A ponte Conspirare - Webnode · 2015. 2. 4. · A Ponte Maurício Domingues 2 Prefácio Este livro...
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A Ponte
Maurício Domingues
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A ponte Conspirare
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Prefácio
Este livro é uma ficção baseada no evangelho de Judas.
O Evangelho de Judas é um evangelho apócrifo1 atribuído a autores gnósticos2 nos
meados do século II, composto de 26 páginas de papiro escrito em copta3 dialectal que revela as relações de Judas com Jesus Cristo sob uma outra perspectiva: Judas não teria traído Jesus, e sim, atendido a um pedido deste ao de nunciá-lo aos romanos. Desaparecido por quase 1700 anos, a única cópia conhecida do documento foi publicada em 6 de abril de 2006 pela revista National Geographic. O manuscrito, autentificado como datando do século III ou IV (220 a 340 D.C.), é uma cópia de uma versão mais antiga redigida em grego. Contrariamente à versão dos quatro Evangelhos oficiais, este texto clama que Judas era o discípulo mais fiel a Jesus, e aquele que mais compreendia os seus ensinamentos. Não se sabe ainda com certeza quem escreveu este evangelho, mas com certeza não foi o próprio Judas. Este evangelho é não Bíblico. Acredita-se que foi ignorado e excluido junto com outros evangelhos e condenado por heresia por um bispo chamado Irineu de Lião em 180 D.C. E esta foi a fonte da qual se deu este livro.
1 Não Canônico. Não aceito entre os evangelhos da Bíblia.. 2 autores cristão que não foram reconhecidos pela igreja catolica como inspirados por Deus.
3 Uma versão modificada do alfabeto grego.
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Capítulos
Capitulo- 01 ...............................................................06
Capítulo- 02 ...............................................................09
Capítulo- 03 ...............................................................18
Capítulo- 04 ...............................................................20
Capítulo- 05 ................................................................21
Capítulo- 06 ................................................................24
Capítulo- 07 ................................................................26
Capítulo- 08 ................................................................28
Capítulo- 09 ................................................................29
Capítulo- 10 ................................................................32
Capítulo- 11 ................................................................35
Capítulo- 12 ................................................................39
Capítulo- 13 ................................................................44
Capítulo- 14 ................................................................46
Capítulo- 15 ................................................................51
Capítulo- 16 ................................................................54
Capítulo- 17 ................................................................57
Capítulo- 18 ................................................................59
Capítulo- 19 ................................................................67
Capítulo- 20 ................................................................70
Capítulo- 21 ................................................................71
Capítulo- 22 ................................................................75
Capítulo- 23 ................................................................78
Capítulo- 24 ................................................................84
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Vós talvez não sabeis, mas fui escolhido.
Antes mesmo de ter um nome.
Meu destino estava predestinado antes da
chegada dEle. Ele veio ao mundo por vós.
E eu, por Ele.
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Capítulo 1
Ano 12. ‘Aproximadamente’
A manhã era escura e fria. Sentia na alma uma dor que á poucos anos me
acompanhava, uma dor que foi minha companheira por longos anos.
Na época de sucessores do imperador Julio César, vivíamos em Roma. Eu e
todo o meu povo judeu. Um acordo tinha sido selado entre nós; O de que
podíamos seguir nossa religião, desde que não tivesse manifestação fora do
templo sagrado. Caífaz era recém nomeado pelos romanos como sumo sacerdote
do povo judeu. Nesta época tropas romanas cobravam impostos dos judeus,
humilhavam o povo, matavam e crucificavam aqueles que se rebelassem contra o
império de César ou contra o povo romano. Muitos dos condenados a cruz foram
acusados de heresias ou rebeldias. E neste dia, era dia de crucificar os
condenados. E um destes condenados era alguém especial para mim. Seu nome?
‘Simão de Queriote’. Meu pai.
Eu ainda era menino e chorava em seus pés, pedia por misericórdia, mas
ninguém ouvia, ninguém se importava. Vi em seus olhos a dor da agonia. A
injustiça de sua morte me fez frio... Cego.
O tempo passou, mas a dor não. O exército romano não parava de matar,
humilhar e tirar tudo que o povo tinha em impostos, quem não tinha para pagar
tributos, morria.
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Ano 32. ‘Aproximadamente’
A época era de Tibérios César como imperador de Roma. Pôncio Pilatos
era governador da província romana, e Herodes Antipas era governador da
Judéia. A vida toda eu tinha um sonho; Erguer um exército judeu. E em uma batalha matar
todos os romanos a punhal e espadas, junto com todo o império. Mas isto era apenas
um sonho distante. Herodes jamais se rebelaria contra César, apesar de serem
inimigos cordiais. Então vi a oportunidade deste propósito se realizar com a chegada
de um possível rei dos judeus. Um Galileu nascido em Belém, cujo nome; chamavam
de Jesus.
Há muito tempo ouvimos profecias sobre a vinda de um Messias para a salvação
dos judeus. Este messias tinha nascido em Belém na época do rei Herodes.* Este
mandou matar todas as crianças daquele tempo, todas abaixo de dois anos.
Acabando assim com a esperança do povo. Mas de algum modo Ele estava vivo, e
estava na Galiléia.
Muito já se falava sobre seus milagres e curas. Seus seguidores se
multiplicavam a cada dia. Eu nunca acreditei que Ele fosse realmente o Messias,
mas a verdade, era que o povo acreditava. E se Jesus fosse reconhecido como rei...
Todo rei tem que ter um exército.
*Rei Herodes primeiro, Não o Antipas
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Capítulo 2
Ao saber que Jesus, o rei dos Judeus estava no Jordão batizando com
águas. Fui ao seu encontro, e quando vi aquele homem vestido como um mendigo,
perguntei-lhe: -Tu és Jesus, o messias? -Não! Eu sou quem lhe prepara o caminho. Respondeu.
-Mas tu batizas?
-Eu batizo com água. Quem vem após mim batiza com o espírito de DEUS. E eu
não sou digno nem de lhe desatar as sandálias.
–Então me diga. Onde estás Ele?
-Não sei. Tudo que sei é o que sinto. E o que sinto é que estás próximo de nós.
Senti que este homem chamado João Batista viu algo em mim, assim como vi
algo nele. Porém, fui embora desapontado, Pois não era ele o rei dos judeus.
Certo dia fui perseguido e espancado por ordem de Caifás. Fui levado ao interior
do templo onde fui ameaçado e espancado de novo. O motivo?
Revoltei-me contra o suborno que os sacerdotes pagavam para Roma. Então
novamente fui espancado e então como sempre; deixaram-me ir.
Mal sabia Caifás que cada minuto que me espancava fazia parte de meu destino.
Saía eu do templo ainda atordoado e machucado, quando percebi um tumulto
no pátio do templo. Um homem estava agitando o povo que comercializava ali. Ele
virava as mesas e soltava os animais.
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-Está é a casa de meu pai! Transformaram-na em um covil de ladrões!
Vão embora. Dizia ele.
Por poucos minutos só o observei e por um instante ele me olhou, a dor que eu
sentia deu lugar a um alívio inexplicável não senti dor, não ouvi barulho, não vi dia
nem noite, por alguns segundos não sabia quem eu era, nem lembrava o que
aconteceu á pouco tempo atrás. Só voltei em mim quando ele se virou para ir
embora, corri então até sua pessoa;
-Quem és tu? Perguntei.
-Sou Jesus.
Iria lhe dizer meu nome, porém, quando comecei a falar ele se antecipou;
-Tu és Judas Iscariotes. E digo para que venha comigo para a cidade da Galiléia.
Zombei dEle, disse que a Galiléia não poderia ser considerada uma cidade, e
aliás; Como sabia meu nome antes mesmo de eu dizer? E ele me disse apenas:
-Espero-te na Galiléia.
E se foi na companhia de dois homens: Um chamado de Thiago, que dizia ser
seu irmão, e outro de nome Pedro. Enquanto ele sumia de minhas vistas senti que
devia ir também com ele, porém, preferi ficar.
Por um tempo os rumores pela cidade corriam a respeito de um nazareno que
fazia milagres nunca vistos por aqui. Curava cegos de nascença, paralíticos e
leprosos. Era impossível acreditar. Até que um dia um homem chamado Jeremias
vinha em minha direção e quando chegou perto de mim, ainda afobado e muito
cansado, me parou e perguntou-me: -Senhor! Podes me dizer em que direção fica
o templo sagrado?
–Homem! Estais louco? Ou zombastes de mim? Qualquer pessoa, mesmo que de
longe for, sabe o caminho do templo.
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–Senhor! Eu sou daqui. Porém, pela vida toda fui cego, e sempre fui guiado até o
templo para pedir esmolas. Mas hoje estou curado. E pela primeira vez na vida
vou até lá sozinho. Por isto desconheço o caminho.
–Ora homem! Como pode ter sido cego e agora vê. É impossível.
–Senhor! Um homem chamado Jesus me curou. Como? Não sei. Só sei que antes
não via nada do que agora vejo.
Indiquei-Lhe então o caminho e ele se foi. Por outra vez ouvi uma mulher
contando a muitos perto de uma nascente de água, que seu pai era paralítico e
Jesus o curou, um homem que ouvia disse que aquilo não passava de mentiras, e
ela lhe respondeu que não a espantava o homem não acreditar, pois ela mesma se
não tiveste visto com os próprios olhos, não acreditaria também.
Certa noite por ordem de Pilatos todos os agitadores que fossem contra ele ou
contra a Província, deveriam ser presos. E por fortes motivos eu era o mais
procurado, e tinha que fugir. Senti o destino mexer com minha vida como se me
empurrasse para junto dEle. Fugi para a Galiléia. E quando cheguei lá, os rumores
das suas curas e milagres eram ainda mais fortes. Ao chegar perto de um poço um
homem vinha correndo em minha direção. Ele parou por um instante, seu olhar
era negro seu rosto era cheio de marcas escuras que eu nunca vi em outra pessoa.
Ele rangia os dentes, e chegou tão perto de mim que sentia sua respiração em
minha face. Olhou fundo nos meus olhos, parecia que me conhecia e queria dizer-
me algo. Mas ele se afastou, deu um sorriso sombrio e voltou a correr montanha
acima. Fiquei assustado, sentei perto do poço, e por alguns minutos tentei refletir
sobre o acontecido. Passado um tempo lembrei que tinha cede, mas não tinha com
o que pegar a água, foi então que uma mulher se ofereceu para tirar a água do
poço com seu jarro. Mas ela não era judia, e eu á perguntei:
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-Porquê fazes isto? Pois sou judeu, e á muito tempo judeus não falam com seu
povo.
–Amigo! Tal fato é verdade, porém, um dia um certo Galileu me pediu água, e do
mesmo jeito a qual tu me falastes agora, eu também o falei. E Ele me prometeu em
troca a água da vida, da qual eu jamais sentirei sede.
Ela deu-me a água e se foi. Tal ato de bondade de uma pessoa inimiga de um
judeu para com ele, também nunca tinha presenciado.
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Por algumas horas fiquei ali sentando sem rumo, sentia minha ira pelos
romanos diminuir ali naquele lugar, mas não era aquilo que eu queria, pois eles
deveriam pagar pela morte de meu pai e a humilhação que nos faziam passar.
Mas, por mais que eu tentasse, não senti raiva naquele instante.
No alto da montanha que eu via dali, vi um precipício. Colei meus olhos ali por
minutos, algo tinha ali que me impulsionava a andar naquela direção. Foi quando
eu vi uma manada de porcos caindo de lá. Mas, eles não estavam caindo, e sim
pulando. Era assustador. Por mais que eu achasse que fosse minha imaginação
devido á fome. Estava acontecendo.
Já faltava poucas horas para se por o sol quando eu resolvi subir para aquele
lugar. E antes que a noite caísse eu já estava lá. Vi uma multidão que falava todos
ao mesmo tempo. Fui entrando no meio deles e todos estavam voltados a um
homem a qual eu reconhecia. Era o mesmo que a pouco passava por mim perto do
poço. Porém sua expressão estava diferente; Seu rosto estava limpo, seus olhos
eram claros, já não rangia mais os dentes, apenas estava assustado. Penetrei entre
as pessoas, olhei para seu rosto, e o perguntei: -Quem és tu? Ainda a pouco
passastes por mim. Queria dizer-me algo?
–Senhor, nada que seja dos presentes minutos me recordo. Respondeu-me
ainda com um jeito assustado. Andou alguns passos de costas, se virou e correu
montanha abaixo. A multidão se dês-fez. Apenas um menino ali ficou, e de longe
me disse: -Este homem se chama Janjão. E á muitos anos era dominado por
espíritos demoníacos. Um homem veio e ordenou que os espíritos se
transferissem dele para os porcos selvagens que estavam por aqui. E estes foram,
e os porcos dominados pelos espíritos se jogaram por aquele abismo. Entende? Os
espíritos maus lhe obedeceram. Não é incrível?
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Já imaginava quem era este homem a quem os espíritos maus obedeciam.
Mesmo assim perguntei: -Quem é este homem?
-Ouvi as pessoas falarem que era Jesus, o Messias, o filho de Deus.
-Em que direção ele foi?
-Ele entrou na floresta. Não vai ser difícil lhe encontrar, tem contigo uma
multidão.
Andei depressa na direção que ele foi, estava cansado, fraco, mas não conseguia
parar. Um longo tempo andando e ouvi vozes, vozes que ficaram mais fortes até
chegar ás pessoas que falavam. Eram muitas e estavam voltando no meio da
floresta quase escura devido ao entardecer. Parei algumas pessoas; –Onde está
Jesus?
-Não sabemos. Ainda a pouco estava conosco e nos pediu para que fossemos de
volta para casa.
Comecei a andar mais rápido no sentido contrário delas, e ao me afastar, já
estava sozinho. Pensava em desistir, pois tinha medo que a escuridão da noite me
impedisse de voltar. Mas quando sem perceber, Ele estava na minha frente,
parado, olhava-me nos olhos quando falou-me: -Judas! Seja bem vindo entre nós.
Ele me abraçou. Olhei entre suas costas e seus discípulos estavam mais a frente,
todos olhavam-me. Mas nem todos olhavam com satisfação. Senti o calor de seu
abraço, com o frio dos olhos deles.
-Judas, então quereis vir comigo? E fazer parte do reino de meu Pai?
Não fazia ainda idéia do que me falava Ele, mas tinha um propósito de sua
companhia. Afinal ele era conhecido como o rei dos judeus. E nós judeus éramos
milhares naquela terra dominada pelos romanos. E todo rei tem que ter um
exercito.
-Sim! Eu quero. Respondi.
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-Então vá com Pedro e os outros. Preciso ficar aqui mais um pouco.
Pegou em minha mão e me levou para junto dos outros discípulos e disse:
-Pedro, este é Judas Iscariotes. Daqui para frente são doze os que andam
comigo. Dei-lhe pão. E vão. Logo estarei com vocês.
E assim ele virou-se e entrou floresta á dentro. Indo eu com eles, chegamos á
beira de um lago onde uma canoa nos esperava. Entramos nela, me deram um
pedaço de pão e um pouco de água. E ali na beira do lago o esperávamos.
Enquanto comia e aguardava, um silêncio absoluto reinava. E um rosto no meio
dos outros era-me conhecido então o ataquei:
-Maldito Romano Cobrador de impostos! Estás aqui para tentar nos extorquir
também?
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Senti que ele me reconhecia também. Ele olhou firme para Pedro que então me
disse:
-Judas! Mateus assim como eu, você e todos os outros, foi escolhido por Ele.
Cabia a Ele julgar seu passado, e não o fez. Portanto, hoje somos todos de igual
valor.
Então me acalmei, e depois cada um contou como foi chamado por Jesus, e o que
achava que iria acontecer, entre outras coisas. E quando demos conta, estávamos
rio á dentro a deriva. Os lemes do barco estavam na beira do lago, e já estava
longe de mais para voltar nadando. Ficamos a deriva por muitas horas e a
escuridão da noite era coberta por nuvens escuras e já não se via mais a lua e as
estrelas. O vento começava a soprar mais forte e a tempestade logo veio atrás.
Éramos jogados de um lado para o outro e o barco por vezes quase virava. Muitos
de nós já sentíamos a morte quando... Como um fantasma Jesus apareceu andando
em cima das águas agitadas. Alguns não o reconheceram e acharam ser mesmo
um fantasma e gritavam com medo.
-Tenham calma! Sou eu, Jesus.
Pedro ainda assustado disse:
-Senhor! Como podes andar pelas águas e não afundar?
–Em verdade te digo. Que se tivesse fé. Andarias também sobre elas.
–Mas tenho fé em ti Senhor.
– Então venha! Pegue minha mão e Andes por ela. Pedro segurou a mão de Jesus
e colocou seus pés nas águas e por alguns instantes andou. Mas, ao Jesus soltar-
lhe a mão, começou devagar a afundar. –Mestre! Acuda-me. Estou a afundar. Jesus
lhe segurou novamente a mão e ele voltou ao barco.
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–Assim sóis sua fé Pedro. E em verdade vos digo; Que se sua fé fosse do
tamanho de um grão de mostarda, pediria as águas, vento e tempestade que se
acalmassem e eles se acalmariam.
No mesmo instante em que Ele disse estas palavras nenhuma gota de água caiu
mais, as nuvens se abriram e a lua iluminou o lago. Era incrível. Somente o
verdadeiro messias dominava o mar e o céu, curava aleijados e cegos e ainda
dominava espíritos malignos.
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Capítulo 3
Ao chegar de manhã em terra de Genezaré, uma multidão lhe aguardava.
Quando o viram se manifestaram de tal maneira, que era digno de um verdadeiro
rei. Eram quase dez mil pessoas, das quais no mínimo, três mil eram homens no
meio de mulheres, crianças e velhos. Três mil homens... Era quatro vezes mais,
que o número de soldados romanos. Que sem a ajuda de Herodes eram pouco
mais de quatrocentos. Era o número suficiente de homens para dar ao povo judeu
a independência, liberdade e a vingança pelo sangue inocente derramado por
anos.
Por um instante tive uma lembrança de quando ainda era criança. Meu pai
contava-me sobre antigos reis de Israel. Sobre como era quando foram livres da
Babilônia. Era um sonho antigo dele; Judeus livres de novo. Mas, no dia seguinte
foi crucificado na frente de minha mãe e eu. A lembrança deu lugar á realidade.
Jesus tinha que ser reconhecido como verdadeiro rei dos judeus.
Encontrava-se ali naquela terra alguns fariseus de Jerusalém que vieram ver e
falar com Jesus; -Seus discípulos não obedeceram nossas leis. Eles nem lavam as
mãos antes de comer.
–Em verdade vos digo! Respondeu Jesus. -Nem tu, respeita as leis que vós
mesmos criastes. Não é o que entra pela boca que vós contamina. E sim o que dela
sai. Ouvindo isto da boca de Jesus, os farizeus nada puderam falar, e se retiraram.
Passado um tempo Jesus nos reuniu perto de Cesaréia e perguntou: -Quem o povo
diz que é o filho do homem?
Muitas foram ás afirmações dos discípulos. Até que ele tornou a perguntar:
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-E vós? Quem dizeis que eu sou?
-Tu és Cristo. O filho do Deus vivo. Disse Pedro. Jesus ficou muito admirado com
Pedro e lhe respondeu:
-E tu és Pedro! És a rocha sobre qual edificarei minha igreja. E nem a morte a
vencerá. E eu lhe darei as chaves do meu reino. E o que tu proibir e permitir na
terra. No céu será proibido e permitido também.
Dito isto, Pedro se silenciou, não disse uma palavra se quer. E Jesus tornou a
falar: -E a vós outros peço; Não contem a mais ninguém quem sou. A partir de
agora vós todos recebem de mim os poderes para curar, e até farão mortos voltar
a viver e falarão por mim.
Estas palavras me desapontaram muito. Enquanto os outros festejaram esta
notícia, Jesus olhavá-os com tristeza e repreensão. E eu pensava; Como não dizer a
ninguém quem era Ele. Afinal Ele precisava ser reconhecido como o verdadeiro
rei de Israel.
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Capítulo 4
Pilatos já sabia da agitação na cidade e temia a presença de Jesus. Pois o
povo era bem controlado pela província e Jesus não passava de um agitador que
poderia causar muitos problemas a seu governo. Então mandou chamar ao chefe
de seu exército chamado Flávius; -Quem é afinal este suposto rei dos Judeus?
Afinal não é César imperador? Não sou eu governador da província?
–Sim senhor! És tu governador maior, e César imperador. Este Galileu se chama
Jesus, e dizem que está fazendo milagres nunca visto por aqui. Como curar cegos
da cegueira, fazendo aleijados a andar e dizem que até fez viver os mortos.
Pilatos riu com ironia e mandou que Flávius prendesse Jesus, Mas Claudia que
era mulher de Pilatos o alertou: -Meu governador, este homem é judeu, e o
prendendo só causaria a revolta deste povo. Faça com que seu próprio povo o
prenda. Mande Caifás fazer o serviço, e fique limpo desta confusão.
Pilatos gostou da idéia, afinal qualquer confusão maior com o povo, chegaria até
César e isto significaria descrédito para seu domínio.
–Mande buscar Caifás. Disse ele.
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Capítulo 5
Estávamos nós saindo de Cesaréia quando Jesus nos disse: -Ouçam! a partir
de agora eu preciso ir a Jerusalém. E ali serei morto pelos judeus. Mas não tenham
medo, em três dias meu pai me ressucitará.
Quando ouvimos isto todos começaram a falar ao mesmo tempo e muitos o
repreenderam dizendo que iríamos defendê-lo com a vida. E a espada mataríamos
todos que pretendessem matá-lo. Foi então que Ele disse:
-Nenhum de vós entendem. Está sois a sua vontade, e não a de meu pai. Isto
tudo há de acontecer por vontade de seu Plano. Ou então de nada me adiantaria
estar aqui.
Ficamos sem entender o que significava aquelas palavras. Tudo que eu sabia
agora era que ele não poderia morrer. Não sem antes lutarmos contra os romanos.
Enquanto andávamos Jesus ia mais frente sozinho. Fui até Ele e lhe falei:
-Senhor! Todos esperam de ti, um rei. Um rei que nos livre do sofrimento e do
domínio romano. Já são milhares os que confiam em ti. Pegaremos todos os
homens que pudermos e faremos o maior exército que Roma já viu. Voltaremos a
ser livres de novo. Liberta-nos!
Por um minuto ele parou e me olhou firme nos olhos. Os outros já nos
alcançavam e Jesus respondeu:
-Ouçam! A maior prisão para vós, sóis vós mesmo. Vós prendestes vossos
corações. E não é pela espada que se vence a verdadeira guerra, que sois de vós
para com vós mesmo. Quem desembainhar a espada, por ela morrerá. A ninguém
pertence á vida. Se não a quem a dá. Meu Pai.
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–Tu Jesus, não és rei daqui e de lugar nenhum. Respondi. E dEle me separei.
Porém, tomamos o mesmo rumo; Jerusalém.
Já estava distante deles quando em uma pedra me sentei. Sentia lá no fundo um
arrependimento pelas minhas duras palavras. Sabia que minha ira por matar
todos os romanos estava me fazendo cada vez mais desumano. Mas, Seria
covardia dEle? Ou ele teria outro plano? Seja como for eu sabia; A minha
vontade não era nem de longe a Sua. E mesmo sabendo que fui eu mesmo quem
criou esta ilusão, sentia-me iludido.
Ainda estava ali sentado, pensando, quando atrás de mim Ele estava.
-Judas Iscariotes! Não é em vão que te escolhi. O coração mais duro de todos
para fazer a obra de meu pai.
–Seu pai? Sempre nos falou sobre seu pai. Mais afinal, seu pai não era José? E
este já não é falecido?
-Meu verdadeiro Pai mora no céu. Ele também é pai de qualquer um que queira
ser seu filho. Mas para isso tem uma ponte pela qual quem não passar não chegará
até Ele.
-Que ponte é esta que me fala?
-Sou Eu Judas! Ninguém vai ao pai se não pelo filho. Não há outro caminho. Pois
o caminho que leva a salvação é estreito. E largo é o caminho que leva a perdição.
-Explique-me melhor. Não entendo seus enigmas.
-Não é ainda o tempo de lhe explicar as vontades de meu pai. “Afasta-te” dos
outros e lhe contarei os mistérios deste reino. Tu tens a capacidade de tê-lo. Mas,
para isto, assim como eu, padecerás de extremo sofrimento.
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Capítulo 6
Ao se apresentar a Pilatos. Caifás já fazia idéia sobre qual era o assunto.
Pilatos então lhe disse:
-Caifás! A mais de quinze anos o nomeamos como chefe do templo. Para manter
a ordem e cuidar da religião de seu povo. Mas tínhamos um acordo; Sem
manifestações nem rebeldia... Agora o que me diz a respeito da agitação do seu
povo com a chegada deste que se intitula rei, e é chamado de Messias. O Cristo.
–Governador Pilatos! Realmente á quinze anos sou sumo sacerdote do templo. E
nestes longos anos nenhuma desordem não foi controlada antes de trazer
aborrecimentos a vós nem a César. Afirmo-te. Que desconheço tal homem.
Embora reconheça a situação. Isto tudo esta fora de Jerusalém, e até agora nada
afetou se não a ansiedade do povo.
-A ansiedade de seu povo Caifás. Tem um motivo que você já sabes. Rumores
que este tal Messias está a chegar aqui também com intuito de se tornar rei. O que
diz o seu rei Herodes a respeito disto? Afinal se o povo reconhecer o tal homem
como rei. Qual será o destino de Herodes?
-Herodes provavelmente já sabe, mas ainda não se manifestou pelo fato dele
estar fora da Judéia.
Neste instante Pilatos recebeu de Claudia sua mulher uma taça de vinho. E ela
lhe falou algo no ouvido a qual Caifás não ouviu.
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-Caifás! Em suas mãos está este caso agora. A solução deste caso lhe
proporcionará mais alguns longos anos como sumo sacerdote. Caso contrário...
Caifás se retirou e voltou ao templo. Chegando lá rasgou suas roupas como
protesto e disse: -Pilatos não passa de uma cobra. Esta tentando jogar a culpa pela
desordem em nossas costas. Mas não farei seu jogo.
Então mandou que alguns homens fossem buscar-me. Pois já sabiam que
andava na companhia de Jesus.
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Capítulo 7
Quando chegamos em Betfagé Jesus mandou que buscassem um jumento
para que montado nele entrasse em Jerusalém. Não entendi. Pois já á muito
andamos, e agora que já estávamos perto de Jerusalém Ele queria ir montado.
Mas, não estava eu com intuito de indagar alguma coisa. Quando chegamos em
Jerusalém Jesus estava montado no jumento e o povo todo se exaltava, aplaudiam
e gritavam: ‘Louvado é o filho de Davi. A multidão o acompanhava. Alguns
perguntavam: -Quem é Ele? Outros respondiam:
-É Jesus de Nazaré.
E assim foi a entrada dele em Jerusalém. Por muitos dias Jesus ensinava no
pátio do templo e reunia multidões. Por muito foi testado por Saduceus, Judeus e
farizeus. Caifás por vezes tentou pegar Jesus em contradição. Mas era sempre em
vão. Precisava de uma razão para prendê-lo e mostrar para o povo que Jesus era
uma enganação. Um falso profeta.
Um dia Caifás conseguiu...
Jesus já ia embora do pátio do templo onde acabara de dar um sermão a
respeito de Jerusalém quando; Philipe e Thiago mostraram a Jesus os edifícios do
templo e Ele disse: -Vêem isto? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre
pedra.
Muitos farizeus que estavam ali ouviram e contaram o que Jesus disse sobre o
templo a Caifás. Em outra ocasião Jesus dava seu sermão e disse:
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-O templo de Deus será derrubado. E em três dias o reconstruirei.
Jesus se referia ao templo interior de DEUS, ou seja: Ele mesmo. E os três dias era
sua ressurreição.
Mas novamente Caifás ficou sabendo por palavras o que Jesus disse, e rasgou
suas roupas como sinal de indignação. E disse: -Primeiro promete derrubar o
templo. E agora diz que o reconstruirá em três dias. Blasfêmia!
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Capítulo 8
P ilatos voltou a chamar Caifás:
-Gostaria de lembrá-lo que tens um problema a resolver. E até agora só vi a
situação piorar. Está fora do seu controle Caifás?
-Excelência! Creio que juntos poderíamos acabar com este problema que se
arrasta em Jerusalém. Peço que considere que este Jesus, tem muitos seguidores.
E eu não tenho soldados como o senhor tem. Prenda-o, e me entregue Jesus. E do
resto eu me encarrego.
-Que razão ou motivo eu lhe prenderia?
-Jesus infligiu nossas leis. Blasfemou contra nosso Deus, e se alto titulou filho
vivo de Deus na terra. E ameaçou em público derrubar nosso templo.
-Tens como provar isto Caifás?
-Sim excelência! São muitas as testemunhas.
–Farei o que me pede. Porém, temos que agir em secreto. Diga-me aonde e a
melhor hora para prendê-lo sem o povo saber.
Caifás voltou ao templo e procurava uma maneira de achar Jesus desprevenido
do povo. Então mandou me chamar. Meu destino começava ali á me dar medo.
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Capítulo 9
Os onze, eu e Jesus. Estávamos sentados em uma casa de oração. Todos
conversávamos uns com outros. Até que Jesus pegou em meu ombro e segurou a
minha mão. Todos continuaram a conversar e gesticular como se não nos
estivessem vendo. Porém a conversa era muda. Eu não ouvia suas vozes. Pensei
estar surdo. Mas logo entendi. Era como se estivéssemos nós dois invisíveis aos
olhos dos outros. Foi quando ele me falou: -Judas! Escute com atenção. Esta
chegando á hora. Você foi escolhido para esta hora também. Confesso-te que em
carne tenho muito medo. Mas aceito meu fardo em honra a meu pai. E sei que tu
como humano sentirás também. Por isto; Após eu lhe explicar sua missão. Só
voltará a lembrar deste momento e destas palavras, após minha morte. Seu
coração agora voltará a ter ira de vingança. Para que possa cumprir teu papel. Mas
o arrependimento lhe trará de novo para mim e meu pai. Você será substituído
por um homem chamado: Matias. Para que continuem sendo doze o número dos
apóstolos a cumprir seus papéis. Você será odiado por todos e amado Por mim e
pelo meu pai. Judas! Nunca alguém, nem os ‘outros entenderão suas ações. Hoje
estou pronto para me sacrificar por eles. E você? Está pronto para se sacrificar
por mim?
Bastava ele querer e tudo seria por mim feito. Mas ele queria realmente que eu
escolhe o Sim ou o Não. Eu sentia que Ele não usava de nenhum poder de indução.
Eu era capaz naquele momento de aceitar ou negar está missão
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da qual eu não fazia nem idéia o que seria, mas, seja o que fosse eu não sentia
medo, e já tinha me decidido antes mesmo dEle perguntar.
-Senhor! Nunca fui ninguém nesta terra. Até agora só tive, magoa e desejava
vingança. De todos os seus discípulos eu sou o único que tinha um propósito
contrário: Desejava que tu fostes rei apenas para matar nossos inimigos. E por
isto e mais outras coisas, me sinto o menor de todos. E agora entre todos eles. Tu
me escolhes para uma obra sua, aonde pedes que me sacrifique por ti. Fostes o
único no mundo a quem eu daria agora se preciso; Minha vida. Dito isto, Ele me
beijou a face e disse:
-Judas! É com este beijo que selo meu acordo contigo. Com ele tu começas sua
missão, e com ele tu darás fim a ela. Você só se lembrará deste acordo e desta
conversa após o ato estar consumado. E eu ter trocado o corpo físico, pelo
espírito.
Ao me dar conta estava de pé olhando as estrelas pela porta da casa. Os
discípulos riam alto de algo que Bartolomeu contava. Jesus estava a conversar
mais distante deles com uma mulher chamada Madalena a quem ele trouxera para
junto de nós. E por um instante, de longe Ele me olhou e sorriu. Sentia que Ele
queria falar comigo, mas Ele se virou e voltou á atenção a ela. Parecia que eu tinha
bebido muito vinho, apesar de não ter botado uma gota se quer na boca. Então sai
dali para andar um pouco.
Os últimos minutos passados se apagaram de minha mente.
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Capítulo 10
Estava não muito longe dali quando fui seguido por um bando de homens
que não me eram estranhos. Reconhecia aquelas roupas e barbas. Eram homens
de Caifás. Pensei em correr. Porém, não tinha feito nada pelo que poderia ser
punido.
-O que vocês querem?
-Caifás quer vê-lo Judas Iscariotes. Não tenha medo em vir, ele só quer
conversar. Mas, aconselho-te a pensar antes de se negar.
Fui então com eles a presença de Caifás. Já era tarde da noite e ao chegar ao
templo fui levado a uma sala semi-escura onde só o centro dela era iluminado. Fui
guiado até lá e deixado ali por alguns minutos. As luzes de velas vinham em minha
direção iluminando o rosto de Caifás e mais alguns sacerdotes.
-Judas! Filho de Simão. Disse Caifás. -Por longos anos tenho lhe observado.
Talvez você nunca entenda os motivos pelo qual fui obrigado a lhe punir, mas é
claro que você sabe, que aqui nesta terra que antes nos pertencia e á tempos foi
tomada de nós pelos romanos. Temos que fazer o que Pilatos manda, ou
morremos. Você sempre foi uma ameaça a ele. E é por isto. Acredite! Eu admiro
muito você.
–Caifás! Não chamou-me aqui para elogiar-me. Queres algo de mim. Digas Ou
deixe me ir.
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-É claro que tenho um pedido a lhe fazer... Por muitos anos esperamos a vinda
do Messias. E hoje Ele esta aqui. Porém é covarde e não quer se tornar rei e
enfrentar Cesar. Ele acha que nós somos fracos e não venceríamos uma guerra.
Não é com amor, milagres e curas que ele nos dará nossas terras e a paz do povo
judeu de volta.
-Jesus tem um motivo Caifás. O qual desconheço. Ele não quer um exercito nem
lutar.
Caifáz tornou a falar-me:
-Por este motivo lhe chamei. Para que juntos façamos ele entender que
precisamos que Ele seja rei, e chame os seus milhares de seguidores para junto de
nós. Um exército de judeus contra Cesar. Acabaríamos com todos os romanos
assim como eles vem fazendo com nosso povo á décadas.
Por um instante senti a força de manipulação que Caifás tinha. Mas ao mesmo
tempo tudo o que ele disse era verdade. Jesus tinha que ser feito rei. Ele já tinha
dez vezes mais seguidores que o número de soldados romanos. Seria uma vitória
fácil. E um homem como Ele não voltaria a ter em Jerusalém, com tanta gente para
lutar por Ele.
-Como faremos para fazer Jesus mudar de idéia? Perguntei.
-Jesus não mudará de idéia. Nós faremos Ele mudar. Pilatos pretende prendê-lo
e matá-lo. Mas nós o mostraremos nosso apoio, e pela sua vida Ele se rebelará e
lutará. Pode acreditar.
–Pilatos quer matá-lo? Ele esta muito perto do palácio. Preciso avisá-lo!
–Calma! Ele não fará isto hoje. Disse Caifás. –Faltam poucos dias para a festa de
Páscoa, Ele vai esperar. Por isto, Judas filho de Simão! Preciso que me diga aonde
ele vai estar quando não tiver manifestações do povo. Assim soldados Romanos
iram capturá-lo. E antes o trarão até o templo para eu julgá-lo á morte. Claro que
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por ordem de Pilatos. Mas ao invés disto eu o contarei a verdade e como sumo
sacerdote eu lhe proclamarei rei, e assim chamaremos a todos os seus seguidores
e construiremos nosso exercito.
As palavras de Caifás era tudo o que sempre quis ouvir, Porém ouvia da pessoa
errada, mas se era para o bem de Jesus, então mesmo que contra sua vontade iria
ser rei.
Antes de ir, Caifás me abriu a mão e colocou sobre ela um pacote de couro aonde
dentro tinha trinta moedas de prata.
–Sei que isto não trará seu pai de volta, nem tirará sua dor. Mas é uma maneira de
gratificar-te pela tua confiança e ajuda em favor de seu povo.
Sei que na verdade não traria mesmo, mas trinta moedas de prata era muito
dinheiro para quem nunca teve ‘três se quer. E Caifás sempre subornava os romanos
com elas. Então que mal tinha em aceitar... Era o que eu pensava.
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Capítulo11
Já era dia de páscoa e Jesus disse para todos estarmos reunidos a noite para
celebrar a festa. Á noite então estávamos todos sentados no chão. A mesa era
comprida, porém baixa. Jesus colocou um pouco de vinho em um cálice e disse: -
Este é o meu sangue. Bebam!
E logo em seguida cortou um pão, dividiu entre nós e tornou a dizer:
-Este é meu corpo. Comam!
Fizemos o que ele pediu e depois um silêncio constrangedor invadiu aquela
casa, até Jesus quebrar o silêncio. –Ouçam! Em verdade vos digo! Está chegando á
hora em que o filho do homem morrerá nas mãos dos judeus. Um começo de
manifestação se tornou. Mas Jesus interrompeu dizendo em um tom mais alto e
atormentado: -Ouçam! Em verdade... Em verdade vos digo. Um entre vos á de me
trair.
Dito isto o tumulto de manifestação dos apóstolos que a pouco se tornou, agora
já era formado. Então uns olharam para os outros desconfiados, até que Thiago
falou:
-Senhor! Quem há de traí-lo?
-Este seria eu? Disse Pedro.
-Ou eu senhor? Disse Mateus.
E de repente com um leve intuito todos me olhavam, esperando que eu me
manifestasse igual a eles. Olhei para Ele que estava de cabeça baixa e lhe
perguntei:
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-Senhor! Por ventura Sou eu a lhe trair?
Ele levantou a cabeça e devagar e olhou-me.
-Tu é quem dizes. Respondeu-me.
Todos continuavam a me olhar severamente e Ele tornou a falar:
-Aquele dentre vós que tiver que fazer. Faça agora!
Os olhares deles eram ainda mais severos e por impulso sai correndo daquela
casa, corri muito, e quando já estava longe dali, senti uma vontade estranha de ver
minha mãe.
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Então fui para casa. Chegando lá minha mãe estava muito doente e eu não sabia.
Horas depois ela morreu. Podia pedir para Ele fazer ela viver novamente. Ele faria
de bom coração. Mas minha mãe já tinha sofrido muito, e com uma guerra a vista,
é melhor que ela descansasse junto a meu pai.
Novo dia começava e Jesus estava ansioso, nervoso, tinha medo, mas tentava
não demonstrar aos apóstolos.
-Vamos! Disse ele. –Precisamos partir. Está chegando a hora.
-Senhor! Não temas! Disse Pedro. –Estamos contigo. E se preciso for, darei
minha vida para defendê-lo. –Pedro. Não andastes pelas águas, pois não tevês fé. E
agora te digo. Não cantarás o galo, antes que tu por três vezes negue-me.
Pedro não entendeu a razão por que Jesus lhe disse aquelas coisas.
Partiram eles então dali para um lugar chamado Getsêmani. Já estava anoitecendo
e já fazia dois dias que os apóstolos e Jesus não dormiam.
-Vigiais! Disse Jesus. E se foi para mais longe dos apóstolos. Em uma pedra Jesus
orava. Estava com medo. Um medo que só Ele sabia o porque. Thiago e Pedro
foram até perto dEle. Notaram que Jesus não estava orando. Ele estava falando
com alguém ou alguma coisa. Algo que seus olhos não viam, mas o coração sentia.
E não era bom. Dizia ele em voz baixa:
-Á ti, nada será concedido. A não ser correntes das quais não se libertará. Dizia
Ele.
–Vê Pedro! Disse: Thiago. -Estais a ter alucinações.
–Não Thiago! Jesus está lúcido. Vamos! E voltaram para onde vigiavam.
Já se passava muito tempo e Jesus ainda não tinha voltado. O silêncio daquela
floresta atiçou o sono dos apóstolos que não agüentaram o peso dos olhos e
dormiram.
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Jesus estava ainda a orar naquela pedra:
-Pai! Antes da minha. Seja feita a tua vontade. Porém, se for possível, passe este
cálice sem que eu o beba.
No mesmo instante em que Jesus disse estás palavras. O céu se fechou, a floresta
escureceu e Jesus entendeu.
– Pai! Seja feito como queres. Estou pronto.
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Capítulo 12
Enterrei minha mãe. A sua morte deveria ter me trazido dor. Mas ao invés
disto, trouxe alívio. Acontecesse o que for. Não tinha mais ninguém a chorar por
mim. Fui ao templo e procurei Caifás. Era estranho. A vida toda passei a fugir e
temer este lugar. E a odiar Caifás a ponto de se tivesse tido oportunidade; Matá-lo.
Mas agora fui levado até lá por minhas próprias pernas, e apesar de ter odiado ele
a vida toda, e ainda não confiar nele. Precisava dele e ele de mim. E ele me tratava
como se fossemos bons e velhos amigos. Caifás era cobra traiçoeira. E eu sabia.
-Judas! Meu amigo. Soube de sua mãe. Lamento.
Por alguns segundos olhei firme em seus olhos. Fazendo ele entender que entre
nós não havia cordialidade e sim as mesmas intenções. E ele entendeu. Meio
desajeitado desviou seu olhar e disse;
-Muito bem! Vejo que não veio aqui para tomar um bom vinho. E então?
-Caifás! Como sumo sacerdote do templo e homem de Deus quero que jure que
Jesus será feito rei e Pilatos não conseguirá matá-lo.
Esperei um pouco pela sua resposta. Ele virou-se de costas e disse:
-Judas... Judas! tanto tempo você esperou por este momento, tenho certeza que
meu juramento não faria diferença agora. Mas, se servir de conforto quero que
saiba. Não há más intenções de minha parte com Jesus. Eu e tu temos o mesmo
intuito. Não temos?
-Que nossa guerra contra os romanos tenha início aqui.
Falei a ele e então lhe contei onde estava Jesus:
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-Jesus está em um lugar chamado Getsamêni Ele mais os apóstolos. Ele está
fugindo, pois tem medo de morrer. Os soldados de Pilatos são violentos e Jesus
está sem armas e não reagirá. Peça para que não o machuquem.
-Você Judas ficará comigo e será testemunha de minhas intenções.
Fiquei no templo enquanto Caifás foi a presença de Pilatos pedir soldados.
-Então sabes onde Ele está agora sozinho, sem o povo? Disse Pilatos.
-Sim! Ele está em um lugar chamado Getsâmani. Um informante me deu certeza
do lugar.
-Quem és seu informante?
-És Judas Iscariotes.
-Por acaso seria Judas o rebelde que sempre me incomodou? Perguntou Pilatos.
-Sim! O próprio. Respondeu.
Pilatos mandou chamar seu chefe de exercito Flavius ao qual disse:
-Pegue trinta homens, e vá a um lugar chamado Getsêmani e prenda um Galileu
chamado Jesus. Conhecido como o messias, e o entregue a Caifás no templo.
Flavius ficou por um tempo ali parado, sem responder.
-Vá! Já podes ir. Disse Pilatos.
-Não senhor! Não posso.
-Como ousa! Estais a enlouquecer? Por que razão se negas a acatar minhas
ordens.
-Senhor. Peço que por um minuto me ouça. Então poderás prender-me se
quiser. Ou até mesmo matar-me. Disse Flávius, e continuou:
-Um dia meu filho adoeceu e estava quase a morrer. Ouvia muito o povo judeu
contar das curas que este homem ao qual quer que eu prenda fazia. Desesperei-
me. Peguei seis de meus homens com intuito de prendê-lo e trazê-lo a força para
que curasse meu filho. Porém, quando eu o encontrei lhe disse: “Você é o
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nazareno que faz os milagres e curas? ‘ tu dizes’ Ele respondeu-me. Então lhe falei
o porque o procurava.
-Meu filho está muito doente. De hoje, dizem que não passarás.
-Então acredita que posso curá-lo? Disse-me Ele.
Sim! Eu acredito.
-Então vou com você, para curá-lo. Ele me respondeu. E por medo que outros
Romanos me vissem andando com Ele, eu lhe pedi:
-Sou o chefe do exército Romano. Digo aos meus homens; Vão! E eles vão. E
vem! E eles vêm. Então apenas diga o que tenho que fazer para ele ficar bom sem
ter que levar a ti daqui e “ele ficará bom”
Este homem chamado Jesus olhou-me firme nos olhos, parecia que queria ver
através de mim o outro lado. Foi quando ele falou-me:
-‘Em verdade vos digo. Que nunca vi tamanha fé em nenhum outro homem’ Vá!
Seu filho esta curado. Ele mesmo o recepcionará ao chegar na tua casa.
Sem lhe falar uma palavra nem se quer o agradeci. Montei meu cavalo junto com
meus homens e fui para casa, e chegando lá meu filho veio ao meu encontro.
Estava curado. ‘Senhor governador eis aqui comigo os homens a quem estavam
comigo e testemunham-me que falo-te a verdade. Então? como posso prender o
verdadeiro filho de Deus?
Pilatos olhou para Caifáz com severidade e repreensão. Caifáz por sua vez ficou
constrangido, pois nunca esperava ouvir um testemunho de um Romano em
defesa de um suposto rei judeu. Então riu ironicamente e disse:
-Estais iludido também. Jesus é um feiticeiro e tem esse dom de indução. Não de
créditos ao que este fraco diz.
Pilatos olhou de volta ao chefe de seu exercito e disse:
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-Flavíus! Por longo anos vem a servir Roma sem questionamentos algum. Nem
de sua. Nem de minha parte. Por isto peço que releve este ato e acate minhas
ordens. Vá! E prenda o Galileu.
-Senhor! Estou pronto. Pode prender-me ou matar-me. Mas isto não farei.
-Flavíus! Insistiu Pilatos. -Os homens a quem estavam contigo e hoje lhe servem
de testemunha irão pagar junto contigo por este ato de desobediência. Estais
disposto a sacrificá-los?
Um silêncio reinou por breve tempo e Pilatos tornou a dizer:
-Acate agora minha ordem! E eu prometo esquecer este terrível engano seu.
Flavíus então em um silêncio agonizante tentava uma solução. Como livrar seus
homens sem prender Jesus. Foi então que um de seus homens tomou de um passo
a frente, lhe olhou com um olhar assustado, e tremendo disse:
-General! Seja qual for sua decisão eu o apoiarei.
-E eu também o apoiarei General. Alias, nós todos estamos com o senhor disse
outro.
Flavíus olhou com surpresa para todos eles que se puseram a um passo a frente
como gesto de apoio. E então em um tom decidido e firme falou a Pilatos.
-Senhor! É a primeira vez. E tenho certeza que a última que me nego a acatar
uma ordem sua. Desculpe Senhor, mas esta ordem nem vinda de César, eu
acataria.
-Prenda a todos estes. Disse Pilatos a outros soldados que faziam sua guarda
pessoal.
–É uma pena! Disse ainda. Depois nomeou o segundo General como o sucessor
de Flavíus. E deu ordem para que fosse prender Jesus. Foi então que o novo
General disse a Pilatos.
-Senhor! Permita-me falar.
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-Fale! Respondeu Pilatos.
-Flavíus e seus homens de confiança, sabiam todos os caminhos deste reino. Eu
porém, desconheço. Pois raramente sai deste lugar. Como farei para achar tal
lugar que me mandastes ir? Pilatos pensou um pouco:
-Caifáz! Mande seu informante levar meus homens até o local onde está Jesus de
Nazaré. Ou você mesmo o levará.
-Sim! Governador.
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Capítulo 13
Caifáz voltou ao templo e mandou chamar Judas.
-Ouça filho de Simão! Terás de levar os soldados romanos até Jesus.
-Nunca! Este não foi nosso trato. Pediu-me apenas a informação, não que eu o
levasse.
-Judas você precisa ir. Serás meus olhos entre os romanos. Com alguém de
minha confiança entre eles, nunca farão nada de mal a Ele. Já, se forem sozinhos
não terei como fiscalizar a segurança de Jesus até aqui, pois são soldados romanos
e não gostam de nós judeus.
-Você acha que Pilatos pode traí-lo? Ou voltar atrás com a palavra? Perguntei a
Caifás..
-Creio que não. Pois teme o povo, mas seus soldados podem agir de crueldade,
pois como já disse, nos odeiam. Por isso peço para que vá junto, pois eles sabem
que tu estais sobe meus serviços. Então trarão Jesus sã e salvo para o templo. E ai
meu irmão Judas, daremos início a nossa independência.
Senti novamente aquele poder de indução que Caifás tinha. Mas, desta vez.
Mesmo que quisesse, não tinha como negar. Pois poderia ser verdade o que disse
Caifás, sobre os soldados romanos. E quanto á segurança de Jesus até chegar o
templo. Decidi fazer o que ele me pedia, e ao sair do templo os soldados romanos
já me esperavam. Eram mais ou menos uns vinte, e estavam armados com
espadas. Tinham nas mãos tochas acesas que
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iluminavam seus rostos de faces irônicas. Um deles tinha umas correntes das
quais nunca vi usarem em ocasião alguma.
- Porque as correntes? Perguntei.
- Ouça judeu! Há muito tempo tenho ouvido falar de você. Da sua insatisfação da
província Romana aqui neste lugar. Há muito tempo tenho vontade de matá-lo.
Porém não posso. Não agora! Então nos leve até seu rei e não faça perguntas.
Depois disto poderás ir como prometido a Caifáz. Talvez nem
precise eu matar-te. Teu povo mesmo o farás. Disse o General do exercito romano.
No momento não tinha entendido o porquê ele disse que o meu próprio povo me
mataria. Mesmo assim o levei. Ele me perguntou no caminho: -Judeu! Como
saberei no meio de seus seguidores quem é o nazareno rei dos judeus. Pois, nunca
o viste antes?
Tinha que de algum modo mostrar ao romano quem era Jesus. E lhe respondi.
-Aquele a quem eu beijar a face é o homem.
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Capítulo14
Jesus voltou onde estavam os discípulos. Eles dormiam exaustos.
- Acordem! Não conseguistes nem por um pouco vigiar por mim?
Todos rapidamente se levantaram. Então Jesus chorando lhes falou:
-Chegou a hora. O traidor está aqui. Eles olhavam para todos os lados e não
viram ninguém e permaneceram em silêncio. Após alguns minutos eu estava ali.
Todos me olharam sem surpresa. Foi então que Ele me perguntou:
-Há que viestes amigo? Tens algo a fazer?
Fiquei mudo não conseguia falar. E Ele continuou:
- Seja pelo o que for que viestes. Faça logo. Disse Jesus.
Devagar me aproximei, passando pelos outros que fixaram seus olhares
repreensivos em mim.
‘Então beijei-lhe a face.
Em seguida os soldados que estavam escondidos entre a escuridão das árvores
vieram, e bem devagar se aproximaram de Jesus que em leve tom disse a eles:
-Vem até mim com correntes e espadas como se eu fosse um ladrão. Por acaso
por tempos não estive eu entre voz ensinando e falando boas coisas? E agora me
prendem como se eu fosse um salteador?
Os soldados nada responderam e em um gesto rápido se lançaram contra Ele,
realmente como se Ele fosse perigoso. Pedro reagiu e tirou sua espada velha e
sem fio, mas que em um golpe, arrancou a orelha direita de um deles.
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-Pedro! Acalma-te. Disse Jesus já rendido pelos soldados. Pedro largou a espada
e foi agredido com socos e tapas por eles. Os soldados que seguraram Jesus ao
verem que realmente Ele era inofensivo o largaram e foram ajudar os outros a
tentar capturar os apóstolos que fugiram. Nem mesmo eu poderia imaginar
tamanha covardia. Eles o abandonaram.
Jesus se dirigiu ao soldado que Pedro feriu. Ele pegou a orelha amputada dele e
dirigindo-a de volta de onde foi arrancada, Ele a pôs de volta no lugar e ao tirar
sua mão a orelha estava na cabeça do soldado como se nunca dali tivesse saído.
Logo após perguntou a ele:
-Já podes me ouvir homem. Qual seu nome? Muito assustado com o fato, ele
respondeu:
-Malcom. Meu nome é Malcom. Os soldados vendo isto ficaram abismados e o
olhavam atentamente. Ele se dirigiu até Pedro:
-Pedro! Acha mesmo que eu não poderia fazer algo. Em verdade te digo que
bastaria um pedido meu e teria uma legião celestial em nossa defesa. Porém, é a
vontade de meu pai. Agora vá. Os outros precisam de ti.
-Mas, senhor. Eles fugiram. abandonaram-te, depois de tudo que fizeste a eles, e
mesmo assim te importas ainda com eles.
-Agora entendes então Pedro? Porque foi tu quem eu escolhi como rocha para
edificar o tabernáculo de meu pai?
Mal terminou Jesus de falar e um dos soldados se aproximou:
-Judeu! Um chefe do exército romano renunciou uma ordem de Pilatos para
prendê-lo. Este foi preso junto com mais seis de seus homens por amor a ti.
Provavelmente morrerão por isto. Confesso que achei que foi a maior besteira da
vida daqueles homens. Porém agora vejo que realmente és santo.
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Ouça Judeu. Posso levá-lo comigo, ou soltá-lo, e alegar a Pilatos que não o
achastes. Decide-te, o que quer que eu faça?
Pedro olhou para Jesus esperando sua resposta, esperava é claro que Jesus
decidisse em se livrar e ir embora.
-Homem! Disse Jesus: -Não serás punidos e nem se sentirá culpado pelos seus
atos aqui. Por que de cada passo a cada piscar de seus olhos, fazem parte de um
plano do qual antes de agora desconhecesse, mas a partir de agora seu coração há
de conhecer. E quanto aos soldados e seu chefe romano que renunciou a ordem de
seu governador. Acalma-te. Antes seria melhor que tivessem já morrido para
receber suas recompensas. Porém, eles vão viver e testemunhar agora como filhos
de Deus pai. Podes levar-me agora. Mas deixem Pedro ir em Paz.
Pedro então ficou ali com o soldado chamado Malcom enquanto Jesus foi com os
soldados. Eu estava ainda ali atrás das árvores. Quando sai, Pedro me olhou, seus
olhos estavam vermelhos e sua boca cortada. Ele estava de joelhos no chão. Pegou
um punhado de terra se levantou e jogou em meu peito.
-Maldito foi o dia em que nascestes. Disse ele mim, e saiu dali correndo pelo
mesmo caminho que levaram a Jesus. O soldado levantou do chão e disse: -Quem é
este Judeu a quem vos todos seguem?
-É Jesus. Jesus de Nazaré. Disse a ele.
-Não os deixem levá-lo, impeça-os.
-É preciso que Ele vá. Só assim se tornará rei. E ele tornou a dizer-me:
-Tolo! Eles o matarão. Corra impeça.
-Não! Pilatos não o matarás. Teme o povo.
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-Pilatos? Você ainda não entendeu não é? Pilatos quer apenas o fim do tumulto.
No máximo mandaria prender este galileu por um tempo. Caifás é quem vai matá-
lo. Ele já tem um plano para isso. Ouça! Eu insisto, acredite. Corra e impeça que
Ele chegue até Caifás.
Senti naquele momento uma dor profunda, uma mistura de arrependimento,
desilusão e ira, uma ira maior do que já tive antes. De traído passei a traidor.
Corri em direção deles, mas minhas pernas se recusavam a me obedecer até
paralisarem de vez. Por um tempo pensei que tinha ficado aleijado. Mas devagar
eu me ergui e mais devagar ainda comecei a andar. Quase uma hora depois já
tinha minhas forças de novo e comecei a correr. Em vão. Parecia que o exato
tempo em que não tive minhas pernas, foi o tempo de não alcançá-lo. Jesus já
estava no templo e um tumulto começou do lado de fora. Soldados romanos que
não estavam junto com os que prenderam Jesus, estavam do lado de fora e
tentavam saber o motivo do tumulto. Apesar de serem o poder maior ali, não
podiam entrar no templo sem a permissão de Caifás. Era um acordo entre César e
os Judeus, ou seja, sem manifestações ou rebeldias da parte dos judeus a província
romana em Jerusalém. E em troca o respeito total da religião judaica sem
intervenções romanas.
Fui até eles então e disse:
-Ouçam! Vão até Pilatos. Diga a ele que vão matar Jesus, um homem inocente.
Foi então que com muita raiva um deles me respondeu:
-Cala te! Pensas que não sei quem tu és. Judas o causador de problemas aos
romanos. Desejas nos matar não desejas? Então tome. Desembainhou uma espada
e jogou em meus pés. –Mata- me! Disse ele.
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Por mais que sentisse uma terrível tentação em decapitá-lo, sabia que era uma
armadilha e assim que eu pusesse minhas mãos naquela espada me matariam.
Então sai correndo em direção a uma entrada inferior do templo que conhecia
devido ás várias vezes em que fui jogado por ela a fora.
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Capítulo 15
Malcom correu até onde ficava a prisão do Palácio de Pilatos. Ele era um
dos homens de confiança do segundo general (que agora era o primeiro) então disse ao
soldado responsável da segurança das celas:
-Abra! E só entre se eu chamar. O soldado mais que rapidamente obedeceu.
Então ele se dirigiu a cela em que estavam Flavíus e seus homens. Chegou em seu
calabouço. Flavíus e os outros seis estavam misturados aos outros presos. Eles
estavam acorrentados pelas mãos e pés, estavam fracos e com sede. Malcom
pegou água e pão e lhes deu e deu aos outros presos também, que ficaram
assustados e sem entender. Um soldado de Roma munido de compaixão para com
eles. Não! Só poderia ser um judeu disfarçado de romano. Então Malcom começou
a contar a Flavíus tudo como ocorreu. A cura de sua orelha, como Jesus negou a
liberdade para cumprir seu destino e o que Ele disse a respeito de Flavíus e seus
homens, ou seja, que iriam viver e ser livres como homens comuns. Mas agora
como filhos de Deus. Eles ficaram felizes e começaram a chorar juntos. Então
Malcom olhou a Flávius:
-Só que agora estou confuso. Será meu destino libertar-lhes agora, ou deixar-
lhes aqui para que se cumpra o seu. Flávius, assim como Ele fez no Getsêmani
você terá que fazer agora, decida-te.
-Eu decido por ficar. E seus homens todos também decidiram por ficar. Foi
então que um preso chamado Barrábas falou:
-Eu decido por sair. Pode me libertar. E deu uma risada alta e irônica e tornou a
falar:
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-Idiotas! Todos nós morreremos aqui, ninguém sai. Vê aqueles ali. Barrábas
apontou com o dedo dois homens que há dias já estavam mortos, mas ainda
estavam acorrentados.
-Eles tinham esperanças de sair também. E tornou a rir ironicamente, mas desta
vez em um tom triste.
Malcom se dirigiu até perto dele sem medo algum, pois Barrábas era um homem
muito forte e alto, e estava preso por roubar e matar soldados romanos a punho
contra espadas. E apesar de estar acorrentado podia se movimentar e prendê-lo
facilmente entre as correntes e matá-lo. Então ele chegou mais perto ainda e
disse:
-Uma coisa aprendi meu amigo. Se acaso um dia saíste daqui, é por que teu
destino está traçado, e faz parte dos planos de Deus. Você matou. Este foi seu
crime. Por isto não posso soltá-lo. Mas você pode escolher aceitar o caminho mais
estreito assim como estes outros fizeram.
Barrabás abaixou-se e sentou no chão olhando a sua volta falou baixo:
-DEUS? Já ouvi dizer que ELE está em todo lugar... Mas não aqui romano, não
aqui.
Malcom ouviu em silêncio, se virou devagar e saiu de perto de Barrabas sem
nenhum arranhão. Chamou o soldado que cuidava da porta.
-Soldado, tire os corpos daqui e mande sepultá-los. E a partir de agora és o
responsável direto por estes homens aqui dentro. E se não quiser tu ocupar as
correntes destes defuntos, cuide para que nada aconteça com eles.
Após dizer isto Malcom se despediu de Flavíus e seus homens:
-‘Até breve meus amigos.
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Capítulo 16
Me dirigi até onde estava Caifás e os outros sacerdotes.
-Solte-o! Trai sangue inocente. Sou culpado, mas Ele não. Você deu-me sua
palavra Caifás. Ele seria feito rei. Você enganou-me.
-Olhem só, o traidor falando em traição. Por algumas moedas entregou quem
mais confiou em ti. Vá embora tolo! De nada me serves mais.
Senti uma ira enorme, mas de nada adiantaria, nem mesmo implorar a Caifás.
Realmente eu trai a Jesus. Então peguei as moedas e as joguei contra ele e os
sacerdotes, fazendo-as espalhar pelo chão.
-Realmente Caifás, trai quem mais amou, mas não só a mim, a você também.
Sai dali com a intenção e esperança de fazer algo que impedisse a morte dEle.
Jesus foi colocado no centro de um circulo de pessoas, e na sua frente estava
Caifás, alguns professores das leis de Moisés e alguns sacerdotes. E em volta dEle
estavam muitos Fariseus, Sauduceus e Judeus que conseguiram entrar no templo.
Então Caifás se aproximou dEle e o olhou com desprezo, pois Jesus estava sujo e
com suas vestes rasgadas. E lhe perguntou:
-És tu, Jesus de Nazaré? O que se diz rei dos judeus. O filho de DEUS?
E nada Jesus falou. Caifás tinha manipulado alguns homens para difamar a Jesus,
mas em vão, pois só contavam mentiras que não eram suficientes para incriminá-
lo. Então dois homens falaram o que realmente Jesus disse dias antes.
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–Eu ouvi Ele dizer que destruiria o templo e em três dias o reconstruiria.
Caifás novamente se dirigiu até Ele e perguntou:
-És verdade este relato? Planejas derrubar nosso templo? Nada Jesus respondia
nem se defendia.
–Fala-te algo! Não vai defender-se destas acusações. Jesus ainda permanecia
calado.
–És tu filho de DEUS? O Messias? Enfim Ele respondeu.
–Sou! E em verdade vos digo que ainda hoje tu verás o filho de DEUS subir aos
céus, e na companhia de meu pai sentarei a sua direita.
Caifás junto com os outros sacerdotes tiveram um instante de ira, rasgaram
suas roupas e discutiam uns com os outros e as suas vozes se misturaram as vozes
dos Judeus que ali estavam, e que em parte menor gritavam em favor de Jesus e a
outra maior gritava que ele morresse. Então um dos lideres chamado Anás chegou
até Jesus e disse:
-Tens coragem de Blasfemar isto contra DEUS e contra nós? Não sabeis que isto
causará tua morte? E Jesus respondeu:
-De meu destino sei desde que vim para o mundo. Meu pai me mostrou.
Então Anás lhe olhou com ira lhe deu um tapa e lhe cuspiu no rosto.
-Se o que falei é errado, mostra-me aonde errei. Mas se falo a verdade. Porque
me bates? Anás se retirou sem nada falar.
Entrou no templo um sacerdote que acreditava em Jesus, mas por medo dos
outros se ocultava das verdades.
-Quem convocou esta reunião? E cadê o resto do conselho?
Caifás respondeu:
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-É um julgamento de emergência e nem todo o conselho pode vir.
-Mentira! Disse o sacerdote. – Estava eu em minha casa e soube por outras
pessoas o que estava acontecendo. Solte este homem e após todos estarmos
reunidos por completo o julgaremos.
Caifás então mandou que outros homens expulsassem este sacerdote dali. Um
outro sacerdote chamado Sefaías chegou até Caifás.
-Ele tem razão, nenhuma punição dada a este homem será valida sem todos os
membros do conselho darem seus votos sobre este caso.
-Sim! Disse Caifás com um sorriso irônico. –Mas não serás nós a julgá-lo,
Não seremos nós quem levará a culpa. Acredite.
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Capítulos17
Pedro conseguiu entrar no templo e estava no meio da multidão. Eu estava
entre as colunas e de longe ele me viu e com um olhar, sem palavra alguma, eu
sabia o que ele queria dizer. ‘Tudo isto era culpa minha. Foi então que penetrando
entre as pessoas que ali estavam eu cheguei perto dele, mas antes de eu falar
qualquer coisa, uma mulher que ali estava olhou para ele e disse:
-Tu és um deles! Te vi na companhia daquela homem.
- És louca! Não sei do que falastes. Respondeu Pedro.
E tentou sair dali, pois tinha muito medo de acabar como Jesus, mas foi agarrado
pelas vestes por um homem que disse:
-Sim! Realmente és tu um deles, também o vi na companhia de Jesus.
-Me solte seu verme, nunca estive com Ele.
Respondeu novamente Pedro, e ao mesmo tempo tentava mais uma vez escapar
da multidão que se formava em sua volta. Foi então que outros lhe falaram:
-Seu sotaque não engana homem, és sim apóstolo dele.
-Não! Nunca vi este homem antes me deixem ir.
No mesmo instante em que Pedro disse isso, ouviu o cantar do galo. Então
lembrou amargamente as palavras de Jesus:
“Antes mesmo que cante o galo, por três vezes tu me negarás”
Pedro saiu dali e ficou do lado de fora do templo e não teve coragem para
intervir por Jesus.
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Capitulo 18
Já amanhecerá o dia e os sacerdotes junto com Caifás levaram Jesus até
Pilatos, pois Caifás tinha o intuito de fazer com que Pilatos condenasse Jesus á
morte, assim fazendo com que ele também tivesse parte em culpa daquilo. Era a
forma de fazer indiretamente o contrário do que queria Pilatos, ou seja, condenar
um Judeu a morte e futuramente ter que enfrentar a revolta do povo Judeu. Pois
para a maioria deles Jesus era o seu rei, o rei dos Judeus e não dos romanos. Então
entraram no pátio do palácio de Pilatos que já tinha sido avisado que um tumulto
se formava nos portões e exigiam sua presença. Pilatos foi até a varanda do
palácio e viu muitos Judeus discutindo e falando ao mesmo tempo. Na frente desta
gente estava Caifás e outros sacerdotes e um homem todo machucado e mal
vestido. Sabia quem era este homem, mas não se manifestou, então quando quis
falar um oficial tomou-lhe a frente.
-Calem-se na presença do governador. E todo o povo se calou.
-Que tumulto é este que trás até mim Caifás? Disse Pilatos. E Caifás respondeu:
-Este é um homem condenado por nosso povo, trouxemos a sua presença para
que...
-Quem é Ele? Perguntou Pilatos sem deixar Caifás terminar de falar.
-É Jesus de Nazaré. O homem que... Novamente Pilatos o interrompeu.
-Tragam aqui este homem.
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Na presença de Pilatos Jesus ficou em silêncio. Pilatos esperava que Ele falasse
algo em sua defesa, mas nada Ele falou. Então Pilatos olhou em seus olhos e
perguntou:
-Tu és Jesus, o nazareno rei dos Judeus?
-Tu é quem dizeis? Ou é só o que ouvistes falar?
-Por acaso sou um Judeu. Respondeu Pilatos. -E então tu és rei dos Judeus?
-Tu é quem dizes. Torno Jesus a dizer.
Olhando de novo ao povo Pilatos falou:
-Querem mesmo que eu aplique uma punição ao rei de vocês?
Estas palavras causaram uma revolta nos sacerdotes que induziam o povo e
gritavam:
-Nosso rei é César e não esse homem!
-Vosso rei é César? Indagou Pilatos ironicamente, e continuou: -Mas este
homem não é romano. Acaso ele não é da Galileia? Então mande que o rei da
Galileia o julgue. Mande Ele para Herodes. Eu não o condeno.
Pilatos disse isto com dois intuitos. Um de se livrar do caso e não ter que
condenar Jesus. Outro que em seu coração sabia que Caifás era uma víbora
venenosa e Jesus era inocente. Claudia mulher de Pilatos teve um sonho com Jesus
e por várias vezes dizia a Pilatos para não condená-lo, pois derramaria sangue
santo. No fundo Pilatos sabia.
Saíram então da presença de Pilatos e foram. Aonde iam os sacerdotes com
Jesus, ia o povo, eu, Pedro e mais alguns apóstolos.
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Algum tempo e estavam na presença de Herodes Antípas que estava neste dia
em Jerusalém a dar uma festa, e estavam ele e todos lá presentes embebedados
pelo vinho. Então Herodes chegou até Jesus e disse:
-Tu realmente és o homem que há muito ouço falar?
Jesus o olhou, porém nada disse! Herodes olhou para os outros com indignação,
pois não responder a um rei era um fato desrespeitoso. Mas Herodes prosseguiu:
-Já que és tu quem fizestes todos estes milagres que eu tenho ouvido, faças um
milagre para mim.
E novamente Jesus nada falou. Herodes poderia mandar matá-lo por este ato,
porém ele já tinha sido informado do que estava acontecendo desde o
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começo. Então, chamou seu conselheiro e disse-lhe baixo para que ninguém
ouvisse:
-Pilatos aquela serpente! Então pensa que podes jogar em mim a culpa da morte
deste Judeu não é?
-É o que ele pensa, e o que quer senhor. Falou-lhe o conselheiro. E Herodes
voltou-se aos sacerdotes.
-Não vêem que este homem é apenas louco. Tão louco quanto vós que querem
matá-lo por suas loucuras. Vão! Este Galileu não tem crime algum e eu não o
condeno.
Herodes mandou vestir em Jesus uma capa e mandou todos embora.
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Os sacerdotes não desistiam e novamente voltaram á presença de Pilatos.
-Caifás! Você e seus homens estão começando a me aborrecer.
-Senhor governador; Herodes não condenou este impostor, por isto trouxemos
Ele de volta para que...
-Cale-se! Ouçam todos vocês. Falou Pilatos se dirigindo ao povo que estava
tumultuado ali no pátio. –Eu não encontrei nEle crime algum. Este homem é um
Galileu da Judéia e seu rei Herodes também não encontrou, por isto não o
condenarei a morte. Porém vou castigá-lo e depois o deixarei ir livre.
Sabia Pilatos que muitos homens que estavam ali eram subornados por Caifás.
E estes induziam o povo a gritar e pedir a morte de Jesus.
Os soldados romanos levaram Ele para um pátio interno aonde os seguiu; Caifás
os sacerdotes, e muitos outros Judeus. Ele foi condenado a trinta chibatadas, mas
os soldados estavam possuídos por algo ruim e lhe deram mais que o dobro até
quase matá-lo. Então trouxeram-lhe de volta a presença de Pilatos. Ele estava
muito machucado e já quase desmaiava quando Pilatos mandou chamar o chefe
de seu exercito que estava encarregado de levar Jesus.
-Estais louco! O que aconteceu? Era só para castigá-lo não matá-lo.
-Governador. Este homem é inocente, é santo. Não consegui olhar Ele ser
castigado daquela forma, então saí para fora, e só voltei para buscá-lo e já estava
Ele assim.
-Igual a ti, eu creio que Ele realmente é inocente, porém você é o chefe do meu
exército e não poderia ter sido fraco. Você não pode continuar neste cargo. Vá até
o calabouço e mande soltar Flavíus junto com seus homens. E mande que ele me
traga Barrabás ainda acorrentado, pois ele voltará lá para dentro.
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Pilatos mandou que trouxessem Barrabás, porque o povo ainda gritava para
que Jesus fosse crucificado.
-Escutem! Tornou a falar. –Este homem é inocente. Tenho certeza que estão
sendo vós induzidos ou subordinados. Muitos de vóis dizem ser testemunhas de
algumas coisas que Ele fez. Se fez algo realmente digno de morte, então me
apresente a causa junto com as provas. Porém, se Ele só fez o bem... Por que
querem vocês que Ele morra?
Por alguns instantes o povo silenciou. Cheguei quase a pensar que Pilatos
conseguiu salvá-lo, mas muitos ali realmente foram pagos para gritar e induzir
contra Jesus. Então Caifás viu que o povo silenciava e deu primeira palavra de
manifestação.
-Governador! Ele difamou, ameaçou nossa religião e ainda pôs Judeu contra
Judeu, entre outras coisas que foram contra nossas leis. Se tu és realmente amigo
de César, é amigo nosso também, e deve nos defender. Crucifique-o!
Então os caluniadores voltaram a induzir o povo e já eram muitas as vozes que
pediam sua crucificação, e poucas as que pediam em seu nome. Uma destas
pequenas e fracas vozes era a minha.
Malcom estava a segurar Barrabás na varanda do palácio. Barrabás estava sujo
e quase não abria os olhos direito devido ao tempo que ficou na escuridão.
-Este é Barrabás! Um prisioneiro. Falou Pilatos em alta voz. –Ele roubou e
matou, e foi condenado por isto. E este é Jesus! Pilatos falou apontando com o
dedo para Ele. –Não matou, não roubou e não cometeu nenhum crime
reconhecido por mim. Mas, como de costume, na páscoa sempre solto um
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prisioneiro a pedido de vós. Então... Quem quereis vós que eu solte? Barrabás
ou Jesus?
Aqueles homens a quem Caifás subornava começaram a gritar e a inflamar o povo
que gritavam –Barrabás! Solte Barrabás! Olhando atentamente o povo Pilatos viu
que muita gente gritava; -Solte Jesus! Jesus. Porém, as vozes que pediam por
Barrabás eram mais fortes. Pilatos então olhou para Malcom e deu um sinal com a
cabeça para que soltasse Barrabás. Então Malcom soltou suas correntes. Barrabás
olhava sem piscar para Jesus, então Malcom mandou-lhe ir.
-Vá, Estais livres. Barrabás então lhe falou:
-Este, é Ele de quem antes falastes lá nas celas?
-Sim. É Ele.
Barrabás olhou novamente a Jesus, depois a Pilatos, então olhou ao povo e os
sacerdotes e por último a Malcom e tornou a falar-lhe:
-Posso escolher por ficar em seu lugar?
Malcom olhou-lhe com espanto, pois Barrabás á muitos anos era prisioneiro e
como qualquer outro ansiava pela liberdade. Então foi até Pilatos que esperava
saber o que acontecerá porque Barrabás não saia do lugar mesmo solto.
-Governador! Ele pede por ficar em troca de Jesus. Pilatos foi até ele.
-Tens certeza do que dizes? Não está alguém a manipulá-lo?
-Não! Respondeu Barrabás. -Muito tempo passei preso as correntes, mas eu
errei e por isto estou pagando. Se me libertar em troca dEle. Então de nada me
adiantará a liberdade.
Pilatos ainda espantado tornou a falar alto ao povo Judeu e aos sacerdotes:
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-Ouçam! Este prisioneiro que á muitos anos é morador dos calabouços do
palácio tem a chance de ser livre agora. Porém, pede para continuar preso no
lugar de Jesus. Trocou a liberdade em amor a Ele. Justo este homem, um ladrão e
assassino quer a liberdade de um inocente. E vós todos que estão livres, me pedes
para matá-lo.
Mas, o povo Judeu da mesma forma ainda gritava contra Jesus. Então Pilatos
falou a Barrabás:
-Vá homem. Preso ou livre, você foi uma tentativa pela vida dEle e de nada
adianta sua troca. Barrabás se misturou então entre os Judeus e esperava para ver
o andamento daquele julgamento. Era mais uma pequena e fraca voz em favor de
Jesus entre os caluniadores.
Pilatos mandou levar Ele para o interior do palácio novamente. Tinha como
intenção cansar o povo e fazer muitos dali irem embora e enfraquecer Caifás e os
sacerdotes junto aos caluniadores.
-Irei interrogar novamente este homem. Disse ele a todos ali. -Se tiver nEle
realmente algum crime Ele falará.
Pilatos foi para dentro também, mas antes deu ordem a Malcom:
-Soldado, por hoje é encarregado da segurança do palácio, ninguém passa
destas escadas para dentro.
-Senhor governador. Estou as suas ordens. Porém, peço permissão para
perguntar.
–Pergunte, seja breve.
–E quanto a Flavíus senhor? Ele e seus homens estão lá dentro a esperar por
suas ordens.
–Mande alguém dizer a Flavíus o meu recado; “És de novo o chefe do exército
romano. Mas, deve junto com seus homens se recuperar antes, e não
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deve de maneira nenhuma chegar perto de Jesus. Não quero que ele tenha
recaídas na frente dos soldados nem dos Judeus. Perderia o respeito deles.
-Sim senhor governador. Malcom fez como Pilatos mandou.
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Capítulo19
Dentro do palácio Pilatos pediu para que Jesus senta-se, mas Ele
recusou-se, então tentou lhe dar água, mas Ele não bebeu.
–Escute Judeu. Sou governador da província romana em Jerusalém, tenho o
poder para mandar crucificá-lo ou soltá-lo. O que quer que eu faça por ti.
–Nenhum poder a ti é concedido senão pelo meu pai. Nenhum poder tens sobre
mim. Nem tão pouco Ele vem de ti.
–Acredita mesmo que és o filho de DEUS, o prometido deste povo?
–Sim! Sou o filho de DEUS. E em verdade vos digo homem, lave tuas mãos disto,
pois de nada tens culpa e muito menos me livrará do meu destino. É a vontade de
meu pai. Vós, é só um instrumento das ações DELE. Vós todos são.
Pilatos esperou mais algum tempo e voltou ao pátio do seu palácio com Jesus.
Olhou de sua varanda e o povo estava ainda ali, e pelo contrário de suas intenções,
os Judeus aumentaram em números de pessoas.
-Querem vós que eu prenda então Jesus?
–Não! Não o prenda. Crucifique-o. Disse Anás.
Novamente a manifestação começou e de novo Pilatos olhou a Jesus.
-É este mesmo o seu destino? Jesus nada respondeu. Desviou seus olhos para o
céu, uma lágrima correu de seus olhos.
–Pai, daí-me forças. Eu preciso. Falou Ele em vós baixa.
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Eu conseguia, sentir a dor que Ele sentia. E se nem Pilatos conseguiu convencer
o povo que Ele era inocente, tão pouco eu conseguiria. Sua morte estava
anunciada. A não ser que Pilatos estivesse disposto a enfrentar uma
possível rebelião dos Judeus. Mas este não era seu principal medo. Seu medo
maior chamava se César. Isto tinha que acabar antes de chegar até o rei de Roma.
Pilatos tornou a olhar o rosto de Jesus, e deu um suspiro de lamentação.
–Tragam-me água. Trouxeram-Lhe água e lavando suas mãos ele disse em um
tom alto, porém triste:
-Lavo minhas mãos do sangue inocente deste homem. A partir desta hora todos
vós aqui presentes são culpados da sua morte. Sem dizer uma palavra a mais ele
entrou as pressas em seu palácio e sem falar com ninguém se trancou em seus
aposentos. Então Caifás e os Judeus levaram “Ele”.
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Capitulo 20
Flavíus procurou por Malcom.
–Diz-me. O que é que esta acontecendo lá fora? Perguntou.
–Pilatos entregou Jesus aos Judeus. Embora tentasse ele de tudo, o povo estava
induzido pelos sacerdotes do templo. Mas o que mais me intrigou é que em
momento algum Ele se defendeu. Parecia que já tinha aceitado sua condenação e
sua morte.
-Aceitado? Acho que não. Disse Flavíus. –Mas acho que de alguma maneira Ele
sabia o que iria acontecer. Por isto não se manifestou.
-Do que Ele sabia? Perguntou Malcom.
-Ouça Malcon. Um dos homens que tu vistes morto lá na cela naquele dia, era
um Judeu. Um pouco antes de sua morte achava eu que ele delirava, porém agora
sei do que falava e não era delírio, ele fazia um tipo de profecia, dizia algo como:
‘O rei dos Judeus, pelas mãos dos Judeus morrerá. Sua santidade será reconhecida
pelas casas perdidas, e a sua própria o negarás’ Dizia que era preciso, pois só
assim eles (Judeus) seriam salvos. Entende? Estes Judeus tem escrituras que já á
muito tempo dizia que isto ia acontecer. Os profetas deles faziam profecias da
vinda deste homem que viria para salvá-los, porém estão cegos e vão lhe matar.
-As casas perdidas somos nós, romanos? Perguntou Malcom.
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-Creio que sim. As últimas palavras daquele homem eram que tudo foi
predito e este ‘vento do mesmo jeito que vai, voltará. E disse também que: ‘Quem
há de trair não é o verdadeiro traidor’
-Quem há de trair? E esse verdadeiro traidor quem é? Perguntou Malcom.
-Não sei. Quando fui lhe perguntar de quem falava, ele morreu.
-Flavíus, acha que devemos fazer alguma coisa, somos soldados temos armas e
poderíamos defendê-lo.
-Não entendeu ainda, não é meu amigo? De alguma maneira este Galileu tem
que morrer, Não sei a razão, mas sinto que é este o destino dEle. Como se Ele
tivesse nascido para isso.
Então Flavíus, Malcom e os outros soldados foram até uma janela aonde viam
Jesus sendo levado pelos Judeus.
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Capítulo 21
Jesus foi levado então para ser crucificado. Quando passava pelos Judeus
muitos o agrediam. Outros tentaram em seu favor, mas todos eram contidos pelos
soldados romanos. Por inúmeras vezes tentei chegar perto dEle, mas
não só os romanos me impediam como os próprios discípulos já se manifestavam.
Os primeiros a me barrar foram Pedro e Madalena.
-traidor! O que queres mais? Ter certeza que Ele vai morrer?
-Pedro, não é a hora certa de julgar-me.
-Á hora de julgar-te foi quando te aceitamos entre nós, porém não fizemos, mas
agora já não és um de nós, e mesmo que não o julguemos, tu és de fato um traidor.
Traiu a Ele por trinta moedas. Todos já sabemos.
Enquanto Pedro falava mais discípulos se reuniam em minha volta e comecei a
temer pela minha vida, mesmo tendo a certeza que se pudesse trocaria de lugar
com Ele, eu tinha medo.
-Judas dês de o começo eu sabia quem tu eras e o que eras capazes de fazer, mas
não com Ele. Trair qualquer um de nós era esperado, mas trair Jesus. Porque?
Perguntou Thiago.
-Minha intenção não era essa. Ouçam! Ele é tão importante para mim, quanto
para vós.
Mal consegui falar estas palavras e fui empurrado ao chão, quando tentei
levantar-me, uma pedra me acertou a face e mais uma ou duas acertaram meu
corpo. Já me dava por convencido que a minha morte chegara, quando a
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voz de um discípulo muito importante que quase nunca se pronunciava, disse com
autoridade e ao mesmo tempo piedade:
-Parem! Deixem o ir, ele é inocente. Era a voz de Maria, não Madalena e sim
Maria mãe de Cristo. Que veio até mim, me levantou, enxugou meu sangue e me
falou:
-Vá meu filho, vá em paz.
-Como podes ter vós piedade de mim? Eu recebi de seu filho amor e lhe dei em
troca a morte. Mulher, sou eu quem esta matando seu filho.
-Judas... Não somos nós quem fazemos nossos caminhos, apenas pegamos
atalhos que nos levam mais rápido ao destino. Agora vá, tens que ir embora.
E antes de ir ela disse baixo em meu ouvido:
-Ele ama você.
Como poderia Ele me amar se eu lhe traí. Levantei rápido e comecei a correr
mais acima em direção de Damasco, onde Ele seria crucificado, mas precisamente
em um lugar chamado de “caveira”
Os romanos o fizeram carregar a própria cruz, e lhe tomaram-no mais de
sangue.
Quando Ele já não tinha mais forças então pegaram um judeu que lhe ajudou a
carregar a cruz até o monte.
Olhei de longe e vi a multidão o seguindo. Porém eram na maioria opressores.
Então tive uma vaga lembrança de quando muitos os seguiam e eram na maioria
oprimidos, e ouviam e se maravilhavam de suas palavras. Mas hoje ninguém tem
poder algum de impedir os romanos, e tudo porque é a vontade dos Judeus e não
a dos romanos.
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Todos os planos que eu fiz e minha ânsia de vingança custaram a vida de um
inocente, o mais puro dos homens que por falar a verdade eu o entreguei. Viver...
Para mim já não fazia sentido. Por varias vezes no caminho pensei eu tirar-me a
própria vida, mas a esperança de alguma coisa acontecer e evitar a sua morte me
impedia. Por alguma estranha razão sentia que Ele não iria morrer.
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Capitulo 22
Chegaram então no local onde crucificariam Jesus e o pregaram a cruz.
Pregaram seus punhos e seus pés na madeira e com Ele estavam a morrer dois
ladrões um a sua direita e outro a sua esquerda, o que estava a sua direita
chamava-se Aitofél e lhe disse quando suas cruzes já estavam de pé:
-Eu sei quem és tu, lhe vi em Cafarnaum. Você fez muitos milagres lá. Então
faz um agora, pois precisamos. Livra-nos.
Jesus apenas o olhou e nada falou. Caifás que estava ao pé da cruz e ouviu isto,
disse a Jesus:
-Tu dizes que salvaria Eles. Então salva-os agora. Faz milagres e tira os daqui.
Melhor! Salva a ti mesmo.
Jesus novamente não falou nada. Ouviu então o que o homem da sua esquerda
chamado Manain falou a Caifás:
-Hei homem! Nós roubamos e cometemos crimes por isso estamos aqui e
merecemos morrer, mas Ele não. Ele é Santo. Também já vi suas ações Ele fez
muitas coisas boas. Não cometeu crime algum. Soltai-vos.
-Não! Soltai a nós. Gritou Aitofel. E Caifás olhou para ele
-Cala-te tolo! Ele não podes salvar nem a Ele , quanto menos a vós.
E Jesus olhando para o céu e falou:
-Pai! Porque me abandonastes?
Mas disse isto baixo e um sacerdote confundiu suas palavras.
-Vê Caifás. Ele chama a Elias. Disse o sacerdote. E Caifás respondeu:
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-Vejamos então se Elias vem.
Um tempo se passou e Manaim chorando, virou-se á Jesus:
-Senhor, quando chegastes ao céu lembra-te de mim.
Jesus lentamente virou-se e o olhou.
-Em verdade vos digo, que antes mesmo que tudo isto acabe, estará vós comigo
e meu pai.
Caifás novamente foi até o pé da cruz de Jesus.
-Então? Elias não vem lhe salvar? Serás que nem na morte cansas de blasfemar?
Dito isto Jesus novamente levantou seus olhos ao céu e falou desta vez em um tom
alto e doloroso:
-Pai, perdoai-vos, eles não sabem o que fazem. Manaim novamente se
manifestou e falou quase gritando e com um tom de dor a todos que ali estavam:
-Vêem, mesmo na cruz Ele pede por vós. Por favor soltai-vos, castigue a nós que
merecemos não a Ele.
Então os sacerdotes mandaram que os soldados romanos quebrassem as pernas
dele e de Aitofél que estava a direita da cruz de Jesus. Porém quando chegaram
até a cruz de Manaim este já estava morto, os soldados acharam que fingia pois a
poucos minutos falava. Então lhe bateram forte na perna com uma marreta e
nenhuma reação tivera. Virão que realmente tinha morrido. Foram então até a
cruz de Aitofél e este estava vivo. Quebraram suas pernas forçando assim sua
morte.
Estava eu a alguns metros dali, olhando. Aquela esperança não me abandonava,
alguma coisa me dizia que Jesus não iria morrer. Mas se realmente Ele morresse
só tinha uma coisa que me restava fazer...
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Capitulo 23
Caifás e os outros sacerdotes se retiram dali em direção do templo com
medo de uma possível reação de rebelião. Passado um tempo os soldados que ali
estavam por algum motivo deixaram Maria e Thiago chegarem até Ele.
-Meu filho. Porque este caminho?
-Mulher, dês de o início sabeis e sentistes meu destino. E agora choras? Eis ai
seu filho. (referia-se a Thiago)
E olhando para Thiago falou:
-E homem, eis ai tua mãe, amparaste-a.
Após dizer isto Jesus pela terceira vez olhou para o céu.
-Pai. Recebeis a mim! Estou pronto.
‘Deitando sua cabeça lentamente Jesus morreu.
Alguns segundos fizeram o silêncio do tempo uma eternidade. Jesus estava
morto na cruz e a esperança que eu tinha se transformou em dor. Morreu aquele
que eu entreguei, e sem tocá-lo minhas mãos estão sujas de seu sangue.
O tempo escureceu tão rápido que quando viram já era quase noite, trovões e
ventos fortes dominaram aquele lugar. Um tremor tão grande se formou que
rasgou o templo ao meio diante dos olhos de Caifás e todos os outros sacerdotes.
Aquele lugar onde estava Jesus era tomado de temor todos corriam de um lado
para o outro tentando fugir, a chuva que caia era como pedras em suas cabeças, e
enquanto todos fugiam, ficaram ali Maria, Maria Madalena e uma outra mulher
chamada Salomé e Thiago. Eles chegaram novamente perto da cruz que das três
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era a única que estava ainda de pé. Eles não temiam a chuva, trovões nem os
tremores de terra.
Alguns soldados que estavam ali e não fugiram falavam:
-“Verdadeiramente” era o filho de DEUS. E foram ajudar a tirar-lhe da cruz e
quando tiraram o corpo dEle dali e estava nos braços de Maria sua mãe, o tempo
acalmou na mesma hora e o céu se abriu, nenhuma gota de água caiu e nenhum
tremor de terra se sentiu, num silêncio absoluto só se ouvia o choro baixo destas
mulheres que ali estavam. Thiago sem piscar olhava para o céu. Os soldados
olhavam o templo destruído.
Caifás chorava na entrada do templo junto aos outros sacerdotes que gritavam
o erro que cometeram.
Então uma dor tomou conta de minha alma, a culpa da morte DELE eu teria que
carregar para o resto da vida... E isso eu não agüentaria.
Olhei então de longe para Maria que estava a segurar o corpo dEle, por um
instante ela também me olhou e em seguida quase todos eles me olhavam. Ela
olhou para mim sem ódio, seu olhar era de compaixão ou de piedade, não sei. Mas
o olhar dos outros eram destruidores fui condenado só pelos seus olhos. Então sai
dali, não temia pela minha vida mais, pois estava decidido eu mesmo á tirá-la.
Andei por um tempo e já sentia medo de fazer o que estava decidido a fazer. Foi
quando um homem me apareceu na frente, não sabia da onde ele saía pois do
vazio apareceu, e então me disse:
-Matas-te então quem mais o amou... O entregou as mãos de quem o esmagou.
Lhe deste em troca aniquidades e sofrimentos antes de morrer.
Senti por um instante que reconhecia aquele rosto.
-Quem és tu?
-Eu? Ora, já me conhecestes antes.
-Não. Estais enganado, nunca lhe vi antes. Porém, sinto que já o vi.
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-É claro. Lembra-te do homem a quem encontrara no poço, aquele que o
nazareno transferiu seus demônios aos porcos e depois jogaram-se ao abismo...
-Sim, lembro, mas não sois vós. Tenho certeza.
-Não sou quem? O homem, ou os porcos?...
Ouvi então o barulho atrás de mim, era de um camelo que dava seus últimos
gemidos, pois estava morrendo. Ao voltar meus olhos onde estava o homem ele já
não estava ali sumiu como um fantasma.
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Pensei estar enlouquecendo me enchi de pavor e coragem e decidi de novo de
uma vez tirar-me a vida. Olhei para o animal que ali morrera e tinha uma corda a
qual arranquei de seu pescoço, então olhei em minha volta e tinha uma árvore que
á poucos minutos, tenho certeza, não estava ali. Então dei-me conta, estava
mesmo a enlouquecer. Meu corpo tremia embora o vento fosse quente. Amarrei a
corda naquela árvore e quando fui levá-la ao meu pescoço, uma mão segurou a
minha com firmeza e num inicio de susto me virei, e já não sabia se tinha o pavor
me dominado, ou se a loucura de minha mente me enganava, porque o que via era
impossível... Era o que eu pensava.
Jesus estava na minha frente, sem feridas, sem sangue, sua face estava limpa.
Olhou-me e segurou mais forte ainda minha mão, tirando a corda de meus dedos e
fazendo-a cair ao chão. Olhei então para Ele e quando iria perguntar como... Uma
estranha sensação tomou conta de mim, me senti calmo e tive vontade de chorar.
Sentei-me em uma pedra que estava ao meus pés e uma lembrança começou a vir
em minha mente. Lembrei-me então do dia em que estávamos naquela casa,
quando Ele fez a nós dois invisíveis aos olhos dos outros. Lembrei o que Ele dizia
aquele dia:
“Afasta-te dos outros” E em outras palavras “Você perecerá de dor e sofrimento”
“Você está pronto para se sacrificar por mim?” Lembrei que eu lhe respondi: “Sim!
Estou” e devagar lembrei de tudo o que conversamos aquela noite e as últimas
palavras daquela conversa me fazia muito sentido agora: “Você só se lembrará
desta conversa e deste momento após eu trocar o corpo físico pelo espírito”. Por um
instante refleti. Então olhei para Ele que me olhava com uma expressão de
tranqüilidade e lhe falei:
-Então não o traí?
-Não. Respondeu-me Ele. E eu tornei a falar-lhe:
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-Tinha uma esperança, algo dentro de mim que dizia que você não iria morrer.
Porém eu o vi morrer, e agora o vejo aqui na minha frente, vivo. Então era por isto
que tinha este sentimento em mim.
-Sim. Hoje e agora sabes meu amigo. Assim como em Mim, em ti o meu pai fez
suas obras, fomos seus instrumentos para seus planos que talvez não faça sentido
ainda para você. Judas seu caminho foi feito pelo pai antes mesmo de ter um
nome. Seu coração foi feito duro para ser quebrado por “ELE” que assim como Eu
ama a todos vocês, dos pecadores aos bons samaritanos.
-Senhor, mas agora todos saberão disto?
-Não Judas. Seu sacrifício não acaba aqui. Você nunca mais será aceito nem
pelos apóstolos nem por ninguém, sua face será apagada dos olhos de todas as
pessoas, muitos são os que te virão, e nenhum te reconhecerá.
Então Jesus pegou a corda que estava ali, a mesma que eu usaria para matar-me
e ao tocá-la ela transformo-se em correntes grossas, então se dirigiu até o animal
que estava ali morto e o amarrou com as correntes e começou a arrastá-lo em
direção a árvore que eu usaria como apoio a minha forca. Então o animal que
estava morto começou a se debater e a se transfigurar até tomar uma forma de
homem. Era o homem que a pouco falava comigo e desapareceu do nada no vazio.
Jesus o puxava com força pelas correntes ele gritava muito, porém, seus gritos
eram mudos não os conseguia ouvir. Jesus o amarrou a árvore, deu uma volta com
as correntes entre o tronco da árvore e ao tocar a ponta na outra parte, elas se
juntaram sem deixar emendas. Então a árvore começou a pegar fogo, um fogo
gigante que á consumia e eu conseguia ver Jesus dali, no meio do fogo, até que de
repente um buraco enorme se formou ali e a árvore foi engolida por ele e
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o fogo se apagou e Jesus com um gesto, sem tocar naquele homem o empurrava
para aquele buraco até que ele foi engolido também e o buraco se fechou
consumindo tudo e as cinzas se misturaram a terra e aos poucos o vento levou
terra e cinzas, apenas um mal cheiro ficou por pouco tempo ali.
Jesus voltou até mim sem um fio de cabelo queimado e nem se quer cheirava
fumaça, e me disse:
-Judas Iscariotes. Sua casa agora é o deserto, vá e um dia testemunhará em
meu favor em nome do meu pai. Sabes que estarei contigo em todos os lugares e
horas meu amigo e em pouco tempo estará comigo e meu pai.
Ele me abraçou forte e quando percebi já não o abraçava mais. Ele tinha ido
embora. Desaparecido como uma miragem.
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Capitulo 24
Após alguns anos fiquei sabendo que Pedro espalhava o testemunho de cristo
a muitos povos, e com ele andava um romano que tinha sido a vida toda um
perseguidor dos cristãos, seu nome era Paulo e ele agora pregava o testemunho
de Jesus junto com outros apóstolos.
Muitos romanos se tornaram cristãos por causa deles. E em meu lugar estava
um homem chamado Matias como Ele falou que seria. E como Ele falou; “Estaria
comigo, assim como estará com todos vós sempre que quiseres.
E quanto a mim... Bom, agora vós sabeis.
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Todas as coisas foram feitas por Ele,
e sem Ele nada do que foi feito se fez.
(João 1:3)
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Agradeço a DEUS e a minha esposa Josiane.
que colaborou do início ao fim deste livro e teve paciência com meus rascunhos.
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Este livro tem seus direitos autorais protegido pela
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. E seu original
registrado em cartório na cidade de Curitiba Pr.