A cultura epigráfica no conventvs Bracaravgvstanvs … · Tratando-se de forma de comunicação...
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A cultura epigrfica no conventvs Bracaravgvstanvs (pars occidentalis): percursospela sociedade brcara da poca romana. Vol. I
Autor(es): Redentor, Armando
Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/42775
DOI: DOI:https://doi.org/10.14195/978-989-26-1270-6
Accessed : 6-Oct-2018 22:54:14
digitalis.uc.ptpombalina.uc.pt
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Srie Investigao
Imprensa da Universidade de Coimbra
Coimbra University Press
2017
Com o dealbar da poca romana no Noroeste hispnico, assiste-se irrupo
do hbito epigrfico, novel prtica em termos de cultura comunicacional intro-
duzida pela administrao imperial e seus agentes e que depressa se entranha
no modo de estar das populaes locais, mormente por via das suas elites.
Tratando-se de forma de comunicao que visou, em grande medida, a come-
morao e auto-representao individuais, mas tambm de colectividades, a
materialidade desse exerccio, plasmada nos suportes gravados com textos de
finalidade diversa, serve-nos hoje como fonte privilegiada para afrontar os de-
safios que a construo de conhecimento sobre as sociedades da Antiguidade
encerra, ainda que a no se reflicta o todo social.
este o mote da investigao encetada no contexto territorial calaico meridio-
nal. Partindo da reviso do dossi epigrfico do Ocidente brcaro e da clarifi-
cao da sua natureza, cronologia e representatividade, percorrem-se alguns
dos marcadores da sociedade que vivificou, em poca romana, o territrio, os
ncleos de povoamento e as artrias que o uniram.
9789892
612270
ARMANDO REDENTOR
Armando Redentor nasceu em 1971.02.14, na Figueira da Foz.
Doutor em Histria, na especialidade de Arqueologia (2012), Mestre em
Arqueologia, na especialidade de Arqueologia Romana (2001) e Licenciado
em Histria, variante de Arqueologia (1993), pela Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Como investigador integrado do Centro de Estudos de
Arqueologia, Artes e Cincias do Patrimnio/Universidade de Coimbra (CAACP/
UC) desenvolve investigao no mbito da Epigrafia e Arqueologia romanas.
membro de diversas agremiaes cientficas, entre as quais a Association
Internationale dpigraphie Grecque et Latine (AIEGL). Pertence ao Conselho
de Redaco da Hispania Epigraphica e equipa da Hispania Epigraphica
OnLine, cuja direco e coordenao realizada pelo Archivo Epigrfico de
Hispania, da Universidad Complutense de Madrid. Tem diversificada produo
cientfica sobre a temtica epigrfica, arqueolgica e patrimonial, bem como
participao regular em reunies cientficas nacionais e internacionais, e ainda
em projectos de investigao centrados no mbito hispnico.
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IMPRENSA DAUNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITYPRESS
A CULTURA EPIGRFICA NO CONVENTVS BRACARAVGVSTANVS(PARS OCCIDENTALIS)Percursos Pela sociedade brcara da Poca romana
Volume i
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Com o dealbar da poca romana no Noroeste hispnico, assiste-se irrupo
do hbito epigrfico, novel prtica em termos de cultura comunicacional intro-
duzida pela administrao imperial e seus agentes e que depressa se entranha
no modo de estar das populaes locais, mormente por via das suas elites.
Tratando-se de forma de comunicao que visou, em grande medida, a come-
morao e auto-representao individuais, mas tambm de colectividades, a
materialidade desse exerccio, plasmada nos suportes gravados com textos de
finalidade diversa, serve-nos hoje como fonte privilegiada para afrontar os de-
safios que a construo de conhecimento sobre as sociedades da Antiguidade
encerra, ainda que a no se reflicta o todo social.
este o mote da investigao encetada no contexto territorial calaico meridio-
nal. Partindo da reviso do dossi epigrfico do Ocidente brcaro e da clarifi-
cao da sua natureza, cronologia e representatividade, percorrem-se alguns
dos marcadores da sociedade que vivificou, em poca romana, o territrio, os
ncleos de povoamento e as artrias que o uniram.
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edio
Imprensa da Univers idade de CoimbraEmail: [email protected]
URL: http//www.uc.pt/imprensa_ucVendas online: http://livrariadaimprensa.uc.pt
coordenao editorial
Imprensa da Univers idade de Coimbra
conceo grfica
Antnio Barros
infografia
Mickael Silva
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978-989-26-1269-0
iSbn digital
978-989-26-1270-6
doi
https://doi.org/10.14195/978-989-26-1270-6
Julho 2017, imPrenSa da univerSidade de coimbra
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ARMANDO REDENTOR
IMPRENSA DAUNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITYPRESS
A CULTURA EPIGRFICA NO CONVENTVS BRACARAVGVSTANVS(PARS OCCIDENTALIS)Percursos Pela sociedade brcara da Poca romana
Volume i
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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Para Caus, Lara, ris e Eva.
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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S u m r i o
I
Apresentao por Jos dEncarnao ................................................. 23
Prefcio ................................................................................................. 27
Introduo ............................................................................................ 35
I Parte.
Enquadramentos: limites espaciotemporais e metodologia .............. 43
1. Dos limites espaciotemporais ............................................................. 45
1.1. O espao .................................................................................... 45
1.1.1. O conuentus Bracaraugustanus:
origem, definio e limites ..................................................... 45
Criao e funo da diviso conventual no Noroeste ............. 46
Delimitao territorial do conuentus Bracaraugustanus ......... 51
1.1.2. Enquadramento fsico do conuentus Bracaraugustanus ........ 61
Esboo geomorfolgico ............................................................ 61
Recursos minerais ................................................................... 65
Caractersticas climticas e fitogeogrficas ............................ 69
A fachada atlntica conventual:
breves notas orogrficas e hidrogrficas ........................... 71
1.1.3. Geoetnografia bracaraugustana:
propostas entre a fragilidade e a incerteza ............................ 74
1.2. O tempo ..................................................................................... 85
1.2.1. O mundo indgena ............................................................. 86
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8
1.2.2. A incorporao do espao territorial
bracaraugustano no domnio romano ..................................... 94
1.2.3. A integrao administrativa .............................................. 103
2. Aspectos tericos e metodolgicos das fontes epigrficas ............... 113
2.1. Da epigrafia como fonte .......................................................... 113
2.2. Breve enquadramento metodolgico aplicado ao
tratamento das fontes ................................................................ 128
2.3. Dos critrios seguidos na datao das fontes epigrficas ........ 130
2.4. O nome e o seu significado jurdico ........................................ 146
II Parte.
Onomstica pessoal no Ocidente brcaro ........................................ 157
1. A populao do Ocidente brcaro atravs dos nomes ..................... 159
1.1. Os limites do corpus onomstico ............................................. 159
1.2. Terminologia e preceitos onomsticos ..................................... 162
1.3. Onomstica quiritria ............................................................... 165
1.3.1. O efectivo de cidados ..................................................... 166
1.3.2. Expresses da nomenclatura quiritria ............................ 173
Expresso abreviada dos gentilcios e cognomes ................... 178
Filiao e libertinatio ........................................................... 187
Polionimia ............................................................................ 199
Transmisso quiritria dos nomes ........................................ 206
Nomes conjugais e casamentos ............................................. 209
Casamentos mistos, casamentos ilegtimos,
concubinato e contubrnio .............................................. 212
1.3.3. Estrutura lingustica da onomstica quiritria .................. 220
Anlise lingustica dos componentes das
estruturas onomsticas .................................................... 224
Disposies lingusticas das nomenclaturas familiares ......... 227
Gentilcios dominantes ......................................................... 229
Gentilcios indgenas ............................................................ 235
Assonncia e gentilcios incomuns ....................................... 239
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9
Os cognomina ....................................................................... 241
Cognomes de frequncia indgena ........................................ 243
Nomes de traduo ............................................................... 244
Nomes de assonncia ............................................................ 245
Gentilcios empregues como cognomes .................................. 245
Nomes antigos, raros e unica ................................................ 246
Cognomes de origem grega ................................................... 251
Estruturas onomsticas com unica e nomes raros ................ 252
1.3.4. Das nomenclaturas quiritrias ao recorte social .............. 253
A nata dos senadores e cavaleiros ........................................ 253
Elites locais ........................................................................... 268
Militares ............................................................................... 282
Liberti ................................................................................... 292
1.4. Onomstica peregrina .............................................................. 303
1.4.1. O efectivo de peregrinos .................................................. 304
1.4.2. Expresso da nomenclatura peregrina ............................. 307
Duplo idinimo e indicaes de provenincia ...................... 308
Filiao, libertinatio e transmisso dos nomes ..................... 315
1.4.3. Estrutura lingustica da onomstica peregrina ................. 316
Idinimos de frequncia indgena ........................................ 320
Nomes de traduo e de assonncia ..................................... 322
Formas gentilcias e prenominais ......................................... 323
Raros, unica e os idinimos indgenas .................................. 324
Idinimos gregos ................................................................... 337
Expresso abreviada dos idinimos ...................................... 339
Caractersticas da onomstica familiar ................................ 342
1.4.4. Compleio social nas nomenclaturas peregrinas ............ 349
Liberti ................................................................................... 349
Elites aristocrticas ............................................................... 354
1.5. Onomstica servil ..................................................................... 367
1.5.1. O efectivo de escravos ..................................................... 369
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10
1.5.2 Expresso da nomenclatura servil..................................... 371
Dominatio e transmisso dos nomes ..................................... 371
1.5.3 Estrutura lingustica da onomstica servil ........................ 375
Idinimos de frequncia indgena e outros latinos
associados aos meios servis .............................................. 376
Formas prenominais ............................................................. 379
Raros e unica ........................................................................ 380
Idinimos gregos ................................................................... 384
Expresso abreviada dos idinimos ...................................... 385
Caractersticas da onomstica familiar ................................ 386
1.6. Incerti ...................................................................................... 388
2. Os castella: toponomstica e organizao territorial ........................ 391
2.1. O : problemtica interpretativa e enquadramento histrico ........ 391
O contributo do dito do Bierzo ............................................ 394
Da escultura dos guerreiros lusitano-galaicos
ao papel das elites indgenas ........................................... 399
Dos castella como forma de enquadramento censual
denominao dos indivduos ........................................ 412
2.2. Localizao e toponomstica .................................................... 416
III Parte.
Dinmicas econmicas ....................................................................... 431
1. As dinmicas econmicas e o registo epigrfico .............................. 433
1.1. A cidade no centro das comunicaes
terrestres, martimas e fluviais ................................................... 433
O papel econmico de Bracara Augusta ................................ 435
A presena de ciues Romani qui negotiantur
em Bracara Augusta ......................................................... 442
O significado da homenagem a C. Caetronius Miccio ........... 448
1.2. Da rede viria terrestre no Ocidente brcaro .......................... 454
Uma dedicatria imperial jlio-claudiana ........................... 461
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11
A inscrio rupestre comemorativa
das Caldas das Taipas ..................................................... 470
1.3. Das vias martimas e fluviais ................................................... 474
1.4. Do estatuto das exploraes aurferas
da rea de Gondomar, Valongo e Paredes ................................. 496
1.5. Ofcios...................................................................................... 511
Sector extractivo e transformador da pedra .......................... 513
Sector da construo ............................................................ 517
Sector do artesanato cermico .............................................. 523
Sector txtil e do vesturio .................................................... 524
Sector alimentar ................................................................... 530
Outras actividades apenas indiciadas ..................................534
IV Parte.
Dos deuses e dos homens ................................................................. 541
1. Religio e manifestaes religiosas .................................................. 543
1.1. Divindades romanas ................................................................. 547
As grandes divindades clssicas:
Iuppiter, Mars e Mercurius .............................................. 550
As grandes divindades tutelares:
Lares, Genii, Nymphae e Fortuna .................................... 568
Outros deuses e cultos de tradio ou veiculao clssica ........ 578
1.2. Divindades indgenas e interpretationes .................................. 588
As grandes divindades: Reue, Nabiae, Cossue / Cusu,
Bandue / Bandui, Munidi e Corougiai / Crougiai ............... 593
Divindades locais ................................................................. 621
Eptetos sem tenimo ............................................................. 631
Divindades romano-indgenas .............................................. 641
1.3. Divindades orientais ................................................................ 664
Penetrao das divindades orientais no Ocidente brcaro ....... 666
Uma divindade romano-oriental .......................................... 669
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12
1.4. Nomes divinos reduzidos a termos genricos,
abreviados, omissos e incompletos ............................................ 672
Nomes divinos reduzidos a termos genricos e incompletos ....... 673
Tenimos reduzidos a siglas ................................................. 677
Omisso dos tenimos ........................................................... 684
1.5. Santurios: do rural ao periurbano .......................................... 686
O caso de Vermil ................................................................... 687
O edifcio rectangular da citnia da Carmona .................... 692
O santurio da Fonte do dolo .............................................. 694
1.6. Inscries politeicas ................................................................. 704
Rol sacrificial de Marecos ..................................................... 704
A inscrio de Caldas de Vizela ............................................ 708
1.7. Os ritos imperiais ..................................................................... 716
Manifestaes do culto imperial no Ocidente brcaro .......... 719
Da organizao do culto ......................................................741
Notas finais: das temticas visadas s perspectivas de futuro........747
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13
II
Inventrio epigrfico ...........................................................................15
1. Princpios de apresentao adoptados no catlogo ............................17
1.1. Sinais diacrticos utilizados ........................................................19
1.2. Abreviaturas e smbolos utilizados .............................................20
2. Catlogo ............................................................................................21
Bibliografia ........................................................................................ 259
Abreviaturas bibliogrficas ............................................................. 343
ndices e tbuas de correspondncias .............................................. 347
ndice de quadros ........................................................................... 349
ndice de grficos ........................................................................... 351
ndice de cartografia ....................................................................... 352
ndice de estampas ......................................................................... 353
ndices epigrficos .......................................................................... 357
Tbuas de correspondncias
(corpora e repertrios epigrficos) ............................................ 399
Apndices ............................................................................................ 409
Apndice 1: Ficha-tipo da base de dados epigrficos ..................... 411
Apndice 2: Onomstica quiritria .................................................. 416
Apndice 3: Onomstica peregrina ................................................. 420
Apndice 4: Onomstica servil........................................................ 425
Apndice 5: Onomstica dos incerti ............................................... 426
Cartografia .......................................................................................... 429
Estampas ............................................................................................. 451
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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A c u lt u r A e p i g r f i c A n o c o n v e n t v s
B r ac a r avg v s ta n v s ( pa r s o c c i d e n ta l i s ) :
p e r c u r S o S p e l A S o c i e dA d e b r c A r A dA
p o c A r o m A n A
e p i g r A p h i c c u lt u r e i n c o n v e n t v s
B r ac a r avg v s ta n v s ( pa r s o c c i d e n ta l i s ) :
p At h S t h r o u g h b r Ac A r i A n S o c i e t y o f t h e
r o m A n p e r i o d
autor author
Armando Redentor
filiao affiliation
Universidade de Coimbra
Resumo
Com o dealbar da poca romana no Noroeste hispnico, as-
siste-se irrupo do hbito epigrfico, novel prtica em termos
de cultura comunicacional introduzida pela administrao imperial
e seus agentes e que depressa se entranha no modo de estar das
populaes locais, mormente por via das suas elites.
Tratando-se de forma de comunicao que visou, em grande me-
dida, a comemorao e auto-representao individuais, mas tambm
de colectividades, a materialidade desse exerccio, plasmada nos
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suportes gravados com textos de finalidade diversa, serve-nos hoje
como fonte privilegiada para afrontar os desafios que a construo
de conhecimento sobre as sociedades da Antiguidade encerra, ainda
que a no se reflicta o todo social.
este o mote da investigao encetada no contexto territorial
calaico meridional. Partindo da reviso do dossi epigrfico do
Ocidente brcaro e da clarificao da sua natureza, cronologia
e representatividade, percorrem-se alguns dos marcadores da so-
ciedade que vivificou, em poca romana, o territrio, os ncleos
de povoamento e as artrias que o uniram.
A anlise da onomstica pessoal ocasiona destrinar a organiza-
o jurdica e social da fraco da populao que possvel fixar
pelos textos epigrficos, abalizando-se a bem estatuda diviso entre
cidados romanos e peregrini (em tempos anteriores constitutio
Antoniniana), escravos e libertos, no s privados mas tambm
pblicos. Assinalam-se mecanismos de mobilidade social e jurdica
e aquilata-se das tendncias ou preferncias, inclusive das estrat-
gias de gnero, nas escolhas dos nomes individuais, dentro de um
leque antroponmico vasto e com origens lingusticas diferenciadas.
As elites, por predisposio e capacidade econmica, tm lu-
gar de destaque na cultura epigrfica, convivendo as extradas da
camada autctone da populao, com as que tm uma origem ex-
terior ao Ocidente conventual, contando-se, neste caso, particulares
movidos por interesses diversos, militares e membros da estrutura
administrativa romana. Em termos locais, esta implicou uma orga-
nizao baseada na ciuitas, no raras vezes com reflexo na forma
de identificao individual.
Ensaiam-se abordagens parcelares sobre a realidade da estrutura
econmica do territrio em funo de documentao que permite
enfocar aspectos concretos, como o aproveitamento dos recursos
naturais, com destaque para a explorao aurfera, a dinmica ur-
bana e de ambientes porturios ou uma mo-cheia de actividades
-
17
artesanais cujo registo epigrfico nos chegou, amide completando
a identificao de determinado indivduo na sepultura ou na rela-
o com o divino.
A religio, enquanto fenmeno inerente sociedade, tem, ao
nvel da documentao compulsada, importncia no menosprezvel,
pelo que se ensaia uma caracterizao das manifestaes religiosas
que giram no s em funo de numes indgenas, exclusivamente
por esta via revelados, mas tambm de alguns dos deuses do pan-
teo greco-romano e, em menor medida, dos mistrios. Ainda neste
mbito, d-se ateno ao culto poltico centrado nos imperadores
e suas dinastias, tendo particular expresso, na poca augustana,
em Bracara Augusta, sede conventual onde, ao longo das pocas
seguintes, se continuam a praticar os ritos imperiais, conforme se
depreende de actos consecratrios diversos e do conhecimento
de uma organizao sacerdotal na qual participam as elites autcto-
nes, que, no raro, se alcandoraram a posies na capital provincial.
Pelas inscries romanas caminha-se em direco Antiguidade,
no sem o amparo das fontes literrias e do registo arqueolgico,
em busca de alguns dos protagonistas das vivncias de que foi
cenrio a parte ocdua do conuentus Bracaraugustanus.
Palavras-chave
Epigrafia, sociedade, Ocidente do conuentus Bracaraugustanus,
poca romana.
Abstract
The Roman occupation of the Iberian northwest led to the
emergence of the epigraphic habit, a new practice of cultural com-
munication introduced by the imperial administration and its agents.
Local peoples rapidly adopted this trend, which was disseminated
through its social elites.
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18
As a form of communication, epigraphs were mainly used for
both individual and communal celebrations and self-representations.
The material that is evidence of this practice, the engraved surfaces
with writings on a variety of topics, are today privileged sources
that enable us to address the challenges posed by the study of the
societies of classical antiquity, despite the fact that they can provi-
de only a fragmentary picture of the world from which they arise.
These are the main concerns of this research, which focuses
on southern Callaecia. From a starting point of the review of the
epigraphic data originating from western Bracarensis, an attempt
has been made to clarify its nature, chronology and representati-
veness, investigating some of the markers of the society that gave
life to the territory, settlements and roads they were connected by
during Roman rule.
The study of personal names permits the understanding of both
the social and legal organization of that section of the population
that is reflected in the epigraphic evidence. It becomes possible
to envisage not only the well-established division between Roman
citizens and peregrini (the latter before the constitutio Antoniniana),
but also between slaves and freedmen in both the private and
public sphere. Mechanisms of mobility, both social and legal, and
the tendencies or preferences reflected by choices in the names of
individuals, and which include gender-based strategies, are drawn
on in a span which is both wide and of varied linguistic origins.
Social elites play a dominant role within the epigraphic culture,
a result of both natural propensity and wealth. Members of the eli-
te of the indigenous populations mingle with those who originate
from outside the western conventus, and include private individuals
driven by a variety of interests, members of the military, and offi-
cials in the Roman administration. The latter imposed a system of
local government based on the civitas, and was often reflected in
the naming patterns of individuals.
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19
Also being attempted are limited approaches to defining the
economic structure of the territory by means of inscriptions bea-
ring information on the management of natural resources including
those relating to gold mining, urban life and harbour environments.
Included in this study are a cluster of references to artisanal work,
records which often assist in the identification of determined indivi-
duals in their place of burial or in their relationship with the divine.
Religion, while an intrinsically social phenomenon, has a relevant
role within the inscriptions studied. An attempt has therefore been
made to describe religious practices associated with indigenous
deities, some of whom we only know of through epigraphs, as well
as those associated with the gods of the Greco-Roman pantheon,
and, to a lesser extent, the sacred Mysteries. Particular attention is
paid here to the political cult centred on emperors and their dy-
nasties, which enjoyed significant expression at Bracara Augusta
in Augustan times. In this seat of conventus, it can be inferred from
the epigraphical record that imperial rites persisted over subsequent
centuries, with the existence of an organized priesthood incorpo-
rating individuals from autochthonous elites who were sometimes
known to achieve high positions in the provincial capital.
Complemented by literary sources and the archaeological record,
Roman inscriptions build a path towards classical antiquity in the
search for the people and places that played a part in the wide
scenario that is the western conventus Bracaraugustanus.
Keywords
Epigraphy, society, western conventus Bracaraugustanus, Roman
period.
-
20
Autor
n. 1971.02.14, na Figueira da Foz
Doutor em Histria, na especialidade de Arqueologia (2012),
Mestre em Arqueologia, na especialidade de Arqueologia Romana
(2001) e Licenciado em Histria, variante de Arqueologia (1993),
pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Investigador
integrado do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Cincias
do Patrimnio (CAACP), sedeado na Universidade de Coimbra,
desenvolvendo investigao no mbito da Epigrafia e Arqueologia
romanas. Membro de diversas agremiaes cientficas, entre as quais
a Association Internationale dpigraphie Grecque et Latine (AIEGL).
Pertence ao Conselho de Redaco da Hispania Epigraphica e
equipa da Hispania Epigraphica OnLine, cuja direco e coordena-
o realizada pelo Archivo Epigrfico de Hispania, da Universidad
Complutense de Madrid. Tem diversificada produo cientfica sobre
a temtica epigrfica, arqueolgica e patrimonial, bem como parti-
cipao regular em reunies cientficas nacionais e internacionais, e
ainda em projectos de investigao centrados no mbito hispnico.
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21
Author
Born 14-02-1971 in Figueira da Foz
PhD in History, specializing in Archaeology (2012), MA in
Archaeology, specializing in Roman Archaeology (2001) and BA
in History, specializing in Archaeology (1993) from the Faculty of
Arts and Humanities at the University of Coimbra. Researcher at the
Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Cincias do Patrimnio
(CAACP), based at the University of Coimbra, carrying out research
into Epigraphy and Roman Archaeology. Member of several scientific
associations, including the Association Internationale dpigraphie
Grecque et Latine (AIEGL). On the editorial board of the Hispania
Epigraphica and part of the Hispania Epigraphica OnLine team,
which is managed by the Archivo Epigrfico de Hispania of the
Universidad Complutense de Madrid. The author publishes widely
on the subject of Epigraphy, Archaeology and cultural heritage, and
regularly attends national and international scientific meetings, as
well as participating in research projects relating to Roman Hispania.
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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A p r e S e n tA o
TER QUEDA! Quis D. Fernando de Almeida mui solicitamente
prefaciar a minha dissertao de licenciatura Divindades Indgenas
sob o Domnio Romano em Portugal, cuja elaborao orientara.
Agradvel sensao , pois, a de ser, agora, Armando Redentor,
cuja tese de doutoramento procurei orientar, a manifestar o desejo
de eu escrever umas linhas de apresentao para a edio do seu
trabalho pela Imprensa da Universidade de Coimbra.
E dei comigo a reflectir sobre o significado profundo do que era
orientar uma tese. Uma caminhada o . Uma caminhada em con-
junto, em que, dia aps dia, sobrevm surpresas, se rasgam novos
caminhos, se ousam ensaiar ignotas veredas, se tropea aqui para
logo nos levantarmos mais alm. E h o desnimo, a lentido da
marcha em jornadas de espesso nevoeiro, a nsia de mais depressa
se chegar ao fim...
E h, sobretudo, uma aprendizagem mtua, porque justamente se
parte rumo a um objectivo por cabalmente descobrir. Aprendizagem
a requerer humildade de parte a parte, no sei, vou investigar;
acho que a tua ideia tem todo o sentido!..., a exigir o que o Povo
classifica como ter queda e, num mbito religioso, se chama
ter vocao. Armando Redentor tem queda para epigrafista
e afirmar que foi bem agradvel a caminhada com ele empreendida
em direco ao seu doutoramento , indubitavelmente, dar dessa
caminhada uma imagem quase estereotipada, quando vestida de
esteretipos que ela nunca foi.
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24
Para j, porque tive sempre o ouvinte atento, o interlocutor
perspicaz que sabia pr as questes no momento oportuno e a
propsito. Armando Redentor consciencializou bem depressa uma
sentena de Sir Fred Hoyle, que eu cito amide: o importante
no so as respostas, as perguntas que o so! E, a meu ver, a
investigao pura aquela que, na hora exacta, toma conscin-
cia da questo que h aqui a colocar. Armando Redentor nunca
hesitou. Quer se tratasse do bem conhecido e j longamente es-
tudado complexo epigrfico da Fonte do dolo, em Braga, quer
da significativa estela com o baixo-relevo dos dois ciues romani,
de S. Tom de Vade, que eu referenciara mas deixei ao achador um
estudo completo, quer do enorme penedo das Caldas das Taipas
com a inscrio a Trajano
Escolheu-se para territrio a parte ocidental do conuentus
Bracaraugustanus e sabamos, de antemo, dos espinhos que
iramos colher. Zona de granitos, traioeira matria-prima para
estranhas epgrafes que importava rever. Ainda por cima, terra
que Alain Tranoy mui cuidadosamente palmilhara, certo que nos
anos 70, mas a sua sagacidade colhera beres frutos e dera-nos da
Galcia romana uma slida reconstituio no seu panorama geo-
grfico, sociopoltico e cultural. Por ali andara Antnio Rodrguez
Colmenero, cujas divagaes interpretativas constituam acutilante
desafio: eram mesmo divagaes? Assim o poderamos interpretar
primeira vista, por aparentemente se esquecer, de quando em
vez, que j estudara uma epgrafe e lhe dera outra leitura; ou eram,
afinal, pistas cuja validade se havia de aquilatar?
Pessoalmente, eu nunca quisera meter ps, confesso, na epigra-
fia romana de alm-Douro. E mesmo no mbito do programa do
novo volume II do Corpus Inscriptionum Latinarum, a publicar
pela Academia de Berlim, deixei campo aberto a Alain Tranoy e a
Patrick Le Roux, eles sim, os mestres nesse domnio, assaz diverso
do da Lusitania. Se no interior do conuentus Scallabitanus se
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25
detectara uma forte raiz indgena a persistir durante o perodo
romano, o certo que esse trao autonmico diramos hoje
era muito mais vincado neste recanto noroeste da Hispania citerior.
Quando, porm, Armando Redentor se props a estudar, para a
dissertao de mestrado, a epigrafia romana de Bragana, com-
plementando assim eficazmente a dissertao de doutoramento de
Francisco Sande Lemos, O Povoamento Romano de Trs-os-Montes
Oriental (1993), em que, por opo dele e minha, acabramos
apenas por dar conta do que havia feito, no campo das epgrafes,
sem mais se adiantar, e eu vi o excelente resultado obtido, achei
que havia reflexes a refazer, na esteira metodolgica do que
os autores do volume sobre a epigrafia de Conimbriga, Robert
tienne e Georges Fabre, pioneiramente haviam ensinado.
O resultado est nas pginas que se seguem. Plasmado numa
linguagem tersa, depurada E aqui cumpre abrir um parnte-
sis: Armando Redentor escreve muito bem! Ser ufania minha,
penitencio-me, mas, dentre aqueles a quem ouso chamar de meus
discpulos os que, um dia, se deixaram seduzir por esta cincia
prenhe de mistrios por descobrir e que, exactamente por esse
motivo, nos encanta alfim , dentre os meus discpulos, Redentor
, sem dvida, os outros que me perdoem, aquele que melhor
soube compreender a mxima singela amide olvidada pelos
cientistas: quando se escreve para que nos leiam! O rigor da
frase, a veicular uma ideia profunda ou inovadora, no dispensa
um mavioso cantar, precisamente para melhor atrair a ateno e
mais facilmente se transmitir a mensagem!
Referi atrs os atalhos tortuosos. Esse, um dos aspectos mais
salientes do livro que ora se edita e muito me apraz apresent-lo
para a Imprensa da minha Universidade, vivamente me con-
gratulo! Armando Redentor no hesitou em ousar palmilh-los.
Correu o risco de rasgar as vestes na aspereza dos silvados; mas
no voltou atrs. E venceu. Com ele, a Epigrafia ostentou, mais
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uma vez, vitoriosa, o seu carcter de cincia que estuda o que
o Homem sucintamente redigiu e mandou gravar em material
duradouro para o legar aos vindouros. Com Giancarlo Susini,
caminhmos, pois!
Cascais, 8 de Outubro de 2015
-
p r e fc i o
A obra que ora se publica sintetiza os resultados de um estu-
do cientfico enraizado na avaliao analtica da documentao
epigrfica de um vasto territrio que constituiu, na Antiguidade,
a parte ocidental do conuentus Bracarugustanus, circunscrio
jurdica e administrativa integrada na provncia Hispania citerior,
visando uma aproximao plurifacetada sociedade desta parcela
do Imprio Romano.
Corresponde tese de Doutoramento por ns apresentada
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 2011, a qual
defendemos em provas pblicas em Maio do ano seguinte.
Esta edio reproduz, com escassas intervenes de pormenor,
o texto original, expressando integralmente os resultados de uma
investigao que conduzimos a partir de 2007, numa anlise atenta
e rigorosa do material epigrfico disponvel com vista sua inter-
pretao e integrao histrica, tendo-se, todavia, enriquecido com
a aposio de ndices epigrficos e de tbuas de correspondncias
entre o catlogo e os principais corpora e repositrios.
A amplitude da investigao que tivemos em mente quando de-
buxmos as primeiras linhas do projecto cientfico cujos resultados
aqui se expem, compaginava-se com o quadro geogrfico do antigo
conuentus Bracaraugustanus na sua totalidade. Correspondendo
a uma das trs circunscries jurdicas em que se fraccionou
o Noroeste hispnico aps a sua conquista no imperialato de Augusto,
esta diviso territorial calaica meridional carecia de um ensaio de
-
28
caracterizao social global emanado do esplio epigrfico que lhe
referente e que ostenta a inigualvel vantagem de se constituir
como fonte primria original.
Propnhamo-nos, assim, tomar em bloco as epgrafes deste
referencial administrativo, eleito pela sua consistncia geogrfica
e histrica, de modo a extrair-lhes a mxima valia informativa,
com o objectivo de aclarar percursos de uma fraco da popula-
o brcara, que, partida, sabamos social e/ou economicamente
privilegiada e que se perpetuou pelas inscries, servindo-nos
como retrato original e no preconceituosamente distorcido, como
o que, em parte, se alcana pela via das fontes literrias.
Apesar de o mbito geogrfico originalmente ambicionado
equivaler totalidade do conuentus Bracaraugustanus enquanto
unidade administrativa antiga com suficiente coerncia e extenso
para permitir elaborar uma viso convenientemente ampla das
perspectivas de anlise possveis a partir do material epigrfico, o
produto que ora se apresenta , como se antedisse, mais restrito do
ponto de vista da abrangncia territorial, ainda que em conformi-
dade com os objectivos e perspectivas de anlise ento delineados.
A percepo que logrmos adquirir do estado e qualidade das
fontes em questo no desenrolar do seu estudo revisrio mormente
para as que ofereciam maiores dificuldades interpretativas, quer
devido a edies menos credveis, quer por questes intrnsecas
natureza e conservao dos textos , aliada imprescindibilidade
de lograrmos uma base documental to escorreita quanto possvel
que sustentasse uma anlise rigorosa, orientou-nos para a reduo
do quadro geogrfico objecto de estudo, cingindo-o parte ocidental
do conuentus. Esta alterao igualmente evidencia que a dinmica
de um projecto desta natureza tambm ditada por fenmenos ex-
ternos, os quais, muitas vezes, so imprevisveis. Bastar lembrar a
forte implicao do trabalho directo com fontes, amide dispersas,
nem sempre com paradeiro claramente apurado, s vezes ainda
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desconhecidas da comunidade cientfica. E o esforo, neste mbito,
foi considervel, atendendo a que realizmos o estudo autptico
de mais de trs quartos do conjunto das epgrafes cujo paradeiro
conhecido, o qual representa um universo de aproximadamente
trs centenas, incluindo material indito.
Esta modificao no foi extensvel, contudo, linha cronol-
gica, correspondente poca romana no seu todo: da conquista e
integrao administrativa do territrio ao Baixo Imprio.
A concretizao deste projecto teria sido impossvel sem os apoios
institucionais e individuais que reunimos, pelo que reiteramos aqui
os nossos sinceros agradecimentos.
Cumpre-nos, assim, desde logo, salientar o apoio da Fundao
para a Cincia e a Tecnologia (FCT), da qual recebemos uma bolsa
de Doutoramento financiada pelo Programa Operacional Potencial
Humano (POPH), que concretizava a agenda temtica especfica
inscrita no Quadro de Referncia Estratgico Nacional (QREN).
Contudo, no menos determinante neste processo foi a indispen-
svel autorizao para a equiparao a bolseiro (sem vencimento)
de que beneficimos entre 2007 e 2011, a qual nos foi concedida pelo
Secretrio de Estado do Ambiente, Professor Doutor Humberto Rosa.
O nosso reconhecimento ainda extensvel Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra, que aceitou, sem reserva, a nossa pro-
posta de dissertao de doutoramento, bem como ao seu Instituto de
Arqueologia, ao Centro de Estudos Arqueolgicos das Universidades
de Coimbra e Porto (actual Centro de Estudos de Arqueologia, Artes
e Cincias do Patrimnio) e ao Centro de Investigao de Montanha
pelo acolhimento proporcionado e pelo apoio oferecido.
Ao longo da caminhada de estudo autptico do material epigr-
fico que empreendemos, foram muitas as instituies museolgicas
a que tivemos de recorrer, pelo que, direco e corpo tcnico
de todas elas, expressamos o nosso agradecimento pela forma
franca e prestvel como receberam a nossa solicitao e deram
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30
resposta a necessidades concretas que se prenderam com o acesso
aos espcimes ou com o seu registo, criando-se, nesse contexto,
no raro, novos laos de colaborao institucional e de amiza-
de. O elenco respectivo o seguinte: Museo Diocesano de Tui,
Museo Municipal de Vigo Quiones de Len, Museu Amadeo de
Sousa-Cardozo, Museu Arqueolgico da Citnia de Sanfins, Museu
Arqueolgico da Sociedade Martins Sarmento, Museu da Cultura
Castreja, Museu da Olaria, Museu de Arqueologia e Numismtica
de Vila Real, Museu de Arte Sacra e Arqueologia (Seminrio Maior
de Nossa Senhora da Conceio), Museu de Histria e Etnologia da
Terra da Maia, Museu do Cabido da S de Braga, Museu Municipal
Abade Pedrosa, Museu Municipal Carmen Miranda, Museu Municipal
de Baio, Museu Municipal de Etnografia e Histria da Pvoa
de Varzim, Museu Municipal de Penafiel, Museu Municipal de
Viana do Castelo, Museu Nacional de Arqueologia, Museu Nacional
Soares dos Reis, Museu Pio XII e Museu Regional de Arqueologia
D. Diogo de Sousa.
Devemos tambm agregar a este rol um conjunto de entidades
s quais recorremos com o mesmo propsito, como sejam a rea
Arqueolgica do Freixo, o Gabinete de Arqueologia da Cmara
Municipal de Braga, o Gabinete de Arqueologia Municipal de Vila
do Conde e o Gabinete de Arqueologia Urbana da Cmara Municipal
do Porto, a cujos responsveis igualmente agradecemos.
O apoio que, neste peregrinar, recebemos dos representantes de
muitos municpios e freguesias tambm digno de registo e louvor,
tal como o que colhemos em muitas parquias, quer na pessoa
de elementos das comisses fabriqueiras, quer dos prprios procos.
A um sem-nmero de instituies particulares, empresas e pessoas
individuais, a cuja porta batemos, expressamos similarmente a nos-
sa gratido, pelas informaes prestadas ou pelo acolhimento que
nos deram, no podendo deixar de referir, ainda que correndo o
risco de injustamente outros olvidar, o Dr. Alberto A. Abreu, o Dr.
-
31
Eduardo Pires de Oliveira, o Dr. Henrique Barreto Nunes, o Abade
Manuel de Sousa e Silva e o Dr. Orlando Guimares e famlia.
Em momentos diversos deste projecto, contmos ainda com a
colaborao mais directa de muitos colegas, alguns j antes amigos
e companheiros, para com os quais temos enorme dvida de gra-
tido: a Belm Campos Paiva e a Clara Andr, na leitura aturada
dos textos produzidos; o Lus Sousa, na preparao da cartografia;
o Carlos Santos, o Rodolfo Matos e o Manuel Antnio Vitorino, no
imprescindvel apoio informtico. Mas igualmente agradecemos ou-
tros apoios, sobretudo ao nvel da partilha de informao cientfica
e bibliogrfica, da parte de: lvaro Moreira, Anabela Lebre, Antnio
Marques de Faria, Armandino Cunha, Belisa Vilar, Carla Braz Martins,
Cludio Brochado, Gonalo Cruz, Joo Fonte, Jos Flores Gomes,
Lus Fontes, Marcos Osrio, Maria Antnia Silva, Maria Joo Gomes,
Maria Jos Santos, Miguel Rodrigues, Paulo Amaral, Orlando Sousa,
Paulo Costa Pinto, Pedro Brochado de Almeida e Tarcsio Maciel.
Deixamos ainda uma palavra de especial considerao para
todos aqueles que tornaram mais agradvel e profcuo o trabalho
que mais longamente empreendemos em alguns locais, tocando-
-nos com a sua disponibilidade e compreenso. No Museu Regional
D. Diogo de Sousa, no podemos deixar de ressaltar a amizade
da Isabel Cunha e Silva, sua diligente directora, do Manuel Santos,
grande auxiliador, para alm de excelente fotgrafo, bem como da
Clara Lobo e da Manuela Roriz. No Museu Nacional de Arqueologia, a
prestabilidade e o cuidado da conservadora Ana Isabel Palma Santos
e da Lusa Guerreiro. No Museu Pio XII, o auxlio do Miguel Ramos,
da Maria Jos Silva e da Conceio Ferreira. Na Sociedade Martins
Sarmento, o apoio permanente da Patrcia Aguiar, da Daniela Cardoso
e do Lus Ferreira. No Museu Nacional Soares dos Reis, da Maria
Adelaide Carvalho. Na rea Arqueolgica do Freixo, a disponibilidade
incondicional do Antnio Pinto Freitas. No Palcio de Sub-Ripas, a
amizade do Jos Lus Madeira, mas tambm o empenho da Georgina
-
32
Costa e da Alice Gndara. Na Biblioteca Central da Faculdade de
Letras do Porto, a ateno da Dra. Isabel Leite e de todos os tcnicos,
bem como, no Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio
da mesma faculdade, a da Sandra Carneiro.
Queremos tambm manifestar o nosso apreo, no s pela co-
laborao prestada, mas tambm pela estima e amizade com que
nos brindaram, aos Professores Doutores Armando Coelho Ferreira
da Silva (Universidade do Porto), Blanca Maria Prsper (Universidade
de Salamanca), Joaqun Gmez-Pantoja (Archivo Epigrfico de
Hispania; Universidade de Alcal de Henares), Eugnio Lujn
(Universidade Complutense de Madrid), Francisco Reimo Queiroga
(Universidade Fernando Pessoa), Jos Mara Vallejo (Universidade
do Pas Basco), Lino Tavares Dias (Direco Regional de Cultura do
Norte), Jorge Alarco (Universidade de Coimbra), Maria da Conceio
Lopes (Universidade de Coimbra), Mara Cruz Gonzlez Rodrguez
(Universidade do Pas Basco), M. Rosrio Hernando Sobrino (Archivo
Epigrfico de Hispania; Universidade Complutense de Madrid),
Milagros Navarro Caballero (Universidade Michel de Montaigne
Bordus 3), Patrick Le Roux (LAnne pigraphique; Universidade de
Paris 13), Pedro C. Carvalho (Universidade de Coimbra), Rui Morais
(Universidade do Minho) e Vasco Mantas (Universidade de Coimbra).
Destacamos, ainda, os Professores Doutores Alain Tranoy, Manuela
Martins e Francisco Sande Lemos, por terem acreditado neste pro-
jecto e chancelado a sua viabilidade.
Por ltimo, uma palavra de enorme reconhecimento ao Professor
Doutor Jos dEncarnao, prestigioso Mestre, nosso orientador em
mais esta digresso Antiguidade, amigo certo, mesmo nas horas
incertas. A ele devemos boa parte da nossa aprendizagem no ofcio
da Epigrafia e com ele contmos ininterruptamente na aquilatao
de interrogaes, ponderao de ideias e sufrgio dos nossos textos.
Pela presente edio expressamos penhorado agradecimento ao
Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Cincias do Patrimnio,
-
33
nomeadamente sua coordenadora cientfica, a Professora Doutora
Maria da Conceio Lopes, e aos Professores Doutores Pedro C.
Carvalho e Jos dEncarnao, pelo apoio e generoso incentivo,
bem como Imprensa da Universidade de Coimbra, na pessoa do
seu director, o Professor Doutor Delfim Leo, por mui prontamente
acolher este novo ttulo no seu catlogo.
-
(Pgina deixada propositadamente em branco)
-
i n t r o d u o
No finisterra imperial a que correspondeu o antigo conuentus
Bracaraugustanus, a cultura epigrfica assumiu-se como forma co-
municacional logo desde a poca augustana, afigurando um modo
peculiar de estar em sociedade, que visou, em grande medida, a
comemorao e auto-representao individuais, mas tambm de co-
lectividades. Neste sentido, permite uma aproximao aos processos
sociais que envolvem, pelo menos, a parte da populao que mais
neles se projecta e que utiliza a prtica epigrfica como forma de
afirmao pblica, por vezes monumental. As inscries honorficas,
funerrias e votivas, apesar de escassamente nutridas de informao
quando tomadas individualmente, e pese embora as dificuldades que
a sua compulsao acarreta, quer pelo seu estado de conservao, quer
pelas dificuldades cronolgicas que encerram, acabam, no entanto,
por assumir papel privilegiado para a investigao do todo social, por
contraponto a outros tipos documentais a que recorre quem visa o
conhecimento da poca romana em determinado mbito geogrfico.
Todavia, assume-se a vantagem de um estudo no circunscrito
especfica valorizao histrica das fontes epigrficas, encaradas
na sua compleio multifacetada, mas prolongado pela conjugao,
sempre que possvel, com as fontes literrias e o registo arqueolgi-
co, de molde a alcanar uma perspectiva renovada sobre o processo
de integrao de um vasto territrio perifrico que se viu engrenado
no imenso maquinismo imperial, remetendo, de quando em vez, para
a comparao com outros territrios, hispnicos ou extrapeninsulares.
-
36
Entre as fontes literrias disponveis (cf. Fontes Hispaniae
Antiquae = FHA) h, por um lado, as obras de autores que reflectem,
essencialmente, dados geogrficos e etnogrficos, com manifesto
destaque para Estrabo, Mela, Plnio e Ptolomeu, e, por outro, as que
tm valor mais factual, referentes a autores como Don Cssio, Floro
e Orsio, que nos relatam acontecimentos da histria do Noroeste,
nomeadamente da fase da sua conquista, sendo todas elas datveis
do sculo I. As centrias subsequentes so, deste ponto de vista,
marcadas pelo vazio, havendo a destacar, para a Antiguidade Tardia,
a crnica de Idcio (cf. Tranoy 1974), que reflecte as invases do
sculo V, e, j do sculo seguinte, mas de certo modo relevante para
o estudo da religiosidade em poca romana, o sermo de Martinho
de Dume (cf. Maciel 1980). Do ponto de vista das fontes itinerrias,
haver ainda a ressaltar o Itinerrio de Antonino (cf. Cuntz 1990),
datvel do sculo III, e a Cosmografia do Annimo de Ravena (cf.
Schnetz 1990), do sculo VII, mas elaborada com base em fontes
baixo-imperiais, apesar de no termos pretendido envolver na nossa
abordagem a epigrafia viria.
A investigao desenvolvida nas dcadas mais recentes favoreceu,
essencialmente, o registo arqueolgico como fonte para o conheci-
mento da poca romana no vasto territrio bracaraugustano (u. g.
Soeiro 1984; Martins 1990; Amaral 1993; Lemos 1993; Almeida 1996;
Dias 1997; Prez 2002; Lopes 2003; Carvalho 2008), ressentindo-se
da maneira fugaz como, de modo geral, se equaciona a riqueza
informativa que as inscries podem oferecer. E os objectivos dos
corpora epigrficos publicados, relativos Galiza Meridional (IRG III,
III supl., IV; CIRG II) e a Trs-os-Montes Ocidental (AquaeFlauiae2),
cingem-se, pela sua natureza intrnseca, apresentao das inscri-
es. Isto, apesar de, no incio da dcada de 80 do sculo transacto,
o trabalho dado estampa por Alain Tranoy (1981a), resultante
de investigao conduzida durante a dcada anterior, ter marcado
diferena, pois abriu, para o Noroeste Peninsular, essoutra via de
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investigao, a da construo histrica com recurso a distintos re-
gistos (literrio, arqueolgico, numismtico e epigrfico), na qual os
contributos da Arqueologia e da Epigrafia se revelam fundamentais.
Importou, contudo, volvidas quase trs dcadas, aumentar a
escala de anlise, no sentido de uma maior aproximao recons-
tituio da estrutura social da parte meridional deste vasto espao
peninsular, tentando estreitar laos entre o conhecimento proce-
dente do registo arqueolgico, entretanto bastante incrementado,
e o extravel das fontes epigrficas, com o intuito de se conseguir
uma aproximao ao repto de saber quem e como eram os homens
e mulheres que viveram nesse territrio na poca romana.
Este desafio passou, inevitavelmente, pelo exame revisrio das
fontes epigrficas, cujo estudo sistemtico e actualizado continuava
por fazer para boa parte do territrio conventual. Esse trabalho
de actualizao do corpo documental era mais amplamente sentido
na sua metade ocdua, nomeadamente em espao nacional, apesar
de meritrios estudos parcelares, sobretudo dirigidos a material
indito, que viram luz nas dcadas de 70 e 80, com o cunho da
investigao francesa levada a cabo no s por Alain Tranoy, mas
tambm por Patrick Le Roux, amide lado a lado (u. g. Le Roux
& Tranoy 1973; 1974; 1979; 1982; Santos et alii 1983; Tranoy & Le
Roux 1989-1990), uma vez que, em simultaneidade com o labor in-
vestigatrio do primeiro, este se abalanava no estudo da presena
do exrcito romano nas provncias ibricas (Le Roux 1982), a que
podemos, ainda, acrescentar algum contributo de Armando Coelho
Ferreira da Silva (1980; 1981-1982; 1986a; Martins & Silva 1984).
Sem pretender desfiar a histria da investigao referente ao quadro
territorial conventual no que aos estudos epigrficos respeita, no
podemos deixar de achegar que o panorama do conjunto de inscries
romanas conhecidas na segunda metade do sculo XIX ficou, ento,
disponvel atravs da monumental obra de Emil Hbner: o CIL II e
respectivo suplemento. No atinente aos territrios do Noroeste de
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Portugal, nela se compila a informao at essa altura acumulada, no
s por intermdio dos estudos de uma panplia de eruditos modernos
u. g. Joo de Barros (1548; 1549), D. Rodrigo da Cunha (1634; 1635),
Luiz Alvares Figueiredo (c. 1716-1725), Jernimo Contador de Argote
(1732-1747; 1738) ou Jos Diogo Mascarenhas Neto (1792) , mas tam-
bm pelos resultados do trabalho de investigadores contemporneos,
dos quais cabe destacar Francisco Martins Sarmento. Esse esforo de
sistematizao ainda retomado em Ephemeris Epigraphica (= EE
VIII e IX), em grande medida porque os ltimos anos de Oitocentos
e os incios de Novecentos continuaram frteis em contributos no que
respeita ao conhecimento das fontes epigrficas brcaras ocidentais,
sendo de acentuar, entre outros, os de Albano Bellino (u. g. 1895;
1896) e de Jos Leite de Vasconcellos (u. g. 1905a; 1913).
A reunio dos legados epigrficos de Sarmento e de Bellino, em
termos de espcimes lapidares, na instituio vimaranense de que o
primeiro patrono viria a alimentar a tarefa de edio de um catlogo
referente a esse esplio, protagonizada por Mrio Cardozo (1935a)
no incio dos meados da centria. Volvidas duas dcadas, Russell
Cortez (1958) oferecer idntico trabalho para a coleco do Museu
D. Diogo de Sousa. Mas, contrariamente ao que se assistiu para o
territrio galego, com Jos Filgueira Valverde e lvaro dOrs, e Jos
M. lvarez Blzquez e Fermn Bouza-Brey (IRG III e III supl.), no
houve ento, e at actualidade, a produo de qualquer corpus de
carcter territorial, sucedendo-se, at s dcadas acima evocadas,
apenas contributos mais ou menos esparsos, no s de estudiosos
regionais mas tambm de figuras cimeiras neste tipo de estudos, como
Scarlat Lambrino (1956; 1963-1964), D. Domingos de Pinho Brando
(1959; 1959-1960; 1960; 1961; 1962; 1963; Lanhas & Brando 1967)
ou Jos dEncarnao (1970; 1972).
Da dcada de 90 em diante, para alm de artigos especficos
direccionados para a publicao de material indito, surgem alguns
trabalhos essencialmente revisrios, ainda que com orientao te-
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39
mtica especfica, dos quais destacamos: o livro de Jos Manuel
Garcia (1991) exclusivamente orientado para a epigrafia votiva, sob
a forma de aditamento ao contributo fundamental de Jos Leite de
Vasconcellos sobre o tema; o volume dedicado por Antonio Rodrguez
Colmenero (1993a) epigrafia rupestre do Noroeste; a dissertao
de doutoramento de Amlcar Guerra (1998), direccionada para
a toponmia e a etnonmia; e, mais recentemente, a reedio, revista
e aumentada, da dissertao de doutoramento de Armando Coelho
Ferreira da Silva (2007b), com apndice epigrfico organizado em
funo das duas linhas onomsticas acabadas de referir e da teon-
mia indgena. Ser, ainda, de referir que a exposio comemorativa
da monumental obra leitiana dedicada s religies da Lusitnia foi
tambm ocasio para a republicao de um conjunto importante de
epgrafes no respectivo catlogo (Ribeiro 2002a). No obstante, o
estudo epigrfico da romanizao do Noroeste peninsular havia sido,
anteriormente, o mote seguido por Snia Garca Martnez (1996a) no
contexto da sua tese de doutoramento: a se objectivou a reviso das
fontes epigrficas, embora, pelo menos no que respeita s inscries
do Ocidente brcaro, a tarefa no se revele to conseguida, o que
compreensvel em funo do colossal desgnio que era tratar a
totalidade da epigrafia referente Asturia e Callaecia.
Regra geral, nas investigaes dirigidas para o estudo da ocupa-
o romana em contexto calaico, as informaes epigrficas pouco
mais haviam servido do que para aquilatar do grau de romanizao
(Surez 2009) da populao em termos de epiderme onomstica,
balanada na dicotomia indgena/latino, uma perspectiva estreita
da adaptao que o processo ter concitado, nomeadamente pelas
implicaes jurdicas que o enquadram, e, assim, redutora relativa-
mente ao decurso histrico.
Importou, por isso, avaliar a forma como se desenrolou a in-
tegrao administrativa e jurdica do territrio e, desde logo, as
suas consequncias em termos de compleio social, na medida
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40
em que acarretaram a alterao das estruturas preexistentes, obser-
vando, ainda, frentes vrias do processo de romanizao, no qual
se entrelaam perspectivas diferenciadas (jurdica, poltica, social,
econmica, religiosa...) e onde as mudanas ocorridas tero sido,
antes de tudo, resposta s necessidades comunitrias e individuais
em comunho com uma nova ordem.
Consequentemente, a linha de investigao seguida funda-se
no estudo das fontes epigrficas da parte ocidental do territrio
conventual bracaraugustano, na sua reavaliao em funo das
perspectivas de anlise que elas permitem abrir e no confronto
com o conhecimento acumulado pela investigao histrico-
-arqueolgica realizada nas ltimas dcadas. Assim se concilia
investigao primria, ao passar pela reavaliao da totalidade
do material epigrfico, com a anlise secundria do conhecimento
historiogrfico adquirido sobre a regio, no descurando a com-
parao, quando tal se proporciona, com perspectivas delineadas
para outros contextos imperiais.
Mais do que uma avaliao fina de elementos especificamente
epigrficos, como a morfologia dos suportes ou os formulrios, que
mais relevam para a caracterizao da prtica do uso das inscries,
orientmos a anlise para o conhecimento de trs vectores distintos
da sociedade brcara ocidental, para o qual este tipo de fontes se
revela indispensvel.
Em primeiro lugar, fez-se uma aproximao sua organizao
jurdica e conformao sociolgica, em aproximao facultada pela
onomstica pessoal; depois, uma abordagem estrutura econmica,
ressaltando, essencialmente, a importncia da cidade nas dinmicas
e fluxos comerciais e a especificidade dos recursos aurferos, sem
que outros domnios tenham deixado de ser aflorados, designada-
mente em funo de referncias concretas a ocupaes profissionais;
por ltimo, uma caracterizao do panorama religioso, centrada na
apresentao dos diferentes cultos em presena.
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41
Naturalmente, precedem estes trs eixos de anlise os impres-
cindveis enquadramentos geogrfico e cronolgico, ao longo dos
quais se d significado figura administrativa que cinge o mbito
da abordagem, olhando-se a problemtica da sua criao, signifi-
cado e limites, para depois a caracterizar do ponto de vista fsico,
seguindo-se, no atinente diacronia, a apresentao de uma sn-
tese sobre o povoamento e a sociedade pr-romanos, bem como
acerca da conquista romana, para aportar ao perodo em que as
inscries fazem o seu aparecimento como cultura comunicacio-
nal. Como o seu manuseamento enquanto fonte histrica encerra
problemticas especficas, no foram deixadas de lado as questes
metodolgicas inerentes.
Em suma, com base em rol documental acreditado pelo esforo
efectivo de reviso, julgado absolutamente necessrio como garantia
para a fiabilidade do resultado das anlises, foi-se, em funo da
qualidade dos dados, construindo uma narrativa historiogrfica ex-
cursiva, que desejamos constitua o princpio de um contributo para
a histria da metade atlntica da Callaecia meridional, almejando-o
ainda mais generoso e amplo no futuro.
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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I parte
Enquadramentos: limites espaciotemporais e metodologia
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(Pgina deixada propositadamente em branco)
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1 . d o S l i m i t e S e S pAc i o t e m p o r A i S
1.1. O espao
O conuentus Bracaraugustanus constitui o mbito geogrfico
de referncia desta investigao (mapa 1), pelo que a questo
das suas fronteiras assume particular relevncia em termos de
focagem da anlise. Embora os resultados apresentados neste
trabalho se encontrem centrados na metade ocdua desta circuns-
crio jurdica antiga, importa, em termos de enquadramento,
analisar a sua configurao total, uma vez que apenas em termos
operativos nos serve a separao entre a sua fachada atlntica
e as terras do interior, considerando-se vantajosa uma definio
cabal do quadro geo-administrativo em causa, a bem da clarifi-
cao dos processos histricos que, tendencialmente, a atingem
de forma transversal.
1.1.1. O conuentus Bracaraugustanus: origem, definio e limites
A implementao da diviso conventual no conjunto das provncias
hispnicas remontar ao perodo augustano, como institucionalizao
de uma prtica que ter ganhado corpo na fase final da Repblica
(Ozcriz 2006, p. 20-24; 2009, p. 333). Assim, no que respeita ao
Noroeste peninsular, esta organizao ter sido posta em marcha
imediatamente a seguir conquista territorial.
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46
Criao e funo da diviso conventual no Noroeste
A controvertida questo da diviso conventual vem sendo
extremamente dissecada desde finais do sculo XIX, tendo origi-
nado a apresentao de propostas bastante diferentes, derivadas,
essencialmente, da interpretao divergente das fontes antigas,
mais concretamente, de Plnio (N. H., 3. 7; 3. 18; 4. 117) e Estrabo
(3. 4, 19-20).
Essas propostas contemplaram a defesa da criao conventual
em fases cronolgicas to distintas como sejam a poca augustana
(Hbner 1888, p. 173; Henderson 1942, p. 1-13; Sancho Rocher 1981,
p. 31-32; Alfldy 1983, p. 518-520; Ozcriz 2006, p. 61), o imperia-
lato de Cludio (Albertini 1923, p. 53-54), o perodo republicano
(Sutherland 1939, p. 141; Curchin 2004, p. 52-58) ou a governao
de Vespasiano (tienne 1958, p. 187-189; Tranoy 1981a, p. 150; Le
Roux 1982, p. 100; Alarco 1988b, p. 58)1. Todavia, o aparecimento
da tabula Lougeiorum (AE 1984, 553 = AE 1987, 561), em meados
da dcada de 80 do passado sculo, secundado por um texto em
fac-simile, de procedncia no apurada (AE 1997, 766), constitui
marco na clarificao deste problema. Apesar das dvidas que
continuam a pairar sobre a autenticidade de ambos (Canto 1990,
p. 267-275; Le Roux 1992, p. 240; 2004, p. 346, n. 49 e 50), o certo
que se vai caminhando no sentido do consenso relativamente
criao augustana, com a progressiva adeso de investigadores ini-
cialmente avessos a esta perspectiva, quer aceitando a autenticidade
da tabula, quer por outras vias (u. g. Lomas 1989, p. 209; Le Roux
2004). Fazendo f na veracidade do bronze, com data de 1 d. C., ter
existido um conuentus Arae Augustae, no qual se inseria a ciuitas
1 Sem intuito de historiar esta questo, apresentamos apenas as principais referncias, remetendo para a sntese elaborada por Ozcriz (2006) no que respeita aos pormenores da argumentao de cada uma delas, bem como ao seu enquadramento historiogrfico.
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Lougeiorum e cuja vigncia ter sido mais ou menos efmera, pois
no surge citado no texto pliniano (N. H., 3. 4).
A sua configurao territorial tem sido objecto de debate,
oscilando-se entre a defesa da correspondncia com o conuentus
Asturum, que, a ser assim, lhe teria sucedido, e a relao apenas
com uma parte deste, que o teria, ento, absorvido. A primeira po-
sio foi sustentada por Dopico (1986, p. 281), a qual considerou
que, anteriormente fundao de Asturica, as suas funes teriam
sido desempenhadas pela Ara Augusta, distinguindo-a das Arae
Sestinae e aproximando-a de outras aras fundadas pela interven-
o directa de representantes do poder imperial e que existiram
noutras provncias em processo de organizao, argumentando com
as de Lugdunum, de Oppidum Vbiorum e de Camulodunum, con-
siderando serem centros de concilia idnticos aos conventuais. Em
desacordo mostrou-se Rodrguez Colmenero (1997c, p. 221-223), ao
sugerir a distino entre os conuentus Asturum e Arae Augustae,
assumindo uma diviso augustana do Noroeste em quatro circuns-
cries conventuais, posicionando este na parte norte da Astria,
em correspondncia com a nomenclatura de Astures Transmontani,
e alvitrando o povoado fortificado de Campa Torres como possvel
sede. A argumentao empregue para rejeitar a correspondncia de
Ara Augusta com o espao onde se levantar Asturica Augusta a
passagem de Floro (2. 33, 59-60) que indica que Augusto entregou
aos stures o acampamento para que lhes servisse de capital e
o registo arqueolgico que documenta a existncia prvia de um
acampamento militar pertinente. A proposta de identificao da
caput conventual com Campa Torres faz uso da inscrio imperial
(pedestal ou cartela de um monumento) de Cabo Torres (CIL II
2703 = HEp 14, 2005, 20 = AE 2005, 851), presumivelmente da ini-
ciativa de Cn. Calpurnius Piso (cnsul em 7 a. C. e governador da
Hispania citerior entre 9 e 10 d. C.), cuja existncia numa capital
teria sentido por comparao com o que ocorre nas restantes capitais
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conventuais do Noroeste, concretamente em Lucus e em Bracara,
nas quais se conhecem inscries imperiais da fase augustana2.
A diviso conventual quadripartida do Noroeste vem sendo admitida
por diversos investigadores, tomando o conuentus Arae Augustae
como diviso tempor do conuentus Asturum (Alfldy 2007; Ozcriz
2009), ainda que este seja um assunto em aberto. A no referncia na
obra de Plnio serve para estabelecer no imperialato de Vespasiano
um terminus ante quem para o seu desaparecimento, admitindo-se,
inclusive, a alterao da rede conventual sob este imperador, com
base no crescente protagonismo que passam a ter, a partir desta
altura, os conuentus (Ozcriz 2009, p. 333).
O principal papel do conuentus foi jurdico (Ozcriz 2006, p.
71-80), servindo para o acolhimento peridico das deslocaes do
governador provincial ou do seu legado, acolitado por um concilium,
com o objectivo de administrar justia, isto , de dirimir pleitos
jurdicos em instncia de apelao relativamente a decises dos
juzes locais, realizando-se essa funo nas capitais conventuais,
sendo mesmo admissvel que a existissem praetoria fixos (Le Roux
2004, p. 353). No obstante, tm sido apontados como referentes
para outros aspectos funcionais, nomeadamente atribuindo-se-lhes
competncias de mbito religioso, concretamente ao nvel do cul-
to imperial, de carcter censitrio, como base para a organizao
de censos, e fiscais, servindo administrao como circunscries
de controlo do portorium (Ozcriz 2009, p. 334). Estes aspectos, se
bem que apaream nas fontes antigas e epigrficas com expresso
escala conventual, podem no ser, todavia, definidores da funo
destas circunscries, cujo qualificativo , efectivamente, iuridicus.
2 De facto, de acordo com recente proposta de Fernndez Ochoa et alii (2005, p. 129-146), a inscrio teria tido como localizao original a pennsula de Campa Torres, mas fazendo parte integrante de uma estrutura monumental turriforme, totalmente desmontada no sculo XVI, que se utilizou como farol, o qual seria o mais antigo da cornija atlntica.
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A partir do momento em que se cria o hbito de um lugar
fixo para administrar justia e tornar prxima das comunidades a
autoridade romana, ser lgico que se estruturem determinadas
dinmicas sociais e polticas, no concorrentes com os papis que
cabem cidade e provncia, mas que lhe do corpo enquanto
estratgia da ambio poltica de notveis e como instncia de di-
logo com o imperador. Deste modo, como sublinha Le Roux (2004,
p. 352-353), a circunscrio ganha novos papis, incarnando, para
os seus utentes, um novo horizonte de identidade e de proteco
dos interesses regionais. Da que este autor coloque a tnica na
actividade judiciria realizada em nome de Roma e do imperador
em associao com as elites, que encontram neste patamar um meio
de promoo e de ganho de visibilidade, negando que os conven-
tos tenham tido competncias especficas em matria de impostos,
assuntos de cidadania ou de religio. A questo religiosa do culto
imperial conventual estar, nesta lgica, alocada na ideia de a fun-
o judicial do conuentus se fazer exactamente sob a autoridade
de Roma e do imperador. Do mesmo modo, enquanto instncia
de apelo, a justia do governador ou do legado, orientada para
a instruo de processos associados fiscalidade, ao patrimnio
e cidadania, ser justificao para que outras dimenses (alm
da religiosa pblica), tal como os recenseamentos e censos, de
clara utilidade fiscal e administrativa, possam ter tido tratamento
ao nvel conventual, pela facilidade com que a sua estrutura, aglu-
tinadora de determinado nmero de agrupamentos comunitrios,
pde servir de quadro de referncia.
Nesta perspectiva, o conuentus proporcionaria ocasies pe-
ridicas de encontro de notveis, num jogo de relaes de base
inter-comunitria, constituindo charneira entre a vida poltica local
e provincial: o concilium de conuentus seria uma assembleia de
carcter religioso e poltico que poderia emanar de questes que
respeitavam o interesse imediato das comunidades cvicas que o
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compunham de acordo com a vontade do governador, mas no
seria uma instncia administrativa regular, como estdio interm-
dio entre aquelas e a provncia, contrariamente ao defendido por
outras vozes (Curchin 2004, p. 57; Ozcriz 2006, p. 67-71), que se
acertam na atribuio de funes administrativas autnomas, mais
latas do que as judiciais, aos conuentus.
Em resumo, com base nas informaes das fontes antigas, nomea-
damente Plnio e Estrabo, confortadas pelos dados epigrficos, que
se enriquecem ainda com documentao que compulsamos neste
estudo (cf. n. 166) e com outra de Tarragona, ou a ela relativa,
com destaque para CIL II2/14 333, razovel admitir uma criao
augustana dos conventos. A sua efectivao poder ter sido algo
posterior segunda grande organizao provincial empreendida pelo
prncipe aqum-Pirenus, que foi coincidente com o seu regresso
a estes territrios entre 15 e 13 a. C., se no mesmo sincrnica
(Dopico 1986, p. 281; Rodrguez 1997c, p. 222; Le Roux 2004, p. 344;
Ozcriz 2009, p. 333). Concomitantemente, entendemos no resultar
descabido que o projecto conventual j estivesse latente nos pro-
psitos do programa de organizao dos territrios hispnicos que
teria projectado Agripa, pelos anos 19-18 a. C., sobretudo se nele
se inclui, justamente, o planeamento da fundao das trs capitais
conventuais do Noroeste (Rod 1998, p. 277-280).
Manter-se-o em vigncia at reforma administrativa de Diocleciano
empreendida em 288 (Roldn 1976, p. 106; Ozcriz 2006, p. 41).
A delimitao dos conuentus no nos definida pelas fontes
antigas, que apenas nos oferecem alguns dados quantitativos
relativamente aos populi ou ciuitates e fazem meno a alguns
aglomerados populacionais, em associao a curtas referncias
geogrficas. Todavia, a ausncia de um conhecimento orogrfico
e hidrogrfico de pormenor, mais sentido em Estrabo do que em
Plnio, leva a que se evoque o elemento tnico para dar configu-
rao ao territrio.
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Delimitao territorial do conuentus Bracaraugustanus
Os limites ocidental e meridional do conuentus so simples de
definir, pois estabelecem-se com naturalidade, em funo do Atlntico
e do curso do Douro (Plin., N. H., 4. 112), sendo claramente mais
problemtico o traado das suas fronteiras setentrional e oriental
(mapa 2). Para este intento necessrio o concurso da informao
disponibilizada pelas fontes antigas e uma ateno especial oro-
grafia e hidrografia (cf. Cortijo 2007, p. 284-285), aspectos que tm
necessariamente de ser caldeados com o conhecimento procedente
dos registos arqueolgico e epigrfico.
Um vasto leque de critrios teria entrado em linha de conta
na hora da delimitao conventual, sem que os geogrficos tives-
sem sido absolutamente determinantes, mesmo que a questo das
acessibilidades se considerasse de suma importncia. Seriam em
parte histricos e de carcter poltico e fiscal, o que, obviamente,
decorre da organizao poltica de base e do papel das elites cvi-
cas (Le Roux 2004, p. 349-351). Aceita-se, assim, a ideia de que a
demarcao no ter sido realizada de forma arbitrria, mas antes
seguido pautas de diversidade cultural, que, em primeira instncia,
se apegavam organizao tnica pr-romana, tendo por princ-
pio o respeito pela sua identidade territorial, sempre que tal fosse
possvel, estruturantes de uma organizao poltico-administrativa
em funo dos interesses de Roma.
Tal ideia corroborada pela evidncia da implementao de
uma rede de ciuitates, instrumento basilar da organizao poltico-
-administrativa do territrio e com relevncia fulcral para efeitos da
distribuio da carga fiscal que o Estado, aps o processo de con-
quista, imps s comunidades peregrinas. Estas unidades territoriais
tiveram, por regra, uma configurao em funo da organizao
territorial indgena (Martins et alii 2005, p. 281), ainda que casos de
excepo possam ter ocorrido, salvaguardando os interesses estatais,
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tais como eventuais particulares estratgias de enfraquecimento de
determinados sectores que se tenham revelado especialmente hos-
tis durante o processo de conquista e implementao do modelo
administrativo desenhado por Roma.
Esta questo tributria est claramente figurada em Plnio (N.
H., 3. 28), quando alude existncia de 24 ciuitates no conuentus
Bracaraugustanus, com 285 000 tributrios. Assim, do ponto de
vista da administrao romana, a ciuitas converte-se, por um lado,
em unidade bsica em termos de tributao e, por outro, no quadro
de base em que se estruturam novas formas de organizao social
que se estabelecem com a romanidade (Sastre 2001, p. 97).
A criao das ciuitates ter sido um processo mais ou menos
temporo. Alguns investigadores tm utilizado o texto do bronze
de Bembibre (AE 1999, 915 = AE 2000, 760 = AE 2001, 1214 = AE
2002, 763, 764 e 765 = AE 2003, 17), datado de 15 a. C., para defen-
der uma cronologia augustana (Orejas et alii 2000, p. 78-86; Sastre
2001, p. 117; Martins et alii 2005, p. 281), mas a problemtica da
implementao do sistema parece mais complexa. No texto, no
utilizado o termo ciuitas, mas, sim, o de gens, que se reduz, neste
entendimento, ao mesmo significado do primeiro, com o argumento
de serem ambos termos latinos que se usam para designar realidades
do mesmo campo semntico ou como sinnimos noutras regies
imperiais, detendo, assim, contedo administrativo (cf. Orejas et alii
2000, p. 81; Sastre 2001, p. 117). Voltaremos a este assunto, mas
desde j podemos expressar alguma discordncia relativamente a
esta equivalncia to absoluta com o modelo poltico-administrativo
romano da ciuitas, no negando, todavia, um contedo poltico ao
termo gens aqui empregue, semelhana do que ocorre na primei-
ra parte do to celebrado pacto dos Zoelas (CIL II 2633). Todavia,
na problemtica tabula Lougeiorum (AE 1984, 553 = AE 1987, 561)
que, com absoluta clareza, se assinala o termo ciuitas associado
aos Lougei, pelo que se entrev que o processo de estabelecimento
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do sistema de ciuitates possa ter tido arranque sob Augusto. ini-
maginvel que um processo com a complexidade e extenso deste
tivesse sido linear, isento de problemas e percalos e, sobretudo,
quase que instantneo, pelo que conjecturamos que a sua implan-
tao tenha seguido ritmos diferenciados ao nvel do Noroeste.
Alarco (1988b, p. 55-57; 2003, p. 116-126) tem defendido que
o seu estabelecimento apenas realizado na poca flaviana e que
Augusto ter confiado o poder a prncipes indgenas sujeitos
administrao romana. Considera que, no contexto da reorganiza-
o poltico-administrativa flaviana, Aquae Flauiae teria passado
a desempenhar papel tutelar sobre um conjunto de ciuitates do
interior brcaro, nomeadamente as que se mencionam no Padro
dos Povos (CIL II 2477 = 5616 + Silva 1981-1982, p. 90-92, n. 2),
cujo significado seria, precisamente, de agradecimento pela reforma.
Teria sido, tambm, neste contexto de reforma administrativa que,
pretensamente, os Caladuni (Alarco 2004d, p. 452-453), populus no
mencionado nas fontes antigas, teriam sido diludos, aventando que,
ou entre os Tamagani ou os Aquiflauienses, uma vez que esto ates-
tados epigraficamente3. Argumenta, ainda, com o facto de o registo
da contagem das milhas em milirios augustanos e jlio-claudianos,
no caso galaico meridional, se fazer em funo de Bracara Augusta
e no em funo de capitais de ciuitates que normalmente eram
capita uiarum (Alarco 1995-1996, p. 25-26), embora reconhea
que este indcio no pode ser probatrio, sobretudo se tivermos em
considerao a existncia de excepes (u. g. EE VIII 209).
As diferentes propostas de distribuio geogrfica das ciuitates
tm a sria dificuldade da sua delimitao territorial, no sendo
expectvel que estejamos a falar de territrios homogneos do pon-
3 So conhecidas quatro inscries alusivas a Caladuni: duas delas na capital conventual (n.s 284 e 322), com indicaes de provenincia que lhes so alusivas; noutras duas (Berrocal, Huelva: AE 1991, 1004 = HEp 3, 206; Chaves: CIL II 2487 = AquaeFlauiae2 372), esta meno complementada pela referncia a castella.
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to de vista da sua dimenso, uma vez que entraro nesta questo
factores fsicos de base, como os orogrficos e hidrogrficos, mas
tambm os geolgicos, alm de culturais e histricos.
Antes de avanarmos neste sentido, discutindo as propostas
de localizao que tm vindo a ser aventadas, importa descrever,
em traos largos, os limites que se tm exposto como provveis
para a circunscrio conventual, nomeadamente para as fronteiras
setentrional e oriental, com os conuentus Lucensis e Asturum, no
primeiro caso, e com este e com o Emeritensis, no segundo, no
pressuposto de que a fronteira lusitana transpe o curso do Douro,
possivelmente a oriente do rio Tua.
A diviso com o conuentus Lucensis a partir do litoral tem que
ser feita a norte do curso do Minho, pois, se tomarmos por base a
descrio pliniana, verificamos que a enumerao descritiva se inicia
de norte para sul ao longo da fachada atlntica, afirmando-se que
o convento brcaro comea a partir do territrio dos Cileni e que
vm depois os Helleni, os Grouii e o castellum Tyde, s depois se
aludindo ao Minius (N. H., 4. 112). Deste modo, carece de crdito
o traado estabelecido por Kiepert em carta anexa ao CIL, na qual
este rio estabelecia o limite norte do conuentus desde a sua foz at
confluncia com o Arnoya, passando depois a ser marcado por
este ao longo de todo o seu percurso, prosseguindo em direco
ao Sil, que se torna referncia at foz do Navea, para prosseguir
em direco s serras da Segundera e da Gamoneda, passando a
oriente do curso do rio Sabor. Todavia, a confluncia do Sil com o
Minho ser, de forma grosseira, o extremo de uma linha arqueada
cuja origem est na fachada atlntica e com a qual se pode esboar
pouco mais de metade da delimitao setentrional.
Cremos ser digna de acolhimento a posio concordante de Tranoy
(1981a, p. 161) com anterior proposta de Rodrguez Colmenero
(1977, p. 16-17) de considerar a ria de Vigo e o rio Verdugo, que
a desagua, como elementos geogrficos significativos que marcam,
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no extremo ocidental, a divisria com o conuentus Lucensis: invo-
cando-se a alterao do formulrio dos milirios entre Redondela
e Almuia argumento tributrio dos trabalhos de Castro Nunes
(1950b) e de Dulce Estefana (1958) , a informao do Parochiale
suevo de que o limite da diocese de Iria Flauia corresponderia
regio de Morracio ou Mortacio, identificando-se com a pennsula
do Morrazo, e os limites modernos das dioceses de Tui e Santiago
de Compostela. A questo do contributo da epigrafia viria para
o estabelecimento da fronteira ocenica entre os territrios lucense
e brcaro foi mais recentemente retomada com base no estudo dos
milirios da via XIX (lvarez 2002, p. 169-176; Rodrguez et alii
2004, p. 215), confirmando o curso inferior do Verdugo como limi-
te: em Santiago de Arcade um milirio de Caracala marca a milha
LXVI desde Bracara (EE IX 419 = MiNoH 194) e na desembocadura
do rio Ull descobriu-se um milirio de Adriano que j marca as
milhas a partir de Lucus (CIL II 6231 = MiNoH 195), significando
que entre estes dois pontos se estabeleceria a diviso, sendo que
este rio a nica marca geogrfica digna de nota.
A delimitao , deste modo, estabelecida pelo curso do Verdugo,
desde o sector costeiro s serranias do Cando (orientao NE/SO)
e do Sudo (orientao N/S). A partir daqui, e at confluncia do
Sil com o Minho, ter por referncia as cumeadas mais elevadas
desta parte da Dorsal Galega, as quais permitem, pelo seu destaque,
impor-se como limite, nomeadamente as dos montes do Testeiro,
o alto da Pea de Francia e as da serra de Faro (orientao N/S),
descendo em seguida quela confluncia ribeirinha. Trata-se, no