218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
-
Upload
anonymous-09xizsv -
Category
Documents
-
view
234 -
download
0
Transcript of 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
1/57
RESENHA:
A TICA PROTESTANTE E O ESPRITO DO CAPITALISMO
MAX WEBER
NDICE
INTRODUO
Cincia e Cultura
I.Arte
A. Msica
B. Arquitetura
C. Imprensa
II. Especialistas
2. Estado
3. Capitalismo
4. Renda
5. Ato de Economia "Capitalista"
6. Tcnica e Capitalismo
7. Direito e Capitalismo
8. Caractersticas Peculiares do Racionalismo Ocidental
9. Conexes da tica Econmica Moderna com a tica Racional doProtestantismo Asctico: Um dos Aspctos de Relao Causal
I PARTE
O PROBLEMA
CAPTULO I
Filiao Religiosa e Estratificao Social
10. Problema Histrico
11. Reforma
12. Calvinismo
13. Razo Econmica
14. Ensino
15. Racionalismo Econmico
16. Antteses entre Catolicismo e Protestantismo
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
2/57
17. Catlicos e Protestantes
18. O Calvinismo e a Reforma
19. Velho Protestantismo
CAPTULO II
O Esprito do Capitalismo
20. Esprito Capitalista
21. A Histria e o Objeto
22. Princpios de Franklin
23. Benjamin Franklin
24. Filosofia da Avareza
25. Jacobo Fugger
26. Utilitarismo
27. Utilidade da Virtude
28. Trabalho ou Negcio?
29. O Senhor Capital
30. Esprito Capitalista e Pr-Capitalista
31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo
32. Trabalho Qualificado (Intelectual)
33. Formao Religiosa e Educao Econmica34. A "Satisfao das Necessidades" e o "Lucro" / "Tradicionalismo"
35. Modificaes
36. Novo Capitalismo
37. Novos Empresrios
38. Relao entre a Conduta Prtica e os Princpios Religiosos
39. O "Tipo Ideal" de Empresrio Capitalista
40. "Concepo de Mundo"
41. Nominalismo
42. Racionalismo Econmico
CAPTULO III
A Concepo de Vocao de Lutero
Tarefa da Investigao
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
3/57
43. "Profisso" ou Vocao?
44. Lutero e o Esprito do Capitalismo
45. Lutero e a Vida Profissional
46. Lutero e a Estrutura Social47. Tradicionalismo Econmico
48. Trabalho Profissional e Idias Religiosas
49. Tauler / Lutero
50. Calvinistas, Catlicos e Luteranos
51. Calvino e Seitas "Puritanas"
52. Reforma e Capitalismo
II PARTE
A TICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCTICO
CAPTULO IV
Fundamentos Religiosos Do Ascetsmo Laico
53. Ascetismo
54. Representantes Histricos
55. "Puritanismo" X Anglicanismo
56. Conduta Moral57. Compndios Casusticos
58. Moralidade Asctica e ticas No-Dogmticas
A - Calvinismo
59. Predestinao
I.Captulo IX: Do livre arbtrio
II. Captulo III: Do eterno decreto de Deus
III.Captulo X: Da Vocao eficaz
IV.Captulo V: Da Providncia
60. Milton
61 Padres da Igreja Luterana
62. Calvinismo X Lutero e o Catolicismo
63. Puritanismo
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
4/57
64. O Mundo
65. A F
66. A Religiosidade
67. Vida Religiosa
68. A tica Catlica69. A Igreja Catlica frente ao Homem
70. A Graa Sacramental da Igreja Catlica
71. O Destino do Calvinista
72. A Sustentao do Homem
73. Identidade entre Santo Incio e Calvino
74. Metodizao da Vida
75. Oposio entre Asceticismo Calvinista e Medieval
76. Racionalismo do Antigo Testamento
77. Consequncia da Metodizao
B - Pietismo
78. Predestinados
79. A Inaugurao do Pietismo
80. O Carter Histrico da Religiosidade
81. Efeito Prtico dos Princpios Pietistas82. Representantes do Luteranismo Alemo
I.Spencer
II. Francke
III. Zinzendorff
83. Tese Caracterstica de Zinzendorff
84. O Elemento Asctico Racional
85. Idias Fundamentais do Pietismo
86. A Evoluo do Pietismo
C - Metodismo
87. Afinidade com o Pietismo Alemo
88. Metodismo X Pietismo Alemo
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
5/57
89. Metodismo X Calvinismo
90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo
91. As Obras
92. Metodismo X Igreja Oficial
93. A Concepo de Regenerao
D - Seitas Batistas
94. tica
95. "Idolatria" e Religiosidade
96. Regenerao
97. Predestinao e o Carter da tica
98. Movimento Batista e a Vida Profissional
99. Moralidade
100. "Tunker"
101. Concepo Profissional Calvinista
102. Interesses Profissionais Econmicos
103. Efeitos do Calvinismo
104. Mercantilismo
105. Influncia da Idia Puritana sobre a Vida Econmica
CAPTULO V
A Ascese e o Esprito do Capitalismo
106. Ascese
107. Protestantismo e Atividade Econmica
108. Richard Baxter
109. Baxter e Calvino
110. Relao entre Baxter e So Toms
111. Racionalizao do Tempo
112. Racionalizao da Conduta Sexual
113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida
114. Relao entre Baxter e So Toms quanto ao Trabalho
115. Diviso do Trabalho
116. Religiosidade, Interesse Econmico e Profissionalizao
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
6/57
I. Concepo Econmica
II. Baxter
117. Pragmatismo
118. Mentalidade Judica e tica Econmica
119. Burguesia Puritana120. Vida Capitalista
121. Divertimentos Populares
122. Supersties e Irracionalismo de comportamento
123. Uniformizao e Capitalismo
124. "Esprito do Capitalismo"
125. "Agricultura Racional"
126. O Moderno "Homem Econmico"
127. Religio e Riqueza
128. Razes Religiosas e Plenitude Econmica
129. Empresrio Burgus, Trabalhador e a Mais-Valia
130. Teoria dos Salrios Baixos: Teoria da "Produtividade"
131. Zinzendorff, Seitas Batistas, Trabalho e Enriquecimento como
Profisso
132. O Esprito do Ascetismo Cristo
133. Goethe
134. A Realizao do Ascetismo
135. Capitalismo Vitorioso136. Obra Inacabada de Weber, Ele Prprio No Refutaria Sua Tese
SUMRIO
137. Um Breve Relato
UMA PEQUENA REFLEXO
INTRODUO:
1.Cincia e Cultura:
ndia, China, Babilnia, Egito atravs de conhecimentos empricos
pensaram sobre os problemas do mundo e da vida, filsofos
racionalistas e telogos fizeram suas observaes, porm foi somente
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
7/57
no Ocidente a partir de determinados fenmenos culturais que pode-
se sistematizar de forma pragmtica a Cincia. somente no Ocidente
que existe uma cincia jurdica racional, contendo esquemas e
categorias jurdicas do Direito romano e do Direito ocidental.
I. Arte:
A. Msica:
O mesmo se d em relao a arte, no caso da msica, apesar dos
povos terem muitos conhecimentos sobre a mesma, somente no
Ocidente que a msica harmnica racional, onde a orquestra possui
seu quarteto de cordas como ncleo da organizao de um conjunto de
instrumentos, tendo como instrumentos bsicos: rgo, piano e violino.
B. Arquitetura:
Desde a antiguidade, na sia e no Oriente, o arco em ojiva foi
usado como decorao, porm somente no Ocidente que se conhece
a sua utilizao racional no sentido de distribuio de peso, como
cobertura de espaos, bem como a utilizao em edifcios
monumentais, abrangendo a escultura e a pintura pela utilizao
racional de linhas e de perspectiva espacial e da luz.
C. Imprensa:
Na China havia a tipografia, mas s no Ocidente que existe uma
literatura da impresso, como a de revistas e jornais.
II.Especialistas:
Na China e no Islo havia Ensino Superior bem semelhantes a
Universidades e Academias do Ocidente, porm no havia o ensino
sistematizado e racional no sentido de formar especialistas, bem como
o funcionrio especializado, que de muita importncia para o Estado
moderno e para a moderna economia europia. O funcionrio
especializado fora do Ocidente no tem nenhuma importncia para a
ordem social. A cultura ocidental rechassada por conter uma enorme
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
8/57
organizao de funcionrios especializados, desde tcnicos a jurdicos,
como elementos vitais do funcionamento da vida social.
2.Estado:
O Estado estamental s existe na Europa e somente no Ocidenteexistem Parlamentos com "representantes do povo" eleitos, com
demagogos e governo de lderes com ministros responsveis perante o
parlamento. natural que no mundo existam "partidos" no sentido de
organizaes que querem conquistar o mundo, ter poder. No ocidente,
que existe o "Estado" como organizao poltica com uma
"Constituio" racionalmente estabelecida, com um direito
racionalmente instituido e uma administrao feita por funcionrios
especializados. Leis fora do ocidente s existe de forma rudimentar,
pois falta a combinao de elementos decisivos.
3.Capitalismo:
O capitalismo como poder mais importante da vida moderna
busca o lucro, o enriquecimento. A tendncia para o enriquecimento,
para a obteno do lucro cobiada por vrios membros da sociedade:
mdicos, artistas, funcionrios corruptos, soldados, ladres e muitos
mais. Em todas as pocas e em todos os lugares da Terra, em todas as
circunstncias em que exista a possibilidade objetiva de ganhar, deobter lucro, esta tendncia para o enriquecimento mostra-se como uma
constante.
O Capitalismo o verdadeiro "esprito" da "ambio". O
Capitalismo deveria se colocar como moderao racional do impulso
irracional lucrativo, porm ele, na verdade, anda de mos dadas com a
ganncia do trabalho incessante racional capitalista, a ganncia sempre
renovada pela rentabilidade.
4.Renda:
Dentro da ordem capitalista de economia, o esforo prprio
quando no direcionado no sentido de conseguir rentabilidade est
condenado ao fracasso.
5.Ato de Economia "Capitalista":
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
9/57
Coloca-se na espectativa de uma ganncia prpria de um jogo
com probabilidade de troca, pacfica de lucro. Apesar de ser atual
adquirir coisas por meios violentos, com leis prprias, no oportuno
faz-lo, nem mesmo colocar na mesma categoria a atividade orientada
para a troca.O que interessa assinalar que a atividade econmica consiste
em um clculo de valor obtido para o modo de realizao. Nesse
sentido, "Capitalismo" e "empresas capitalistas" (com racionalizao de
clculo de capital) existem em todos os pases civilizados do mundo:
China, ndia, Babilnia, Egito, Antigidade Helnica, Idade Mdia e
Moderna. So economias em contnuo desenvolvimento, gerando
empresas capitalistas, "indstrias" estveis. A empresa capitalista com
seu empresrio so produto dos tempos mais remotos difundidos
universalmente.
No Ocidente, o Capitalismo tem uma importncia, formas,
caractersticas e direes que no se tem em nenhum outro lugar. No
mundo todo, existem pequenos e grandes comerciantes localizados e
difundidos, negcios, bancos com vrias funes, consignaes e
associaes. Sempre houve coorporaes pblicas, elas j haviam
aparecido na Babilnia, Grcia, China, ndia, Roma e em muitos outros
lugares, estas financiavam guerras e piratarias, para construes de
todo tipo: a poltica ultramarina serviu de empresrio colonial, comocompradora e cultivadora de plantaes com trabalhadores escravos.
O aventureiro capitalista desempenhava o papel de administrador
das reparties e de impostos. Era o arrendatrio, o financiador
partidrio, inclusive na guerra civil, "especulador" do lucro que nunca
deixou de existir.
No Ocidente, existe uma forma de capitalismo que no tem em
nenhum outro lugar do mundo: a organizao racional-capitalista do
trabalho formalmente livre. A moderna organizao racional do
capitalismo europeu no seria possvel sem a interveno dos
elementos determinantes de sua evoluo: a separao da economia
domstica da indstria e a criao de uma contabilidade racional. A
economia domstica contrria a economia ocidental. Fora do
ocidente no existe organizao racional do trabalho, nem mesmo um
socialismo racional.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
10/57
Sempre houve "luta de classes" entre credores e devedores, entre
latifundirios e despossudos, entre o servo da gleba e o senhor da
terra, entre o comerciante e o consumidor; a luta tem caractersticas da
Idade Mdia Ocidental entre os trabalhadores e os exploradores do
trabalho, presente em todas as partes. Somente no Ocidente queocorre a nova oposio entre o grande empresrio e o operrio livre,
por isso em nenhuma outra parte tenha sido possvel a ocorrncia do
socialismo.
No que diz respeito a cultura da histria universal, e do ponto de
vista econmico o que mais interessa a origem do capitalismo
industrial burgus com a sua organizao racional do trabalho livre, isto
, a origem da burguesia ocidental com suas caractersticas prprias,
pois tem uma relao intrnsica, isto , identifca-se com a origem da
organizao capitalista do trabalho.
6.Tcnica e Capitalismo:
O capitalismo moderno influenciado pelos avanos da
racionalidade tcnica, pelos clculos exatos; as cincias naturais e
racionais com base na matemtica e na experimentao tiveram
grande impulso motivadas pela tcnica e sua aplicao junto a
economia propiciou progresso aos capitalistas, que o resultado
econmico desejado pelo Ocidente.
7. Direito e Capitalismo:
O desenvolvimento do moderno capitalismo industrial comercial
necessita do Direito e da administrao, com regras, para que haja uma
indstria racional privada com capital fixo e clculo seguro. Somente no
Ocidente possvel um Direito e uma administrao com perfeio
formal tcnico-jurdica. Tal desenvolvimento s foi possvel por causa
de um "racionalismo" especfico e
peculiar da civilizao ocidental, pois processos de racionalizao
podem se dar
em todas as partes e esferas de vida.
8.Caractersticas Peculiares do Racionalismo Ocidental:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
11/57
Estas deram origem ao mesmo. O racionalismo econmico
depende da tcnica e do Direito racional, bem como da capacidade e
apitdo dos homens para determinados tipos de conduta racional. Os
elementos mais importantes desta conduta encontam-se no passado,
nos poderes mgicos e religiosos e na idia do dever tico. Este oponto central mais importante, isto , como os mesmos determinam
uma "mentalidade econmica", um "ethos" econmico.
9.Coneces da tica Econmica Moderna com a tica Racional
do Protestantismo Asctico: Um dos Aspectos de Relao Causal:
Muitas culturas encontram-se em oposio a civilizao ocidental,
as coneces da tica religiosa so diversas entre as sociedades, cada
pas com sua conduta prpria, tem suas influncias caractersticas, que
s podem ser captadas se forem confrontadas atravs de uma
investigao etnogrfica-folclrica.
No aspecto antropolgico, somente no Ocidente que se tem
determinados tipos de racionalizao, o fundamento para tal encontra-
se em determinadas causas hereditrias, na herana biolgica. Todo
trabalho sociolgico e histrico deve descobrir as influncias e
coneces causais que expliquem as reaes s condies ambientais.
I PARTE
O PROBLEMA
CAPTULO I
Filiao Religiosa e Estratificao Social
So aspectos reais que tem poderosa influncia na ordem
externa, interessando o aspecto prtico da religio, isto , os
proprietrios do capital, a mo-de-obra mais qualificada, principalmente
os tecnicos, os especialistas das
modernas emprsas serem protestantes.
Tal considerao deve-se em parte a motivos histricos, que tem
suas razes no passado, onde a filiao religiosa no parece ser a causa
de fenmenos econmicos e sim uma consequncia dos mesmos.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
12/57
A maioria das naes mais ricas se converteram no sculo XVI ao
protestantismo, os efeitos desta converso beneficiaram os
protestantes na luta econmica pela existncia.
10.Problema Histrico:Por que eram estes e no outros que se mostraram predispostos
para uma revoluo eclesistica? Possivelmente a ruptura com o
tradicionalismo econmico pareceu ser no momento, favorvel para
uma inclinao da luta contra uma tradio religiosa e que acabou por
rebelar-se contra as autoridades tradicionais.
11. Reforma:
A Reforma no significava unicamente a eliminao do poder
eclesistico sobre a vida, e sim a substituio de uma forma atual do
mesmo por uma diferente, que interferisse de modo maior em todas as
esferas da vida pblica e privada, regulando a conduta individual.
Povos com economia moderna se submetem Igreja Catlica, "a
qual castiga o herege mas que indulgente com o pecador". A forma
mais insuportvel de controle eclesistico sobre a vida individual de
domnio do calvinismo no sculo XVI e XVII em muitos pases.
12. Calvinismo:Pases economicamente progressivos com classes mdias recm
"burguesas" aceitaram essa tirania puritana at ento desconhecida,
inclndo uma defesa de um herosmo de que a burguesia no havia
dado prova at ento.
13. Razo Econmica:
A porcentagem de catlicos entre alunos e bacharis dos centros
"superiores" so inferiores proporo demogrfica. Bacharis catlicos
que se dedicam a preparao para estudos tcnicos e profissionais de
tipo industrial e mercantil, em geral inferior ao de protestantes.
14. Ensino:
Os catlicos preferem formao do tipo humanista, tal fenmeno
no se explica por uma causa econmica , pelo contrrio, tem que ser
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
13/57
levado em conta para explicar a menor participao dos catlicos na
vida capitalista.
O fato dos protestantes se lanarem mais que os catlicos para
postos superiores em fbricas e na burocracia industrial porque existe
uma relao causal entre a escolha de uma profisso e todo destinoanterior a vida profissional que havia sido determinado pela educao
de uma aptido pessoal, em uma direo influenciada por uma
atmosfera religiosa da ptria e do lugar.
15. Racionalismo Econmico:
Os protestantes mostram singular tendncia para o racionalismo
econmico, tendncia esta no encontrada entre os catlicos. A razo
de distinta conduta est numa determinada caracterstica pessoal
permanente e somente em uma certa situao histrico-poltica.
16. Antteses entre Catolicismo e Protestantismo:
Os ideais do catolicismo vo em direo a educar seus fiis no
sentido a indiferena para com os bens materiais, enquanto o
protestantismo tem o "materialismo" como consequncia de uma
laicizao.
17. Catlicos e Protestantes: explicitado nesta obra que os protestantes colocam em xeque a
abnegao dos catlicos, o que existe apenas uma suposta oposio
entre os dois, na realidade esta oposio no ocorre, uma vez que
ambos participam da atividade capitalista.
18. O Calvinismo e a Reforma:
A conjuno de uma educao asctica na juventude com a
"virtude" capitalista no sentido dos negcios aliada a uma intensa
religiosidade, esto em todos os atos da vida, constituindo grupos
inteiros, seitas e igrejas mais importantes do calvinismo em qualquer
lugar.
Na poca da expanso da Reforma, nenhuma religio foi
vinculada a uma classe social determinada, pois caracterstico,
"tpico" por exemplo que nas igrejas francesas hugonotas, o maior
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
14/57
nmero de seus adptos eram formados por monjes e industriais
(comerciantes, artesos), em toda poca da perseguio.
Os espanhois sabiam que a "heresia" "favorecia o esprito
comercial", estava de acordo com o crescimento capitalista nos Pases
Baixos. Gothein qualifica a Dispora calvinista como o "viveiro daeconomia capitalista". Existe uma coneco religiosa da vida e o
desenrolar intenso do esprito comercial.
19.Velho Protestantismo:
Lutero, Calvino e outros tem pouco a ver com o que se chama
hoje de "progresso", uma vez que eram hostis a muitos aspectos da
vida moderna da qual o propsito protestante atual no pode relegar. O
parentesco entre o velho e o novo protestantismo no encontra-se nas
manifestaes do esprito materialista, e sim nas suas caractersticas
religiosas. Conforme Montesquieu, a contribuio que os ingleses
deram ao mundo foram: a religio, o comrcio e a liberdade. Tal
pensamento coincide com a superioridade da ordem industrial, sua
aptido para a liberdade.
CAPTULO I
O Esprito do Capitalismo
20.Esprito Capitalista:
No uma definio, um conceito e sim um objeto que se
investiga.. Este objeto a "individualidade histrica", um conjunto de
conexes na realidade histrica, que se agrupa
conceitualmente como um todo, desde o ponto de vista de
sua significao cultural. Seu contedo se refere a um fenmeno cuja
significao radica-se em sua peculiaridade individual. Tem que se levar
em considerao os distintos elementos da realidade histrica, logo a
definitiva determinao conceitual s pode se dar ao trmino da
investigao.
21. AHistria e o Objeto:
uma essencial caracterstica de toda "formao de conceitos
histricos", para seus fins metdicos, a articulao em coneces
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
15/57
genticas concretas, de ordem individual. No se pode definir o objeto
de antemo, apenas pode-se ter uma antecipao, uma descrio
provisional do mesmo, do "esprito do capitalismo", esprito este que
carece de uma relao direta com o religioso, sendo assim, encontra-se
"isento de suposies".
22.Princpios de Franklin:
- "Pensa que tempo dinheiro".
- "Pensa que crdito dinheiro"
- "Pensa que o dinheiro frtil e reprodutivo".
"Pensa que, segundo este refro, um bom pagador dono da
bolsa alheia".
"Pontualidade e justia em todos os negcios faz progredir na
vida".
"As mais insiguinificantes aes podem influir sobre o crdito de
um homem, por isto devem ser temidas por ele"
"Procurar aparecer sempre como um homem cuidadoso e
honrado, assim seu crdito aumentar".
"No deve o homem ter grandes despesas, deve economizar para
o futuro". .
23.Benjamin Franklin:
Escreve com peculiar estilo, o "esprito do capitalismo", mas suaobra no contm todo o entendimento sobre tal "esprito". Segundo
Franklin, o homem tem "esprito capitalista", mas no sabe ganhar
dinheiro.
24.Filosofia da Avareza:
o ideal do homem honrado dgno de crdito, e sobre tudo, a
idia de uma obrigao por parte do indivduo frente a interesses,
reconhecido como um fim em
s, de aumentar seu capital. No se trata apenas de uma tcnica e sim
de uma "tica" peculiar, no se trata simplesmente de ensinar a
"prudncia nos negcios" trata-se de um "ethos" que expresso, e isto
o mais importante a assinalar.
25. Jacobo Fugger:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
16/57
Segundo Fugger, ao se ganhar o bastante, era aconselhvel abrir
negcio prprio deixando o caminho livre para que outros tivessem a
mesma oportunidade. Seu parecer, e sua aspirao de ganho, o
"esprito", eram completamente distintos da posio espiritual de
Franklin, a qual se manifesta como consequncia de um espritocomercial atrevido e de uma inclinao pessoal de indiferena tica. O
conceito deste "esprito do capitalismo" utilizado no moderno
capitalismo europeu-ocidental e americano.
26. Utilitarismo:
Todas as mximas morais de Franklin foram disvirtuadas no
sentido utilitarista: a moralidade til porque proporciona crdito, o
mesmo ocorre com a pontualidade, a laboriosidade, a moderao, e so
virtudes por causa disto, de onde se parte, que a aparncia dehonradez prestasse idntico servio, onde o suficiente seria um parecer
honrado. Quando Franklin trata a "converso" virtudes, como
modstia, no sentido dos proveitos que a mesma proporciona,
beneficiando concretamente ao indivduo.
O Utilitarismo se baseia na idia da aparncia da virtude, quando
assim se consegue o mesmo efeito que com a prtica da virtude:
consequncia esta inseparvel do mais estreito utilitarismo.
27. Utilidade da Virtude:
Franklin se refere a uma revelao divina, no sentido de haver
descoberto a "utilidade" da virtude, desta maneira havia querido
mostrar Deus a via virtuosa, declarando que aqui existe algo mais que
a simples envoltura de mximas puramente egocntricas, por isto
mesmo que nesta "tica" h aquisio de mais e mais dinheiro,
evitando o gozo imoderado, como algo isento do ponto de vista
utilitrio, como um fim em s, como algo transcendente frente a
"felicidade" a utilidade do indivduo em particular.
No se trata de ganncia para as satisfaes de necessiadades
vitais
materiais do homem, e sim o que este deve adquirir, por ser esta a
finalidade de sua vida. Trata-se de uma "inverso" antinatural da
relao entre o homem e o dinheiro, para o capitalismo, algo evidente
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
17/57
e natural e que ao mesmo tempo, contm uma srie de sentimentos em
ntima conexo com idias religiosas.
28. Trabalho ou Negcio?
A ganncia do dinheiro quando se verifica legalmente, representa,dentro da ordem econmica moderna, o resultado da expresso da
virtude do trabalho, e esta virtude, fcil reconhecer, constitui o cerne
da moral de Franklin, tal como ele coloca em todos os seus trabalhos e
exposies. a idia do dever profissional, de uma obrigao que o
indivduo deve sentir e a sente dentro de sua atividade "profissional",
utilizando a prpria fora de trabalho e "capital", esta idia
caracterstica da "tica social" da civilizao capitalista.
29. O Senhor Capital: o capitalismo, educa e cria pela via da seleo econmica os
sujeitos (empresrios e trabalhadores) que necessita. Esta seleo
explica os fenmenos histricos. Esta idia nasceu em grupos de
homens. Para o materialismo histrico ingnuo, as "idias" so
"reflexos", "superestruturas" de situaes econmicas na vida. Porm
deve-se recordar que o "esprito capitalista" j existia antes do
"desenrolar do capitalismo".
Na Antiguidade e na Idade Mdia, uma mentalidade como a queexpressa nos escritos de Franklin, haveria sido proscrita como
expresso de impura avareza, de sentimentos indgnos, como tambm
haveria de s-lo em todos os grupos no integrados na economia
especificamente capitalista ou que no sabem se adaptar a ela.
30. Esprito Capitalista e Pr-Capitalista:
A diferena no est no grau de desenvolvimento do impulso de
ganhar dinheiro e sim na submisso sem reservas, a um impulso
incontrolado. A aquisio capitalista aventureira sempre foi natural em
todas as sociedades econmicas que praticassem o comrcio
monetrio, contendo uma tica desvalorizada. Mesmo diante do colapso
da tradio a falta de tica no foi encorajada, simplesmente tida
como desagradvel, como fato dado e infelizmente inevitvel. Tal
reserva era exposta nos tempos pr-capitalistas, onde a utilizao
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
18/57
racional do capital e trabalho no haviam constitudo-se em foras
dominantes da atividade econmica.
O capitalismo no pode utilizar como trabalhador o representante
prtico do liberalismo arbitrrio indisciplinado, assim como no pode
usar ( como ensinava Franklin) o homem de negcios que no sabeguardar a aparncia de escrupolosidade.
31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo:
O "esprito" do capitalismo repousa no sentido de um novo estilo
de vida sujeito a certas normas, submetido a uma "tica" determinada.
No sentido do salrio desejado, tem-se que os salrios no aumentaram
em relao aos rendimentos dos empresrios, pelo contrrio,
diminuram por conta da ganncia extraordinria dos mesmos.
O "tradicionalismo" expresso na conduta de que o homem quer
"por natureza" no ganhar mais e mais, seno viver pura e
simplesmente, como sempre tem vivido, e ganhar o necessrio para
seguir vivendo.
O moderno capitalismo tem a intenso de acrescentar a
"produtividade" do trabalho humano aumentando sua intensidade, no
sentido de obteno de lucro. Aumentando a jornada de trabalho,
rebaixando os salrios para forar os trabalhadores a trabalhar mais
que o devido para que os empresrios continuem a obter seu lucro.Assim existe uma correlao entre o baixo nvel de salrios e o aumento
da ganncia do empresrio.
O capitalismo tem como premissa bsica que os salrios inferiores
so "produtivos", uma vez que aumentam o rendimento dos
trabalhadores, tal pensamento encontra-se de acordo com o antigo
calvinismo, o povo s trabalha demasiado porque pobre.
Salrio inferior no idntico a trabalho barato. Seguindo neste
ponto de vista, o rendimento do trabalhador deca quando o salrio no
basta para satisfazer suas necessidades fisiolgicas.
32.Trabalho Qualificado (Intelectual):
Dentro do ponto de vista comercial, o salrio baixo como base de
desenvolvimento capitalista fracassa sempre quando se trata de
conseguir produtos
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
19/57
que exijam um trabalho qualificado (intelectual), neste caso o salrio
baixo no
rentvel e causa efeitos contrrios aos pretendidos, assim sendo
necessrio levar em considerao a eterna questo de combinar a
ganncia costumeira com o mximo de comodidade e o mnimo derendimento, e ainda mais, a prtica do trabalho como um fim absoluto,
como "profisso".
Esta mentalidade produto de um processo educativo. Para o
capitalismo hoje fcil recrutar trabalhadores em todos pases
industriais e , dentro de cada pas, em todas as esferas da industria,
porm no passado, o problema era difcil em cada caso.
33. Formao Religiosa e Educao Econmica:
Quando as pessoas possuem uma especfica formao religiosa,
principalmente aquelas decorrentes da doutrina na predestinao so
mais favorveis a uma educao econmica, se sentem mais
"obrigadas" ao trabalho, no sentido econmico, da ganncia, em sua
quantia, como tambm possuem um astero domnio sobre s, uma
moderao que aumenta sensivelmente a capacidade do rendimento do
trabalho.
Deste forma fica provado que possvel considerar o trabalho
como um fim em s, como "profisso", que o exigido pelo capitalismo,logo possvel superar a parsimnia tradicionalista. Atravs do
capitalismo atual, e de indagaes possvel observar pocas distintas
da formao do mesmo e fazer coneces da capacidade capitalista de
adaptao com os fatores religiosos.
34. A "Satisfao das Necessidades" e o "Lucro" /
"Tradicionalismo".
O que Sombart chama de sistema da economia de "satisfao
das necessidades" coincide com o que se chama de "tradicionalismo".
Precisamente quando se compara conceitos "necessidade" e
"necessidade tradicional". O que ele chama de "capitalismo" no se
encontra na esfera das economias "aquisitivas", entra no mbito das
"economias de satisfao de necessidades".
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
20/57
Neste sentido, a expresso "esprito do capitalismo (moderno)"
designa uma mentalidade que aspira obter um lucro propiciando
sistematicamente uma profisso, uma ganncia racionalmente legtima
como que exposto por Franklin, por isto que tal mentalidade tem
encontrado sua realizao na moderna empresa capitalista, ao mesmotempo, que esta pode reconhecer o mais adequado impulso espiritual.
No sculo XVI ocorriam tipos de atividade econmica como as
grandes exportaes que s poderiam se dar na "forma" de empresa
capitalista, mas
possvel que o "esprito" que animou sua direo fosse de um estreito
tradicionalismo; tanto nos negcios, como os grandes bancos de
emisso no poderiam ser dirigidos de outro modo; o grande comrcio
ultramarino durante vrias pocas se apoiou em uma base de
monoplios, regulamentaes de carter rigorosamente tradicionalista.
Os comrcios que necessitam de ajuda do Estado, esto em marcha de
mudanas, pondo fim ao tradicionalismo, acabando com as formas do
antigo sistema de trabalho domstico.
No passado, a ganncia era razovel, a suficiente para se viver
decentemente e, capaz de contribuir para a formao de um pequeno
capital, no geral, os concorrentes davam-se bem entre s, pela grande
coincidncia nos princpios do negcio; visitavam-se, bebiam juntos,
enfim, tinham um rtmo moderado de vida.Era uma economia "tradicionalista" , se considerar o esprito que
animava os empresrios: o gnero tradicional de vida, a ganncia
tradicional, a medida tradicional do trabalho, o modo tradicional de
levar o negcio, a relao com os trabalhadores, a clientela tradicional e
o modo tradicional de tratar com a mesma, de efetuar transaes. Este
tradicionalismo dominava a prtica do negcio e pode-se dizer que
constituia a base de um "ethos" deste tipo de empresrio.
35. Modificaes:
Este bem-estar foi pertubado, se bem que no produziu uma
variao fundamental na forma de organizao. Tratva-se de
adaptao as novas necessidades e desejos dos compradores, uma
"acomodao ao gosto" de cada um, comeou-se a colocar em prtica
o princpio: "preo barato, grande consumo".
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
21/57
Desta forma teria incio o processo de "racionalizao", o incio da
luta spera entre os concorrentes, constituio de patrimnios
considerveis, que no eram simplesmente fontes de renda, mas sim
voltado para negcios; a vida pacfica deu lugar a uma austera
sobriedade, onde havia a preocupao em no gastar para enriquecer.O mais interessante que no era a influncia do dinheiro novo que
provocava esta revoluo, era o novo esprito, o "esprito do
capitalismo" que havia se introduzido.
36. Novo Capitalismo:
Quando este desperta e se impe, cria as possibilidades que lhe
servem de meio de ao. Porm este novo esprito no se introduz de
modo pacfico. Desconfiana, dio, indignao moral envolveu os
primeiros inovadores.
Este "novo estilo" fazia com que o empresrio devesse manter
domnio sobre s, e para salvar-se do naufrgio moral e econmico
deveria ter extraordinria firmeza de carter; e alm de sua clara viso
e de sua capacidade para a ao, este deveria possuir qualidades
"ticas" claras para ganhar a confiana indispensvel da clientela e dos
trabalhadores, devendo ter alm disto fora suficiente para vencer as
inmeras resistncias que ele haveria de se chocar em todos os
momentos.E sobre tudo isto este homem deveria ter extraordinria
capacidade para o trabalho que se faz necessrio para um empresrio
desta natureza, o que incompatvel com uma vida de prazeres. Este
novo esprito encarna qualidades ticas especficas, de natureza distinta
as que se adaptam ao tradicionalismo dos tempos passados.
37. Novos Empresrios:
No eram especuladores, e sim escrupulosos, de natureza
prpria, especfica para a aventura econmica, no eram endinheirados
que criaram este novo estilo de vida retrado, porm sendo assim
possibilitavam o desenvolvimento da economia. Eram homens
educados na dura escola da vida, prudentes e fortes, sobrios e
perseverantes, entregues ao trabalho com devoo, com concepes e
"princpios" rigidamente burgueses.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
22/57
38. Relao entre a Conduta Prtica e os Princpios Religiosos:
Muitos acreditam que qualidades morais pessoais no tem nada a
ver com determinadas mximas ticas, com pensamentos religiosos, e
que portanto, o fundamento prprio do sentido mercantilista da vida de carter negativo, e quando relacionados tambm de carter
negativo.
39. O "Tipo Ideal" de Empresrio Capitalista:
Nada tem haver com ostentao grosseira ou refinada, evita o
gzo de seu
poder, embaraa-se quando reconhecido socialmente. A regra antes
de tudo ser modesto, antes que ser reservado. Sua riqueza no para
s, existindo somente a sensasso irracional de haver "cumprido"apropriadamente sua obrigao.
Atualmente, com nossas instituies polticas, civis e comerciais,
com as
atuais formas da indstria e a estrutura prpria de nossa economia,
este "esprito" do capitalismo poderia explicar-se, como produto de
adaptao. A ordem econmica capitalista necessita esta entrega a
"profisso" de enriquecer, uma espcie de comportamento perante
aos bens externos, adequado a estrutura, ligado a condies de triunfona luta econmica pela existncia, no possvel hoje se falar que
exista uma conexo necessria entre esse comportamento prtico e
uma determinada "concepo unitria do mundo".
40. "Concepo de Mundo":
determinada pela situao dos interesses poltico-comerciais e
poltico-sociais. Quem no adapta sua conduta prtica a condies do
xito capitalista, no consegue enriquecer. Assim como s foi possvel o
rompimento com as formas de constituio econmica medieval
apoiando-se no poder do Estado moderno, o mesmo pode ocorrer em
relao aos poderes religiosos.
41. Nominalismo:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
23/57
Alguns moralistas , da escola nominalista, aceitaram como dadas
as formas implantadas da vida capitalista, tratando de mostrar sua
licitude, sobre a necessidade do comrcio, mas provando que a
"indstria" desenvolvida constitua uma frente legtima de ganncia,
eticamente irreprovvel, e ao mesmo tempo, falaram da doutrinadominante considerando como lucro inevitvel o "esprito" do proveito
capitalista, o qual no podiam valoriz-lo do ponto de vista tico. Desta
forma, segundo eles, torna-se impossvel uma doutrina "tica" como a
de B. Franklin.
42. Racionalismo Econmico:
o motivo fundamental da moderna econmia. Conforme
Sombart, um crescimento da produtividade do trabalho que visa
romper os estreitos limites "orgnicos" naturalmente dados da pessoahumana, quando submetido todo o
processo da produo a pontos de vista cientficos. Este processo de
racionalizao na esfera da tcnica e da econmia influ sobre o "ideal
de vida" da moderna sociedade burguesa.
A idia de que o trabalho est a servio de uma racionalizao de
bens materiais para prover a humanidade, tem estado sempre presente
na mente dos representantes do "esprito capitalista" como um dos fins
que tem marcado diretrizes a sua atividade.Conforme Franklin escreveu, o racionalismo econmico se d
quando o moderno empresrio, com uma alegria vital, de cunho
"idealista" , proporcionada pela satisfao do orgulho de "haver dado
trabalho" a muitos homens e de ter contribudo para o "florescimento"
econmico de sua cidade, no sentido sensitrio e comercial v tal feito
como uma das mais importantes finalidades de sua vida profissional.
Uma das propriedades da econmia privada capitalista tambm
estar racionalizada sobre a base do mais estreito clculo, estar
ordenada com planejamento e austeridade, no sentido do xito
econmico aspirado, em oposio ao estilo de vida do campesinato, e
do "capitalismo aventureiro", que atende mais ao xito poltico e a
especulao irracional.
CAPTULO II
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
24/57
A Concepo de Vocao de Lutero
Tarefa da Investigao
43. "Profisso " ou Vocao?
A palavra "profisso" atravs de distintas lnguas carrega a idiade uma misso imposta por Deus, no demorou para que todos os
povos protestantes adotassem seu significado atual, no sentido de
vocao, "dever", "ofcio", no sentido puramente profano.
No somente no sentido literal, mas tambm como idia
nova,
produto da Reforma. Nem na Antiguidade, nem na Idade Mdia a idia
do trabalho implicava na idia de uma profisso, novo seu contedo
de conduta moral, como sentimento de um dever no cumprimento da
tarefa profissional no mundo. Como consequncia, o sentido sagrado
do trabalho que engendrou o conceito tico-religioso de profisso.
Em Lutero, esta idia se desenrola durante os primeiros dez anos
de sua atividade reformadora. Em princpio, seguindo a tradio
medieval representada
por So Toms de Aquino, estimava que o trabalho no mundo, quando
desejado por Deus, pertence a ordem da matria sendo como um
fundamento natural indispensvel da vida religiosa, no suceptvel de
valorao tica.Segundo Lutero, evidente que somente a vida contemplativa
carece de valor para justificar-se perante Deus, sendo produto de
desamor egosta, por isso necessrio submeter-se ao cumprimento
de deveres que precisa-se cumprir no mundo. Surge assim a idia do
trabalho profissional como manifestao palpvel de amor ao prximo,
onde o cumprimento das tarefas o nico caminho para satisfazer a
Deus, e isto ocorre porque assim Deus quer, e que portanto, toda a
profisso lcita possue diante de Deus o mesmo valor.
44. Lutero e o Esprito do Capitalismo:
No existe afinidade ntima entre os dois. Os crculos eclesisticos
que fizeram parte da Reforma, no so de modo algum amigos do
capitalismo, em nenhum sentido. Ele era contra a usura e os juros. O
efeito da Reforma, em contraste com a concepo catlica, foi
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
25/57
aumentar a nfase moral e o prmio religioso para o trabalho secular e
profissional.
O posterior desenvolvimento da concepo de vocao, passou a
depender do desenvolvimento da religiosidade, que da para frente foi
se dividindo nas vrias igrejas reformadas. A autoridade da Bblia, daqual Lutero acreditava retirar a autoridade de sua concepo de
vocao, favorecia em seu todo uma interpretao tradicionalista.
A aspirao para acumular bens materiais em medida superior a
prpria necessidade, manisfesta um estado de graa insuficiente,
condenvel, e s pode ter realizao as custas dos outros.
45. Lutero e a Vida Profissional:
Lutero estima o trabalho profissional, a medida que se engendra
nas disputas e nos negcios deste mundo. O exerccio de uma
determinada profisso constitui um mandamento que Deus dirige a
cada um, obrigando a permanecer na situao em que se encontre
colocado pela divina providncia.
46. Lutero e a Estrutura Social:
Este tipo de conceito de estrutura social tpico da Idade Mdia,
uma concepo tradicionalista anloga a idia de "destino"; cada qual
deve permanecer na profisso no estado em que seja colocado porDeus de uma vez para sempre e conter dentro destes limites todas as
aspiraes e esforos deste mundo.
47. Tradicionalismo Econmico:
resultado dessa estrutura social, que em princpio era resultado
de uma indiferena, e que mais tarde passou a ser fruto da crena cada
vez mais forte na predestinao, que identifica a obedincia
incondicional aos preceitos divinos, e a incondicional resignao como
posto em que cada qual se encontra situado no mundo.
48. Trabalho Profissional e Idias Religiosas:
Lutero baseou-se em princpios novos fundamentais para a
vinculao do trabalho profissional com as idias religiosas. A pureza
da doutrina, como o nico critrio infalvel de sua Igreja, afirmada por
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
26/57
ele, cada vez mais rgidamente depois de vinte anos de luta, constitua
em s mesma um obstculo para desenvolver pontos de vista novos no
terreno tico. Desse modo, o conceito de profisso manteve todavia em
Lutero um carter tradicionalista.
49. Tauler / Lutero:
A tica religiosa medieval traz a idia de profisso no sentido
luterano. Assim como Lutero, Tauler valorizava as profisses
intelectuais e profanas e, em geral estimava menos as formas
tradicionais do trabalho asctico, e consequentemente no gostava do
valor exclusivo reconhecido da recepo esttico-contemplativa do
esprito divino pela alma.
50. Calvinistas, Catlicos e Luteranos:
A reforma seria inimaginvel sem a evoluo personalssima de
Lutero e a prpria personalidade deste que deu um selo permanente;
porm sua obra no seria duradoura sem o calvinismo. Por esta razo
que os catlicos e luteranos aborreciam-se igualmente com o
calvinismo, a raiz est em sua tica. A relao entre a vida religiosa e
as obras deste mundo do tipo essencialmente distinto entre
calvinistas, catlicos e luteranos. Tal aspecto aparece incluso na
literatura religiosa.
51. Calvino e Seitas "Puritanas":
Quando se investiga as relaes entre a antiga tica protestante e
a evoluo do esprito capitalista parte-se das criaes de Calvino, do
calvinismo e de outras seitas "puritanas", no pretende-se afirmar que
os fundadores, representantes destas se encontrem no despertar do
que se chama "esprito do capitalismo", como finalidade de seus
trabalhos e atividades vitais.
Nenhum deles considerava a aspirao aos bens terrenos como
um valor tico, como um fim em s. Nenhum dos reformadores deu
importncia primordial aos programas de reforma moral, no eram
fundadores de associaes de cultura tica nem representavam
aspiraes humanitrias de reforma social e de ideais de cultura.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
27/57
A salvao da alma e s isto era o desejo de Calvino, desejo de
sua vida e sua ao. Suas aspiraes ticas e os efeitos prticos de sua
doutrina tinham uma finalidade primordial e eram meras consequncias
de princpios exclusivamente religiosos. Por isto os efeitos da Reforma
na ordem da civilizao, por preponderantes que se queira considerar,eram consequncias imprevistas e espontneas do trabalho dos
reformadores desviadas e diretamente contrrias a que eles pensavam
e se propunham.
52. Reforma e Capitalismo:
Para que fosse possvel a sobrevivncia da novas Igrejas criadas,
evidente que deveria cooperar incontveis condies histricas, que
no se engajam em nenhuma "lei econmica", e so radicalmente
insuceptveis de ser consideradas do
ponto de vista econmico; e sobre tudo influnciariam politicamente.
Seria
igualmente absurdo defender teses doutrinrias segundo a qual o
"esprito capitalista" s poderia ter nascido por influncia da Reforma,
como que o capitalismo fosse um produto da mesma.
Em primeiro lugar, existem formas importantes de econmia
capitalista que so notoriamente anteriores a Reforma, e isto desmente
as teses pretendidas. importante assinalar a existncia de influnciasreligiosas na expanso quantitativa daquele "esprito" sobre o mundo, e
que aspectos concretos da civilizao capitalista se devem a elas.
Dada a variedade de recprocas influncias entre os fundamentos
materiais, as formas de organizao poltico-social e o contedo
espiritual das distintas pocas da Reforma, a investigao h de
concretizar-se a fim de estabelecer se haviam existido e em que pontos,
"afinidades eletivas" entre certas modalidades da f religiosa e a tica
profissional.
II PARTE
A tica Vocacional Do Protestantismo Asctico
CAPTULO IV
Fundamentos Religiosos Do Ascetismo Laico
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
28/57
53.Ascetismo:
Conjunto de prticas de abstinncia com fins espirituais ou
religiosos.
54. Representantes Histricos:Os representantes histricos do protestantismo asctico so
fundamentalmente quatro: Calvinismo, Pietismo, Metodismo e as seitas
que derivam do movimento Batista.
O Metodismo nasceu dentro da Igreja oficial anglicana e depois se
separou da mesma. O Pietismo veio do Calvinismo ingls e
singurlamente do holands, mais tarde se incorporou ao Luteranismo
por razes dogmticas, e mais tarde se converteu no Metodismo contra
sua vontade.
55. "Puritanismo" X Anglicanismo:
A massa de seguidores, como os defensores do movimento
asctico, que em seu sentido mais amplo foi definido como
"puritanismo" atacaram os fundamentos do Anglicanismo. A oposio
dava-se principalmente pelas diferenas dogmticas relativas a
justificao e a predestinao, mesclando-se nas mais variadas
combinaes e de ordinrio, impediam no comeo do sculo XVII a
manuteno de uma comunidade eclesistica.
56. Conduta moral:
As manifestaes mais importantes da conduta moral encontram-
se ao mesmo tempo em todas as seitas surgidas de uma ou da
combinao de vrias assinaladas anteriormente. As mesmas mximas
morais, podem apoiar-se em fundamentos dogmticos diferentes.
57. Compndios Casusticos:
Eram escritos que constituam uma preciosa ajuda para a cura das
almas. Em relao a esses, haviam grandes semelhanas entre
distintas seitas, porm diferiam notoriamente no modo de comportar-se
na vida.
58. Moralidade Asctica e ticas No-Dogmticas:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
29/57
Razes dogmticas da moralidade asctica, to distintas entre s
deixaram de existir depois de srias lutas, porm a conexo com esses
dogmas deixou a posteriori traos nas ticas no-dogmticas, alm
disso, o conhecimento original de idias pode clarear a conexo desta
moralidade com a idia do Alm que estava presente entre os homensespirituais da poca.
Sem o poder onipotente no poderia realizar-se nehuma moral,
isto , no seria possvel revoluo tica alguma de modo a influir na
vida. O homem daquele tempo meditava sobre dogmas aparentemente
abstratos numa medida somente compreensvel quando se descobre
sua conexo com interesses prticos da religiosidade.
A - Calvinismo
uma idia religiosa, que foi determinante de muitas lutas em
torno da religio e da cultura nos pases civilizados mais progressivos
do ponto de vista do capitalismo (Pases Baixos, Inglaterra e Frana)
durante os sculos XVI e XVII. Seu dogma caracterstico a
"predestinao", o dogma mais "essencial" da Igreja reformada.
59. Predestinao:
I. Captulo IX: Do livre arbtrio:
Quando o homem ca em pecado, perde a capacidade de
encaminhar-se ao bem espiritual e a salvao, de modo que afastado
do bem e morto no pecado, no capaz de converter-se e nem de
preparar-se.
II. Captulo III: Do eterno decreto de Deus:
Para revelar sua magestade, Deus por seu decreto destinou
(predestinou) a uns homens a vida eterna e setenciou a outros a eterna
morte. Aos que esto destinados vida tem sido eleitos em Cristo para
a glria eterna por Deus, antes da criao, por seu desgnio eterno e
imutvel, por seu decreto secreto e o arbtrio de sua vontade, por livre
amor e graa, tudo prmio de sua graa soberana. Conforme a
vontade de Deus, aos restantes mortais, seguindo o desgnio de sua
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
30/57
vontade, ele distribu e se reserva o direito de negar, condena-os a
desonra e ira por seu pecado para a honra de seu ilimitado poder
sobre as criaturas.
III. Captulo X: Da vocao eficaz: do agrado de Deus chamar por sua palavra e seu esprito a
todos aqueles a quem destinou a vida, e somente a estes, no tempo
conveniente e determinado por ele, tirando-lhes seus coraes de
pedra e dando-lhes um corao de carne, renovando suas vontades e
decidindo-lhes, por sua firmeza onipotente, a optar pelo que bom.
IV. Captulo V: Da Providncia:
No que diz respeito aos homens maus e impuros, aos que Deus
como juz justo, ele os afasta de sua graa, e por vezes lhes tira os dons
que tinham e os pem em relao aos objetos de suas corrupes na
ocasio de pecado, entregando-lhes aos seus prprios prazeres, as
tentaes do mundo e ao poder de Satans, de onde sucede que se
endurecem e pelos mesmos meios se serve Deus para abrandar aos
outros.
60. Milton:
Sua opinio sobre a doutrina: "Mesmo que possa ser mandadopara o inferno por isto, tal vontade divina nunca receber meu
respeito". Ele ainda dizia no Paraso Perdido: "Antes reinar no Inferno,
do que servir no Paraso".
61. Padres da Igreja Luterana:
Era dogma que a graa podia perder-se, mas poderia-se recuper-
la por meio da humildade e do arrependimento, a confiana crescente
na palavra de Deus e nos sacramentos.
62. Calvino X Lutero e o Catolicismo:
Ao contrrio de Lutero, a direo de seu pensamento lgico est
em seus interesses religiosos, orientado somente Deus e no aos
homens, para ele somente um pequeno nmero de homens chamado
a salvar-se. Deus livre e sua deciso no est submetida a lei alguma.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
31/57
O destino dos homens a Deus pertence, para alm do
entendimento humano, os condenados, ou os excomulgados podiam
pertencer a Igreja, mas somente no sentido de submeter-se sua
disciplina, para a glria de Deus, mas no podiam salvar-se. Neste
sentido existia a eliminao da salvao atravs da Igreja e dossacramentos, esta era a diferena central entre o calvinismo e o
catolicismo..
63. Puritanismo:
Rejeitava cerimnias religiosas ou rituais na hora da morte, para
no ser reestabelecida supersties em foras de salvao mgicas. O
indivduo vive uma solido interna, que leva a atitude negativa do
puritanismo onde a cultura e a religiosidade so inteis para salvao
propiciando um individualismo pessimista, onde nem mesmo se
concebe a existncia de uma possvel amizade entre os homens,
devendo-se desconfiar de tudo e de todos, apenas ter Deus como
confidente, levando ao desaparecimento da confisso e
consequentemente ao isolamento espiritual.
64. O Mundo:
Existe apenas para a glorificao de Deus, o homem est inserido
no mundo para aumentar a glria de Deus, as obras sociais destinadasa Deus, aparecem como vocaes, sob a forma de "amor ao prximo",
objetivo, imparcial, intelectualizado, representando um valor tico
diante do cosmos.
65. A F:
Cada homem a princpio escolhido por Deus, desta forma
combate todas as dvidas e ao demnio, sua autoconfiana resulta de
sua f que fortalece a dedicao na luta diria pela vida dinamizando o
mercado capitalista atravs de uma incessante atividade profissional.
66. A Religiosidade:
o mais firme apoio a realidade, contribundo indiretamente para
a racionalizao da conduta prtica.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
32/57
67. Vida Religiosa:
Em Lutero tende para o misticismo e para a emotividade, em
Calvino para a ao asctica, onde o estado de graa tem haver com
resultados objetivos, de obras realizadas por conta de uma conduta
eficaz constante, significando que Deus ajuda a quem se ajuda a smesmo. O calvinista cr por s mesmo a sua prpria salvao,
assegurando a s mesmo, consistindo num sistemtico auto-controle,
cada dia encontra-se ante a alternativa: eleito ou condenado?
68. A tica Catlica:
Na Idade Mdia, era a "tica da inteno", onde o valor de cada
ao decidia sua concreta inteno, e cada ao boa ou m, era
imputada a seu autor, influenciando sobre seu destino temporal e
eterno.
69. A Igreja Catlica Frente ao Homem:
Seu pensamento tinha critrio realista, que o homem no
constituia em absoluto uma unidade determinada e valorosa dentro de
um nico ponto de vista, seno que, normalmente, a conduta humana
algo contraditrio, por influncia de motivaes opostas. Mesmo assim
a Igreja exigia do homem uma radical mudana de vida e quando este
homem no correspondia ao ideal, a mesma atravs de seu poder eeducao aplicava o instrumento do sacramento da penitncia.
70. A Graa Sacramental da Igreja Catlica:
Estava a disposio do catlico como meio de compensar sua
prpria insuficincia: O sacredote era um mago que fazia milagres, que
tinha em suas mos a chave do perdo, poda-se pedir ajuda a ele com
humildade e arrependimento, e ele administrava penitncias e
outorgava esperanas de graa, segurana de perdo e garantia a
emancipao da terrvel angstia.
71. O Destino do Calvinista:
Era inexorvel, nada podia redim-lo, no haviam conselhos
amistosos e humanos e de forma alguma existia reparao por meio de
boas obras das horas de debilidade e leviandade. As boas obras para o
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
33/57
calvinista encontrava-se em sua "santidade", no havia oscilao entre
o pecado, o arrependimento, a penitncia, no existia um
estabelecimento de um saldo expiatrio por penas temporais e
canceladas por meios eclesisticos da graa.
72. A Sustentao do Homem:
O que sustenta o homem uma planificao e uma metodizao,
uma transformao no sentido da vida em cada hora e em cada ao. A
vida do "santo" se encaminha para uma nica finalidade: a salvao,
por isso que na vida tudo racionalizado e dominado pela idia
exclusiva de aumentar a glria de Deus. Somente uma vida
guiada por uma constante reflexo pode ser considerada como
superao do status natural. Esta racionalizao propiciou o carter
asctico e ao mesmo tempo, constitui a razo de sua ntima
semelhana e de sua especfica oposico ao catolicismo, ao qual,
naturalmente, no era estranha uma atitude semelhante.
73. Identidade entre Santo Incio e Calvino:
Ativo domnio de s mesmo, reservado auto-controle, educao no
sentido de levar uma vida alerta, clara e consciente, onde a tarefa
principal repousava em se terminar com a despreocupao e com a
espontaneidade vital.
74. Metodizao da Vida:
a base do poder liberador do asceticismo, explica a maior
capacidade do calvinismo frente ao luteranismo, no sentido de
assegurar a consistncia da Igreja reformada como eclesistica
militante.
75. Oposio entre Asceticismo Calvinista e Medieval:
Radica-se na transformao do asceticismo sobrenatural em uma
atividade "profana", terrena. A ordem terceira de So Francisco, por
exemplo, era um potente ensaio de penetrao asctica na prtica
cotidiana da vida, diferentemente da Idade Mdia, onde o monge era
separado do mundo, das relaes sociais. A Reforma veio converter
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
34/57
cada cristo a monge por toda a sua vida, atravs da comprovao da
f na vida profissional.
Os espritos mais religiosos receberam impulso decisivo que os
orientavam na prtica do asceticismo, ao mesmo tempo, a
fundamentao da tica profissional na doutrina da predestinao fezsurgir no lugar da aristocracia espiritual dos monges situados fora da
vida uma outra aristocracia, a dos "santos" no mundo, predestinados
por Deus desde a eternidade, a qual estava separada do resto dos
homens, condenados tambm desde a eternidade, por um abismo
insondvel e profundo. A "Bibliocracia" dos calvinistas manteve tanto os
preceitos morais do Velho Testamento como apreo aos do Nvo
Testamento.
76. Racionalismo do Antigo Testamento:
Possua um carter tradicionalista e pequeno burgus, Benjamin
Franklin oferece um exemplo clssico, uma contabilidade sinptico-
estadstica dos progressos realizados por ele em cada uma das virtudes.
77. Consequncia desta Metodizao:
A consequncia desta metodizao da conduta tica, imposta
pelo calvinismo (no pelo luteranismo), era uma penetrante
cristianizao de toda a existncia, e esta radica a caracterstica maisdecisiva da reforma calvinista. A religiosidade calvinista, pressupe a
doutrina da predestinao como fundamento dogmtico da tica
puritana. A f como ponto de partida da moral metdica mediante a
doutrina da predestinao alcana sua praticidade na vida constitundo-
se na forma mais consequente da mesma.
Dentro do protestantismo, as consequncias desta doutrina sobre
a conduta tica de seus adeptos, constitui a mais radical anttese em
relao a uma certa impotncia tica do luteranismo.
B - Pietismo
Historicamente, a idia da predestinao constitui o ponto de
partida da direo asctica que se designa correntemente como
"pietismo". Este movimento se manteve somente dentro da Igreja
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
35/57
reformada, existem calvinistas pietistas e no-pietistas. Representantes
mais notveis do puritanismo foram tidos como pietistas, portanto
considera-se como uma prolongao pietista a doutrina de Calvino, que
tem por inteno a conexo da idia de comprovao da doutrina da
predestinao, com a aspirao a adquirir uma certitudo salutissubjetiva.
78. Predestinados:
Os predestinados eram acometidos por erros dogmticos, e por
outros pecados, a experincia ensinava que cristos desorientados na
teologia dogmtica produziam os frutos mais maduros da f, enquanto
que o mero conhecimento teolgico no implicava na segurana de
uma regenerao, logo, o saber teolgico no era garantia a eleio.
79. A Inaugurao do Pietismo:
Deu-se com desconfiana na Igreja dos telogos, a que
permaneceu fiel oficialmente, limitando-se a agrupar os adeptos da
praxis pietatis em "conventculos" apartados do mundo. A ecclesiola dos
verdadeiros convertidos podiam alcanar neste mundo a bem-
aventurana, pois a prtica asctica realizava a comunidade com Deus.
Esta aspirao tinha alguma semelhana com a unio mystica luterana e
favorecia certa preponderncia do aspecto sentimental da religio, isto o que caracteriza o pietismo dentro da Igreja reformada, pois o fator
sentimental da religiosidade, orientou a prtica da religio pela via do
gozo terreno da bem-aventurana afastando-a da luta asctica pela
segurana de um mundo futuro.
80. O Carter Histrico da Religiosidade:
Por causa do fator sentimental, muitas vezes a religiosidade foi
exarcebada, atravs de estados de xtasis religiosos, o que oposto a
austera e rgida disciplina que impunha ao homem puritano uma vida
"santa" e sistemtica. A idia na predestinao podia converter-se em
fatalismo quando era objeto de apropriao por parte dos afetos e dos
sentimentos, em oposio as tendncias genunas da religiosidade
calvinista racional.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
36/57
81. Efeito Prtico dos Princpios Pietistas:
O nico efeito prtico dos princpios pietistas foi um controle
asctico da conduta profissional muito mais severo com enraizamento
mais religioso da tica profissional, do que podia ter a simples
"honradez" dos cristos reformados normais, a quem os pietistas "finos"consideravam cristos de segunda categoria.
82. Representantes do Luteranismo Alemo:
Spencer, Francke e Zinzendorff.
I. Spencer :
influenciado pelos msticos, a doutrina carecia de coeso e
tratou mais de descrever do que fundamentar o carter sistemtico da
conduta crist.
II. Francke:
Segundo ele, o trabalho profissional era um meio asctico por
excelncia; para ele era to seguro, como para os puritanos, que Deus
abenou dando-lhes xito em seu trabalho. A tese sustentada por ele
era que a graa s podia acontecer em algumas manifestaes
ocasionais e peculiares, porm trazendo "luta expiatria".
III. Zinzendorff:
A valorizao religiosa de s mesmo, o conduz a antiga idia do
"instrumento de Deus". Expressou com esprito puritano, a opinio de
que apesar de um homem no reconhecer seu estado de graa, outros
podem faz-lo atravs de sua conduta.
83. Tese Caracterstica de Zinzendorff:
A ingenuidade do sentimento religioso prova de sua
autenticidade, desprezando o racionalismo da conduta. Aspira que os
homens sintam a "felicidade" nesta vida, por meio do sentimento, em
lugar de forar-lhes ao trabalho racional como modo de assegurar uma
outra vida. Este foi um freio para a criao de uma tica profissional
racional anloga a calvinista.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
37/57
84. O Elemento Asctico-Racional:
No geral, dentro do pietismo, o elemento asctico-racional
manteve a primasia sobre o fator sentimental. Existe uma insegurana
do pietismo alemo, uma vacilao de seu ascetismo religioso em
contraste com a frrea consequncia do calvinismo que devido ainfluncias luteranas e ao carter sentimental de sua religiosidade
85. Idias Fundamentais do Pietismo:
1) A significao do estado de graa consiste no desenvolvimento
da prpria santificao no sentido de uma consolidao e perfeio
crescente, controlado pela lei.
2) A providncia de Deus a que "opera" no homem perfeito,
dando-se a conhecer na paciente perserverana e na reflexo
metdica.
86. A Evoluo do Pietismo:
Na busca da salvao, no decisivo tanto a "santificao"
prtica mas a "remisso dos pecados", existe a necessidade de sentir
nesta vida a reconciliao e a comunidade com Deus. No todo, a
evoluo do pietismo, de Spencer, Francke e Zinzendorff se orientou no
sentido de uma crescente acentuao do fator sentimental. O
calvinismo em comparao, est mais relacionado com o legalismo ecom a emprsa capitalista burgusa.
C - O Metodismo
o pietismo continental caracterizado pela unio da religiosidade
sentimental, com a crescente indiferena e uma repulsa pelos
fundamentos dogmticos do asceticismo calvinista. Consiste na
"metodizao" sistemtica da conduta como meio de alcanar a
certitudo salutis, o que interessa em todos os momentos, em toda
tendncia religiosa.
87. Afinidade com o Pietismo Alemo:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
38/57
Est no "mtodo" aplicado especialmente para produzir o ato
sentimental da "converso" sobre as massas. Em reunies pblicas,
atravs de xtases religiosos buscava-se a conscincia da justificao e
a reconciliao com Deus.
88. Metodismo X Pietismo Alemo:
A diferena est no carter emocional da religiosidade do
metodismo que no deu lugar a um cristianismo sentimental puramente
interior, a regenrao d um enfoque religioso a conduta prtica.
89. Metodismo X Calvinismo:
Enquanto no calvinismo se considerava enganoso a exarcebao
do sentimento, para o metodismo, o fundamento incontrovertido da
certitudo salutis, da segurana absoluta do agraciado, sentida por ele,
derivada do testemunho direto do esprito e cuja origem devia constatar
cada dia e cada hora. A finalidade da "santificao" difcil ser
alcanada nesta vida, porm deve ser aspirada incondicionalmente, por
ser ela a garantia da certittudo salutis. Embora o auto-testemunho seja
decisivo, existe a necessidade da conduta "santa" inspirada na lei.
90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo:
O significado da conduta era o mesmo, indispensvel paracontrolar a verdadeira converso.
91. As Obras:
So fundamentos cognoscitivos do estado de graa, sendo
realizadas exclusivamente para a glria de Deus, foram consideradas
como "condio da graa", insistindo em que quem no realiza boas
obras no pode ser um bom crente. Aspira racionalmente perfeio.
92. Metodismo X Igreja Oficial:
A principal diferena no estava na doutrina e sim na prtica da
piedade. O valor do "fruto" da f apoiado no Evangelho de So Joo, I,
3, 9, considerou a conduta como claro significado da regenerao.
Cada luta expiatria se unia a segurana da perseverana, havia uma
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
39/57
segurana inabalvel em ser "santo", levando a uma exaltao
sentimental do tipo puritana.
93. A Concepo de Regenerao:
Constitui-se na segurana da salvao nascida sentimentalmentecomo fruto da f, como fundamento imprescindvel da santificao, com
sua consequncia de liberdade, contra o poder do pecado, como prova
do estado de graa. O metodismo passou a ser a doutrina da graa e da
eleio.
D - As Seitas Batistas
94. tica:
A tica se encontra numa base diferente da doutrina calvinista.
Constiui-se na apropriao interior da obra da redeno, realizada por
intermdio da revelao individual, pela ao do esprito divino em cada
caso. Frente a isso perdia a importncia o valor da f como
conhecimento da doutrina da Igreja como meio de receber a divina
graa pelo arrependimento. Como a verdadeira Igreja de Cristo, s os
regenerados so irmos de Cristo. Uma rgida bibliocracia imperava
como modelo exemplar de vida e como consequncia, uma estritaseparao do "mundo".
95. "Idolatria" e Religiosidade:
Existia uma repulsa radical a "idolatria", era pretendida uma
tenuao da venerao que s a Deus se deve, a conduta bblica tem
um carter anlogo a da conduta franciscana, onde a importncia em
ltima instncia era do testemunho interior do Esprito da razo e da
conscincia, no concebia a doutrina eclesistica da salvao
desvalorizando os sacramentos, elevando o "desencantamento"
religioso do mundo, acabou com batismo e comunho.
96. Regenerao:
Operada pelo Esprito, quando entrega-se interiormente a ele,
pode ser removido o pecado, no era regra geral alcanar a perfeio,
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
40/57
mas a aspirao a "pureza", no sentido da conduta. O afastamento do
mundo, de seus interesses e a incondicional submisso Deus que
manda a conscincia eram significados seguros de uma regenerao
real, e a conduta correspondente era, portanto, um requisito para se
conquistar as bem-aventuranas (dom gratuto da graa divina).
97. Predestinao e o Carter da tica:
Esta doutrina foi abandonada, o carter metdico da tica se
baseava em "aguardar" a ao de Deus, essa silenciosa espera
consiste em superar o instinto irracional, as paixes e "subjetividades"
do "homem natural".
98. Movimento Batista e a Vida Profissional:
A ao calma do homem possibilitou uma educao na serenidade
do trabalho reflexivo e na prtica cuidadosa do exame individual da
conscincia e a consequncia foi que a prtica de virtudes como
serenidade, austeridade e honradez, acabaram por fazer parte do
trabalho profissional, respeitando a propriedade privada, colaborando
para o desenvolvimento de aspectos bsicos do esprito do capitalismo.
99. Moralidade:
Era rgida e severa, desde Lutero, se condenava o ascetismosobrenatural monstico, considerando-o contrrio ao esprito bblico.
100. "Tunker":
Esta seita batista condena a educao, e qualquer posse alm do
indispensvel vida.
101. Concepo Profissional Calvinista:
A concepo profissional calvinista era anloga a que se
encontrava em Spencer e nos pietistas alemes.
102. Interesses Profissionais Econmicos:
1) No aceitao de cargos pblicos
2) Hostilidade a qualquer estilo aristocrtico de vida
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
41/57
103. Efeitos do Calvinismo:
Desencadearam as energias econmicas individuais, o lucro
imoderado.
104. Mercantilismo:
O controle, verdadeiramente policial e inquisitorial, que as Igrejas
oficiais calvinistas implantaram sobre a vida individual, podia melhor
constituir na expanso das energias individuais requerida pela
aspirao asctica de santificao metdica, e assim ocorreu em certas
circunstncias.
Assim a regulamentao mercantilista do Estado pode implantar
indstrias novas, porm no foi capaz de engendrar diretamente o
"esprito capitalista", pode-se at dizer que constituiu em um freio, pois
essa regulamentao exagerou seu carter policial-autoritrio.
Assim tambm a regulamentao eclesistica do ascetismo forou
a realizao de uma conduta externa, porm refreiou os impulsos
subjetivos que havia na conduta metdica.
105. Influncia da Idia Puritana Sobre a Vida Econmica:
A doutrina do "estado religioso de graa", como um status que
afastava o homem do "mundo" no podia dar-se por meios mgico-sacramentais, nem pela confisso, nem pela piedade e sim pela
comprovao de mudana de vida, clara, diferenciada da conduta do
"homem natural", segua-se que a partir da, o indivduo controlava
metodicamente sua conduta e portanto ascetizava seu comportamento
na vida. porm este estilo de vida racionalizava a existncia, de acordo
com os princpios divinos.
Este ascetismo consistia numa realizao exigida a quem
pretendesse ser "santo", na vida do mundo. Esta racionalizao da
conduta no mundo com finalidade para alm deste mundo foi o efeito
da concepo que o protestantismo asctico teve da profisso.
CAPTULV
A Ascese e o Esprito do Capitalismo
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
42/57
106. Ascese:
Exerccio prtico que leva efetiva realizao da virtude.
107. Prostestantismo e Atividade Econmica:
Para perceber as conexes das idias religiosas do protestantismoasctico com as mximas da atividade econmica, deve-se recorrer aos
escritos teolgicos diretamente inspirados na prtica da cura das almas;
pois em uma poca em que as preocupaes sobre a outra vida era
tudo, em que a admisso a comunho dependia da posico social do
cristianismo, e em que a ao do sacerdote exercia uma influncia da
qual apenas pode-se formar idia sobre os homens de hoje, evidente
que as energias religiosas que operam nesta prtica haviam de ser
necessariamente os fatores decisivos na formao do "carter popular".
108. Richard Baxter:
Representante do puritanismo ingls, nasceu no seio do
calvinismo, deu a idia de profisso seu fundamento mais consequente.
De posio prtica e irnica, presbiteriano, emancipou-se da tutela
dogmtica da ortodoxia calvinista, contrrio a usurpao de Cronwell
( por sua hostilidade a toda revoluo, sectrio e fantico dos "santos"),
porm tolerante ante as discrepncias em matrias no fundamentais e
sempre objetivo ante o adversrio, buscou seu campo de ao nofomento da vida tico-eclesistica e por servir esta finalidade, colocou-
se a disposio do governo parlamentarista, de Cronwell e da
Restaurao.
Seu Christian Directory o mais amplo compndio existente de
moral puritana, e, em geral trata de satisfazer as necessidades prticas
da cura das almas, acentuando especialmente os elementos ebionticos
do Novo Testamento. Segundo ele a riqueza constitui-se em s mesma
num grave perigo, suas tentaes so incessantes, e aspirar a ela no
s um absurdo por comparao com a infinita superioridade do reino
de Deus, como tambm ticamente reprovvel.
109. Baxter e Calvino:
Baxter quiz ser mais realista que Calvino, pois seu ascetismo
direcionava-se a matar toda a aspirao ao enriquecimento atravs de
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
43/57
bens materiais. Calvino podia at considerar que a riqueza constitua-se
num obstculo para a ao dos clrigos, no entanto, propiciava um
aumento de prestgio, e com o lucro poda-se aumentar um patrimnio,
porm sob a condio de no ocorrer escndalo.
110. Relao entre Baxter e So Toms:
Os dois acreditam ser reprovvel para a moral a existncia na
riqueza do gozo dos bens, em que a consequncia a sensualidade e a
ociosidade levando ao desvio das aspiraes uma vida "santa".
111. Racionalizao do Tempo:
Baxter considerava pecado a perda de tempo por ser a durao
da vida breve e preciosa, sendo condenvel do ponto de vista moral,
porm no considerava como Franklin que "tempo dinheiro", mas
quando gasto na vida social rouba-se do trabalho que tem por
finalidade servir a glria de Deus.
No aprovava a simples contemplao nem a ociosidade
profissional, sendo favorvel ao trabalho duro e continuado, corporal e
espiritual, sendo meio asctico reconhecido pela Igreja ocidental em
todos os tempos, previnindo as tentaes.
112. Racionalizao da Conduta Sexual:Concebia o sexo somente como um elemento do matrimnio,
desejado por Deus, para aumentar sua glria, de acordo com o preceito:
"crescei e multiplicai-vos". Era contra a tentao sexual e a angstia
religiosa, precrevendo remdios tais como, dieta sbria, regime
vegetariano, banhos frios, porm acima de tudo isso, "trabalhar
duramente em sua profisso".
113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida:
Prescrito por Deus, aplicando-se incondicionalmente a todos,
sentir-se disgostoso no trabalho prova de falta de estado de graa.
114. Relao entre Basxter e So Toms quanto ao Trabalho:
Embora So Toms tenha interpretado o princpio como Baxter,
ele tinha o trabalho como extritamente necessrio para a conservao
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
44/57
da vida individual e social, pois segundo ele, quando no existe esta
finalidade, cessa a validez do princpio, validez genrica, no individual.
Deus designou a cada um, sem distino alguma, uma profisso,
que o homem deve conhecer e na qual h de trabalhar, e que no
constitui, como no luteranismo, um "destino" que se tem que aceitar ecom o qual tem-se que conformar, um preceito que Deus dirige a
todos os homens com a finalidade de promover a prpria honra.
115. Diviso do Trabalho:
O fenmeno da diviso do trabalho e da estruturao profissional
j havia sido interpretado, entre outros, por So Toms de Aquino como
derivao direta do plano divino do mundo. A integrao do homem
neste cosmos causa natural e era puramente casual.
Para Lutero, a integrao do homem na profisso e estando na
ordem histrico-objetiva era derivao direta da divina vontade e
constitua, portanto, um dever religioso para o homem manter-se
dentro dos limites e na situao que Deus lhe havia designado.
116. Religiosidade, Interesse Econmico e Profissionalizao:
I. Concepo Puritana:
A concepo puritana adquire matizes novas quanto ao carterprovidencial da interao dos interesses econmicos-privados. Qual era
um fim providencial da admisso do homem a uma profisso, se
reconhece em seus frutos, segundo o esquema puritano de
interpretao pragmtica.
II. Baxter:
Baxter tecia elogios a Adam Smith, no tocante a diviso do
trabalho, a especializao das profisses, porque segundo ele,
possibilita a destreza do trabalhador, ocorrendo um aumento
quantitativo e qualitativo do trabalho promovendo um bem geral..
O ideal ter uma profisso fixa e no trabalhos ocasionais, a vida
de quem carece de profisso no tem o carter metdico, sistemtico,
que exige a ascetizao da vida no mundo, que consequncia da
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
45/57
virtude, uma comprovao do estado de graa da honradez, cuidado e
mtodo que se coloca no cumprimento da prpria tarefa profissional.
117. Pragmatismo:
Uma profisso til pela graa de Deus, determinada emprimeiro lugar por critrios ticos e, em segundo, pela importncia que
tem para a "coletividade" os bens que ela h de produzir, e em terceiro,
o mais importante, do ponto de vista prtico, o "proveito" econmico
que a mesma produz ao indivduo.
necessrio seguir o caminho que Deus mostra no sentido da
riqueza, pois no bom seguir outros caminhos desviando do
enriquecimento, porque significa que se colocou obstculos a vocao
negando ser administrador de Deus aceitando os dons para utilizar para
seu servio. Querer ser pobre querer estar enfermo, seria como
santificar as obras e ir contra a glria de Deus.
Pode-se trabalhar para ser rico, mas no utilizar a riqueza para
servio da sensualidade e dos pecados, seno para honrar com ela a
Deus, sendo este um preceito obrigatrio.
118. Mentalidade Judica e tica Econmica:
Coincide com a do capitalismo "aventureiro" do tipo poltico-
especulativo, seu ethos, do capitalismo pria, o puritanismo tem oethos da indstria racional burguesa e da organizao racional do
trabalho, e s o que se engaja nestes moldes que foi tomado da
tica judica.
119. Burguesia Puritana:
Achava que sua conduta era irreprovvel pela graa de Deus,
determinando o carter formalista, austero e correto, prprio dos
exemplares representantes daquela poca herica do capitalismo.
120. Vida Capiltalista:
O estilo de vida capitalista na concepo puritana de profisso o
ideal de uma conduta asctica. A ascese se dirigia contra a
"despreocupao" da existncia e agindo-se ao contrrio, isto ,
mostrando-se preocupado, tera-se alegria.
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
46/57
121. Divertimentos Populares:
Os puritanos combateram com fria a disposio real, que
tolerava legalmente certos divertimentos populares no domingo, fora
das horas dedicadas ao cumprimento dos deveres religiosos, no sporque pertubava o descano do sbado, mas porque implicava numa
direta oposio a que deve ser ordenada a conduta do "santo".
O gozo desenfreado da vida, alheio ao trabalho profissional, era
inimigo do ascetismo racional, bem como os jogos, ou uma frequente
ida ao baile da taberna, prprio do homem vulgar, existia tambm uma
hostilidade frente aos bens culturais quando disvinculados da vida
religiosa, ou mesmo os que causassem polmica teolgica, respeitando
porm a cincia.
122. Supersties e Irracionalismo de Comportamento:
Os puritanos odiavam a administrao mgica da graa, indo
tambm contra o despreocupado sentido artstico da Igreja.
Condenavam o teatro, o erotismo, a nudez e todo o modo irracional de
comportamento, por no servir a glria de Deus, apenas ao homem..
Empregaram finalidades na utilizao de motivos artsticos, e este
critrio racional foi inclusive aplicado nos trajes pessoais.
123. Uniformizao e Capitalismo:
A tendncia a uniformizao que tem conexo com interesses
capitalistas na estandartizao da produo, tem seus fundamentos
ideais na repulsa da "idolatria". O estilo vital puritano, favoreceu
predominantemente a literatura e as geraes posteriores. Quanto
maior for a riqueza, tanto mais forte o sentimento de
responsabilidade por sua converso para a glria de Deus, isto por meio
de um trabalho incessante.
A gnisis deste estilo de vida tem alguma de suas razes (como
tantos outros elementos do moderno esprito capitalista) na Idade
Mdia, porm somente na tica do protestantismo asctico, que se v
de modo claro seu alcance para o desenvolvimento do capitalismo..
124. "Esprito do Capitalismo":
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
47/57
A valorizao tica do trabalho incessante, continuado e
sistemtico na profisso absolutamente segura e visvel de regenerao
e de autenticidade da f, construiu a mais poderosa expanso da
concepo da vida que temos chamado "esprito do capitalismo".
Se a estrangulao do consumo juntarmos a emancipao doesprito de lucro de todos os trabalhos, o resultado inevitvel ser a
formao de um capital como consequncia desta conexo asctica
para a poupana.
125. "Agricultura Racional":
O puritanismo e Baxter tiveram grande estima pela agricultura
como ramo particurlamente importante da atividade econmica e por
ser especificamente compatvel com a f, porm no aos junkers e
outros mais, somente ao "agricultor racional".
126. O Moderno "Homem Econmico":
O poder exercido pela concepo puritana da vida no s
favoreceu a formao de capitais, mas o mais importante, foi favorvel
sobre tudo para a formao da conduta burguesa racional desde o
ponto de vista econmico, de que o puritano foi o representante tpico e
mais consequente , desta concepo, pois, assistiu ao nascimento do
moderno "homem econmico". Porm estes ideais de vida fracassaramao no poder resistir a dura prova das "tentaes" de riqueza, bem
conhecidas pelos mesmos puritanos.
127. Religio e Riqueza:
Toda a histria das ordens religiosas em certo sentido uma
contnua luta em torno dos problemas da ao secularizadora da
riqueza. A religio produz laborosidade (indstria) e sobriedade
(frugalidade), as quais so causa de riqueza. Porm uma vez que a
riqueza aumenta, aumentam com ela a soberbia, a paixo e o amor ao
mundo em todas as formas. Subsiste a forma de religio, porm seu
esprito vai secando paulatinamente.
128. Razes Religiosas e Plenitude Econmica:
-
8/7/2019 218210 a etica protestante e o espirito do capitalismo
48/57
Este poderoso movimento religioso, cujo alcance para o
desenvolvimento econmico consistiu em seus efeitos educativos
ascticos, no desenrolar da plenitude de sua influncia econmica, no
passou de exacerbao do entusiasmo religioso, quando a busca
exaltada do reino de Deus converteu-se em austera virtude profissional,quando as razes religiosas comearam a secar-se e a ser substitudas
por consideraes terrenas utilitrias.
129. Empresrio Burgus, Trabalhador e a Mais Valia:
O empresrio burgus podia e devia guiar-se pelo seu interesse
de lucro, sua conscincia em estado de graa, abenoado por Deus,
tinha por condio se mover sempre dentro dos limites do correto, com
sua conduta tica inatacvel, no fazendo uso inconviniente de sua
riqueza.
Pelo seu grande poder de ascetismo religioso tinha a sua
disposio trabalhadores sobrios, honrados, de