A Esquerda Contra o Golpe

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05/04/2016 A esquerda contra o golpe. Ou: “façamos o ‘retrocesso’ antes que a direita o faça” : Passa Palavra http://www.passapalavra.info/2016/03/107890 1/14 Terçafeira, 05 de Abril de 2016 Busca Início Quem Somos Contato Translations Movimentos em Luta Portugal Brasil Mundo Cultura Ideias & Debates Citando… Flagrantes Delitos Cartunes Dossiês A esquerda contra o golpe. Ou: “façamos o ‘retrocesso’ antes que a direita o faça” 31 de março de 2016 Categoria: Destaques Comentar | Imprimir No momento em que o aperto econômico novamente se avizinha, a pergunta que deve nortear nossas ações é onde devemos depositar as parcas energias. Por Passa Palavra De modo geral, uma grande parcela de entusiastas e militantes que hoje se aglutina em torno da defesa da “legalidade democrática” e da luta contra o impeachment sustenta que esta é hoje uma tarefa inequívoca de toda a esquerda, em que pese todas as críticas de que o atual governo é passível. Em uma perspectiva mais defensiva, como a expressa em comentários de Leo Vinícius , argumentase que a opção por não tomar partido na polarização que se acirra entre governistas e oposicionistas incide na leviandade de desconsiderar a possibilidade de “retrocesso” que estaria em jogo, e que o uso de exemplos de violações de garantias democráticas nas camadas sociais mais baixas serviria apenas como justificativa para esta indiferença. Outra postura, mais próativa, como a defendida por Cássio Brancaleone em seu artigo recentemente publicado no Passa Palavra , entende que a “esquerda libertária”, sem qualquer ilusão com o cenário prógoverno, deve atuar por dentro das manifestações “antigolpistas” com a finalidade de fazêlas ultrapassar o sentido original, marcadamente institucional, e conduzilas para horizontes mais radicais. Ambas as formulações supõem que, somando esforços táticos no campo governista, estaríamos, de uma forma ou de outra, nos protegendo do avanço conservador, quando se torna cada vez mais evidente, segundo nosso ponto de vista, que se existe alguma possibilidade de os movimentos mais radicais de esquerda voltarem a ter relevância no tecido social, ela passa necessariamente pelo completo descolamento da imagem e, principalmente, da estratégia petista de conduzir um projeto de poder embrenhandose nas teias do Estado com todas as práticas que essa opção implicou. Reformulando a questão num sentido pragmático O que aparece como evidente sobretudo na primeira destas formulações, que se escandaliza com a “lavada de mãos”, é na verdade o que precisa ser demonstrado. Temos acordo que, para além da questão técnica de saber se estamos ou não diante de um golpe no Brasil, o problema decisivo gira em torno de mensurar o prejuízo social e político que um cenário de deposição do governo acarretaria nas condições de vida e organização política da classe trabalhadora. Daí que a crítica ao alarde do golpe comparece como um momento necessário para aterrar o debate e pôlo em condições de ser tratado com um pouco mais de serenidade.

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A esquerda contra o golpe. Ou: “façamos o ‘retrocesso’ antes que adireita o faça”31 de março de 2016 Categoria: Destaques

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No momento em que o aperto econômico novamente se avizinha, a pergunta que deve nortear nossas ações é onde devemos depositar as parcasenergias. Por Passa Palavra

De modo geral, uma grande parcela de entusiastas e militantes que hoje se aglutina em torno dadefesa da “legalidade democrática” e da luta contra o impeachment sustenta que esta é hoje uma tarefa inequívoca de toda a esquerda, em que pesetodas as críticas de que o atual governo é passível.

Em uma perspectiva mais defensiva, como a expressa em comentários de Leo Vinícius, argumentase que a opção por não tomar partido napolarização que se acirra entre governistas e oposicionistas incide na leviandade de desconsiderar a possibilidade de “retrocesso” que estaria emjogo, e que o uso de exemplos de violações de garantias democráticas nas camadas sociais mais baixas serviria apenas como justificativa para estaindiferença. Outra postura, mais próativa, como a defendida por Cássio Brancaleone em seu artigo recentemente publicado no Passa Palavra,entende que a “esquerda libertária”, sem qualquer ilusão com o cenário prógoverno, deve atuar por dentro das manifestações “antigolpistas” com afinalidade de fazêlas ultrapassar o sentido original, marcadamente institucional, e conduzilas para horizontes mais radicais.

Ambas as formulações supõem que, somando esforços táticos no campo governista, estaríamos, de uma forma ou de outra, nos protegendo doavanço conservador, quando se torna cada vez mais evidente, segundo nosso ponto de vista, que se existe alguma possibilidade de os movimentosmais radicais de esquerda voltarem a ter relevância no tecido social, ela passa necessariamente pelo completo descolamento da imagem e,principalmente, da estratégia petista de conduzir um projeto de poder embrenhandose nas teias do Estado com todas as práticas que essa opçãoimplicou.

Reformulando a questão num sentido pragmático

O que aparece como evidente sobretudo na primeira destas formulações, que se escandaliza com a “lavada de mãos”, é na verdade o que precisa serdemonstrado. Temos acordo que, para além da questão técnica de saber se estamos ou não diante de um golpe no Brasil, o problema decisivo giraem torno de mensurar o prejuízo social e político que um cenário de deposição do governo acarretaria nas condições de vida e organização políticada classe trabalhadora. Daí que a crítica ao alarde do golpe comparece como um momento necessário para aterrar o debate e pôlo em condições deser tratado com um pouco mais de serenidade.

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Antes do mais, convém esclarecer que não se trata de fazer demagogia diante do tema. Apesar de não reconhecer a democracia representativa comoinstância privilegiada dos embates, não ignoramos as condições reais que estão colocadas para os lutadores em geral e, sobretudo, os que buscammeios que fogem à arena geradora de consensos. Sabemos que, no contexto de uma ditadura, dado o grau de esfacelamento de nossas habilidadesorganizativas, seríamos, de saída, incapazes de nos sustentar por uma semana que fosse em condições de clandestinidade. Assim, nãotergiversaríamos diante de situações em que fossem estas alternativas efetivamente colocadas. Ocorre que questionamos se as duas grandes saídaspossíveis contidas no dilema do impeachment correspondem mesmo a futuros tão díspares para o cotidiano de lutas e resistências.

Sob esta ótica, a pergunta que devemos nos fazer é o quão vantajoso se apresenta o empenho de energias na construção de frentes e espaçosunitários de oposição ao impeachment. O que de concreto ganharseia – ou deixarseia de perder – envidando esforços contra o avanço do assimchamado golpe? De nossa parte, argumentamos que, de uma perspectiva de longo prazo, o preço político de compor mobilizações junto às forçasligadas ao governo seria muito maior que suas possíveis vantagens.

Liberdades políticas e conquistas econômicas

Ainda que se admitisse a derrubada da presidente como algum tipo de afronta à ritualidadedemocrática, já houve tempo o suficiente – e precedentes de todas as sortes – para que mantenhamos os dois pés atrás frente à alegada defesapolítica e econômica de que tal empreitada nos beneficiaria.

No automatismo lógico que vincula a queda do governo a perdas democráticas aposta a operação semântica petista, que, apesar da ruína que osacontecimentos lhe deverão acarretar nos planos eleitorais, tem conseguido com admirável sucesso aproveitar a escancarada parcialidade dealgumas instituições para reforçar o seu papel catalisador na fatia esquerda do espectro político, cujos primeiros sintomas de erosão deramse nosprotestos de 2013. A sacada discursiva do momento não difere muito das estratégias marqueteiras do período eleitoral, e basicamente consiste emarrastar para a vala comum do impeachment todo o recrudescimento repressivo que se abateu sobre os movimentos sociais mais combativos nosúltimos tempos, de modo que a ideia de vitória do governo nos altos escalões aparece confundida com a derrota do conservadorismo no chão social.O que de modo algum é verdade.

No que diz respeito à liberdade de organização e resistência dos setores populares, é preciso lembrar que esta curva repressiva se acentua ao menosdesde os primeiros protestos de 2013, e é duramente incrementada no contexto da realização da Copa do Mundo, em 2014, com total complacênciado governo federal e do Ministério da Justiça. Falase em combater a direita nas ruas, denunciase os absurdos que Bolsonaros, Olavos de Carvalho,Eduardos Cunhas e similares cometeriam se um dia tivessem mais poder em mãos. Disso não duvidamos! Mas quem nos últimos anos agiu paraaplicar expedientes de exceção é o governo que estamos chamados a defender para – pasmem! – barrar o conservadorismo. Afinal, foi o governoDilma, sem a ajuda de Cunhas e MBL, que colocou o exército na Favela da Maré; que enviou tropas da Força Nacional para reprimir protestos deoperários das grandes obras e indígenas em luta pela demarcação de terra; e silenciouse diante das inúmeras prisões arbitrárias, preventivas, queforam realizadas por ocasião da Copa do Mundo.

A extremadireita existe e é perigosa, causa estragos irreparáveis às vidas das pessoas, mas convenhamos que ela faz em escala de varejo o que oatual governo tem feito no atacado, embora com mais discrição. É de se indagar, portanto, se a efetivação de um processo de impeachment, mais oumenos baseado na violação de procedimentos jurídicolegais, se colocaria como cenário técnica ou efetivamente tão mais tenebroso que a vigênciade um dispositivo doravante legal como a recémsancionada Lei Antiterrorista.

Em outro plano, esse falso silogismo, que associa derrota do impeachment à derrota do conservadorismo, nem pode ser atribuído aos principaisportavozes do campo petista, visto que, para além de fraseologias abstratas e demasiadamente genéricas, estes não fazem a menor questão deprenunciar concessões em benefícios dos trabalhadores em caso de recuperação da governabilidade. Ao que tudo indica, o roteiro – bemdesanimador – parece já estar traçado, e infelizmente nada ou muito pouco de substancial parece estar em disputa. O governo não dá sinais de queirá frear sua política econômica austera contra os trabalhadores, e avança na retirada de direitos, na criminalização e no isolamento de iniciativas deluta que ousem avançar o sinal.

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Não foi outro o recado de Lula ao discursar no carro de som durante o ato do dia 18 de março.Dirigindose, na verdade, ao grande capital, Lula procurou enfatizar a importância de seu papel conciliador em momentos de crise, apresentandosecomo agente indispensável para que os cortes estruturais sejam passados com o consentimento de organizações sindicais e populares. “Em época decrise”, disse Lula com aquela habilidade que lhe é própria, “a gente junta todo mundo e come o que tem, faz o que pode naquele momento que estãovivendo. Por isso, vou ajudar a companheira Dilma a fazer o que precisa fazer”.

A não ser que tenhamos deixado o realismo completamente de lado, sabemos que o conteúdo implícito na expressão “fazer o que precisa fazer” emépoca de crise certamente não corresponde às expectativas, defensivas que sejam, dos setores mais reformistas da esquerda. Medidas que, aliás, jáestão em pleno andamento, com as restrições impostas aos direitos trabalhistas, ainda no final do primeiro mandato, a completa paralisação dareforma agrária, o encolhimento de programas sociais como o Pronatec e o Fies , atrasos de contratos do Minha Casa, Minha Vida Faixa 1 (parafamílias que ganham até R$1,6 mil por mês), vetos ao ajuste do Bolsa Família e, mais recentemente, o lançamento de Projeto de Lei que visa aocongelamento de benefícios e aumentos salariais para o funcionalismo público. Tratamse de ações que fazem realmente pensar se o documentoPonte para o Futuro, do tão temido vicepresidente Michel Temer, configurase mesmo como uma mudança de rota ou apenas reedita o presente.

Se o golpe contra o qual se luta, mais do que um detalhe técnico, se caracteriza por um conjunto de medidas “regressivas” que afetam ostrabalhadores econômica e politicamente, então é forçoso reconhecer que ele tende a ser implementado por qualquer que seja a parte triunfante daatual contenda. O que se está em disputa, de um ponto de vista pragmático dos trabalhadores, é a definição sobre qual seria a burocracia políticamais apta a transmitir a má notícia e aplicála sem produzir maiores convulsões. A evocação abstrata da defesa democrática, neste ponto, atua deforma espantosamente eficaz, fazendo com que grandes organizações e elementos difusos da esquerda se movimentem de joelhos em torno de algoque nem mesmo é enunciado, prometido ou barganhado, como ainda é comum em épocas de campanha eleitoral. Afinal, qual é a contraparte aomenos verbalmente oferecida por Dilma ou Lula em troca do apoio das massas contra o impeachment?

Houve um tempo em que lamentávamos o fato de setores e elementos destacados da esquerda confundirem promessas de campanha comefetividades de governo. Mas, hoje, até as promessas se tornaram dispensáveis: váse atrás da primeira bandeira que lhe aparece à frente, depreferência vermelha e com a genérica inscrição “contra o retrocesso”, a despeito do conteúdo concreto que ela possa representar.

A disputa no imaginário

Descartada as possibilidades de ganho em seus aspectos mais palpáveis, podese ainda sustentar que a luta ao lado do governo neste momentoabrigaria uma dimensão simbólica, como a defesa de uma memória de resistência e de toda tradição revolucionária. Se é assim, não seriademais reconhecer que a reaglutinção de forças à esquerda na órbita petista ocorre muito mais por inclinações emocionais, de afeição a uma imagem– sabiamente mobilizada pela figura de Lula – do que por qualquer cálculo político racional.

Em seu artigo, Cassio Brancaleone sugeriu que a postura antiimpeachment neste momento sejustificaria, entre outros fatores, porquanto a onda antipetista corresponderia na verdade à tentativa de aniquilamento de todo o imaginário social detransformação radical. O autor de Na beira do abismo? defende a ideia de que haveria conexões “entre o golpe palaciano no andar de cima dapolítica com a ofensiva ideológica conservadora no andar de baixo”, de modo que uma derrota do governo na disputa do impeachmentretroalimentaria a ofensiva reacionária na sociedade. Mas também aqui nos parece fundamental separar a luta contra o fascismo e oconservadorismo das ruas, uma batalha mais ampla e duradoura, da luta contra a deposição de um mandato, ligada a conveniências conjunturais emuito pontuais.

Além de observar que o processo de desaparição das expectativas revolucionárias já está há décadas em curso, tendo como uma das suas principaisexpressões nestas terras a realpolitik petista, é prudente advertir para que tal defesa da tradição não se confunda com o apego quixotesco e fetichistaà simbologia do “vermelho”. Hoje, nos parece, o mais importante desafio é deixar bem separado, nos planos prático e ideológico, as deformaçõeshistoricamente cometidas em nome do ideário socialista, por um lado, e o que vem a ser os interesses mais profundos das classes proletárias, por

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outro. E tal batalha não se faz opondo palavras contra palavras, sem se engendrar fatos objetivos, gestos e métodos de ação que demarquem comnitidez a distância que nos encontramos (ou pretendemos nos encontrar) do projeto que ora agoniza.

A tarefa nos impele a um melhor entendimento do quadro generalizado de insatisfações e descrença diante do governo e, mais além, do própriosistema político. É importante diferenciar posições de segmentos mais precarizados da classe – que em sua grande maioria nem estão presentes nosgrandes atos, mas desaprovam o governo –, do núcleo formado por entidades patronais, partidárias, agrupamentos conservadores da sociedade civile, de forma secundária, aqueles de cariz indubitavelmente fascista. Notoriamente, este último, mais organizado, disputa o sentido das indignaçõesdispersas e procuram estendêlas a todo e qualquer conteúdo de esquerda, que acaba sendo automaticamente assimilado às artimanhas de que o PTprecisou lançar mão quando decidiu dirigirse à gestão do Estado. Porém, em relação aos setores da classe situados mais abaixo na pirâmide social,deveria ser compreensível para nós que um dos elementos que tornam a corrupção do PT mais facilmente odiável que a de outros partidos é o fatode ele ter sido, desde o processo de abertura política até o momento atual, o grande portador das expectativas populares de transformação darealidade. Fartamente explorado pelos meios de comunicação, para a experiência cotidiana de trabalhadores que ‘ralam’ de sol a sol, este é um fatorde indignação real que, ao ser lançado em um contexto de contração de benefícios sociais e aumento da inflação e do desemprego, torna taisescândalos de “corrupção” um ingrediente explosivo.

A circunstância faz lembrar uma reflexão feita por José Mário Branco, logo no início deste site, sobre a dimensão contrapropagandista semprepresente nas tarefas revolucionárias:

Uma vez, em 1975, durante o processo revolucionário a que os brasileiros chamam Revolução dos Cravos, um amigo meu,revolucionário comunista, foi desenvolver e organizar a luta política em TrásosMontes (interior nordeste de Portugal) onde, pensavase, as pessoas estavam muito dominadas pelas ideias reaccionárias dos padres e dos caciques exfascistas. Foi para a região e, numatasca de aldeia, pôsse à conversa com trabalhadores do campo que ali estavam a beber e a conviver. Foi conversando sobre a vida “emgeral” e lentamente, à medida que iam estando de acordo sobre as ideias simples (democracia, liberdade, justiça social para acabar comdiferenças entre pobres e ricos), ele ia explicando “os nomes dos bois”: isto é o socialismo, aquilo é o comunismo, aqueloutro é arevolução, etc. No fim da conversa, um velhote virouse para ele, e disse: “Essas coisas que nos explica são importantes; eu concordocom elas, concordo que a nossa sociedade devia ser assim… Mas há uma coisa que não entendo… Porque é que, a coisas tão bonitas,você dá nomes tão feios?” Para ele, os “nomes feios” eram as palavras “socialismo”, “comunismo”, “revolução”. O que os separava nãoeram as ideias, as convicções, as aspirações para a sociedade, mas sim os nomes dados a essas coisas.

Assim, se quisermos resgatar alguma possibilidade de continuar existindo após a tormenta, nossos esforços não devem estar voltados para espaçosde intervenção unitária com representações políticas disto que ao olhos da classe trabalhadora é a expressão moribunda de suas expectativasfrustradas, senão para o descolamento completo e urgente em relação ao petismo. Estabelecer firmemente estas diferenças parece ser um requisitomais decisivo para nossa sobrevivência do que um ajuntamento abstrato em torno da “legalidade democrática”. E não é só porque tenhamos que nosesquivar do estigma de “petralhas”, mas porque é imperioso dissipar qualquer chance de associação entre o que concebemos como alternativa aocapitalismo e a opção estratégica feita pelo PT ao longo de sua trajetória, do qual os métodos tão fortemente rechaçados do ponto de vista ético sãoapenas consequências.

Quanto aos conservadorismos que grassam nos protestos, locais de trabalho e nas ruas, que é verdadeiro e não pode ser subestimado, não é possívelvislumbrar de que maneira o posicionamento antiimpeachment – que, objetivamente, sempre se dará ao lado das forças governistas – pode ajudar aatacálos eficazmente. Para além de os últimos governos serem parte integrante do que se quer combater, não se pode perder de vista que osfenômenos que nos assombram constituemse por um semnúmero de práticas difusas que habitam aspectos mais sutis de nosso cotidiano. Incluemse aqui degenerações articuladas por diversos setores da esquerda que reduziram o debate político a moralizações, irracionalismos e maniqueísmos.Como desenvolvido em outro artigo recente do Passa Palavra: “Os linchamentos e o justiçamento – que do lado de cá é entendido como “ açãodireta” – tornaramse a norma geral em ambos os lados do tabuleiro.”

Numa abordagem mais ampla, as origens do reacionarismo a que hoje assistimos estão associadas a fatores outros que antecedem e vão além dorevés que sofre hoje o governo. O monstrengo é, em certa medida, tributário de um encontro inesperado que, naquilo que nos toca, reúne a longevainatividade da esquerda anticapitalista para a promoção de redes de solidariedade paralelas nos períodos de aperto econômico, de uma parte, e osubproduto das políticas sociais petistas, por outra, que promoveram deslocamentos significativos na estrutura social às expensas de um profundoprocesso de individualização, endividamento e esterilização dos velhos instrumentos de ação coletiva.

Nesse sentido, o boom conservador talvez deva ser percebido como vertente à direita do estouro da boiada, tal como as Jornadas de Junho o forampela esquerda: o efeito rebote produzido pelo excesso de dispositivos conciliatórios que por mais de dez anos conservaram os conflitos sociais emcerimoniais de gabinete – pactos e concessões de parte a parte que agora alcançam o seu limite.

Obviamente, as manobras políticas da direita institucionalizada neste momento tiram todo proveito que podem do ativismo fascista que vem dasruas, mas não estão a seu mero serviço; da mesma forma que este também não lhes veem com bons olhos. Como é de praxe, tão logo uma eventualcoalização de centrodireita assuma as rédeas do Estado, seus discursos e práticas deverão se adequar estritamente às principais diretrizes docapitalismo transnacional e distanciaremse rapidamente dos irracionalismos que instabilizam os planejamentos empresariais e são indesejáveis aosimperativos econômicos de uma forma geral. Estes problemas, no entanto, desligados das disputas palacianas, e qualquer que seja o desfecho domelodrama, retornarão a nossos colos, e é com esta perspectiva que devemos agir.

Por estas razões, esta batalha dá sinais de que deve ser encarada a longo prazo, a cada novo ensaio de luta, devendo acontecer no corpo a corpo,através do debate de ideias que se travam nos ambientes de trabalho, nas escolas, universidades, locais de moradia e lazer (e até eventualmente emembates físicos contra grupos conservadores mais desabusados). Só mesmo num sentido muito residual e imediato é que a tomada de partido numacontenda que envolve frações de interesse entre capitalistas privados e estatais poderia contribuir. Querer que as experiências autônomas, libertárias

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e afins atuem por dentro da luta contra o impeachment com a expectativa de transformála numa luta anticapitalista mais ampla, além de todas asobjeções levantadas acima, incide numa grande ingenuidade porque superestima a capacidade de estes movimentos terem alguma margem de voz einterferência no interior da máquina lulopetista; em que pese as boas intenções, restará o saldo político objetivo de sempre ser mero apoio aomandato.[1]

E aí?

No momento que o aperto econômico novamente se avizinha, a pergunta que deve nortear nossas ações é onde devemos depositar as parcasenergias: numa luta fictícia, em que acordos desfavoráveis à classe trabalhadora são de ambas as partes preparados a despeito dela, ou concentrálasem pautas concretas, no terreno concreto onde o conservadorismo se difunde, incluindo aí o próprio meio popular? A experiência dá pistas de queos eventuais impactos que a derrota do mandato petista representariam à institucionalidade democrática, seja esta entendida ou não como golpe, nãoserão mais danosos do que aqueles que já se fazem sentir sob a vigência do atual governo.

Sem qualquer tipo de ilusão, prestaria muito melhor serviço à democracia se a esquerda anticapitalista se desligasse por completo desta paródicateatralização e se voltasse para a reconstrução de um caminho novo. É de se imaginar o campo de possibilidades que se abriria se metade dessaenergia social mobilizada no dia 18 de março fosse direcionada para a derrubada da Lei Antiterrorista ou contra medidas de ataque aos direitostrabalhistas, por exemplo. Ela teria, no entanto, que se contrapôr aos interesses governistas, talvez até enfraquecêlos, mas se colocaria como umaluta “democrática” muito mais concreta e urgente que a adesão aos chamados oportunistas que emanam do Planalto e do Instituto Lula. Se estivesseem jogo algum bom programa economicamente reformista e politicamente democrático, ainda vá lá! Mas parece que tanto mais desesperada edistante os termos desta luta se colocam em relação a este compromisso, mais a militância de esquerda se agarra à defesa de um mero mandato,fortalecendo o mito da personalidade redentora, que tanto obstruiu historicamente os esforços de autonomia e emancipação.

Esta leitura até poderia soar como uma notícia reconfortante, o álibi para uma “lavada de mãos” ou a simples confirmação dramática de todas asdenúncias que nestes últimos anos temos feito. Mas não é. Pois se entendemos que o ciclo petista de concessões se esgotou, este deixa de ser,também para nós, a figura a quem se atribui todos os entraves e o refreamento da luta de classes. Frente ao defunto, a responsabilidade volta commais peso ainda para nós.

Nota

[1] Lembremos do ato do Dia das Mulheres em São Paulo recentemente, quando, em plena crise política e diante da necessidade de angariar apoios,uma militante feminista foi agredida ao descer do carro de som simplesmente por ter feito uma fala crítica ao governo. Que espaço teríamos, nosatos governistas, para colocar outras pautas que não fossem as de defesa do próprio governo? A despeito do semnúmero de baboseiras e exemplosde oportunismo a extrair deste episódio, ele serve para medir até que ponto os próprios setores governistas acreditam estar ou não diante de umgolpe. Tivessem mesmo essa convicção, seria prudente começar a admitir críticas e autocríticas à sua trajetória, e não simplesmente tachar de“golpista” toda e qualquer posição contrária à sua, catapultando estas vozes críticas para fora do jogo político.

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Comentários

17 Comentários on "A esquerda contra o golpe. Ou: “façamos o ‘retrocesso’ antes que a direita o faça”"

1. ulisses em 31 de março de 2016 12:35

MODJU RACKETEERO minimanual do mais que perfeito escroque ninefingers ou catecismo lulopragmático tem, basicamente, dois eixos: corporativismo populista(tardoleninismo&criptofascismo) e gatopardismo (longa marcha – dentro e a favor, por supuesto – através das instituições: sindicato, partido,estado… e contrarrevolução molecular).

2. Silvia Beatriz Adoue em 31 de março de 2016 13:16

Compas, aqui, pensando em voz alta,

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UM OLHO NO PEIXE, O OUTRO NO GATO

Acho que a análise acerta quando diz que pouco as lutas dos debaixo podem pesar nessa disputa que se dá na esfera política. Não apenasporque o reacender das luta é relativamente recente, mas porque a pouca continuidade e o pouco alcance nacionais das mesmas não permitiu,ainda, uma articulação com capacidade de ação decisiva. Temos que manter o olho no peixe, porque não há “atalhos”.

Mas o olho no gato, que é o que o texto faz, se faz mesmo necessário. Até porque as condições de ampliação dessas lutas dependem emgrande medida da maior ou menor articulação repressiva do Estado.

O QUE MATA DAS BALAS É A VELOCIDADE

Mas o que se decide na esfera institucional não é irrelevante. Mesmo que nossas possibilidades de pesar nela, com objetivos próprios, sejamacanhadas. É uma questão de velocidade.

O que está em disputa não são dois projetos, mas quem realiza a transição. Transição para quê? Para uma nova configuração e funcionamentodo capital no país. Isso está em marcha e nenhum dos setores lados desta contenda lhe opõem resistência. Aí estão os três tratados, as três Ts:Tratado Transatlântico, Tratado Transpacífico e TiSA. Eles supõem uma fluidez na circulação, investimentos e determinações de efeito sobreas cadeias produtivas, sem qualquer obstáculo legal nacional. Eles supõem a adaptação dos marcos legais para esse funcionamento. Quem vaiconduzir essa transição no Brasil?

Sem dúvida, a oposição a Dilma se propõe a fazer isso com maior velocidade. Tanto o PSDB, como o PMDB. Só que em condições maisimprevisíveis. Por isso setores diferentes do pólo externo da economia fazem apostas diferentes. Alguns acham arriscoso um governocanhestro em mediar conflitos sociais. Acho que o texto do Passa não está se atentando para esse fato, que, em última instância, será decisivo.

tamo junto,

3. Adur em 31 de março de 2016 13:58

Não sei se ainda foi considerado, mas será que um encontro oficial, sem qualquer perspectiva de criar algo, não seria mais interessante para setrazer esse debate?

4. Profeletário em 31 de março de 2016 15:16

Mais um relato para a Nota [1]: “No último [ato #naovaitergolpe] teve uma situação engraçada. Estava lá com a minha Bike, esperando unsamigos, derreprente fui interpelado por uns petistas, perguntando se eu era coxinha. Comecei a rir, e o caro então afirmou: se ta rindo é porqueé coxinha, ainda mais com essa bike cara. Ri novamente e lhe disse: cara eu não devia perder tempo em te responder, mas pra v. não comete omesmo erro com outra pessoa vou te falar. V. julga as pessoas pelo que ela veste ou pelo que ela tem, isso é o que está acontecendo nesse paisatualmente intolerância e estupidez. V está fazendo igualzinho o que a outra parte faz, promovendo o ódio. Ai o cara, se resignou e disse:desculpa cara não queria te ofender. Falei pra ele, beleza, mas tome cuidado com o que v. diz, pois pode de repente ter uma surpresa. Ai o caradisse: mas v. votou na dilma né? Lhe disse que não, ai novamente ele disse: então v. é coxinha mesmo. Respirei fundo e disse: continuando oque estava te explicando, não voltei na Dilma nem em nenhum partido porque não acredito na democracia representativa, mas sim naparticipativa. Ai o cara novamente apertou minha mão e disse: então tu está mas a esquerda que eu. Falei que não apenas estava cansado dessejogo da representação política. Por fim tirei um sarro dele. Falei: cara nos temos que ir para o fundo, e ele: pra que? Lhe disse que deveríamossempre ocupar espaço para dar uma dimensão maior do ato, assim as pessoas que estavam chegando se posicionarao atras de nos e assimsucessivamente, tá ligado? e ele disse não, ai dei o xeque mate no idiota petista. Falei, tática de guerrilha, e ele de boca aberta não entendonada, acrescentei: che guevara, conhece?, acabei deixando tolo lá e fui para o final do protesto.Foi muito hilário. Nesta sexta [01 de abril] estaremos lá novamente.”

Não basta defender o governo agora, tem que ter votado também.

5. Leo Vinicius em 31 de março de 2016 17:27

O texto parte de pressupostos a meu ver equivocados.

Mas antes de tratar disso, na seção “Liberdades políticas e conquistas econômicas” ele repisa sempre a mesma questão de apresentar todos osdefeitos e problemas com os governos do PT. E quem irá discordar desses problemas? Isso só se justifica se se parte do pressuposto de quetodos que estão “contra o golpe” (uma expressão genérica que pode abarcar muitas posições e motivações) são governistas. Ou, novamente,serve para justificar “lavar as mãos”, como apontei no meu comentário referenciado no texto.

O texto parte do entendimento de que tanto faz Dilma ou Temer, ou Aécio, ou Cunha e, mais importante do que isso, tanto faz o processo queos faz chegar ou se manter lá, pois a política para os trabalhadores será a mesma. É difícil ter certezas, mas nesse processo de golpe, paramuita gente está claro que o tudo ou nada jogado por setores da burguesia (uma Rede Globo por exemplo) se coaduna muito mais com a ideiade que, se já está péssimo para os trabalhadores com esse governo, querem avançar o retrocesso rapidamente, fazendo uma espécie de 50 anosem 5 de ataque os trabalhadores. Hipótese? Claro, como saberemos? A de que tudo permanecerá igual também é uma hipótese, que a meu ver,é menos crível.

Sobre o reacionarismo ou fascismo na sociedade, é claro que ele possui elementos anteriores, e que os governos do PT tem sua parte deresponsabilidade. Mas é impossível não enxergar uma relação dialética entre a política institucional golpista, e a fomentação einstrumentalização da nação em cólera. Sim, acho possível que esse fascismo na sociedade entre em refluxo se ocorrer um golpe, mas tambémé possível, como o texto do Cassio aponta, que ganhe maior força. Só sei que estarei sempre do lado aposto, combatendo a aliança FIESPCarecas do SuburbioGlobo.

Outro pressuposto errado: “prestaria muito melhor serviço à democracia se a esquerda anticapitalista se desligasse por completo destaparódica teatralização e se voltasse para a reconstrução de um caminho novo”. Como se muitos grupos políticos que estão contra o golpe nãoestivessem construindo caminhos novos… É sabido que estão, então tal afirmação só se justifica por uma necessidade identitária, moral, deestar afastado, longe, não ser confundido com o tal PT ou algo que o valha.

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Mas creio que a frase seguinte dá o tom da posição que permeia o texto:

“É de se imaginar o campo de possibilidades que se abriria se metade dessa energia social mobilizada no dia 18 de março fosse direcionadapara a derrubada da Lei Antiterrorista ou contra medidas de ataque aos direitos trabalhistas, por exemplo.”

A análise da realidade, do texto, em muito é uma análise do desejo, da fantasia dos autores. Isso sim é teatralização! Uai sô, por que seráentão que nunca apareceram 200 mil pessoas na Avenida Paulista para lutarem contra a Lei Antiterrorismo? Por que nunca se direcionaram aisso? Quem na esquerda não gostaria que ocorresse (além dos burocratas governistas se consideralos esquerda)? Quem é capaz de dar esse“direcionamento” agora? Ninguém.

Eu posso imaginar muitas coisas belas que 200 mil pessoas bem direcionadas poderiam fazer também. Pena que elas não me seguem.

6. Fagner Enrique em 31 de março de 2016 22:20

Tocando na questão dos retrocessos, mencionada por Leo Vinicius, acho que precisamos levar em conta o seguinte (recorro ao exemplo daluta contra as Organizações Sociais na Educação goiana, que foi algo que eu acompanhei):

Os militantes, quando refletiam sobre a luta do ponto de vista dos professores, e demais trabalhadores da Educação, isto é, quando nãopensavam ser suficiente fazer uma pequena quantidade de secundaristas ocupar as escolas, porque isso já seria a autogestão social, apontavamo quanto aquilo tudo era um retrocesso: o governo estadual querer eliminar as garantias, em termos de remuneração e estabilidade, dosservidores públicos. Tudo aquilo representava menos democracia, portanto mais autoritarismo, e uma exploração mais arcaica. Mas, eninguém aponta isso, o projeto das Organizações Sociais era mais voltado para a produtividade, mais do que qualquer outra coisa, com toda acarga de autoritarismo e exploração que o termo carrega, o que não representa, necessariamente, menos democracia e exploração mais arcaica(entendo democracia como a ordem constitucional democrática, representativa, “burguesa”, com direitos civis, etc.).

A remuneração seria condicionada à produtividade, e o ataque à estabilidade representaria a coerção necessária para que as metas deprodutividade fossem atingidas. Eu não sei em que medida, do ponto de vista capitalista, isso representa um retrocesso, se, por meio dessasmedidas, os professores produzirem uma maior quantidade de força de trabalho qualificada, e mais qualificada. Para o professor, e eu souprofessor, representa, com toda a certeza, mais trabalho. Bem, mas, para o consumidor daquele serviço público, que é um trabalhador comoeu, é exatamente isso que importa, que o prestador do serviço público trabalhe mais e melhor: quando vou ao médico, quero que o médicotrabalhe o máximo possível, e o melhor possível, para me manter saudável. O próprio governo estadual, que aqui é do PSDB, punha esta cartana mesa: o filho do trabalhador teria acesso a uma Educação com a mesma qualidade, em termos de coerção sobre os professores, para seremmais produtivos, e para prestarem um serviço mais afinado com as exigências do mercado, que o filho da família de classe média, que temacesso à Educação privada; além do mais, as Organizações Sociais fariam uma melhor administração dos repasses do governo, havendo adevida fiscalização (será que os servidores públicos que assumem cargos de gestão fazem uma boa gestão dos repasses do governo?).

Para toda a esquerda, isso tudo é a volta da Idade Média, da servidão, ou do escravismo (e, com certeza, para 99,9% dos leitores destecomentário, senão para 100%, eu sou um grandessíssimo coxinha, um tucano reacionário). Para o setor empresarial, e para os políticos doPSDB, porém, isso é um capitalismo mais avançado, no âmbito da Educação. Muita gente, muita gente mesmo, considera o governo estadualgoiano uma variante do “coronelismo”. Vejam só, do coronelismo! Mas o projeto do governo estadual para a Educação goiana foi formuladoconsoante o PMGP (Programa Modernizando a Gestão Pública), do MBC (Movimento Brasil Competitivo), cujo Conselho Superior épresidido por Jorge Gerdau (mais informações sobre o programa, aqui: http://www.mbc.org.br/mbc/novo/index.php?option=projeto&task=categoria&id=4&Itemid=34).

O Grupo Gerdau se preocupa com a internacionalização do capitalismo brasileiro, e com uma competitividade processada ao níveltecnológico; quer dizer, o capitalismo brasileiro precisa se tornar mais competitivo, mas a partir de remodelações ao nível tecnológico. Numartigo publicado no site do MCB, por exemplo, está escrito: “o ano de 2013 será decisivo para a retomada do crescimento da economiabrasileira. […] Sabemos, porém, que o caminho que nos conduzirá ao desenvolvimento sustentável precisa ser pavimentado, para quetenhamos clareza de onde queremos chegar e alcancemos o grau de competitividade necessário a uma adequada inserção internacional dasempresas e produção brasileiras (aqui: http://www.mbc.org.br/mbc/novo/index.php?option=artigo&Itemid=14&task=detalhe&id=910)”. Taisremodelações ao nível tecnológico, como bem coloca o artigo, dependem de um “ambiente de incentivo à inovação e à competitividade”, quenão pode ser atingido “sem pessoas preparadas e motivadas, sem a constituição de um caldo de cultura para a inovação”. E o artigo conclui:“não seremos capazes de manter um desenvolvimento sustentável sem imediatos esforços para injetar qualidade na educação universalbrasileira”.

Ora, como esse programa de modernização tecnológica, como esse programa de estímulo à produtividade, como isso pode ser considerado umretrocesso, do ponto de vista do capitalismo? Só pode ser considerado um retrocesso se pensarmos que estamos mais próximos de umaeconomia socialista, ou menos sujeita aos imperativos do capitalismo, sob a batuta de Dilma/PT. Estamos? Ora, o próprio jornal Valor (nestareportagem, de janeiro deste ano: http://www.valor.com.br/financas/4416170/ftosbricsestaomortosvidalongaaosticks), mostra como osTICKS têm superado os BRICS, em termos de liderança do crescimento econômico global, porque os TICKS são fortes em tecnologia,enquanto os BRICS são centrados em commodities. A reportagem assinala para o fato de que “os serviços, especialmente a tecnologia” têmganhado destaque, “em detrimento do comércio de mercadorias físicas, especialmente de commodities”. A fala de Steven Holden, fundadorda Copley Fund Research, na reportagem, é esclarecedora: “a tecnologia é galopante e o consumidor é aquilo em que você está investindo nosemergentes agora. Eu não acho que muitas pessoas estão conscientes da nova história dos emergentes tanto quanto deveriam estar. Elespensam em Brasil, Rússia, matérias primas, grandes empresas de energia. Isso mudou imensamente”.

Ou seja, estamos diante de um retrocesso burguês, ou de uma tentativa de setores capitalistas brasileiros de colocarem o Brasil nos trilhos deum novo capitalismo emergente, que colocou para trás o modelo capitalista de sucesso durante a era PT? Podemos lançar esta hipótese:estamos diante de um embate entre neodesenvolvimentismo e neoliberalismo, gestores e burguesia, ou diante de um embate entre “modeloBRICS” e “modelo TICKS”? Bem, sei que pensar (ou falar da boca para fora, pelo menos) em termos de ofensiva neoliberal/burguesa, contrao governo democráticopopular, é exatamente o que os petistas fazem. A crítica ao neoliberalismo serviu, e muito bem, para pavimentar oprojeto de capitalismo, modelo BRICS, do PT. Basta assistir à TV Câmara, à TV Senado, para conferir o conteúdo dos discursos dosparlamentares governistas: tratase de um golpe das forças burguesas/neoliberais, contra o democracia e o projeto de justiça social, etc., etc.,etc., do PT.

7. ulisses em 1 de abril de 2016 08:55

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PLAY IT AGAIN?Entre ko & kaput, o corporativismo populista soçobra.Em abril 1964, um operário que lê responde: “O problema não é terem derrubado o Jango. É que ele caiu em cima de nós…”

8. LSCF em 1 de abril de 2016 15:33

Eu, daqui, acho que as análises feitas pelo PP são todas muito boas, mas continuo não entendendo como o melhor a se fazer é não entrar nobolo.Me parece que seria importante participar (como coletivo) das manifestações, nem que fosse pra conversar com essa massa multiforme quetem ido aos atos contraimpedimento. Se a dita extremaesquerda anticapitalista não consegue dialogar nem mesmo com esse tipo de esquerdaque tem ido às ruas (e, ainda que se discuta se são ou não esquerda, ou de que esquerda falamos, é óbvio que os estão na rua agora a favor damanutenção do governo estão mais abertos – que o grosso da população – a ouvir o que anticapitalistas teriam a dizer), qual a esperança demobilização significativa num futuro próximo?Eu repito, concordo com muito do que vcs dizem e percebo que vcs tem um arcabouço teórico/intelectual muito maior que o meu, mas se tudoisso só tem servido pra separar, de que adianta? A ideia básica não é agregar?E eu sei que esse agregar não pode ser feito a qualquer custo, mas penso que em nenhum momento dos últimos muitos anos se juntou tantagente simpatizante das ideias de esquerda num só movimento. Participar desse movimento de alguma maneira, ainda que sem muito interessepelo motivo primário da formação do movimento, é importante, não?E aquela ideia de que a organização se dá nas lutas? Se não é possível conversar com esse povo, com qual é?

9. Aquiles em 1 de abril de 2016 23:59

Penso que o texto avalia corretamente a conjuntura atual, principalmente no que diz respeito às possibilidades (inexistentes) de uma “guinadaà esquerda” de um governo Dilma “salvo pelas ruas”. E tal constatação não é inócua, nem pressupõem a hipotese de uma necessaria igualdadeentre um eventual governo Temer (ou algo que o valha) e um governo Dilma. Ela é sim central, primeiro porque para se salvar, este governonão possue atualmente condições materiais para sequer indicar retoricamente esta guinada. Explico melhor o porque penso assim: o PT foi defato eleito por uma frente composta em boa medida por setores do capital agroexportador, setores da industria nacional (FIESP compunha atéontem com Lula, sem contar Odebrecht et caterva), comércio de grande superficie e bancos privados nacionais. Tal frente vem se esfacelandodesde o fim do ministério do Mantega em parte devido ao desequilibrio na balança comercial ocasionado em boa medida pela queda do preçodas commodities (afinal, o projeto “neodesenvovimentista” baseouse fortemente na possibilidade de se ampliar consumo e crédito uma vezcontrolada a politica fiscal, o que so se deu graças a este excedente na balança). Lula e Dilma apostam é na possibilidade de recompor umafrente semelhante, utilizando para tanto o efeito Lula como garantia de controle dos conflitos sociais que necessariamente continuarão etendem a se agravar.Segundo ponto importante que decorre da constatação da impossibilidade da guinada: ao se defender o indefensavel em razão de umapossibilidade abstrata de unidade com setores da esquerda majoritariamente marcados por uma extração de classe “pequenoburgusea” (na fltade um conceito mais adequado, fico com os jargões de sempre), esquecese aquela massa de trabalhadores que desaprovam o governo masque (ao menos ainda) não compõem os atos pelo impeachment. Pesquisa DataFolha (fonte discutivel, bem o sei) feita em 18 de março sobre apopularidade da presidenta mostra que entre trabalhadores cuja renda familiar é inferior a dois salarios minimos, os indices de desaprovaçãodispararam desde 2015. Entretanto, à diferença dos setores mais bem remunerados, tal desaprovação não é majoritariamente atribuida àcorrupção mais igualmente ao medo do desemprego e a questões ligadas à saude. Ora, ao participar destes atos apresentados a seus olhos (viagrande imprensa mas também por amplos setores de “esquerda”)como em defesa a este governo, o que a esquerda faz é abrir claramente apossibilidade destes setores precarizados e recentemente mobilizados serem absorvidos por este fascismo anticorrupção e por esta ultradireita do estado mínimo. Se tal possibilidade se concretizar, PT saudações…

10. Lucas em 2 de abril de 2016 03:15

LSCF,duas coisas:1) nas mobilizações antigolpe você encontrará eleitores do PT, muitos militantes e alguns trabalhadores arregimentados por sindicatos oumovimentos sociais. Mesmo estes últimos não estarão dispostos a ter uma conversa franca com você sobre o porquê não se deve defender oPT, bem no meio de uma manifestação de rua a favor do governo. A base que deve ser disputada definitivamente não está nestes atos, aomenos não 99% dela; e certamente uma manifestação de rua não é a forma ideal de “disputála”. (acredito inclusive que com o passar dotempo se torne mais e mais perigoso ir “dialogar” com pautas críticas num ato com organizações petistas, como já tivemos mostra no 8 demarço).

2) A organização que se deve dar na luta é na luta da classe trabalhadora, não em qualquer luta. “Esse povo” não é uma categoria que atradição classista costuma levar em conta, que é o que você mais encontrará aqui neste site. Ainda que quem estivesse nas ruas fosse a melhorrepresentação da classe sociologicamente falando (o que também não é verdade), a luta que estão dando não se configura como embate entretrabalho e capital; seria apenas um setor dos explorados defendendo um setor do exploradores. Que a organização deles se exploda.

11. Fagner Enrique em 3 de abril de 2016 13:46

Um camarada fez a seguinte publicação no Facebook:

“Um comentário de Fagner Enrique ao mais recente artigo do Passa Palavra (http://www.passapalavra.info/2016/03/107890) parece, mesmosem querer, remeter a outro artigo mais antigo do mesmo site (http://www.passapalavra.info/2011/03/37649). Vejam os artigos e dêem seuspitacos”.

Segue abaixo o debate suscitado pela publicação:

A – Eu não concordo com absolutamente nada do comentário, mas para explicar o motivo eu levaria tempo que não tenho agora (mas faltafundamentação em fatos e conceitual para todas as afirmações feitas nele). Mas o que mais me espanta agora é essa relação com um“socialismo da miséria”. Quer dizer que o PT agora é tido como socialista, e não gestor do capitalismo. Se tem alguma coisa que é olulopetismo não é algo a ver com socialismo da miséria. Desenvolvimento baseado na ampliação do mercado interno pelo aumento decapacidade de consumo dos debaixo, só pra começar. O texto de 2011 se reporta a uma extremaesquerda, que não tem absolutamente nada a

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ver com o programa petista de gestão do capitalismo.Curtir · Responder · 1 de abril às 13:21

B – O que me chamou a atenção mesmo foi a oposição BRICS e TICKS. E como, no comentário, fica evidente que um dos muitos motivos daagitação política (além do evidente controle sobre as estatais) é um modelo de gestão.

O problema é o seguinte, para usar novamente o método de “realismo de noticiário”: o PT já não é nem um pouco socialista faz tempo, masarrasta muito socialista desde sempre, tanto dentro quanto fora dele. E na medida em que estes elementos de enquadramento internacional daeconomia vão sendo deixados de lado por amplos setores da esquerda em favor de análises centradas na moral, na ética, na retórica, naalgaravia jornalística etc., perdese boa parte da capacidade de ver a crise brasileira num contexto mais amplo.Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:29

B – Exemplo: há quem fale aos quatro ventos que a LavaJato foi talhada para desmontar o “capitalismo brasileiro”, querendo com isto dizerque é um complô para arrasar com as empresas brasileiras mais competitivas no cenário internacional e em franco processo detransnacionalização. Este é um cenário plausível, claro, mas estaria o “capitalismo brasileiro” realmente em xeque com a “ruína” daOdebrecht e da Petrobras? A análise do IED com capital brasileiro mostra que nem tanto.Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:31

B – E enquanto essas coisas vão passando, o debate sobre o modelo de desenvolvimento CAPITALISTA pautado pelo PT vs. o modelo dedesenvolvimento capitalista pautado pelo PSDB; como ambos trabalham a questão da produtividade; como se alinham ou se afastam dospólos mais dinâmicos do capital internacional etc., tudo isso vai ficando de lado.Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:33

B – A propósito, aguardo ver sua resposta. Vejamos no que convergimos e no que discordamos quanto ao conteúdo daquele comentário a queme referi.Descurtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:34

A – pelo próprio modelo que vcs usam, e que gosto, o aumento de produtividade em geral é consequencia da luta dos trabalhadores. Naprática, se tem alguém que fez uma política, indireta, que pressiona o aumento de produtividade, foi o lulopetismo, com ampliação do saláriomínimo, aumento dos níveis salariais etc. A política Armínio Fraga (PSDB), de rebaixamento salarial geral (supostamente para ampliar oinvestimento e competitividade das empresas brasileiras) exatamente tira toda pressão para o aumento da produtividade como necessidadepara a competitividade. Outra questão é o conceito de produtividade. Quando um médico deixa de ser um clínico, que estabelece uma certarelação com o paciente, sem a racionalização do seu tempo de trabalho, ele produz algo diferente de um médico que segue protocolos etempos racionalizados de uma plano se saúde do qual é empregado. O produto de ambos é diferente. O mesmo vale para professores e outrosserviços. Esse é um outro grande erro do comentário em questão: toma os índices do gestor capitalista como produção real – mistura doisprodutos diferentes da perspectiva do consumidor (e do trabalhador) como se fossem o mesmo produto. Tem mais coisas…Curtir · Responder · 1 · 1 de abril às 13:44

Fagner Enrique – Não queria transferir o debate para o Facebook, mas vamos lá:

1. É o aumento do salário mínimo que aumenta a produtividade, ou é o desenvolvimento tecnológico? Colocando em termos marxistas, não setrata, na verdade, do aumento da força produtiva do trabalho?

2. A Educação não serviria, portanto, justamente para enquadrar o trabalhador num dado nível de desenvolvimento da força produtiva dotrabalho, condição indispensável para uma maior produtividade? Aumentos salariais teriam essa eficácia?

3. Aumentos salariais, como durante a Era Lula, estão sempre relacionados ao desenvolvimento das forças produtivas, ou podem estarrelacionados também à retomada do crescimento econômico, associada a uma política de valorização do salário mínimo?

4. Li em algum lugar (posso buscar a referência exata) que a política de valorização do salário mínimo, durante a Era Lula, beneficiou,sobretudo, os trabalhadores ligados a atividades de baixa produtividade.

5. O governo federal, durante a Era Lula, não teria estimulado um desenvolvimento tecnológico associado a um tipo de exportação cujosprodutos teriam menor valor agregado (commodities, etc.), em contraste com outros países, onde o desenvolvimento tecnológico estimuladoestá associado à exportação de produtos de maior valor agregado?Curtir · Responder · 1 · 1 de abril às 23:03

A – 1. Eu não disse que o salário alto aumenta a produtividade. Eu disse que com salários altos a saída do empresário para se tornarcompetitivo é aumentar a produtividade – por isso muito mais as políticas do lulismo que do PSDB estimulam o aumento da produtividade,geram uma tendência nesse sentido. O seu exemplo do ponto 4 vai exatamente nesse sentido.O seu ponto 5 eu concordo, mas o que isso tem aver com a questão? Ora, a discussão é se a política econômica do PSDB tem algo a ver com maior estímulo a aumento de produtividade. Enão há absolutamente nada que aponte nesse sentido.Curtir · Responder · 1 · Ontem às 00:10

Fagner Enrique – Mas, para que o empresário particular introduza inovações tecnológicas em sua empresa particular, é preciso que os gestoresprocedam a remodelações ao nível das condições gerais de produção, e aí o programa do governo determina quais setores serão privilegiados(se os de produtos de menor ou maior valor agregado, por exemplo, ou se bens de consumo ou bens de capital, por exemplo) e quais ficarão àmargem, e a Educação, no meu comentário no Passa Palavra, é pensada nesse contexto, enquanto parte das condições gerais de produção.Quanto à política de valorização do salário mínimo ter beneficiado, sobretudo, os trabalhadores ligados a atividades de baixa produtividade,me referia a atividades produtoras de bens e serviços de baixo valor agregado. Sendo interesse do governo potencializar a competividade daeconomia brasileira, seguindo o caminho trilhado pelos asiáticos, é preciso remodelar as CGP, para possibilitar alterações tecnológicas nasempresas produtoras de bens de consumo de alto valor agregado, de um lado, e executar uma política de valorização salarial que beneficie ostrabalhadores ligados a tais atividades, de outro, para que os empresários se vejam forçados a aproveitar as remodelações ao nível das CGP,introduzindo novas tecnologias ao nível das empresas particulares, de outro ainda.Curtir · Responder · 1 · Ontem às 10:41

A – No governo do FHC foram criadas – não me recordo ao certo agora – no máximo uma universidade federal. No governo Lula foramcriadas mais de 10, e inúmeras escolas técnicas federais. Se tem alguma política de qualificação da força de trabalho para aumento daprodutividade, vai ser encontrada mais no governo do PT do que no do PSDB. As OSs, nas palavras do próprio Marconi Perilo, visam quebrar

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os sindicatos, fragmentar os trabalhadores, diminuir seu poder de barganha (teria que procurar a materia com essas declarações agora). Ora,tudo isso, no próprio modelo que vcs usam, se enquadra mais no tipoideal de gestão da força e trabalho do sistema de maisvalia absoluta. Ouso da burocracia sindical para antecipar demandas dos trabalhadores e o menor uso de repressão (coisa mais ligada a forma de gestão do PTque a do PSDB) está ligada mais ao quadro de maisvalia relativa. Pra terminar, o que acho estranho é que para afirmar que não há golpe oupara manter neutralidade, PT e os que querem o derrubar são exatamente iguais em relação ao ataque aos trabalhadores, mas ao mesmo tempose faz um esforço para “achar” alguma diferença positiva do PSDB em relação ao PT para o desenvolvimento do capitalismo. Aí ambos nãosão iguais, o PSDB é melhor.Curtir · Responder · 1 · Ontem às 13:28

Fagner Enrique – Sim, é claro que o governo federal, durante os governos petistas, ampliou as universidades federais, mas, como apontadopelo João Bernardo, aqui: http://www.passapalavra.info/2011/09/43889, o Brasil continua atrás dos demais BRICS, no que se refere aosalfabetizados com idade igual ou superior a quinze anos, e das outras grandes economias latinoamericanas, como Argentina, China e México.As empresas que mais investiram em P&D foram a Petrobras e a Embraer, e, pelo menos nesse sentido, o Brasil detém a liderança. Aconclusão do autor é que “numa situação em que um ensino básico precário e uma escolaridade deficiente coexistem com um desempenhosatisfatório em P&D, pode operarse uma dicotomia de consequências nefastas, colocando para um lado a esmagadora maioria da força detrabalho, mal qualificada e laborando por isso em empresas pouco produtivas, e isolando noutro lado uma minoria de trabalhadoresqualificados, sem que haja mobilidade de uma esfera para outra e provocando um estrangulamento na oferta de profissionais habilitados”. Econclui também que “se não se ultrapassar a dicotomia entre um ensino básico precário e um ensino profissionalizante e universitáriosatisfatório, a colaboração das universidades com as empresas, em vez de ampliar o nível genérico de conhecimentos científicos, pode tercomo efeito a formação de ghettos tecnológicos”. Bem, então parece que, para alcançar uma economia mais produtiva, não basta investir emEducação Superior, deixando de lado a Educação Básica. Foi o que fizeram os governos petistas. Essa dicotomia, PTmaisvalia relativa vs.PSDBmaisvalia absoluta, é desprovida de qualquer sentido, pelo menos para mim. Tanto o PT quanto o PSDB têm as suas própriaspropostas para a produtividade, para a gestão dos conflitos (incorporando demandas, etc.), para a internacionalização da economia, etc. Emais: em nenhum momento busquei uma diferença “positiva” do PSDB, que o tornaria um “mal menor”; é você que está colocando a coisanesses termos. Só estou pontuando que, como projeto capitalista, talvez exatamente por seu afastamento com relação ao campo democráticopopular, o PSDB levante um projeto de desenvolvimento mais afinado com o que está garantindo a ascensão dos asiáticos (não passa de umahipótese, que precisa ser investigada, é claro). Quis, desse modo, pontuar que essa questão dos retrocessos (retrocessos burgueses, neoliberais)é justamente o que os políticos petistas têm agitado no parlamento, por exemplo. Será que eles estão certos? Se estiverem, perfeito, não temproblema concordar com eles. Mas e se não estiverem?Brasil hoje e amanhã: 4) ensino e Pesquisa e Desenvolvimento : Passa…passapalavra.infoCurtir · Responder · Remover visualização · 1 · 21 h · Editado

A – Fagner, o seu comentário inicial no PP pegou a deixa de eu ter falado em “retrocesso”. Está claro onde falo em retrocesso que se trata deretrocesso das condições de vida dos trabalhadores (“ataque aos trabalhadores”). Você diz que não é retrocesso do ponto de vista capitalista.Ok. Mas estamos falando de duas coisas opostas. Quando a esquerda contra o golpe fala em retrocesso é em retrocesso de direitos sociais,trabalhistas etc. Eu concordo que a dicotomia PTPSDB entre maisvalia absoluta e relativa é desprovida de sentido. Mas tentei entrar nalógica dessa dicotomia do seu comentário entre PT e PSDB e aumento da produtividade, que é igualmente sem sentido (e se fosse forçar ebuscar, seria no PT e não no PSDB que se pode enxergar políticas que estimulam mais o aumento da produtividade). O seu comentário no PPcomeça com o pressuposto que a OS na educação visa aumentar produtividade. Isso é falso. Ainda mais falso afirmar que o dinheiro público émelhor gerido com OS. O que procuradores sabem é que as OSs na saúde são um escoadouro de dinheiro público. Os benefícios da OS são aflexibilidade pro gestor, a quebra do poder de barganha dos trabalhadores, enfim, mecanismo de flexibilização e terceirização típicas do talpósfordismo. Você toma o discurso da direita em favor da OSs como verdadeiro para desenvolver todo o resto do raciocínio que chega lá naÁsia. Isso não é crítica da economia política. Sequer é economia política… Por fim, aqui no facebook vc relaciona maior produtividade a usode tecnologia, e no comentário no PP o aumento de produtividade dos professores à coerção. Nesse segundo caso vc aceita como verdade odiscurso que o problema da educação é do professor, não da estrutura (tecnologia) da fábrica e nem da matériaprima que chega. Ora, só porisso fica claro que o discurso da direita (e do PSDB) sobre OS não tem a ver com produtividade de fato, mas com índices e metas, quesimulam produção (qual produto?) e servem como mecanismo de gestão e controle da força de trabalho (os professores). P.S. sobre as citaçãodo JB. Sim claro que há um gargalo de educação no Brasil. E os quadros do PT tem total consciência disso, coisa que não sei se os quadros doPSDB possuem.Curtir · Responder · 1 · 21 h

Fagner Enrique – Caro, acho que a minha posição precisa ser melhor elaborada. Voltando ao exemplo das Organizações Sociais: sob o modeloatual, há um determinado nível de desenvolvimento das forças produtivas, e uma determinada modalidade de coerção. Mesmo com todos osmecanismos de diálogo, etc., existe coerção. O que eu quis dizer é que, sob outro modelo, o proposto pelo PSDB, nos deparamos com umaoutra modalidade de coerção, associada a uma tentativa de aplicar novas tecnologias organizacionais, não apenas no âmbito da Educação.Uma tentativa de enquadrar o professor em novas tecnologias organizacionais, combinada a uma tentativa de enquadrar o produto do trabalhodo professor, força de trabalho mais ou menos qualificada, às mesmas tecnologias organizacionais (a tal flexibilização, associada àsterceirizações, ao pósfordismo, etc.). Será que esse novo modelo, pósfordista, etc., não é mais produtivo? Bem, do ponto de vista dastelecomunicações, que foi algo que eu estudei, há algum tempo atrás, com certo interesse, houve um enorme ganho de produtividade. Antesda privatização das telecomunicações, que foi acompanhada de terceirizações, flexibilizações, etc., os serviços de telecomunicações no Brasilatendiam a uma quantidade muito menor de consumidores do que hoje, além do fato de que os serviços se multiplicaram, e muitas outrascoisas. Bem, nesse sentido, concluindo: os ganhos de produtividade dependem da introdução de novas tecnologias, mas eles se efetivam, éclaro, se o empregador tem condições de coagir o empregado a produzir, sob um novo nível de desenvolvimento das forças produtivas, sobum novo modelo de organização do processo de trabalho, sob uma nova modalidade de relações de trabalho, etc., ora.Curtir · Responder · 1 · 18 h

Fagner Enrique – Bem, outra coisa que percebi agora, depois de reler o seu último comentário, é a diferença entre o que é retrocesso do pontode vista capitalista e o que é retrocesso do ponto de vista dos trabalhadores. E aí você menciona os direitos trabalhistas, direitos sociais, etc.Mas levando em conta que tais direitos, quando são instituídos, são instituídos justamente em meio a um processo de recuperação das lutasproletárias, o que eles representam são retrocessos do ponto de vista dos trabalhadores: a cada grande ciclo de lutas, quando os trabalhadoresfalham em derrubar o capitalismo (obtendo, é claro, concessões da parte dos capitalistas), eles se deparam com retrocessos em termos deperda da radicalidade política. E, por outro lado, tais retrocessos representam progressos do ponto de vista capitalista, já que os capitalistas,por meio deles, conseguem apassivar as lutas proletárias, fazêlas perder radicalidade política. No mesmo movimento em que os trabalhadoresdeixam de constituir um todo coeso e solidário, que se basta a si mesmo politicamente, eles deixam também de constituir uma força políticareal contra o capitalismo. Não estou querendo dizer que é bom então que esses direitos sejam desmantelados, para que tudo exploda logo deuma vez. Esses direitos são importantes, porque tornam a vida mais fácil, mas defendêlos não significa, para os trabalhadores, lutar contraretrocessos. Os retrocessos contra os quais se deve realmente lutar são os retrocessos em termos de radicalidade política, e não se vai

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conseguir isso convocandoos para as ruas para lutar ― contra o que quer que seja, não importa ― ao lado daquelas pessoas responsáveis porapassivar as lutas e atrelálas ao Estado. Qual é, porém, a possibilidade de radicalização política nos atos contra o golpe? O mesmo vale paraos sindicatos. O PSDB quer acabar com os sindicatos? Bem, creio que não, já que existe o sindicalismo de resultados, do qual a ForçaSindical é o representante mais conhecido no Brasil. Aliás, seria conveniente mencionar que o primeiro presidente da Força Sindical, umgrande defensor do sindicalismo de resultados, ocupa atualmente o cargo de Secretário das Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho?De qualquer forma, não seria necessário acabar com os sindicatos, pois o que o desenvolvimento econômico tem feito em outros países éexatamente diminuir sua relevância para os trabalhadores (como se pode conferir aqui: http://www.economist.com/blogs/economistexplains/2015/09/economistexplains19). Quer dizer, contra o PT, o PSDB representa um retrocesso, mesmo que o PT coloque um notóriodefensor do sindicalismo de resultados à frente de uma das secretarias do Ministério do Trabalho? São muitas contradições a se levar emconta, antes de reduzir os dois principais partidos do Brasil (se bem que o PT deve perder grande relevância política) a esquemas tão simplese fáceis de explicar. De qualquer forma, a Dilma deve cair e nas próximas eleições vencerá a Marina Silva, que tem todo o lugar de falanecessário (mulher, negra, nasceu no Acre, ambientalista) (como se pode conferir aqui:http://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2016/03/epocanegociospesquisaapontamarinasilvanaliderancadasintencoesdevotopara2018.html). E o PMDB deve compor com o partido da Marina uma nova maioria no Congresso.Why trade unions are decliningSOME 500 trade union members from 90 different unions will gather in Paris for the European…economist.comCurtir · Responder · Remover visualização · 1 · 9 h

B – Realmente, é uma pena ter transferido o debate do site para o Facebook. Mas achei válida a provocação.Curtir · Responder · 54 min

Fagner Enrique – Eu vou publicar os comentários aqui publicados no Passa Palavra, copiar e colar. Assim resolvemos o problema, tirando odebate das redes sociais e voltando para o site.Curtir · Responder · 7 min

Fagner Enrique – Vou suprimir os nomes dos comentadores aqui no Facebook, para evitar que perfis pessoais sejam associados a comentáriosno Passa Palavra.Curtir · Responder · Agora mesmo

(Se os camaradas que participaram do debate pelo Facebook quiserem depois se identificar, fica a seu critério.)

12. m. estrela em 3 de abril de 2016 21:06

Gostei. Texto de extrema lucidez.O governo negocia no varejo com partidos políticos e conclama a “massa” sem assumir compromissos com ela (já assumidos, em suamaioria, em desfavor da classe trabalhadora, que pagará a conta da corrupção).Aliás, este texto me fez pensar então que os movimentos sociais que já estão na rua, alinhados com o PT,já devem ter negociado a sua parte?Ficarão quietos como já o fizeram por ocasião da legislação relativa à aposentadoria complementar dos funcionários públicos ou são apenasincompetentes?). Gostaria de compartilhar o texto.Até a próxima!

13. m.estrela em 3 de abril de 2016 21:09

Como se diz na roça:”pros trabalhadores, o chicote só muda de mão”! Neste caso, parece que nem isso!!!

14. Cassio Brancaleone em 3 de abril de 2016 22:11

Amig@s do PassaPalavra,

A cada texto aqui publicado venho observando que vamos afinando as reflexões e potencializando as leituras sobre o fenômeno do “golpe”em curso. Mas o principal problema é que, quando lidamos com algo que “está em curso”, toda interpretação não é só marcada por alto graude provisorialidade, dada o dinamismo dos fatores que estão produzindo, aqui e agora, esta realidade, como também (a interpretação) podeprovocar seu próprio efeitorealidade e interferir nos desdobramentos deste “processo em curso”.

Compartilho integralmente o diagnóstico sobre o governo petista. Creio que o ponto de maior sensibilidade para mim, como também pareceser o caso do compa Leo Vinícius, é o tipo de tratamento que damos para a relação “golpe no andar de cima” e “avanço do conservadorismono andar de baixo”. E claro, sua correspondente vinculação a alguma linha (tática) de ação. Tentarei matizar as duas questões:

1. Apontar as possíveis correlações entre “golpe no andar de cima” e “avanço do conservadorismo no andar de baixo” de modo algumsignifica admitir uma relação unilateral ou linear entre uma coisa e outra. Tratase de uma hipótese, a seu modo, construída a partir daobservação de determinados eventos que foram sendo processados desde 2013 e ganharam alguma notoriedade ou expressividade em 2016.Mais: a existência de uma intencionalidade na construção de uma determinada “narrativa de crise” por parte de setores do ativismo de direita,recepcionados e potencializados pela ação dos meios oligopólicos de comunicação, que em um movimento de disputa, poderia se instalar emnosso imaginário social como um tipo de “chave de leitura privilegiada” da realidade. E nesse sentido, o efeito avassalador que podem ter osestereótipos sociais frente a formação de uma conjuntura ou contexto de polarização social, não deveriam ser menosprezados. Tomemos ocaso do antipetismo, que insisti em evidenciar no meu texto. Infelizmente, não depende apenas do voluntarismo dos comunistasrevolucionários, autonomistas, libertários, anarquistas, punks, cabeludosbarbudosesquisitões, etc um possível descolamento dessa forma declassificação do que está à esquerda ou fora do status quo. Se o antipetismo se dissemina como esterótipo social do “fora da norma”, do“esquerdista”, não se iludam pensando que isso se dará apenas através da reação mecânica skinneriada a “tudo que é vermelho”, que é sósuperfície. Há um tipo de conteúdo, no que se refere a determinadas visões de mundo, valores, ética, etc, que implica na desqualificação detoda e qualquer perspectiva generosa de transformação social: se ataca com isso as distintas expressões de igualitarismo radical, liberdade,tolerância, antipatriarcalismo, anticapitalismo, antirracismo, ecologismo, antimilitarismo, etc etc etc. E o que é mais bizarro e paradoxal:ainda que o PT não represente mais nada disso do ponto de vista da sua prática política, é nesse espectro que ele é situado por boa parte dachamada “opinião pública” nacional, com o sem o ressentimento de trair as suas origens. É uma luta necessária mas difícil essa separaçãoentre o descolamento da imagem do PT sem nos desvincular dessa “tradição de esquerda” (no sentido amplo) quando todo um esforço

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midiático e “guerra narrativa” são travados em sentido contrário. Sinceramente, quero estar equivocado em razão dessa possível capacidadede retroalimentação entre os efeitos mais imediatos da caída do governo petista (e repito aos desavisados: estou longe de fazer qualquerdefesa desse governo!) e a ascensão de grupos conservadores em posições de “conectores privilegiados” de valores reacionários e mesmofascistas com a “opinião pública”.

2. Diante desse cenário, pensar uma linha de ação que seja ao mesmo tempo coerente, eficaz e que potencialize o desenvolvimento das ideiase práticas anticapitalistas parece quase impossível. E talvez seja mesmo impossível, pensando nesses três elementos juntos. Quando me referia disputar a narrativa antigolpista pensei numa primeira dimensão fudamentalmente “realista”: existem importantes setores sociaismisturados, capturados pelo governismo ou não, fazendo coro em “defesa da democracia”. Por mais que estejam “dirigidos” por setoresintelectuais e ativistas subjugados pelo aparato de controle social governista, há uma relativa diversidade na base social dessas convocatóriase que, querendo ou não, são constituídas por trabalhadores e trabalhadoras com os quais deveríamos estar conversando, interagindo ou nosmínimo, lhes “dando o luxo” de conviver com a nossas influencias, ideias, projetos, etc. Certamente a presença de setores combativos eanticapitalistas nesses espaços será pequena, pouco notada, quiçá hostilizada, como vocês mencionaram no caso das feministas. Pode não ter“eficácia” imediata alguma. Mas, poderia contribuir para demarcar diferenças, visibilizar alternativas e projetos que simultaneamentedenunciem as manobras no campo das classes dominantes para controlar o aparato estatal e o governismo por representar um retrocesso paraas demandas e direitos das classes trabalhadoras. Em suma, se trata de uma aposta. E se privilegiar tais espaços, avaliados como potenciaissegundo nossas energias e prioridades. Isso jamais deveria ser visto como uma movimentação desesperada e a reboque das ações antigolpistashegemonizadas pelo governismo. Outra vez, deveria ser nossa bússula: ir onde estão os trabalhadores organizados e não organizados,gravitando ao redor do petismo ou não. Mas como também explicitei, sabemos que os setores mais combativos da esquerda social estão nocotidiano dos movimentos populares demonstrando na prática como se enfrenta o conservadorismo (e o petismo!) . Nosso trabalho contra afascistização da vida social se demonstra no cotidiano de nossa militância de base. Ali aportamos com nosso pequeno e modesto grão deareia. Mas uma coisa poderia não ser obstáculo à outra. Receio que não vamos conseguir, por nossos próprios meios, nos descolar doestereótipo (anti)social do petismo apenas buscando nos demarcar em relação ao governismo pela via das “ausências” de espaços econvocatórias públicas, o que talvez, tenha que ver mais com nosso legítimo orgulho ou desejo de coerência frente a um governo que é,repito, indefensável. Não tenho nenhuma dúvida que precisamos, de fato, cavar uma terceira, quarta e quinta perspectiva em relação a atual“crise política”. E que em geral, toda denúncia prática ou retórica do golpismo em curso tende a ser capturada e transformada em capitalpolítico pelo petismo. Mas como ensinou Camillo Berneri, como anarquistas somos “viajantes que pelos caminhos da história, lutamos comos homens tais como são e construimos com as pedras que nos proporcionam nossa época”.

15. Robson em 4 de abril de 2016 00:08

Me chama atenção o fato de muitas críticas apontarem para a falta de sinalização de uma guinada à esquerda do governo. Véio, não quedevamos acreditar nessa possibilidade, mas se existe a mais vã possibilidade de isto acontecer, este governo estará assinando sua sentença demorte no campo institucional. Se como operador subserviente do capitalismo nacional este governo está prestes a ser defenestrado, umaruptura programática deste tipo seria a gota d’agua necessária para unificar às frações reacionárias em torno de um golpe de fato.

Considerando então que neste momento específico essa sinalização não é taticamente possível, resta aceitar que uma não guinada à esquerda éapenas uma suposição, fortíssima, e muitíssimo provável considerando as escolhas estratégicas deste governo desde o início da era Lula.

16. Padaqui em 4 de abril de 2016 16:13

“O QUE MATA DAS BALAS É A VELOCIDADE

(…)

O que está em disputa não são dois projetos, mas quem realiza a transição. Transição para quê? Para uma nova configuração e funcionamentodo capital no país”

Creio que, apesar das divergências, assim como das convergências – este é o cerne do debate – a maioria dos comentários são semprerelevantes, de um jeito ou de outro. Mas no comentário da Silvia Beatriz Adoue reside uma necessidade urgente e inalienável deaprofundamento da discussão por ela trazida, ao qual faço coro e que, a meu modo, gostaria de contribuir.

Posso estar enganado, mas a maioria das reflexões feitas sobre a crise política brasileira têm desconsiderado os aspectos econômicos globaisem suas análises. Este presente artigo, “em passant”, faz um alerta sobre o “momento em que o aperto econômico novamente se avizinha” (naverdade, penso eu, o aperto se faz presente de outros “carnavais”), porém, não vai muito além, o que, ao meu ver, contribui para que osdebates se restrijam a aspectos mais pontuais, quando não, à aparência destes aspectos.

Creio que, em termos políticos, o que ocorre no Brasil, tem muitos aspectos semelhantes ao que ocorre ou ocorreu (ou ainda vai ocorrer…)não só na América do Sul, mas também em outros países, como, talvez (ao menos em alguns aspectos), em Portugal, com José Sócrates. Umapossível guinada da esquerda pelas vias da democracia capitalista, degeneraria, inexoravelmente, para, no mínimo, um “Siryza”. Mas é portrás de todo este aparente caos político que se engendra uma nova configuração do capital e, também posso estar enganado, o conflito e oconfronto se dão em virtude de uma espécie de “desenvolvimento desigual” que já não pode mais se combinar aos atuais mecanismos de“combinação” desenvolvimentistas.

Acrescentase a isso, uma autofagia capitalista que, ao contrário de significar sua destrução, significa sua “evolução”, ou, nos dizeres deMarx, da realização (ao nosso entender, obrigatória) da “tendência monopolística do capitalismo“. A atual expansão do capital encontra umasérie de “resistências” entre os próprios capitalistas. Por isso, quando a expansão do capital encontra obstáculos no campo da produção, eleaprofunda a acumulação por expropriação.

Neste sentido, uma hipótese precária e provisória: Ainda que a expropriação (em suas mais variadas formas, desde a exploração sobre otrabalho até a expropriação propriamente dita) recaia sempre majoritariamente sobre a classe trabalhadora(por exemplo, com redução desalários e direitos trabalhistas, precarizações, perda de poder aquisitivo pela inflação, aumento de impostos, etc), os “escândalos” contracertos grupos e indivíduos do grande capital, como, por exemplo na lavajato ou no caso Mossak Fonseca (entre tantos outros, obviamente)não seria uma espécie “justificativa” para a “viabilização” de um “projeto” (um vir a ser…) de “expropriação” ampliada e “seletiva” de certosgrupos capitalistas, como ocorreu com as exproprições, promovidas, por exemplo, pelos nazistas em relação aos judeus? (a bem da verdade,não sei se os confiscos promovidos pelos nazistas de fato atingiram os grandes capitais judeus…)

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Se é fato que o capitalismo está em (mais uma) crise, o que diferiria a atual crise das demais crises, além de um acentuamento dos “conflitos”(ou concorrência…) entre capitais transnacionais (entendo que o capital ou capitalismo nacional, se ainda existem, não são maisdeterminantes econômica e politicamente), não seria a forma pela qual a gestão do capital deva se dar e, nas atuais conjunturas, o que se está“gestacionando” não seria uma gestão fascista da economia e seu respectivo corolário político, mudando a aparência sem mudar a essência docapitalismo?

Se houver algum sentido nestes “pitacos”, para a ação da classe trabalhadora urge a compreensão das intenções e ações capitalistas, sob penade não apenas continuarmos forjando nossos grilhões, mas de acrescentar a eles ainda mais elos…

17. Zé em 5 de abril de 2016 11:42

Com este texto o PP responde à sua própria pergunta: não está em crise. Sim, pois continua firme na sua linha editorial de olhar para umaoutra sociedade que se configura hoje como estando distante, mas que depende inteiramente do que façamos no aqui e agora. Esse olharestratégico impede alinhamentos com formas institucionais que hoje se apresentam (falsamente) como barreiras às práticas fascistas emascensão – de ambos os lados da polarização capitalista entre governo e oposição de direita – e ao mesmo tempo emite orientações para umagir no presente que não nega objetivos futuros. Não seria o momento de o PP chamar um encontro para articular melhor o espaço daesquerda antiestatal no terceiro campo? Fica aqui a sugestão prática.

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Cada qual deseja que os outros vivam consoante a sua própria compleição, aprovem o que ele próprio aprova, e rejeitem o que ele própriorejeita. Donde resulta que, querendo todos ser os primeiros, surjam conflitos entre eles, procurem esmagarse uns aos outros e que ovencedor se glorifique mais por ter triunfado do seu rival que por haver obtido qualquer vantagem para si mesmo. Baruch Spinoza (16321677), filósofo holandês.

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