940-Noticias Da Construcao SindusCon Agosto de 2013

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44 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO / AGOSTO 2013 Aditivos ao cimento SOLUÇÕES INOVADORAS A industrialização da construção é irre- versível e os aditivos surgem como materiais chaves na obtenção de um concreto autoa- densável, para viabilizar a aplicação de um concreto massa ou para se bombear e aplicar mecanicamente um revestimento de argamas- sa. Uma questão fundamental, que consiste talvez na maior limitação para se dispor de uma norma técnica única e abrangente para a sua caracterização, é a diversidade de aditivos para concretos e argamassas. De acordo com a NBR 11768, aditivos para concreto de cimento Portland são defi- nidos como produtos que, adicionados em pequena quantidade às misturas, modificam algumas de suas propriedades, no sentido de melhor adequá-las a determinadas condições. As substâncias químicas ativas das formu- lações dos aditivos podem ser orgânicas ou inorgânicas, distribuídas num veículo líquido, pastoso ou sólido, podendo interagir física, química e físico-quimicamente com as partí- culas de cimento. Mehta e Monteiro dividem, de forma am- pla, as substâncias empregadas como aditivos em dois tipos: substâncias que começam a agir instantaneamente sobre o sistema água- cimento, por meio da modificação da tensão superficial da água e pela sua adsorção na superfície das partículas de cimento; e subs- tâncias que se dissociam em seus íons cons- tituintes, afetando as reações químicas entre os compostos do cimento e a água, de alguns minutos até algumas horas após sua adição. Os aditivos são classificados de acordo com sua função principal, embora algumas vezes sejam mencionadas suas ações secun- dárias. Na classificação, são considerados adi- tivos os produtos adicionados em quantidade não maior que 5% da massa de cimento contida no concreto, exceto pigmentos inorgânicos para o preparo de concreto colorido. No Brasil, a NBR 11768 classifica os aditivos em: redutor de água ou plastificante; redutor de água de alta eficiência ou superplastificante; incorporador de ar; retardador de pega; acelerador de pega; e acelerador de resistência. Porém, há outros, não contemplados na norma brasileira, que vêm sendo incorporados às misturas de con- creto, tais como modificador de viscosidade, compensador de retração, inibidor de corrosão e redutor da expansão álcali-agregado. Os aditivos modificam as propriedades de argamassas e concretos nos estados fresco e endurecido. Porém, não se conhecendo bem as pro- priedades e ações de um aditivo pode ocorrer uma incompatibilidade entre este material e o cimento utilizado, gerando efeitos adversos às argamassas e concretos tais como: rápida perda de abatimento, resultando em baixa coesão, aumento na porosidade e, geralmente, em misturas pouco trabalháveis; aumento drástico da quantidade de ar incorporado, reduzindo a resistência mecânica; aumento da exsudação; não ocorrência da redução da quantidade de água prevista, resultando num concreto com grande quantidade de água e com baixa resis- tência mecânica e durabilidade; a ação como retardador pode não ocorrer, gerando sérios problemas no lançamento, adensamento e acabamento do material; e a ação como acele- rador pode não ocorrer, gerando problemas de acabamento e de resistência nas idades iniciais. Envie seus comentários, críticas, perguntas e sugestões de temas para esta coluna: [email protected] [email protected] VALDECIR ANGELO QUARCIONI é químico, doutor em Engenharia Civil/USP e pesquisador do LMCC/IPT ALESSANDRA LORENZETTI DE CASTRO é engenheira civil, doutora em Ciência e Engenharia de Materiais/USP e pes- quisadora do LMCC/IPT Ensaio para determinação do teor de cloreto em aditivo

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  • 44 revista notcias da construo / agosto 2013

    Aditivos ao cimentos o l u e s i n o v A d o r A s

    A industrializao da construo irre-versvel e os aditivos surgem como materiais chaves na obteno de um concreto autoa-densvel, para viabilizar a aplicao de um concreto massa ou para se bombear e aplicar mecanicamente um revestimento de argamas-sa. Uma questo fundamental, que consiste talvez na maior limitao para se dispor de uma norma tcnica nica e abrangente para a sua caracterizao, a diversidade de aditivos para concretos e argamassas.

    De acordo com a NBR 11768, aditivos para concreto de cimento Portland so defi-nidos como produtos que, adicionados em pequena quantidade s misturas, modificam algumas de suas propriedades, no sentido de melhor adequ-las a determinadas condies. As substncias qumicas ativas das formu-laes dos aditivos podem ser orgnicas ou inorgnicas, distribudas num veculo lquido, pastoso ou slido, podendo interagir fsica, qumica e fsico-quimicamente com as part-culas de cimento.

    Mehta e Monteiro dividem, de forma am-pla, as substncias empregadas como aditivos em dois tipos: substncias que comeam a agir instantaneamente sobre o sistema gua-c imento, por meio da modificao da tenso superficial da gua e pela sua adsoro na superfcie das partculas de cimento; e subs-tncias que se dissociam em seus ons cons-tituintes, afetando as reaes qumicas entre os compostos do cimento e a gua, de alguns minutos at algumas horas aps sua adio.

    Os aditivos so classificados de acordo com sua funo principal, embora algumas vezes sejam mencionadas suas aes secun-drias. Na classificao, so considerados adi-tivos os produtos adicionados em quantidade no maior que 5% da massa de cimento contida no concreto, exceto pigmentos inorgnicos para o preparo de concreto colorido. No Brasil,

    a NBR 11768 classifica os aditivos em: redutor de gua ou plastificante; redutor de gua de alta eficincia ou superplastificante; incorporador de ar; retardador de pega; acelerador de pega; e acelerador de resistncia. Porm, h outros, no contemplados na norma brasileira, que vm sendo incorporados s misturas de con-creto, tais como modificador de viscosidade, compensador de retrao, inibidor de corroso e redutor da expanso lcali-agregado.

    Os aditivos modificam as propriedades de argamassas e concretos nos estados fresco e endurecido.

    Porm, no se conhecendo bem as pro-priedades e aes de um aditivo pode ocorrer uma incompatibilidade entre este material e o cimento utilizado, gerando efeitos adversos s argamassas e concretos tais como: rpida perda de abatimento, resultando em baixa coeso, aumento na porosidade e, geralmente, em misturas pouco trabalhveis; aumento drstico da quantidade de ar incorporado, reduzindo a resistncia mecnica; aumento da exsudao; no ocorrncia da reduo da quantidade de gua prevista, resultando num concreto com grande quantidade de gua e com baixa resis-tncia mecnica e durabilidade; a ao como retardador pode no ocorrer, gerando srios problemas no lanamento, adensamento e acabamento do material; e a ao como acele-rador pode no ocorrer, gerando problemas de acabamento e de resistncia nas idades iniciais.

    envie seus comentrios, crticas, perguntas e sugestes de temas para esta coluna:[email protected]@ipt.br

    vaLDeCir angeLo QUarCioni qumico, doutor em engenharia Civil/USP e pesquisador do LMCC/iPt

    aLeSSanDraLorenzetti De CaStro engenheira civil,doutora em Cincia e engenharia deMateriais/USP e pes-quisadora do LMCC/iPt

    Ensaio para determinao do teor de cloreto em aditivo

  • 45revista notcias da construo / agosto 2013

    A eficincia de qualquer aditivo varia de acordo com a dosagem de argamassas e concretos, bem como com as propriedades dos materiais constituintes das misturas. A compo-sio qumica do cimento empregado nas obras tem um papel determinante na compatibilidade do aditivo com a matriz cimentcia, que pode ser prejudicada quando h alguma alterao significativa na composio do cimento. Por exemplo, mudanas nos combustveis empre-gados em coprocessamento na indstria do cimento podem refletir negativamente no de-sempenho de um aditivo utilizado no concreto produzido com este cimento.

    Com alguns aditivos, deve-se considerar a quantidade de slidos e no a massa total do aditivo na forma lquida. No que diz respeito ao teor de gua presente nos aditivos, este deve ser deduzido do valor total da gua de amassamento da mistura, a fim de no alterar a relao gua/cimento definida para o concreto.

    Quanto verificao do desempenho dos aditivos para uso em argamassas e concretos de cimento Portland, a NBR 11768 estabelece os ensaios que devem ser realizados para uma anlise comparativa a uma mistura de refern-cia (sem aditivo) quanto reduo de gua de amassamento, consistncia da mistura, ao teor de ar na mistura fresca, ao tempo de pega, resistncia compresso, e no caso de aditivos retardadores e acelerados, perda de consistncia ao longo do tempo.

    A NBR 10908 a norma utilizada para avaliar os aditivos qumicos empregados em materiais base de cimento. Trata-se de um texto aplicvel s trs classes de aditivos dis-ponveis no mercado: lquido, pastoso e slido. A norma prescreve os mtodos para determi-nao do pH, teor de slidos, massa especfica, teor de cloretos e anlise por infravermelho (opcional), para verificar a uniformidade de aditivos de um mesmo lote ou de diferentes lotes de uma mesma procedncia. O foco dessa norma no identificar a composio do ma-terial, mas fixar parmetros para o consumidor verificar a homogeneidade dos produtos que adquirir num dado perodo consecutivo.

    Porm, esta norma no permite a caracte-

    rizao bsica dos vrios aditivos empregados; e os usurios principais desses produtos (cen-trais de concreto e indstrias de argamassas) no dispem de um ferramental normativo adequado para a caracterizao dos mesmos. Como so poucos os fabricantes de aditivos, com predominncia de empresas multinacio-nais, facilitam-se os contatos diretos e mais frequentes entre fabricantes e usurios, e os acordos tcnico-comerciais entre estes so ferramentas determinantes na garantia da qualidade desses produtos.

    Assim, na prxima reviso da NBR 10908 seria oportuno que sua Comisso de Estudo considere com maior ateno a diversidade de produtos disponveis para detalhar e enriquecer o texto normativo, de forma que um aditivo tenha caracterizao mais detalhada, mesmo com foco na verificao da uniformidade de aditivos de um lote ou de diferentes lotes de uma mesma procedncia, compatibilizando com a normalizao internacional.

    A ABNT tem como meta concluir at 2014 a atualizao de todo o seu acervo de aproximadamente 7.500 normas tcnicas, de forma que no prazo mximo de cinco anos toda norma tcnica publicada seja revisada. Pre v-se que neste semestre seja iniciada a reviso da NBR 10908, de ensaios de caracterizao de aditivos, e para esta tarefa o CB-18 conta com a colaborao de laboratrios acreditados pelo Inmetro como o de Materiais de Construo Civil do IPT e o da ABCP, alm dos fabricantes de aditivos, centrais de concreto e indstrias de argamassas.

    Mecanismos de estabilizao de suspenses: (a) eletrosttica, (b) estrica e (c) eletroestrica; (d) esquema da ao eletroestrica de superplastificante base de policarboxilatosna pasta de cimento