do Ambiente e a
Secretaria de Estado da Cultura, que detém em conjunto, 95 % do capital da fundação,
1% pertence à Câmara Municipal de Foz Côa e os restantes 4% à Associação de
Municípios do Vale do Côa. O Governo anunciou em Dário da República deste ano a
intenção da extinção desta fundação. A verba desembolsada pelo Estado para fazer face
às despesas fixas e ao funcionamento destes dois equipamentos ronda 1,4 milhões de
euros por ano, montante este utilizado quando o MC e o PAVC eram tutelados pelo
antigo IGESPAR. Ao contrário de outras fundações que têm os seus orçamentos
próprios, a Côa Parque continua a depender de capitais provenientes do poder central.
O Museu aberto ao público desde 30 de Julho de 2010, o Museu do Côa com
projeto dos arquitetos Tiago Pimentel e Camilo Rebelo, proporciona ao visitante uma
viagem no tempo. Três salas de contextualização e introdução à temática expositiva e
quatro salas onde é apresentado o tratamento monográfico da arte rupestre do Vale do
Côa, são complementadas com a exposição temporária “Gesto e Inscrição”, composta
por 38 obras, de nove artistas contemporâneos, da coleção da Fundação Luso-
Americana para o Desenvolvimento.
Fig. 12 – Museu do Côa, fotografia no site do IGESPAR
28
O Museu do Côa apostou em diferentes formas de apresentação dos conteúdos. A
solução adotada reflete, a utilização de tecnologias multimédia, acompanhada do
recurso à fotografia e ao desenho. Os conteúdos científicos foram desenvolvidos pelo
IGESPAR/Parque Arqueológico do Vale do Côa e pela Universidade do Minho
(Unidade de Arqueologia), Universidade de Lisboa (Centro de Estudos Geográficos da
Faculdade de Letras) e Universidade Nova de Lisboa (Centro de Estudos Comunicação
e Linguagem), prevalecendo o uso de métodos contemporâneos de comunicação
associados à intenção de gestão do conhecimento e do acesso à informação.
O percurso da visita é linear, atravessando sequencialmente os diversos módulos
expositivos organizados ao longo de sete salas. A modulação dos temas estrutura-se em
dois núcleos: três salas de contextualização e introdução à temática expositiva e quatro
salas onde é apresentado o tratamento monográfico da Arte Rupestre do Vale do Côa. A
exposição foi concebida como um sistema flexível. Os elementos verticais são do tipo
caixa de luz/painel infográfico e podem ser utilizados, isolados ou associados, em
painéis de grandes dimensões, tipo mosaico. Os elementos horizontais são constituídos
por vitrinas/mesas de luz.
Sendo a Arte Paleolítica do Côa uma arte da luz, a iluminação assenta no registo da
descontextualização das gravuras e no entendimento de museu como “intrinsecamente
um espaço encerrado e protegido”. Criou-se um ambiente de ténue luminosidade, a luz
emana das gravuras, isto é, da sua representação.
Fig. 13 – Museu do Côa (fotografia da autora)
29
Quanto ao seu período de funcionamento o Museu está aberto todos os dias, exceto
às 2ªas feiras, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, o bilhete individual é 5 €, no
caso de ser um bilhete conjunto (Museu e visita a um dos núcleos de Arte Rupestre é 12
€, embora exista também aqui situações de taxas de acesso reduzidos para casos
específicos. As visitas aos núcleos de arte rupestre, de maneira geral tem uma
integração com os outros núcleos e são representativas das descrições esquemáticas das
gravuras que são mostradas aos visitantes.
O museu com uma boa infraestrutura, está integrado nas linhas de musealização
contemporâneas, como se pode constatar, pelo aspetos anteriormente analisados e para
além da promoção feita pelos diversos parceiros sociais, possui ainda uma loja com
artigos de design exclusivo. Um investimento desta natureza, justificado pela sua
importância, oferece aos visitantes e investigadores um leque alargado de serviços de
grande qualidade. Há que destacar as parcerias desenvolvidas, que ajudam a
proporcionar uma imagem de excelência.
1.3.4. Museu de Altamira
Altamira representa o apogeu da arte paleolítica em gruta, que se desenvolveu em
toda a Europa, dos Urais à Península Ibérica, desde acerca de 35 000 a. C. a 11 000 a.C.
devido às suas galerias profundas, isoladas de influências climáticas externas, estas
cavernas estão particularmente bem preservadas. Conserva um dos conjuntos pictóricos
mais importantes da Pré-história. Fica no Município de Santillana del Mar, na
Cantábria, Espanha.
Situada na parte lateral de uma pequena colina calcária de origem pliocénica, a
cerca de 156 m de altitude, a cavidade é relativamente pequena, com apenas 270 m de
comprimento. Apresenta uma estrutura simples formada por uma galeria com escassas
ramificações que termina numa longa galeria estreita e de percurso sinuoso.
Em 1917 a gruta foi aberta ao público, e em 1924 foi declarada Monumento
Nacional. O enorme afluxo de visitantes fizeram perigar o microclima da cavidade e a
conservação das pinturas, pelo que em 1977 foi encerrada e reabriu em 1982, mas com
número restrito de visitantes. Em 2001 foi erguido o Museu Nacional de Pesquisa de
Altamira, do arquiteto Juan Navarro Baldeweg e cujo diretor atual é o Dr. José A.
30
Laheras Corruchaga. No seu interior destaca-se a denominada Neocueva (Nova-gruta)
de Altamira. Onde se pode admirar a reprodução das famosas pinturas do Grande Teto
da cavidade, executadas por Pedro Saura e Matilde Múzquiz, utilizando as mesmas
técnicas de desenho, gravura e pintura que empregaram os artistas paleolíticos.
A arte rupestre da parte oriental da Cantábria produziu um estilo próprio, como se
pode constatar em Altamira, La Peña del Candamo, El Castillo, La Pasiega, El Pendo,
La Garma e Chufin, que se distingue claramente da arte rupestre da bacia mediterrânica
ou arte levantina, esta ultima com cronologia posterior.
O trabalho dos “mestres” ou “mestre” que levaram a cabo o conjunto artístico de
Altamira, demonstra que o autor ou autores possuíam conhecimento profundo da
anatomia dos animais e das técnicas utilizadas. O trabalho dos policromos da Grande
Sala é considerado por Múzquiz, a autora de várias reproduções, como sendo o trabalho
de um único autor. “ O trabalho, basicamente, consistia em selecionar o espaço, marcar
o contorno com gravura, incorporar o negro e por último a cor.” (Múzquiz Pérz-Seoane
1994, p. 360).
O autor tinha um traço firme e de facto não se encontram retificações do desenho.
A pintura foi feita com pigmentos minerais de óxido de ferro vermelho, ocres do
amarelo ao vermelho e carvão vegetal. O contorno de linhas pretas das figuras foi feito
com carvão vegetal, que também se aplicou como massa nas figuras policromas da
Grande sala. A qualidade do trabalho assegura também que as ferramentas eram de
excelência, tal como Leroi-Gourhan refere, os buris de sílex oferecem uma qualidade de
corte altíssima, e os pigmentos permitem adaptação aos suportes utilizados.
A gruta de Altamira demonstra a mestria do espirito criativo do homem. Técnicas
artísticas (desenho, pintura, gravura), o tratamento da forma e do uso do suporte, os
grandes formatos e a tridimensionalidade, o naturalismo e o simbolismo. Todas as
características da arte quaternária em gruta aí convergem em grau de excelência.
31
Fig. 14 – Bisonte de Altamira, fotografia do Museu de Altamira
O Museu de Altamira foi criado por ordem do Ministério de Cultura em 1979,
como instrumento científico e administrativo para a gestão e conservação da gruta. O
Museu Nacional e Centro de Investigación de Altamira é de titularidade estatal e gestão
direta do Ministerio de Educacion, Cultura y Deporte, dependendo organicamente da
Dirección General de Bellas Artes y Bienes Culturales y Archivos y Bibliotecas. A nova
sede do Museu foi inaugurada a 17 de Julho de 2001.
Fig. 15 – Planta do Museu de Altamira, fotografia do Museu de Altamira
A exposição permanente do museu, articula duas grandes áreas, a Neocueva e as
salas. A Neocueva apresenta Altamira como era entre 22 000 e 13 000 a.C., quanto a
ocuparam diversos grupos de caçadores-recolectores. O que permite ao visitante
conhecer o habitat, os seus habitantes e a sua arte rupestre. Trata-se de uma reprodução
tridimensional, rigorosa, exata e científica, realizada com a mais moderna tecnologia.
32
Fig. 16 – Vista geral da Neocueva, fotografia do Museu de Altamira
A musealização está particularmente bem conseguida, num espaço dotado de
infraestruturas modernas. Esta instituição tem desenvolvido para além das atividades
usuais, projetos educativos e didáticos e parceria com outras instituições, que abrangem
um leque alargado de público. Trabalhando em projetos de investigação e cooperação
com outros museus e instituições de mesmo âmbito, tanto a nível nacional como
internacional o que a acrescer ao marketing institucional, potência o seu bom
funcionamento.
1.3.5. Niaux
O Parc Naturel Régional des Pyrénées Ariégeoises situado na parte oeste da região
de Ariège, cobre 246,500 metros e chega a uma altitude de 3,143 metros no seu ponto
mais elevado, o Pique d’Estats. Este magnífico território, inclui um rico património
natural e pré-histórico. Nele inclui-se as grutas de Niaux, Mas dÁzil, La Vache e
Bédeilhac. A gruta de Niaux está localizada em Niaux no departamento de Ariège,
sudoeste da França. Como Lascaux e Altamira, contém muitas pinturas pré-históricas de
qualidade superior, no caso de Niaux trata-se sobretudo do período Magdalenense.
33
Fig. 17 – Vista do “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
Fig. 18 – Entrada do “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
Em 1906, graças ao capitão Molar e aos seus filhos, descobriu-se as pinturas do
"Salon Noir" o que fez Niaux atrair a atenção de especialistas. Em 1907 foi investigada
por H. Breuill e E. Cartailhac que confirmaram a sua importância e lhe dedicaram
avultados estudos.
Fig. 19 – Mapa do Parc Naturel Régional des Pyrénées Ariégeoises
34
No século XX a Réseau Clastres que é um longo túnel de mais de um quilômetro e
nalgumas partes apenas acessível por mergulho, foi investigado. Esta galeria já trouxe à
luz mais de 500 pegadas de humanos e animais, e cinco representações, que são
respetivamente: três bisontes, um cavalo e uma doninha, esta última constitui a única
representação deste animal na arte rupestre pré-histórica.
No Salon Noir e nas outras galerias, as gravuras incluem bisontes, cavalos, cabras e
auroques. Destas gravuras, particularmente frágeis, os visitantes não se podem
aproximar. Assim, para permitir que todos as possam admirar, foram feitas reproduções
no Parque pré-histórico.
Fig. 20 – Exposição no “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
35
Fig. 21 – Oficina didática “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
Fig. 22 – Oficina didática “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
A gruta estende-se por quase dois quilômetros, e as suas dimensões são bastante
impressionantes. Os visitantes percorrem 800 metros na vasta galeria principal antes de
chegar ao Salon Noir. Pouco antes de chegar a esta sala, pode-se admirar o "Painel de
signos", onde existe uma grande concentração de sinais geométricos. O Salon Noir, tem
a sua configuração em forma de uma grande rotunda e contém mais de 80% de figuras
de animais: bisontes, cavalos, cabras e veados, que são agrupadas em painéis.
Fig. 23 – Acampamento “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
Fig. 24 – Placar “Parc de la Prehistoire” (fotografia Luís Jorge Gonçalves)
36
A natureza parece ter destinado Tarascon-sur-Ariège a tornar-se um importante
centro de habitat para as comunidades pré-históricas. Situa-se na proximidade da grande
planície na entrada de um dos vales mais profundos de penetração na cadeia central dos
Pirinéus. É a passagem de um grande caminho que passa em Ariège e que os animais
adotaram, em todos os momentos da pré-história. A gruta de Niaux está localizada nas
montanhas de Cap la Lesse, o maciço calcário ocupa o ângulo formado pelo Ariège e o
Vicdessos. Quando os glaciares começaram a recuar, a gruta de Niaux, tornou-se
acessível aos homens do Magdalenense. Eles não podiam deixar de notar a enorme
entrada com 55 metros de altura e 50 metros de largura.
Quanto à sua iconografia, enquadra-se dentro da arte rupestre quaternária europeia.
As pinturas não têm o mesmo nível de pormenor e espetacularidade que Altamira ou
mesmo Lascaux, mas são sem dúvida manifestações do aparelho neuro-cognitivo do
Homo sapiens que demonstram a capacidade de abstração e o simbolismo usados para
criar magnificas obras de arte.
Fig. 25 – Bisontes do “Salon Noir” de Niaux, fotografia de wikimedia
37
Fig. 26 – Visita guiada em Niaux, fotografia do site sesta
No que se refere à sua musealização, houve a preocupação de manter a gruta o mais
possível no seu estado natural, por questões de preservação e também certamente por
opção das entidades responsáveis pela sua gestão. As visitas a esta famosa caverna são
estritamente reguladas, a fim de manter durante todo o ano a temperatura de 12 º C e
assim preservar as representações nas paredes, de bisontes, cavalos e cabras. De Julho a
setembro há 11 visitas por dia até 20 pessoas por grupo e com a duração de 45 minutos
entre cada grupo, incluindo uma turnê em Inglês de cerca de 1h. Três visitas por dia o
resto do ano.
Quando se visita Niaux é aconselhável fazer a reserva antecipada. O visitante
recebe um cupão para uma admissão reduzida ao Parque de Pré-história nas
proximidades. A gruta tem sido preservada no seu estado natural. Para fazer a visita, é
fornecido uma lanterna para cada duas pessoas. As crianças pequenas não devem
integrar as visitas. O preço do bilhete é: Adulto: € 9,40
Criança: € 5,70; Jovens (13-18 anos): 7,00 €; Os alunos com menos de 26 anos: 7,50 €
em grupos: Adulto: € 7,80;Criança: € 4,00;Jovens: 4,80 €.
38
Fig. 27 – Vista de Niaux, fotografia do site sesta
O autor da estrutura de musealização desta gruta é o arquiteto Massimiliano Fuksas,
ele é famoso também como pintor. Foi através de Giorgio De Chirico, que ele foi
“apresentado” à cor, que é um componente importante de seu trabalho.
Nos últimos anos tem trabalhado sobre o tema da cidade. Mestre do Setor de
Arquitetura em Veneza, ele escolheu a cidade como tema e o papel do arquiteto na
definição do espaço urbano. Em 1999, foi premiado com o Grand Prix Nacional de
Arquitetura concedido pelo Ministério da Cultura e da Comunicação francês. Esse
premio reflete o talento de Massimiliano Fuksas, constantemente nas fronteiras da Arte,
Arquitetura, Urbanismo e Paisagem.
A ideia original de construir uma estrutura para musealizar a gruta de Niaux, era a
de sugerir pela sua forma, uma espécie de animal de grande porte a sair para fora da
cavidade e abrindo as suas asas. Pensou-se como uma peça de arqueologia e escultura é
feita de aço e está revestida por uma superfície patinada anti corrosão.
A solução de musealização preservando a gruta no seu estado natural e integrando
uma estrutura contemporânea, resulta funcional e apelativa. Está integrado nas linhas de
musealização contemporâneas, como se pode constatar, pelo aspetos anteriormente
39
analisados Numa zona com características naturais excecionais, beneficia para além da
promoção feita por diversos parceiros sociais, da sua importância cultural.
1.3.6. Museu de Mação
O Concelho de Mação fica situado na margem direita do Rio Tejo, na fronteira
entre o Alto Ribatejo e as Beiras. Do ponto de vista arqueológico é, de há muito,
referenciado com importantes contextos arqueológicos. O Tejo, coluna vertebral do
povoamento na região, recebe aqui o contributo dos importantes caudais de diversas
linhas de água (Rio Frio, Ribeira das Eiras, Rio Ocreza, entre outros), que cortam as
formações antigas que dominam o Concelho. O relevo acentuado de Mação é
intercetado, por diversas pequenas áreas aplanadas de aluvião.
O Museu Municipal Dr. João Calado Rodrigues, atualmente designado por
“Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo” fica situado na vila de
Mação e deve o nome ao seu fundador que, durante décadas, desenvolveu um
importante trabalho de pesquisa e análise da pré-história do concelho. A idealização do
Museu surgiu em 1943 na sequência do importante achado do Porto do Concelho,
partindo da iniciativa do Dr. João Calado Rodrigues e contando com o apoio da Câmara
Municipal. O Museu ficou sem sede, permanecendo o espólio por ele recolhido na sua
casa e, com a sua morte, encaixotado até 1966, altura em que a Câmara Municipal
adquiriu essa coleção.
Em 1967 a Drª Maria Amélia Horta Pereira é convidada a estudar a coleção e a
elaborar um projeto de Museu, para albergar o referido espólio, que só viria a ser
concretizado em 1986, altura em que se abriu ao público o Museu, contemplando a
coleção de João calado Rodrigues e o espólio reunido por ela desde 1967 que, além da
arqueologia, continha também etnografia e a arte.
O ponto de viragem do Museu deu-se em 2000 com a descoberta a 6 de
Setembro de uma gravura rupestre paleolítica com mais de 20.000 anos, na margem do
Rio Ocreza. Decorrente desta descoberta, com uma nova direção e uma equipa
rejuvenescida iniciou-se uma necessária reorganização e inventário do Museu. Foi o
início do delinear de um programa para o Museu, apoiado por uma Comissão
40
internacional de Acompanhamento, o qual contou com a celebração de diversos
protocolos entre a Câmara Municipal e várias entidades nacionais e internacionais como
o Instituto Politécnico de Tomar, o Centro de Estudos da Pré-História do Alto Ribatejo,
o Instituto Português de Arqueologia e a Federação Internacional de Arte Rupestre.
Após alguns anos encerrado, a 28 de Novembro de 2001 o Museu reabriu as suas
portas com O Tempo Antes do Tempo - Caçadores Paleolíticos de Mação e do Sul da
Europa. Entre Agosto de 2003 e Março de 2005 todo o edifício foi reestruturado e para
além do módulo já referido, foi inaugurada a exposição Um risco na paisagem -
Artefactos, lugares e modos de vida nas origens do agro-pastoralismo.
Fig. 28 – Museu de Mação, Imagem do site, http://www.museumacao.pt.vu/
As atuais exposições apoiam-se numa pequena parte das reservas do Museu, o
seu discurso expositivo evoca sobretudo as origens da agricultura e da arte porque este é
um tema em que Mação tem uma importância nacional, e porque a agricultura e o
trabalho da terra são as bases identitárias de Mação. Por outro lado no atual edifício não
há condições para expor as restantes coleções, em particular as de etnografia, com a
dignidade que merecem.
No que toca à acessibilidade ao Museu é boa, está bem assinalado e dispõe de
amplo parque de estacionamento. O Museu está dotado com rampas e elevador, para
acesso de deficientes motores e inclui um percurso táctil totalmente concebido para
invisuais e amblíopes. Os textos no Museu são em Português e Inglês. Para além destas
41
línguas, as visitas guiadas podem ser igualmente feitas em Espanhol, Italiano e Francês
(sujeito a disponibilidade de momento ou a marcação prévia). O horário de
funcionamento é de Segunda a Sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30.
Sábados das 15h00 às 18h00. Fora deste horário fixo o Museu abre todos os dias da
semana, a qualquer hora do dia ou da noite, desde que feita uma marcação prévia de
24h.
O ingresso custa 1,00€ por pessoa adulta, sendo grátis para as crianças. As
entradas são contabilizadas por um sistema de bilheteira.
Os seus núcleos são, respetivamente o edifício principal (Largo Infante D. Henrique):
Exposição permanente, percurso táctil e exposição digital. Biblioteca e o edifício 2
(Instituto Terra e Memória) onde se encontram os Serviços Educativos, Espaço
Andakatu, Espaço de Memória de Mação, Espaço Mundus, e os Laboratórios.
Associados ao Museu, existem “Espaços de Memória” em diversas freguesias
do Concelho (informações a partir do Museu-sede, e visitas mediante marcação prévia).
Sítios arqueológicos visitáveis todo o ano (visitas com marcação prévia): Parque do
Ocreza (núcleos rupestres da Rovinhosa e do Vale do Souto); Anta da Foz do Rio Frio,
Anta da Lajinha, Castelo Velho da Zimbreira, gravuras rupestres de Cobragança,
Castelo Velho do Caratão. Director / Responsável Técnico Professor Doutor Luiz
Miguel Oosterbeek.
O tema da exposição permanente é o da dimensão simbólica e do sagrado no
vale do Tejo, num discurso multidisciplinar, antropológico e de leitura plural que
convida os participantes a refletirem sobre o território e os seus agentes
transformadores. Atualmente são visitáveis dois módulos de exposição permanente e
uma temporária, divididos por dois pisos.
42
Fig. 29 – Interior do Museu de Mação, Imagem do site,
http://www.museumacao.pt.vu/
A investigação reside no cerne das prioridades do Museu. Para o seu
enquadramento, foi criada uma Comissão Científica Internacional, integrando
especialistas de diversos centros de excelência europeus, bem como uma rede de
parcerias nacionais (IPT, CPH, CEIPHAR, PAAMT e CIAAR) e internacionais (Rede
Europeia de Arqueologia, IFRAO). Como expressão desta prioridade, o Museu
participou no projeto EuroPreArt, apoiado pela Comissão Europeia através do programa
Cultura 2000, bem como nos Cursos Intensivos de Arte Pré-Histórica Europeia, apoiado
no âmbito do programa Sócrates, da mesma Comissão.
Dos vários projetos em que o Museu participa destacam-se Intergratio e o
ARTRISK e ARTSIGNS, sendo que estes últimos foram e estão a ser coordenados pelo
próprio Museu. O Museu participa no Mestrado Erasmus Mundus de Arqueologia e
Arte Rupestre e no Doutoramento em Quaternário, Materiais e Culturas, ambos
integrados na rede laboratorial do Doutoramento Europeu em Dinâmicas Humanas,
Ambientais e Comportamentais em parceria com a Universidade de Trás os Montes e
Alto Douro, Instituto Politécnico de Tomar, Universidades de Ferrara, Tarragona,
Cracóvia e Tiblissi e Instituto de Paleontologia Humana de Paris, que decorre em
Mação.
Atualmente o Museu está a desenvolver um projeto de índole mais etnográfica e
antropológica de Construção de um Espaço de Memória e Cultura na vila de Cardigos,
no concelho de Mação. Este tem como objetivo principal a construção de um Espaço de
43
Memória que valorize e proteja as experiências de vida dos moradores locais bem como
os objetos que testemunham as suas vivências. Em parceria com uma equipa da
Universidade de Durahm coordenada pelo Professor Chris Scarre, está a ser escavada a
Anta da Laginha. Esta é um monumento megalítico que, tal como a Anta da Foz do Rio
Frio apresenta afinidades norte-alentejanas, e o estudo visa responder a uma série de
questões sobre estes monumentos no concelho de Mação, nomeadamente no que diz
respeito aos seus momentos iniciais de construção. Para além dos espaços de exposição
o Museu tem, atualmente, à disposição dos seus visitantes uma Biblioteca especializada
em Arte Pré-Histórica e Arqueologia e um variado programa de atividades e ateliês
promovidos pelos Serviços Educativos especialmente vocacionados para públicos
escolares.
Fig. 30 - Projeto Andakatu - Imagem do site, http://www.museumacao.pt.vu/
O Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo é um Museu
alicerçado numa conceção integradora que não separa as artes, o património e as
ciências. Estas conceções orientam todo o discurso museográfico que promove a vários
níveis a educação e interatividade estimulando assim os visitantes. Desta forma o
programa do museu tem como prioridade, através dos serviços educativos, uma forte
aposta na interação didática. São feitas visitas animadas por exercícios, ateliês de
arqueologia experimental e dramatizações que procuram recriar a Pré-História, são
também desenvolvidas atividades junto dos sítios arqueológicos que os associam ao
desporto (caminhadas e escaladas), às ciências (observação da fauna, flora e geologia)
ou às artes (concertos musicais, concursos de artes plásticas etc.).
44
Com cerca de 6 000 mil visitantes por ano e procurando sempre novas soluções
o Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, assume-se, não só como um projeto de
cultura e educação, mas também de inclusão das Artes e do Património, lutando contra a
desertificação desta região, sendo um bom exemplo no panorama nacional e
internacional.
2. A GRUTA DO ESCOURAL
Na sequência dos trabalhos de exploração de uma pedreira de mármores, em 17
de Abril de 1963, uma explosão de pólvora preta pôs a descoberto uma pequena
abertura que dava acesso a uma cavidade natural. Os primeiros trabalhadores que
penetraram no seu interior, viram de imediato ossadas humanas à superfície.
Na sequência da publicação deste achado no Diário de Notícias de 19 de Abril, o
Diretor do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, Manuel Heleno, deu instruções
a M. Farinha dos Santos para que visitasse de imediato a cavidade e tomasse as medidas
necessárias para garantir a sua integridade. Os trabalhos arqueológicos começaram
pouco depois. O sítio foi classificado como Monumento Nacional em 25 de Outubro de
1963 pelo Decreto n.º 45 327, DG, I Série, n.º 251 e adquirido pelo Estado em 1998.
2.1– Localização
Fig. 31 - Mapa de Portugal, em destaque a região de Montemor-o-Novo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Montemor-o-Novo
Fig. 32 - Mapa da gruta do Escoural de M. Varela Gomes (a vermelho a atual entrada)
45
2.1.1. Aspetos geológicos e geomorfológicos
Embora condicionada pelos relevos que constituem as serras de Monfurado e
Montemuro, esta região apresenta as características típicas da paisagem alentejana, de
clima marcadamente continental, com um coberto vegetal dominado por matas de
estevas e uma cultura arvense de sequeiro onde abundam as azinheiras e os sobreiros. O
elemento fundamental do relevo da região é uma superfície de erosão, aplanada,
designada por peneplanície alentejana, marcado por um importante conjunto
morfológico que se estende de Montemor a Valverde, onde se destaca a Serra de
Monfurado, compartimento elevado pela atividade tectónica, cujos topos chegam um
pouco acima dos 400 metros (Feio & Martins, 1993 in Espírito-Santo et al 2007).
Em termos geológicos, esta unidade morfoestrutural da Península Ibérica
denomina-se Maciço Hespérico, sendo que os terrenos mais antigos datam do
Proterozóico superior e são constituídos por migmatitos e gnaisses granitóides, aos
quais se sobrepõe um complexo metamórfico com várias litologias (micaxistos,
grauvaques, metaliditos, metavulcanitos) no qual se inclui a “Formação de Escoural”.
As unidades litoestratigráficas presentes são do Câmbrico inferior (micaxistos e
leptinitos anfibólicos), Ordovícico-Silúrico (metavulcanitos, anfibolitos e micaxistos),
Devónico médio ao Carbónico inferior (xistos, grauvaques, vulcanitos e calcários)
(Carvalhosa & Zbyszewski, 1994; Oliveira, 1992 in Espírito-Santo et al. 2007).
A Serra de Monfurado é constituída por um conjunto de relevos, de direção geral
WNWESE, cujos topos se elevam um pouco acima dos 400 metros (Serra Morena: 407
m; Monfurado: 424 m; S. Sebastião: 441 m; Carvalhal: 422 m; Serra do Conde: 431 m).
Com cerca de 20 km de comprimento e 15 km de largura, apresenta limites nítidos tanto
a sul como a leste, mas mais complexos e esbatidos a norte e oeste. Para noroeste a
diferença de relevo vai-se esbatendo progressivamente em direção à bacia do Baixo
Tejo.
No cimo da serra, em posição culminante, observa-se uma aplanação conservada
nos topos de interflúvios a cerca de 350-400 m (na região do Escoural) e 300-350 m
(em Montemor), ainda que um pouco degradada pela rede de drenagem. A serra é
limitada tanto ao norte, como ao sul e leste, por ressaltos topográficos vigorosos, de
traçado retilíneo, respetivamente, a escarpa de Montemor, de Santiago do Escoural e de
Valverde, dominando em cerca de 150 a 200 m a peneplanície circundante. A presença
46
de uma faixa de calcários numa paisagem dominada por afloramentos graníticos,
permitiu a formação de uma rede de galerias subterrâneas distribuídas por três níveis
diferentes, que foram aproveitadas por diferentes grupos humanos ao longo da Pré-
história.
A presença de uma faixa de calcários numa paisagem dominada por afloramentos
graníticos, permitiu a formação de uma rede de galerias subterrâneas distribuídas por
três níveis diferentes, que foram aproveitadas por diferentes grupos humanos ao longo
da Pré-história.
A Serra de Monfurado, constitui o ponto de confluência das bacias hidrográficas do
Tejo, Guadiana e Sado na região central do Alentejo. À sua escala, Monfurado assume a
complexidade edafo-climática de outras zonas montanhosas portuguesas, a que a
alternância entre influências continentais e atlânticas não é alheia. As encostas voltadas
a norte e oeste amparam com suavidade as massas de ar marítimo, humedecendo
frequentemente o ar e levando a que nas depressões o nevoeiro se instale com
facilidade. Esta zona apresenta no sul de Portugal cambiantes de locais mais
setentrionais, constituindo uma fronteira e transição entre a estepe cerealífera que se
desenvolve a sul e o montado misto a norte. A região por onde se estende o concelho é
caracterizada por um clima marcadamente mediterrânico caracterizado por uma estação
seca bastante acentuada no Verão. O Verão é quente e seco, por vezes com temperaturas
superiores a 40 ºC. Enquanto no Inverno a temperatura pode descer abaixo dos 0 ºC. A
temperatura média anual é de 15,4 ºC, registando-se a média máxima em Julho - 32 ºC -
e a média mínima em Janeiro - 3,1 ºC. A precipitação ronda os 500 mm entre os meses
de outubro e março e os 170 mm no semestre mais seco, sendo bastante irregular.
Esta é uma área dominada por montados de sobro e azinho bem conservados, nas
encostas e vales com clima fresco e húmido, de carvalhais de Quercus faginea subsp.
broteroi e de Quercus pyrenaica, sendo o limite sul da distribuição deste último em
Portugal continental. Na zona termomediterrânica, correspondente às encostas Oeste da
Serra de Monfurado, ocorre o Asparago aphylli-Calicotometum villosae, subserial do
Asparago aphylli-Quercetum suberis e azinhais de Pyro bourgaeanae-Quercetum
rotundifoliae, que inclui os espinhais de Calicotome villosa. Os montados de sobro em
solo silicioso da Sanguisorbo-Quercetum suberis são dominantes na paisagem e
apresentam como etapa regressiva a Phillyreo angustifoliae-Arbutetum unedonis. Em
margens com elevada humidade, ocorrem os amiais da Scrophulario-Alnetum
47
glutinosae, sendo substituídos pelos freixiais do Ficario-Fraxinetum angustifoliae em
ribeiras que sofrem um maior período de estiagem. O freixial Ficario-Fraxinetum
angustifoliae é a comunidade mais comum nas ribeiras e nas linhas de água, bem como
o Salicetum atrocinereo-australis existente nos leitos torrenciais. Têm como etapas de
substituição os silvados do Lonicero hispanicae- Rubetum ulmifolii e os arrelvados
vivazes do Juncetum rugoso-effusi (Pereira, 2002).
Assim constata-se que a vegetação potencial da maior parte desta região inclui-se,
na forma de bosques, pré-bosques e matagais densos pluriestratificados, dominados por
espécies esclerófilas. Atualmente estas formações encontram-se muito degradadas
devido à ação humana - cortes, desbastes, práticas agrícolas, pastoreio e pisoteio
(IDEM). Estão aqui incluídos os azinhais, sobreirais, carvalhais de carvalho-cerquinho e
os agrupamentos arbustivos de substituição (medronhais e carrascais).
Os bosques climácticos mediterrânicos, de folha persistente ou marcescente, são bem
estratificados e desenvolvem-se em solos profundos e húmidos.
Quanto à fauna, Monfurado é caracterizado pela ocorrência de habitats pouco
comuns ou particularmente bem conservados, como é o caso de alguns montados e
galerias ripícolas, que indiciam a existência de comunidades faunísticas valiosas para a
conservação, havendo referências quanto à presença de espécies ameaçadas de
diferentes grupos de vertebrados. A existência conjunta destas situações confere à área
um carácter único e particular no Alentejo, razão pela qual constitui um património
ecológico, florístico, e faunístico de elevado valor que carece ser preservado. Trata-se
de uma zona importante em termos de alimentação e refúgio para as diversas
comunidades.
A existência de diversas grutas na zona é de grande importância para os
quirópteros, sendo de salientar o morcego-rato-grande Myotis myotis e o morcego-de-
ferradura-mourisco Rhinolophus mehelyi. A área de montado assume ainda um papel
relevante como zona de alimentação destas espécies, assim como para o rato de Cabrera
Microtus cabrerae, o qual tem aqui numerosas colónias confirmadas. Destacam-se
ainda a presença da lontra Lutra lutra, com uma distribuição ampla e populações
estáveis que se encontram ao longo da maioria das ribeiras e albufeiras, bem como o
gato-bravo Felis silvestris, espécie que tem vindo a regredir sobretudo devido à escassez
de presas.
48
Encontram-se ainda os migradores estivais como cuco-rabilongo Clamator
glandarius, o picanço-barreteiro Lanius senator, a águia-calçada Hieraaetus pennatus, a
águia-cobreira Circaetus gallicus, o rouxinol pequeno-dos-caniços Acrocephalus
scirpaceus e os residentes, tais como o peneireiro-cinzento Elanus caeruleus, corvo
Corvus corax e Bufo-real Bubo bubo. No que diz respeito aos invernantes ou que
ocorrem durante movimentos de dispersão ou de migração, temos o falcão-peregrino
Falco peregrinus, maçarico bique-bique Tringa ochropus e milhano Milvus milvus. No
que se refere à herpetofauna, salientam-se a presença do cágado-de carapaça-estriada
Emys orbicularis, do cágado-mourisco Mauremys leprosa, cobra-de-capuz
Macroprotodon brevis e a rã-de-focinho pontiagudo Discoglossus galganoi.
Relativamente à ictiofauna, destaca-se a presença da boga-portuguesa Chondrostoma
lusitanicum, o escalo do sul Squalius pyrenaicus, e ainda várias espécies com interesse
para a pesca desportiva como a carpa Cyprinus carpio, o pimpão Carassius auratus e o
barbo Barbus bocagei.
2.2. A arte rupestre da gruta do Escoural
Na gruta do Escoural estão representados 50 000 anos de história, testemunhos das
grandes etapas da evolução humana, desde o Paleolítico Médio, até à Idade do Cobre.
Durante este período, o homem passou de caçador-recolector a agricultor, de nómada a
sedentário. Inicialmente usufruindo da natureza, depois transformando-a.
Desde que se deu a primeira ocupação da cavidade por grupos de Homo
neanderthalensis, provavelmente atraídos pela sua posição estratégica e dominante que
o local ocupava na paisagem, aproveitaram este espaço como abrigo temporário de
suporte à sua principal atividade de subsistência, a caça de grandes mamíferos. Os
utensílios de pedra lascada e os restos de ossos fossilizados de animais à muito
desaparecidos, tais como o veado, o cavalo ou o auroque permitem-nos descortinar o
modo de vida destas comunidades.
A maioria dos vestígios do Paleolítico Médio surgiu no interior de uma pequena
galeria, localizada junto à entrada SE da cavidade. A ocupação terá tido lugar no
exterior, eventualmente sob um abrigo rochoso que entretanto abateu. Foram efetuados
trabalhos arqueológicos entre 1989 e 1992 à entrada SE da gruta. Durante o Paleolítico
Médio (100 000 a.C. a 30 000 a.C.) surgiram pela primeira vez as práticas de
49
enterramento. Os instrumentos líticos eram feitos sobre lasca de pedra3. As técnicas de
encabamento eram utilizadas. Na caça usavam-se chuços de madeira apontada e
endurecida ao fogo, ou lanças armadas com pontas de pedra.
A gruta do Escoural constitui o mais ocidental dos santuários com arte paleolítica
da Europa, com alguns pontos convergentes com o que Baptista considerou da região de
Foz Côa, esta ultima como um grande santuário ao ar livre (Baptista, 1999). Durante o
Paleolítico Superior, a gruta funcionou como espaço sagrado de grupos humanos de tipo
anatomicamente moderno. As paredes da cavidade serviram de suporte ao imaginário
destas comunidades de caçadores-recolectores, que aí deixaram imagens da sua “visão
do mundo”, tratava-se certamente de uma arte de cariz mágico-religioso.
O percurso do exterior ao interior da gruta, conhecido por alguns homens
paleolíticos durante milénios, representa indiscutivelmente a dicotomia entre dois
mundos; o espaço aberto e luminoso e o espaço fechado, escuro e silencioso. Ai
decorreram práticas sócio religiosas podendo-se considerar que a um determinado nível,
procuravam a interação com o transcendente, de que as manifestações artísticas,
pinturas e gravuras, são os últimos testemunhos.
Durante o Paleolítico Superior os utensílios em pedra e osso, tornam-se cada vez
mais diversificados e especializados. São produzidas lascas alongadas; lâminas e
lamelas, que funcionam como elementos de gume de ferramentas compostas. Surgem as
zagaias, os arpões e os propulsores, que asseguram uma maior eficácia e precisão na
caça. Os temas são sobretudo de temática animalista, tal como acontece na restante arte
rupestre desta etapa da expressão artística da humanidade. As paredes da grande sala de
entrada são usadas para levar a cabo motivos artísticos, que servem para preservar
aquilo que poderemos designar como “locais de memória” das comunidades ancestrais,
sendo que é geralmente aceite que a arte rupestre tem, em grande parte das ocorrências,
um carater mágico-religioso (Coimbra, 2008). Naquilo que se pode considerar como
uma visão do mundo centrada na representação de animais, aqui trata-se sobretudo de
equídeos e bovídeos e diversos signos de interpretação complexa, provavelmente
relacionados com uma qualquer religiosidade ou magia primitivas.
É a partir do Neolítico (5 000 a.C.- 3 000 a.C.) que a gruta é transformada em
cemitério das comunidades de agricultores-pastores da região. Os corpos são 3 Em sílex, quartzo ou quartzito.
50
depositados no interior da cavidade à superfície, acompanhados por diversas objetos
votivos – vasos cerâmicos, machados e enxós em pedra polida, lâminas e lamelas em
sílex, adornos sobre osso e concha, que apesar de serem utilizados na vida quotidiana,
adquirem no momento da morte um novo simbolismo. Num respeito evidente pela visão
do mundo que os caçadores paleolíticos deixaram impressas na gruta.
As comunidades do Neolítico, num contraste evidente com aquele que era o
paradigma dos caçadores paleolíticos, fizeram do exterior o seu espaço simbólico.
Procederam à ritualização do espaço exterior, e as grandes lajes existentes no topo da
colina, onde se situa a gruta, foram profusamente gravadas com motivos esquemáticos e
representações estilizadas de animais. É a sacralização do espaço com uma tradição
ancestral, que encerra os que partiram, mas que os vivos protegem.
Quanto à cronologia, comparações de natureza temática, técnica e estilística com
contextos semelhantes, permitem atribuir a maioria destes motivos às fases iniciais do
Paleolítico Superior, entre o Aurignacense e o Solutrense (30 000 – 16 500 a. C.).
Alguns temas não figurativos poderão ser do Magdalenense (16 000- 10 000 a.C.).
2.2.1. Descrição das pinturas e gravuras
Como já foi anteriormente mencionado, a arte paleolítica do Escoural, integra a
evolução cronoestilística com três grandes períodos. Figuras zoomórficas e signos
pintados, de cor negra ou vermelha, ou gravados, em zonas de fácil acesso e bem
visíveis, mostram atributos técnicos e estilísticos que permitem a sua datação do
Solutrense Antigo e Médio, coetâneo com a expansão da grande arte quaternária.
Gravuras animalistas, principalmente de cabeças de equídeos, preenchidas com
traços múltiplos, signos geométricos, sobretudo reticulados, constituem o segundo
período, atribuído ao Solutrense Superior e Magdalenense Inicial.
O último período, datável do Magdalenense Médio e Final, é formado por signos
geométricos e manchas (psicogramas4), gravados com incisões muito finas, por vezes
4 Segundo Emmanuel Anati, psicogramas são signos que não parecem representar nem sujeitos nem símbolos. São “outputs” violentos de energia que talvez expressem uma sensação ou ainda uma perceção mais subtil e conceptual.
51
camuflando-se com as fissuras dos suportes, localizados geralmente em locais
dissimulados. Os motivos encontrados como referido supra, são sobretudo cabeças de
equídeos, havendo ainda cabeças de bovídeos, partes de auroque e caprinos, que por
vezes se sobrepõem.
2.2.2. Pinturas
Fig. 33 e 34 – Equídeo pintado a vermelho (Foto. e decalque de M. Varela Gomes)
– Localiza-se na parte do lado direito da sala 1, perto da atual entrada. Representando
um equídeo, com a cabeça e o corpo de perfil, bastante alterado pelas escorrências de
água. Apresenta a curvatura da mandíbula acusada, as crinas verticais fazendo ângulo
com a testa, e as pernas figuradas em forma de V. a linha cérvico-dorsal é ondulada e a
linha ventral convexa. Em redor existem potos e traços a negro e vermelho, bem como
uma possível cabeça de quadrupede, de cor negra, também muito apagada. Atribui-se ao
Solutrense Antigo.
52
Fig. 35 – Equídeo pintado a negro (fotografia de Manuel Ribeiro)
- Localiza-se na parede do lado direito do topo sul da sala 1, a cerca de 1,50 m do solo.
Pintura de cor negra e gravura filiforme, muito alterada devido à deposição de calcite.
Representação de metade inferior de quadrupede, possivelmente um equídeo, de perfil,
voltado para o lado direito. Mostra a linha ventral convexa e os membros em forma de
V nas proximidades existem ainda, restos de pintura da mesma cor e algumas incisões
filiformes, contemporâneas ou ulteriores. Integra-se no Solutrense Antigo.
53
Fig. 36 – Painel com conjunto de pinturas (fotografia de Manuel Ribeiro)
- Localizam-se ao fundo da sala 1, na zona em que o teto é mais baixo e oblíquo,
pinturas de cor negra e vermelha. Grande painel, contendo três conjuntos de pinturas.
Na parte superior, do lado esquerdo, encontra-se representada uma cabeça de equídeo,
de perfile voltada para a esquerda. À direita desta figura, reconhece-se o perfil de
quadrupede, provavelmente um bovídeo, voltado também para o lado esquerdo.
Mostra ventre bem saliente, e os membros em forma de V. a cabeça desapareceu
devido às escorrências de água. Na parte inferior do painel, observa-se o segundo
conjunto de figuras, interpretadas inicialmente como representações hibridas, meia
humana meia animal. No entanto, pode corresponder à justaposição de três animais,
duas cabeças de equídeo de perfil, encontrando-se a primeira na parte superior, voltada
para a direita, e a segunda, na parte inferior, voltada para baixo, junto ao corpo de um
provável quadrupede. As pinturas foram intercetadas por veios de calcite, aos quais se
encontram associados diversos traços e pontos pintados de cor negra e vermelha.
Integram-se cronologicamente no Solutrense Antigo.
54
Fig. 37 – Conjunto de animais (fotografia com infravermelhos de M. Varela Gomes)
- À entrada da galeria 1, na parede do lado direito, junto a um espesso cordão
estalactítico. Figurações de cor negra e traços de cor vermelha. No sector inferior direito
do painel, observa-se a cabeça e o arranque do auroque, figurado de perfile voltado para
o lado direito. Apresenta o olho circular, a curva mandibular acusada e a extremidade do
focinho descaída. Sobre a testa reconhece-se a armação.
À esquerda desta figura, sobrepondo-a parcialmente, representou-se a metade
traseira do equídeo, figurado de perfil e voltado para o lado esquerdo. Mostra a perna
em forma de V e cauda longa. Na parte superior do painel, deteta-se a parte dianteira de
um terceiro quadrupede, possivelmente um caprino, pintado de perfil e voltado para o
lado esquerdo. Apesar desta figura se encontrar muito deteriorada pela calcite, ainda é
possível distinguir o arranque da cabeça, parte da armação e das linhas cérvico-dorsal e
do peito. Reconhecem-se ainda, outros traços de cor vermelha e numerosas gravuras
filiformes. Atribuído ao Solutrense Antigo.
55
Fig.38 e 39 – Cabeça de cavalo (fotografia e decalque de M. Varela Gomes)
- Localiza-se na parede do lado esquerdo de divertículo situado ao fundo da galeria 1,
próximo do chão. Pintura de cor negra, muito alterada devido à deposição de calcite.
Cabeça de equídeo representada de perfil e voltada para o lado direito. Apresenta a
curva mandibular muito acusada e a extremidade do focinho ligeiramente pendente. As
crinas figuradas numa sucessão de pequenos traços verticais, fazem ângulo agudo com a
testa. A linha que delimita a parte superior do pescoço parece aproveitar uma fissura da
parede. Sobre esta pintura e em seu redor, observam-se diversos traços incisos,
filiformes, de época ulterior. Atribuído ao Solutrense Antigo.
Fig. 40 - Quadrúpedes (fotografia de M. Varela Gomes)
56
- Localizam-se em dois pequenos nichos situados no lado direito da galeria 2, à sua
entrada, e perto do solo. As pinturas de cor negras, mas já bastante apagadas, de duas
figuras de quadrúpedes, possivelmente caprinos, representados de perfil e voltados para
o lado direito. As cabeças apresentam silhuetas sub-rectangulares e os pescoços são
largos.
Sobrepõem-se a estas figuras alguns traços incisos, que são provavelmente
anteriores. Em nicho situado a cota inferior observa-se a representação de cabeça de
bovídeo, de perfil e voltada para o lado direito, com a armação ligeiramente
perspetivada. A extremidade do focinho é ligeiramente descaída e a curva da mandibula
acusada, conforme é próprio das imagens animalistas mais recuadas. Possivelmente
pertence ao Solutrense Antigo.
Fig. 41 – Signos geométricos (Fotografia de Manuel Ribeiro)
- Enquadram-se num pequeno nicho da sala1, entre as galerias 1 e 2, a cerca de 1,10 m
do solo atual. Trata-se de um conjunto de seis traços pintados de cor vermelha.
57
Encontram-se três traços paralelos dispostos na vertical (bastonetes?), e à esquerda
destes três traços convergentes num ponto (signo vulvar?). Reconhecem-se em redor,
pequenos pontos pintados nas cores negra e vermelha, assim como incisões filiformes.
Atribuído ao Solutrense Antigo.
Fig. 42 e 43 – Signos geométricos (fotografias de Manuel Ribeiro)
- Localizam-se no teto, à entrada do pequeno divertículo situado no lado direito e ao
fundo da galeria 1, a cerca de 2 m do solo atual. São duas manchas de contorno
subcircular, pintadas de cor vermelha. Trata-se de signos muito frequentes nos
contextos da arte rupestre paleolítica, onde surgem pintados de cor vermelha ou negra,
ou mesmo gravados. Encontram-se em todo o Paleolítico Superior, apesar de serem
mais frequentes no Solutrense Antigo.
58
2.2.3. Gravuras
Fig. 44 e 45 – Conjunto zoomórfico (fotografia e decalque de M. Varela Gomes)
- Localiza-se do lado esquerdo da galeria 1. São gravuras com diferentes larguras e
profundidades, algumas de difícil visualização. Reconhece-se a parte dianteira de um
equídeo, representado de perfil e voltado para o lado direito. As crinas fazem ângulo
reto com a testa e a linha cérvico-dorsal é ondulada. Abaixo da figura anterior,
reconhecem-se parcialmente dois cervídeos, finamente gravados, com a cabeça e a parte
dianteira do corpo figuradas de perfil, voltadas para o lado direito. Na parte inferior do
painel é visível um conjunto de traços múltiplos que parecem figurar uma cabeça
zoomórfica. Esta superfície apresenta ainda diversas gravuras, muitas quais filiformes,
nomeadamente pequenos reticulados. Este painel pode ser atribuído ao Solutrense
Superior e ao Magdalenense.
59
Fig. 46 e 47 – Equídeo (fotografia J. Paulo Ruas, decalque de M. Varela Gomes)
- Localiza-se na parede do lado direito do divertículo situado ao fundo da galeria 1.
Trata-se de uma gravura filiforme. É a representação de um equídeo, de pequenas
dimensões, figurado de perfil e voltado para o lado esquerdo. Este modelo demonstra
um certo nível de sintetismo formal, sendo que foi aplicada a técnica dos traços
múltiplos e alguns pormenores anatómicos. As características morfoestilísticas
permitem datar cronologicamente entre o Solutrense Superior e o Magdalenense Inicial.
Fig. 48 e 49 – Cabeça de bovídeo (fotografia e decalque de M. Varela Gomes)
60
- Localiza-se na concavidade da parede do lado esquerdo da galeria 2, no seguimento do
painel com tectiformes. É uma gravura larga e profunda representando uma grande
cabeça de bovídeo, de perfil e voltada para o lado direito. A armação, figurada de frente,
apresenta forma de arco e esboço do volume. Revela uma bossa bastante proeminente e
arredondada, sobre a qual assenta a armação. O pescoço tal como a armação, encontra-
se parcialmente coberto por espessa camada estalagmítica. Sobre a testa reconhece-se
um conjunto de incisões sub-paralelas. Estas características apontam para uma
cronologia do Gravetense Final ou Solutrense Antigo.
Fig. 50 – Equídeo (fotografia de M. Varela Gomes)
- Localiza-se na parede do lado esquerdo da galeria 2, frente à grande cabeça de
bovídeo. Foi executado com incisões largas e pouco profundas e outras quase
impercetíveis. Está apresentado de perfil e virado para o lado direito. Exibe uma cauda
em “cometa”, a perna traseira é alongada e o ventre foi definido por linha convexa,
61
muito acusada. A parte dianteira encontra-se apenas esboçada, com incisão muito fina e
por isso difícil de visualizar. Em redor existem muitas outras gravuras de carácter
geométrico. As características técnicas e estilísticas apontam para uma cronologia do
Solutrense Superior ou Magdalenense Inicial.
Fig. 51 e 52 – Cabeça de bovídeo (fotografia de Manuel Ribeiro e decalque de
M. Varela Gomes)
- Localiza-se na parede do lado esquerdo da galeria 11, frente à galeria 2, entre os dois
cordões estalactíticos. É uma representação de uma cabeça de bovídeo. A cabeça e o
pescoço foram figurados de perfil, enquanto a armação se encontra de frente sugerindo
no entanto uma leve torção. O seu interior está preenchido por múltiplas incisões
lineares. As características técnicas e estilísticas, permitem atribuir esta figura ao
Solutrense Superior ou ao Magdalenense Inicial.
62
Fig. 53 e 54 – Três cabeças de equídeos (fotografia de M. Ribeiro e decalque de
M. Varela Gomes)
- Esta é a representação que simboliza no marketing institucional a gruta do Escoural. O
painel situa-se à entrada do pequeno divertículo existente ao fundo da galeria 1, ao lado
esquerdo e a cerca de 1,10 m do solo atual. Aproveita zona plana da parede, delimitada
por escorrências de calcite. Trata-se de três cabeças gravadas com incisões filiformes.
As três cabeças representadas de perfil, com pescoços longos e voltados para o lado
esquerdo. Duas cabeças pertencem a indivíduos adultos e sobrepõem-se parcialmente, a
terceira de menor dimensão, sob as anteriores, corresponde possivelmente a uma cria.
Esta gravura tem a particularidade de ter representado pormenores anatómicos, tais
como os olhos, as bocas e as orelhas, resultando a composição bastante elegante. As
características técnicas e estilísticas permitem atribuir estas gravuras ao Solutrense
Superior ou ao Magdalenense Inicial.
63
Fig. 55 – Signo geométrico (decalque de M. Varela Gomes)
- Localiza-se na concavidade existente na parede do lado direito, ao fundo da sala 1. É
uma gravura larga e profunda, em parte sobre camadas de calcite. É uma composição de
carácter geométrico, definida por feixes de linhas incisas convergentes num ponto,
intercetadas por outras transversais. Alguns autores classificam este tipo de gravuras
como representações de estruturas de abrigo, sendo devido a isso designadas por
tectiformes. Atribuído ao Solutrense Antigo.
Fig. 56 – Painel de signos geométricos (fotografia de Manuel Ribeiro)
64
- Painel localizado na parede do lado esquerdo da galeria 2, junto à entrada e a cerca de
1,60 m do solo, conjunto de gravuras produzidas com incisões largas e profundas,
enquadradas por fissuras e cordões de calcite. Trata-se de um grande reticulado de
forma retangular, interpretado por alguns autores como tectiforme (estrutura de abrigo)
e outros como rede, podendo no entanto tratar-se de um ideograma5 com significado por
desvendar. Reconhece-se conjunto de linhas paralelas dispostas na horizontal, cortadas
por outras, mais pequenas, gravadas na vertical. À direita da gravura anterior observa-se
outro conjunto de traços que convergem na extremidade esquerda. Abaixo da figura
referida e sobrepondo-a ligeiramente, encontra-se um pequeno conjunto de linhas sub-
paralelas gravadas na vertical, cortadas por outras, traçadas na horizontal, que nalguns
pontos convergem. Este conjunto de gravuras pode ser atribuído a um período bastante
vasto, que abarca do Solutrense Antigo ao Magdalenense.
Fig. 57 e 58 – Signos geométricos (fotografia e decalque de M. Varela Gomes)
5 Segundo E. Anati ideogramas são: signos repetidos e sintéticos, que são por vezes designados como esquemas zoomórficos ou antropomórficos. Podem ser entre outros grupos de pontos ou linhas etc. repetição e associações ininterruptas indicam a presença de conceitos convencionais num determinado número de ideogramas.
65
- Localizam-se na chaminé existente entre a sala 1 e a galeria 7, a mais de 3 m de altura.
São gravuras efetuadas com incisão larga e profunda, e outras, pouco visíveis, de traço
filiforme. Podemos encontrar três conjuntos de arciformes, intercetados por largas
escorrência de calcite. À direita e em baixo reconhecem-se figuras em forma de escadas,
de cometas, reticulados e feixes, ou conjuntos de traços de difícil interpretação,
ulteriores às gravuras. A criação deste painel certamente corresponde a um longo
período, entre a Solutrense Antigo e o Magdalenense Final.
2.3. Modelo expositivo do Escoural
O sítio arqueológico do Escoural, integra um santuário rupestre ao ar livre
datado do Neolítico Final, um povoado fortificado da Idade do Cobre, e um Tholos ou
monumento funerário megalítico e a gruta que pelo seu caracter excecional se tornou
icónica. A gruta tendo sido adquirida pelo Estado em 1998, em 2009 foi sujeita a obras
de requalificação num investimento que rondou os 350 mil euros, ficando então
suspensas as visitas. As obras dotaram-na de um conjunto de condições, a nível
ambiental, para preservação das gravuras e pinturas. No interior da gruta, o plano de
requalificação efetuou uma reestruturação dos passadiços e da iluminação, sendo que no
espaço envolvente ao monumento foi construído de um novo parque de estacionamento.
A reabertura ao público ocorreu no dia 30 de Julho de 2011.
Os acessos: Para chegarmos ao Escoural, seguimos pela autoestrada 6, ou pela
estrada nacional 114 (EN) em direção a Montemor-o-Novo, e antes de alcançar a capital
de distrito, identificamos uma placa informativa de saída à direita. Identificando o
Conjunto Arqueológico do Escoural. Seguindo estas diretrizes, prosseguimos na estrada
nacional 370, até à gruta que possui também uma placa identificativa, a escassos metros
do sítio. Assim os acessos externos encontram-se perfeitamente definidos, havendo no
entanto, outros aspetos que carecem de melhoramentos. A sinalética, apesar de auxiliar
o visitante a chegar ao sítio, é insuficiente no que concerne à distância exata e direção.
De facto no percurso, percorre-se uma quantidade significativa de quilómetros, durante
os quais não há qualquer placa, e uma série de bifurcações secundárias.
66
O Centro Interpretativo, Localizado na vila de Santiago do Escoural, a cerca de
10 km da gruta. Possui condições estruturais que permitem fornecer ao visitante uma
informação complementar adequada sobre o sítio. Funciona de quarta-feira a Sábado,
das 10:00h às 13:00h, e das 14:00h às 17:30h. As visitas requerem marcação prévia, o
número de visitantes admitidos em cada período de visita é limitado (máximo 8 pessoas
por grupo), e por razões de conservação e segurança, cada visita à gruta tem a duração
aproximada de 30 minutos.
Os bilhetes para o acesso são adquiridos previamente no Centro Interpretativo e
para grupos numerosos é necessário fazer a marcação com uma semana de
antecedência, estando no entanto a aceitação e duração da visita dependente de análise,
por razões de segurança e conservação.
Á entrada encontra-se uma pequena receção com condições adequadas de
trabalho e de atendimento, prestado por uma rececionista jovem, que teve uma postura
profissional e atenciosa. Os lavabos são razoáveis, embora as condições de acesso sejam
deficitárias.
Fig. 59 - Entrada do Centro Interpretativo (fotografia da autora)
Fig. 60 – Receção do Centro Interpretativo (fotografia da autora)
67
Na visita à exposição constata-se que o suporte utilizado para passar a
informação são placares, com um texto conciso claro e objetivo. Os caracteres são de
tamanho médio a preto ligeiramente carregado e apenas em língua portuguesa,
complementados por desenhos que ilustram as atividades, artefactos e vivência dos
grupos humanos. O discurso é bastante apelativo sobretudo para grupos escolares.
Fig. 61 - Entrada da Exposição (fotografia da autora)
Fig. 62 – Placar explicativo (fotografia da autora)
A musealização dos artefactos recuperados em contexto de escavação está
convincente, sintética e bem conseguida. Num espaço relativamente exíguo está
documentado através de fotografia os trabalhos arqueológicos que decorreram entre
1989 e 1992, junto à entrada SE da gruta, onde se encontraram os vestígios de ocupação
do Paleolítico Médio.
Na vitrina encontra-se á direita material lítico e à esquerda restos faunísticos, na
parte vertical estão documentados através de desenhos alguns animais a que são
respeitantes as partes dos ossos que foram expostos e na parte referente aos artefactos de
pedra lascada com um desenho que ilustrativo.
68
Fig. 63 – Espólio arqueológico (fotografia da autora)
Fig. 64 – Placar explicativo (fotografia da autora)
Como aspetos positivos, há a salientar a coerência cronológica, as imagens e
desenhos, que ilustram, toda a sua evolução, conferindo-lhe caracter de história narrada,
particularmente interessante pelo aspeto lúdico e didático. Esta estratégia de
comunicação torna-se bastante atrativa pelas características observadas para grupos
escolares.
No que toca à iluminação, está bem trabalhada junto aos placares informativos e
espólio arqueológico, mas no que espeita à zona de publicações e entrada é deficitária.
Ao fundo do edifício existe uma pequena sala com um vídeo que passa uma imagem do
mapeamento da gruta feito por varrimento lazer.
A pouca diversidade e quantidade dos artigos de merchandising e publicações,
conferem uma certa monotonia á parte de divulgação da gruta. Por outro lado apenas
existe um placar com informação também em inglês que disponibiliza informação sobre
os monumentos megalíticos que se encontram na região. Para além desta informação em
69
língua estrangeira, existem apenas os guias do IPPA da gruta do Escoural em inglês,
francês e espanhol.
Fig. 65 – Zona de merchandising (fotografia da autora)
Fig. 66 – Entrada da gruta (fotografia da autora)
Finalmente, anota-se o aspeto que parece contribuir de forma mais negativa para
a divulgação e rentabilização deste património, isto é o Centro Interpretativo encontra-
se afastado do sítio arqueológico. A gruta só se pode visitar com marcação prévia, o que
provoca uma falta de articulação entre as infraestruturas, a que acresce o facto de que
enquanto está a decorrer a visita à gruta o Centro Interpretativo é encerrado pois é a
mesma pessoa que desempenha a tarefa de guia e rececionista. Para muitos visitantes ou
turistas que se dirijam propositadamente ao local para a visita, sem marcação prévia,
certamente que ficarão bastante desapontados por serem impedidos de o fazer.
A título de conclusão sobre a musealização deste arqueossítio, há que salientar
em termos de aspetos positivos, que se trata de um importante conjunto patrimonial,
com um enquadramento territorial em perfeita sintonia com o meio, em que as
estruturas de apoio e acolhimento ao visitante/ turista, estão adequadas, com a existência
de guia e o seu bom desempenho apesar de merecer uma exposição permanente mais
mobilizadora de visitantes. Como pontos fracos, a inexistência de estruturas
complementares de lazer, uma sinalética rudimentar nos acessos exteriores, a quase
inexistência de informação turística em várias línguas, inexistência de estacionamento
70
no Centro Interpretativo e inexistência de acessos à gruta a pessoas com mobilidade
reduzida.
3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Como proposta de melhoria e sendo o aumento de visitantes o fator
predominante para a rentabilização do investimento que o IPPA tem vindo a efetuar no
Património Arqueológico. A sub-região do Alentejo Central, onde se enquadra o
concelho de Montemor-o-Novo, tem no Turismo em Espaço Rural e no Património
Cultural e Arquitetónico grande mais-valia local, sendo estas capazes de atrair e captar
turistas e visitantes quer nacionais, quer estrangeiros. Outros dos pontos-chave é
indiscutivelmente a sua gastronomia e os vinhos com o enoturismo.
A região oferece uma gastronomia de raiz alentejana e mediterrânica (cuja
qualidade tem vindo a ser enriquecida, com criatividade) e para a qual dispõe de alguns
produtos próprios e certificados de grande qualidade como o borrego de Montemor, a
vitela de montado, o queijo de Évora, e outros como o mel e a doçaria, as ervas
aromáticas, as hortícolas e, naturalmente, os produtos alimentares da “trindade
culinária” mediterrânica: o pão, o azeite e o vinho. Na arte dos vinhos, tem-se registado
uma significativa evolução e o concelho já dispõe de vinhos com marcas próprias e na
tradição da grande qualidade dos vinhos alentejanos. Paralelamente, algumas
explorações vitivinícolas têm criado condições para o enoturismo de qualidade,
associado à arte.
Esta região apresenta uma localização privilegiada, quer em termos nacionais,
quer no acesso ao exterior, tendo a Autoestrada A6 e o IP2 um papel estruturante da
região, determinando uma grande acessibilidade à área metropolitana de Lisboa, e
facilitando as ligações ao norte, aos importantes pólos turísticos de Vila Viçosa e
Estremoz, no Alto Alentejo e ao triângulo Portalegre-Marvão-Castelo de Vide, a sul,
sobretudo a Beja, de onde facilmente se deslocam a Évora um importante destino
turístico. As ligações a Espanha são facilitadas pela mesma A6 que funciona como uma
porta de entrada dos fluxos turísticos vindos de toda a Europa e possibilita a
intensificação do número de visitantes provenientes do país vizinho.
Assim Montemor-o-Novo dispõe de potencialidades para fazer emergir o
turismo como um sector onde vale a pena investir: património natural e qualidade
71
ambiental (Rede Natura 2000, o montado, etc.); património arqueológico (paleolítico e
neolítico com destaque para a Gruta do Escoural), e arquitetónico (centro histórico,
castelo, conventos, etc.); património etnológico e cultural (gastronomia, vinhos,
produtos tradicionais, eventos); e um conjunto de equipamentos para atividades lúdicas
e desportivas (turismo equestre, ecopistas, natação, desportos náuticos e aeronáuticos).
Na última década, começaram a surgir novas práticas de turismo e de lazer,
designadamente um turismo de natureza ou um turismo de aventura, consubstanciados
em atividades como os passeios, a BTT, o todo-o-terreno, a observação de fauna e flora
ou simplesmente da paisagem, em contrapartida a um turismo de massas. Infra são
apresentadas algumas propostas para parcerias com diversas instituições, para promover
a gruta do Escoural, uma vez que parece pertinente desenvolver mais estratégias
promocionais, para colmatar as lacunas que existem e que foram anteriormente citadas.
Sugere-se desenvolver algumas intervenções:
3.1. Atividades ao ar livre em complemento às visitas à gruta
Um dos objetivos é de realizar uma maior divulgação promocional conjunta,
com outras entidades, nomeadamente entidades privadas e oficiais. No conjunto de
entidades privadas especial relevo para com as empresas do ramo hoteleiro e de
percursos turísticos, como é o caso da “paladares e Aventuras” ou “L’AND Vineyards
Resort” entre outras. Para estas empresas é particularmente relevante esta associação por
permitir levar públicos numa aventura no tempo. A visita à Gruta do Escoural, é antes
de mais essa visita no tempo, reportado ao Paleolítico Superior. Os roteiros que
integrem essa visita terão a oportunidade de levar os públicos a uma das poucas grutas
visitáveis com arte rupestre em Portugal. A nível das entidades oficiais, temos as
autarquias e DRCA (Direção Regional de Cultura do Alentejo). No último caso é a
entidade gestora e no primeiro trata-se das entidades públicas com interesse na vinda de
públicos.
3.2. Sistemas de comunicação
Fomentar um crescimento na complementaridade dos circuitos urbanos culturais
temáticos. Desde o Museu Nacional de Arqueologia, através da exposição de
publicações sobre a gruta do Escoural, assim como de flyers dos eventos que decorrem
72
na época estival, bem como nos restantes museus sobretudo os da zona alentejana. Fazer
uma maior divulgação on-line, dos eventos, com os diversos parceiros culturais. Sugere-
se enviar informação para as escolas a informar dos pacotes promocionais e jogos
didáticos desenvolvidos em ações promovidas conjuntamente com o Município dos
workshops didáticos de arqueologia experimental. Criar flyer de divulgação dos
eventos. Integrar a agenda cultural de Montemor-o-Novo.
3.3. Ateliês tecnológicos da Pré-história
Realização de atividades pedagógicas e educativas com entidades locais.
Estabelecer e calendarizar as atividades didáticas a desenvolver. A exemplo do que tem
vindo a ser feito pelo Museu de Mação; realizar oficinas de arqueologia experimental.
Estabelecendo planos de ações para essas atividades segundo faixas etárias e tipos de
público-alvo. Mação tem desenvolvido ações tais como Oficinas de Tecnologia: Caco
a caco reconstruímos o passado, As trilobites de Mação, Encontro com o Andakatu,
Andakatu vai à escola.
Fig. 67 – Andakatu: http://arqueologiaexperimental.blogspot.pt/2010/03/projecto-
andakatu-educar-no-presente.html
73
Fig. 68 – Andakatu: http://arqueologiaexperimental.blogspot.pt/2010/03/projecto-
andakatu.html
Oficinas de Artes: Ver, compreender e refazer a arte rupestre do Escoural. Oficinas
didáticas por faixas etárias, com visita à gruta.
Oficinas de Arqueologia e Pré-História: Arqueólogo por um dia, Limpeza e
manutenção de sítios arqueológicos, oficinas de pedra lascada e cerâmica.
3.4. Integração em Roteiros de turismo de qualidade
Propor a integração em roteiros turísticos culturais já estabelecidos, como é o
caso da “Rota dos vinhos”, “Rota de Évora”, levados a cabo pela empresa “Paladares e
Aventuras, organização de eventos”, como a mais ocidental gruta/santuário da Europa.
- A Paladares e Aventuras é uma empresa especializada na organização de eventos,
catering e animação turística. Sedeada em Estremoz, tem o objetivo de dinamizar, a
oferta e comercialização de eventos temáticos, assim como de circuitos locais e
regionais. Sugere-se a integração na “Rota de Évora”.
Rota de Évora
9:00h Visita aos principais pontos turísticos de Évora
12:00h Visita e degustação na Adega da Cartuxa
13:00h Almoço de gastronomia regional
15:30h Visita e degustação no Monte da Ravasqueira
Fig. 69 – Site http://www.paladareseaventuras.com/index.php
74
- Propor roteiro turístico ao empreendimento L’AND Vineyards Resort incluindo a gruta do
Escoural, como a mais ocidental gruta/santuário da Europa. Para o tipo de turismo e os
programas que esta empresa oferece, seria certamente benéfico para ambas as partes a
sua inclusão:
Fig. 70 – Site http://www.l-andvineyards.com/pt/
Fig. 71 – Site http://www.l-andvineyards.com/pt/
Localizado no coração do Alentejo, numa paisagem única definida pela vinha e
por um grande lago, o L'AND Vineyards é um "wine resort” exclusivo, com apenas 22
suites, que integra a arquitetura na Natureza, promovendo uma atmosfera intimista de
luxo sóbrio, beleza natural e tranquilidade.
Fig. 72 – Fotografia do site http://www.l-andvineyards.com/pt/
Fig. 73 – Fotografia do site http://www.l-andvineyards.com/pt/
75
O resort situa-se em torno de um jardim de vinhas e da piscina valorizando uma
vista sublime para o lago e para o castelo da vila medieval de Montemor. No edifício
central- baseado na reinterpretação contemporânea das casas pátio de tradição romana e
árabe - está a sala de estar, a biblioteca, a loja de produtos exclusivos “L'AND made”, a
adega, o "wine clube”, o spa com 800 ms, o restaurante e o pátio lounge. Os interiores
são desenhados pelo arquiteto Marcio Kogan e criados a partir de pedra natural de
ardósia e madeira, contando com um conjunto de peças de arte, tecidos e mobiliário
exclusivo. O L’AND Vineyards oferece um conjunto de experiências e atividades
personalizadas.
Se o cliente gosta de vinho e enologia poderá, por exemplo, visitar as vinhas
locais, realizar na adega do resort cursos sobre a vinha e a produção de vinho, realizar
provas comentadas de vinhos regionais e locais, conhecer os princípios da enologia
biodinâmica. Se prefere sentir a planície e o céu poderá experimentar uma viagem de
balão no Alentejo. Pode, ainda, fazer um picnic na vinha ou no montado, um curso de
cozinha orgânica, visitar os locais culturais mais interessantes de Évora e do Alentejo,
com acompanhamento personalizado de um historiador, pelo que a integração da visita
à Gruta do Escoural será uma mais-valia.
- Propor roteiro turístico ao empreendimento Convento do Espinheiro, Luxury
Collection Hotel & Spa incluindo a gruta do Escoural, como a mais ocidental gruta/santuário
da Europa. Pode-se encontrar infra a apresentação e os programas que esta empresa
oferece:
Fig. 74 – Fotografia do site http://www.conventodoespinheiro.com/
76
Fascinante pela sua história, autêntico pelo seu charme e apenas a uma hora de
Lisboa o hotel Convento do Espinheiro dá vida ao antigo edifício conventual do séc.
XV. Luxuosamente recuperado, o Convento do Espinheiro ganha uma nova interação e
convida os seus visitantes a disfrutar do seu ambiente e da magia da cozinha Alentejana.
Cria com produtos simples e tradicionais pratos onde o gosto e o prazer de comer são
uma experiência inesquecível no restaurante “Divinus”. O “Wine Bar”, é um espaço
exclusivo e inteiramente dedicado a provas e degustação de vinhos, bem como de
produtos regionais. Promove as práticas ambientais e tem uma seleção de atividades
para crianças e ofertas especiais para férias em família, onde certamente uma visita à
gruta seria mais um trunfo para este apelativo pacote turístico.
- Propor roteiro turístico ao empreendimento Hotel Montemor e Quinta dos Olhos de
água, incluindo a gruta do Escoural, como a mais ocidental gruta/santuário da Europa.
No Alentejo a palavra "Monte" significa casa de Herdade ou de Quinta situada
naturalmente fora dos aglomerados populacionais. No entanto o "Monte Alentejano"
situa-se na principal artéria da cidade de Montemor-o-Novo, velha urbe onde D. Manuel
I decidiu o empreendimento que marcou toda a história nacional: a viagem marítima de
Vasco da Gama à Índia. Monte Alentejano é ainda o nome do restaurante, hoje
integrado no Hotel Montemor.
Da autoria do Arquiteto Eborense Raul David o "Monte Alentejano" é um
edifício muito personalizado, com marcados traços regionais e elementos decorativos
únicos, como as figuras dos ceifeiros e o lambrim de azulejos do Restaurante e da
Galeria de Arte. A remodelação e ampliação empreendidas (mais um piso) preservaram
o carácter regional e a autenticidade dos elementos originais do edifício. Fazem parceria
de divulgação no website com a Quinta dos Olhos de água. Para além dos serviços
expectáveis, incluem ainda uma Galeria de Arte com exposições temporárias,
Organização de Eventos e turismo Cultural e de Natureza.
Complementar com a visita à gruta do Escoural certamente que será mais uma
proposta apelativa para atrair a sua clientela.
77
3.5.Complementaridade com eventos culturais
- Elaborar programa com eventos de música e cinema, como por exemplo o
“FESTIVAL: PUFF - Portugal Underground Film Festival” em Montemor-o-Novo e
programar nos dias anteriores ações vocacionadas para jovens, tais como corridas de
BTT, Paintball, ou outro género de atividades outdoor, assim como um evento
especifico eventualmente com referência à gruta do Escoural no largo da vila de
Santiago do Escoural, podendo ser uma ação conjunta com a Câmara Municipal e
comércio local, ou outros mecenas.
- Criar eventos desportivos/culturais como rally-paper, pedy-paper, etc. em Santiago de
Escoural que incluam a passagem pelo Centro Interpretativo e oferecer um brinde
alusivo à gruta do Escoural.
- Criar na época estival um evento de Land Art. A land Art surgiu como uma tendência
artística a partir da década de 60, liderada por artistas que queriam trabalhar sobretudo
com a natureza e materiais naturais. Principalmente, a Land Art trata-se de um conceito
que promove o diálogo e a harmonia com o ambiente natural e portanto utiliza o
ambiente natural como o principal meio de expressão.
3.6.Horário específico de visitas à gruta
- Sugere-se que nos meses estivais de maior afluência de público, sejam estipuladas
horas específicas e número de visitas à gruta. Salvaguardando assim que quem se dirige
à gruta para a visitar pode fazê-lo no mesmo dia.
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho foram desenvolvidas algumas linhas de análise quanto à arte
rupestre, com particular enfâse para a gruta do Escoural, partindo da premissa que esta
ocupa uma situação singular no contexto da arte paleolítica europeia. Alguns dos
modelos explicativos que foram desenvolvidos pelos mais eminentes académicos que
tem trabalhado sobre este tema foram aqui sucintamente expostos, bem como alguns
processos museológicos utilizados para a salvaguarda e divulgação deste tipo de
património da humanidade.
A musealização do Centro Interpretativo da gruta do Escoural, obedece às
normas daquilo que se espera deste género de estrutura, atendendo ao contexto em que
se insere. Isto é, um local onde se pode visitar coleções de peças alusivas ao tema, da
arte rupestre na gruta do Escoural. Apesar de se inserir numa zona de fraca densidade
populacional, e ter algumas lacunas que foram anteriormente mencionadas, poderia
beneficiar dum incremento dinâmico a vários níveis. Foram desenvolvidas nesse sentido
algumas propostas de intervenção para potenciar estratégias de valorização da gruta do
Escoural enquanto património cultural ao serviço da sociedade que a incorpora.
Desde logo ressalta a necessidade de fazer uma maior divulgação promocional
conjunta (parcerias) com outro tipo de entidades que gerem o património sobretudo a
nível regional. Parcerias que também podem ser desenvolvidas com outros
intervenientes socias eventualmente em ações de mecenato. Foram sugeridas ações para
fomentar um crescimento na complementaridade dos circuitos urbanos culturais
temáticos, sobretudo da região do Alentejo.
Realização de atividades lúdicas e pedagógicas/educativas com entidades locais
estabelecendo planos de ações para essas atividades segundo faixas etárias e tipos de
público-alvo. Sugere-se enviar informação para as escolas a informar dos pacotes
promocionais e jogos didáticos desenvolvidos em ações promovidas conjuntamente com
o município. Levar a cabo, no Verão workshops didáticos de arqueologia experimental,
de “pintura rupestre no século XXI” ou seja oficinas com pigmentos naturais.
79
Eventos de música e cinema, como por exemplo o “FESTIVAL: PUFF -
Portugal Underground Film Festival” em Montemor-o-Novo e programar nos dias
anteriores ações vocacionadas para jovens, tais como corridas de BTT, Paintball, ou
outro género de atividades outdoor, assim como um evento especifico eventualmente
com referência à gruta do Escoural no largo da vila de Santiago do Escoural, podendo
ser uma ação conjunta com a Câmara Municipal e comércio local, ou outros mecenas.
Criar eventos desportivos/culturais como rally-paper, pedy-paper, Land Art, etc. em
Santiago de Escoural que incluam a passagem pelo Centro Interpretativo e oferecer um
brinde alusivo à gruta do Escoural. Criar flyer de divulgação dos eventos.
Sugere-se ainda que nos meses estivais de maior afluência de público, sejam
estipuladas horas específicas e número de visitas à gruta, salvaguardando assim que
quem se dirige à gruta para a visitar pode fazê-lo no mesmo dia. Integrar a agenda
cultural de Montemor-o-Novo. É de salientar que estas ações sugeridas podem valorizar
grandemente o património e o afluxo de público que certamente beneficiará toda a
comunidade.
Estas estratégias deverão pois ser direcionadas para o desenvolvimento de
produtos turísticos que façam uso intensivo dos recursos já mencionados anteriormente,
nomeadamente o turismo da natureza (onde se integra o agro-turismo), o turismo de
aventura (onde poderá incluir-se a fileira aeronáutica) e ainda o turismo de negócios.
O público perceciona o Museu através da interface social, que é
propositadamente criada para o efeito. Aqui encontramos uma espécie de readymade6,
ou seja um pacote cultural organizado para visitar a gruta do Escoural, mas que revelou
alguma falta de articulação entre as diversas partes intervenientes, alguns aspetos
lacunares e uma certa inercia dos meios promocionais para a sua divulgação. Há no
entanto que enaltecer o acompanhamento pedagógico prestado pelo Centro
Interpretativo.
6 Referência a Marcel Duchamp enquanto intervenção de certa forma minimalista por parte da Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo).
80
É frequente vir associado aos termos de Conservação e Musealização, o de
“preservação”, o que também se torna compreensível na medida que se trata, não de
uma ausência de qualquer intervenção, ou sujeito à sua degradação dita corrente, ou
normal, mas antes como uma intervenções contextual e paisagística de carácter
conservativo, de preferência minimalista, destinada a menorizar o impacto/destruição do
património. Variadas iniciativas de conservação, que vão desde as intervenções mais
simples àquelas que incluem o restauro/reposição, seguidas de musealização, têm
seguido paradigmas e critérios diversos.
Alguns dos processos museológicos utilizados em diversos sítios foram aqui
retratados, nalgumas das suas variantes, dentro de uma visão de pesquiza para
implementação de melhorias. Como foi percecionado na conservação de superfícies
gravadas e/ou pintadas, têm sido efetuadas algumas ações, sendo de destacar a nível
nacional o programa levado a cabo pelo Parque Arqueológico do Vale do Côa, que
criou situações de referência para aquele tipo de maciços rochosos. Há um cada vez
mais alargado número de intervenientes no estudo, conservação e musealização de sítios
com arte rupestre. A exposição de casos, a discussão pertinente dos métodos e objetivos
técnicos e sociais, bem como os resultados, podem gerar um debate crítico e positivo
que contribua para abrir caminhos mais eficazes para futuras intervenções.
.
81
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