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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FUJITA, MSL., org., et al. A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. Um estudo de observação do contexto sociocognitivo com protocolos verbais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 149 p. ISBN 978- 85-7983-015-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. As diferentes perspectivas teóricas e metodológicas sobre indexação e catalogação de assuntos Mariângela Spotti Lopes Fujita Milena Polsinelli Rubi Vera Regina Casari Boccato

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros FUJITA, MSL., org., et al. A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. Um estudo de observação do contexto sociocognitivo com protocolos verbais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 149 p. ISBN 978-85-7983-015-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

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As diferentes perspectivas teóricas e metodológicas sobre indexação e catalogação de assuntos

Mariângela Spotti Lopes Fujita Milena Polsinelli Rubi

Vera Regina Casari Boccato

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1AS DIFERENTES PERSPECTIVASTEÓRICAS E METODOLÓGICAS

SOBRE INDEXAÇÃO ECATALOGAÇÃO DE ASSUNTOS

Mariângela Spotti Lopes FujitaMilena Polsinelli Rubi

Vera Regina Casari Boccato

Introdução

Na biblioteca, os tratamentos de forma e conteúdo,embora operacionalmente diferentes, são dependentes umdo outro. O formato descritivo utilizado é o catalográfico,a maioria em MARC21, que conterá o resultado das ope-rações de tratamento de forma (autor, título, edição, casapublicadora, data, número de páginas etc.) e de conteúdodocumentário (o número de classificação, obtido pela clas-sificação, os cabeçalhos de assuntos determinados pela in-dexação e, em alguns casos, o resumo derivado da elabora-ção de resumo).

Nesse contexto, nosso interesse diz respeito ao trata-mento temático dos documentos, cuja finalidade é a recu-peração conforme os objetivos de busca do usuário. Paratanto, podem ser utilizados os processos de indexação, ca-talogação de assunto, classificação e elaboração de resumos,que são considerados processos de sumarização da infor-mação dos quais se originam os índices, os catálogos deassunto, os números de classificação e os resumos que pos-sibilitarão a recuperação da informação pertinente aos in-

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teresses dos usuários. Neste momento, o nosso foco é a in-dexação e a catalogação de assunto.

As diferenças conceituais a respeito desses dois proces-sos estão ligadas ao da história do desenvolvimento concei-tual de cada um. Essa situação pode ser explicada pelo de-senvolvimento de cada um dos processos no decorrer dotempo, fazendo com que surgissem várias concepções paraos termos.

Este capítulo dedica-se, portanto, a analisar as diferen-tes perspectivas teóricas e metodológicas sobre indexaçãoe catalogação de assuntos com o objetivo de esclarecer aequivalência das operações e a importância de considerar-mos a indexação na catalogação.

Indexação e catalogação de assunto:perspectivas teóricas e metodológicas

Tanto a indexação quanto a catalogação de assunto es-tão inseridas no tratamento documentário, que é a etapaintermediária inserida em um conjunto de operações deno-minado ciclo documentário (ou cadeia documental).

Para Shaw (1957), o ciclo documentário envolve a iden-tificação, a gravação, a organização, o armazenamento, arecuperação, a conversão em formas mais úteis e a dissemi-nação do conteúdo intelectual de materiais impressos eoutros registrados.

Além do tratamento documentário, enquanto etapa in-termediária, Guinchat & Menou (1994) afirmam que o ci-clo documentário comporta também a coleta de documen-tos (inicialmente) e a difusão da informação (ao final).

Cada uma dessas operações – coleta, tratamento e difu-são – desdobram-se em atividades dotadas de política eprocedimentos metodológicos bem definidos:

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• coleta: compreende toda a operação de localização, se-leção e aquisição de documentos convencionais e nãoconvencionais;

• tratamento: executa o processamento dos documentoscoletados com relação tanto ao suporte material quan-to a seu conteúdo;

• difusão: é realizada por meio dos produtos e serviços dosistema de informação planejados de acordo com a de-manda da comunidade usuária: levantamentos biblio-gráficos retrospectivos e atualizados, consultas biblio-gráficas, empréstimo de documentos, comutaçãodocumentária, entre outros.

Dias & Naves (2007, p.17) sintetizam o conceito de tra-tamento da informação como sendo

expressão que engloba todas as disciplinas, técnicas, métodose processos relativos a: a) descrição física e temática dos do-cumentos numa biblioteca ou sistema de recuperação da in-formação; b) desenvolvimento de instrumentos (códigos, lin-guagens, normas, padrões) a serem utilizados nessasdescrições; e c) concepção/implantação de estruturas físicasou bases de dados destinadas ao armazenamento dos docu-mentos e de seus simulacros (fichas, registros eletrônicos,etc.). Compreende as disciplinas de classificação, catalogação,indexação, bem como especialidades delas derivadas, ou ter-minologias novas nelas aplicadas, tais como metadados, eontologias, entre outras.

Para Fujita (2003), a organização da informação com-preende as atividades e operações do tratamento da infor-mação, envolvendo para isso o conhecimento teórico emetodológico disponível tanto para o tratamento descriti-vo do suporte material da informação quanto para o trata-mento temático de conteúdo da informação.

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O tratamento descritivo refere-se propriamente à ca-talogação, ou seja, à representação descritiva da forma fí-sica do documento (autor, título, edição, casa publicado-ra, data, número de páginas etc.).

O tratamento temático, em bibliotecas, diz respeitoao assunto tratado no documento, ou seja, compreendea análise documentária como área teórica e metodológi-ca que abrange as atividades de classificação, elabora-ção de resumos, indexação e catalogação de assunto,considerando as diferentes finalidades de recuperaçãoda informação.

Essa dicotomia que se apresenta no tratamento da in-formação é explicada, de um lado, pelo desenvolvimen-to teórico e metodológico distinto alcançado pelas duasáreas e, de outro, pela diferença existente entre os aspec-tos da informação – o material e o conteúdo – que exigemtratamento diferenciado (Fujita, 2003).

De acordo com nosso objetivo – discutir os aspectosteóricos envolvendo as divergências entre os termos in-dexação e catalogação de assunto – apresentamos um re-ferencial teórico sobre esses termos.

Pinto Molina (1993) e Silva & Fujita (2004) apresen-tam de maneira sintetizada um histórico da indexação,chamando a atenção para sua utilização desde os temposdas tábuas de argila (século II a.C.), em que foram en-contradas formas de representação condensada que da-vam acesso aos conteúdos dos documentos, até o grandedesenvolvimento da indexação que se dá ao final do sé-culo XIX com o aumento de publicações periódicas e daliteratura técnico científica de modo geral.

Desde então, estudos vêm sendo desenvolvidos acercada teoria da indexação, sua natureza, procedimentos, es-truturas e características de seu produto final, o índice.

O termo indexação (indexing) pertence à corrente teó-rica inglesa e, de acordo com os “Princípios de Indexa-

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ção” do World Scientific Information Programme1

(Unisist, 1981, p.84), é “a ação de descrever e identifi-car um documento de acordo com seu assunto”.

A publicação do Unisist originou a primeira norma aesse respeito, publicada em 1985 pela InternationalStandardization for Organization (ISO), sob número5.963, com o título Documentation – methods for examiningdocuments, determining their subjects, and selecting indexingterms.

Em 1992, a Associação Brasileira de Normas Técnicas(ABNT, 1992, p.2) publicou a tradução dessa mesma nor-ma, sob número 12.676, intitulada Métodos para análise dedocumentos – determinação de seus assuntos e seleção de ter-mos de indexação. A indexação é definida pela Norma12.676 como “Ato de identificar e descrever o conteúdo deum documento com termos representativos dos seus assun-tos e que constituem uma linguagem de indexação”.

Para Chaumier (1988, p.63), “a indexação é a parte maisimportante da análise documentária. Consequentemente éela que condiciona o valor de um sistema documentário”.Ainda segundo o autor, uma indexação inadequada ou umaindexação insuficiente representa 90% das causas essenciaispara a aparição de “ruídos” (os documentos não pertinen-tes à questão que são recuperados em uma pesquisa biblio-gráfica) ou de “silêncios” (os documentos pertinentes àquestão, existentes no acervo, que não são recuperados).

O termo indexação é definido por Van Slype (1991)como a operação que consiste em enumerar os conceitossobre os quais trata um documento e representá-los pormeio de uma linguagem combinatória – lista dedescritores livres, lista de autoridades e o thesaurus de

1 World Scientific Information Programme, também nomeado deUnisist, é um programa internacional vinculado à United NationsEducational, Scientific and Cultural Organization (Unesco).

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descritores – tendo como finalidade a busca documental,que será realizada a partir dos índices ou dos catálogos.Nessa definição, o referido autor destaca a representaçãodos conceitos por meio de uma linguagem específica comvistas ao processo de recuperação da informação por meiode índices ou catálogos.

De acordo com Pinto Molina (1993, p.208), a indexa-ção “é a técnica de caracterizar o conteúdo de um documen-to [...] retendo as ideias mais representativas para vinculá-las a termos de indexação adequados”.

Lancaster (2004, p.1) explica que “os processos de inde-xação identificam o assunto que trata o documento...” e elesimplicam “a preparação de uma representação do conteúdotemático dos documentos” (ibidem, p.6, grifo do autor).

Para Robredo (2005, p.165), “a indexação consiste emindicar o conteúdo temático de uma unidade de informa-ção, mediante a atribuição de um ou mais termos (ou códi-gos) ao documento, de forma a caracterizá-lo de formaunívoca”.

O processo de indexação é composto por diferentes eta-pas, sobre as quais Lancaster (2004) e Pinto Molina (1993)afirmam que não precisam necessariamente ser realizadasde maneira sequencial, uma vez que o indexador profissio-nal já familiarizado com o processo pode realizá-las simul-taneamente.

A seguir, elaboramos o Quadro 1 com as etapas da in-dexação e seus respectivos autores.

Observamos que a etapa inicial da indexação é a análi-se de assunto realizada durante a leitura documentária doindexador, que procura compreender de maneira geral odocumento para identificar e selecionar os termos que orepresentarão para efeito de recuperação.

Tendo em vista as considerações teóricas sobre indexa-ção já realizadas, torna-se importante ressaltar a questão dacatalogação de assunto para, a seguir, analisar as diferen-

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tes perspectivas teóricas e metodológicas sobre indexaçãoe catalogação de assuntos.

O uso do termo “catalogação de assunto” (subjectcataloguing) apresenta influência norte-americana e remon-ta a Charles Ammi Cutter que, em 1876, apresenta sua obraRules for a dictionary catalog, com o objetivo de estabelecerregras para a formação de cabeçalhos alfabéticos de assun-tos, que formariam catálogos alfabéticos de assunto. Essasregras, de acordo com Fujita (1989) e Gomes & Marinho(1984), podem ser resumidas em três princípios básicos:

• princípio do uso: as descrições devem ser feitas da for-ma usada pelo usuário;

• princípio da entrada específica: os assuntos devem darentrada pelo termo mais específico, e não pela classe àqual estão subordinados;

• princípio da estrutura sindética: que estabelece meca-nismos para o relacionamento de cabeçalhos, permitin-do as ligações de assuntos correlacionados por meio deuma rede de referências cruzadas (relação de equivalên-cia, hierárquica e associativa).

Acreditamos que os conceitos dessa obra, que consti-tuem a fundação para a teoria e prática da catalogação deassunto americana, também influenciaram Ranganathanna elaboração das cinco leis da Biblioteconomia (Livros sãopara uso; Para cada leitor, seu livro; para cada livro, seuleitor; Poupe o tempo do leitor; A biblioteca é uma organiza-ção em crescimento), especialmente no que diz respeito à se-gunda, terceira e quarta leis.

Gomes et al. (2006) revisitam os conceitos deRanganathan, trazendo-os para o momento atual dos catá-logos on-line e da internet:

Na segunda lei, “Para cada Leitor, seu Livro”, o foco éo leitor, sendo necessário o atendimento às suas necessida-

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des. Sobre isso, Gomes et al. (2006) afirmam que a reuniãode todos os livros sobre um assunto e a sequência de assun-tos são válidos para o arranjo físico dos livros nas estantes epara a organização das informações em um sistema on-line,na disponibilização da linguagem documentária utilizadapara o usuário no momento da busca, além da adoção deuma terminologia mais próxima daquela do usuário. Alémdisso, a apresentação sistemática leva o usuário a encontraro tópico mais específico.

A terceira lei, “Para cada Livro, seu Leitor”, revela seuenfoque no livro. As referidas autoras afirmam que a apre-sentação sistemática do sistema de recuperação on-lineoferece a visão geral do acervo, facilitando o encontro doslivros com o leitor, e privilegia o tratamento dado ao livro.Além disso, Ranganathan chama a atenção para o papel docatálogo, que vai permitir o acesso a outros aspectos de umassunto que não foram privilegiados pela notação daclassificação.

Na quarta lei, “Poupe o tempo do leitor”, volta-se o foconovamente para o usuário, preocupando-se em adotar o ter-mo mais plausível de ser buscado por ele quanto ao uso cor-rente e quanto à especificidade, além de permitir, por meiode um dispositivo no sistema de recuperação de informa-ção, que mesmo se o usuário fizer a busca por um termo nãopreferido, o sistema automaticamente o aceite e recupere ainformação via termo preferido. Assim, com um único pas-so, o leitor acessaria a base de dados (Gomes et al., 2006).

Observamos, portanto, um reflexo dos princípios deCutter na elaboração das leis por Ranganathan: na segun-da lei estão presentes os princípios do uso e da entrada es-pecífica; na terceira lei há indícios do princípio da estrutu-ra sindética; e a quarta lei apresenta os princípios do uso eda estrutura sindética.

Fiúza (1985, p.257) define a catalogação de assuntocomo “a disciplina ou conjunto de disciplinas que tratam

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da representação, nos catálogos de bibliotecas, dos assun-tos contidos no acervo”.

Para Cutter (1904), os objetivos da catalogação de as-sunto eram: permitir ao usuário do catálogo encontrar umdocumento particular do qual o assunto é conhecido; en-contrar outros documentos sobre o mesmo assunto ou so-bre assuntos relacionados; dar assistência ao usuário naseleção de registros recuperados, o documento mais ade-quado às suas necessidades informacionais.

Para Connell (1996), os dois primeiros objetivos deCutter (1904) são difíceis de ser implementados pelo fatode que a função de “localizar” e a função de “colocar” docatálogo estão fundamentalmente em conflito. Para ajudaro usuário, são necessários pontos de acesso que enfatizema unicidade do item. Esses pontos de acesso devem ajudaro usuário a separar determinado item de outros similares,ao passo que colocar os itens no catálogo significa agrupá-los por similaridade. Essa situação poderia ser resolvidacom cabeçalhos de assunto uniformes em conjunto com sis-tema de referência bem desenvolvido.

De acordo com Silva & Fujita (2004), o termo cataloga-ção de assuntos caracteriza-se pela atribuição de cabeçalhosde assunto para a representação do conteúdo total dos docu-mentos em catálogos de biblioteca. Sua origem está ligada àconstrução dos catálogos de assunto das bibliotecas, que éorganizada pela determinação de cabeçalhos de assuntos.

Com base nessas considerações, observamos que as di-vergências entre a indexação e a catalogação de assunto fi-cam claras quando autores como Milstead (1983), Fiúza(1985), Naves (2002), Lancaster (2004), Silva & Fujita(2004), Robredo (2005), Dias & Naves (2007) reconhecema indexação e a catalogação de assuntos como conceitual-mente equivalentes.

Milstead (1983) reconhece que conceitualmente a cata-logação de assunto e a indexação são a mesma atividade,

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mas são tratadas como se fossem diferentes, especialmen-te do ponto de vista prático atual, e ambas podem contri-buir uma com a outra.

Sobre isso, Fiúza (1985, p.258, grifo do autor) afirmaque “a indexação é considerada como uma disciplina supe-rior que se preocupa com os sistemas de recuperação deinformação, entre os quais se cita en passant o pobre catá-logo manual”.

Fujita (2003, p.75) acredita que a catalogação de assun-to em bibliotecas deriva da atividade de classificação, umavez que

Os índices outrora existentes em sistemas de recuperaçãoda informação, tais como os antigos catálogos de fichas debibliotecas, foram considerados dentro de uma perspectivaclassificatória, porque os chamados cabeçalhos de assuntoeram compostos sob influência da terminologia classificatóriae não do texto e seu conteúdo.

Lancaster (2004) explica que a diferença presente naliteratura da área sobre as expressões catalogação de assun-tos, indexação e classificação são inexpressivas e causado-ras de confusão. Para o referido autor, o termo catalogaçãode assunto tem influência norte-americana, e seu uso foireforçado com a utilização das listas de cabeçalhos de as-sunto e teve sua origem ligada especialmente à construçãode catálogos de assuntos de bibliotecas nos quais são deter-minados os cabeçalhos de assunto.

Catalogação de assuntos refere-se comumente à atribuiçãode cabeçalhos de assuntos para representar o conteúdo totalde itens bibliográficos inteiros (livros, relatórios, periódicos,etc.) no catálogo das bibliotecas. Indexação de assuntos é umaexpressão usada de modo mais impreciso; refere-se à repre-sentação do conteúdo temático de partes de itens bibliográfi-

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cos inteiros, como é o caso de um índice no final de um livro.[...] O fato é que a classificação, em seu sentido mais amplo,permeia todas as atividades pertinentes ao armazenamento erecuperação da informação (Lancaster, 2004, p.20; 21, grifodo autor).

Silva & Fujita (2004, p.142) ressaltam semelhanças ediferenças entre indexação alfabética de assunto e catalo-gação de assunto.

A indexação alfabética de assunto está vinculada à deter-minação de cabeçalhos de assuntos e por isso é, em algunscasos, também denominada de catalogação de assuntos. Ape-sar das divergências sobre semelhanças e diferenças entre ostermos, a indexação alfabética de assuntos e a catalogação deassuntos são equivalentes porque são resultados de um mes-mo processo: a análise de assunto.

Além disso, as referidas autoras afirmam que a distin-ção entre os dois processos está na utilização de diferenteslinguagens documentárias (lista de cabeçalho de assuntopara catalogação de assunto e tesauros para indexação) e nosresultados dos dois processos que terão como produto fi-nal o índice e o catálogo de assunto.

De acordo com Dias & Naves (2007), a catalogação visacriar representações dos documentos descrevendo tanto osaspectos físicos (catalogação descritiva) quanto os aspec-tos de conteúdo (catalogação por assunto). Além disso,consideram que o termo catalogação é o mais usual paradescrever esse trabalho quando realizado no contexto dabiblioteca.

Sobre isso, Foskett (1996) afirma que os livros são ca-talogados, enquanto outros itens são indexados, e apresentasemelhanças e diferenças entre os dois processos. De modosemelhante, ambas as práticas têm os mesmos objetivos

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gerais – identificar o item e fornecer acesso a ele por meiode várias abordagens, incluindo o assunto. As diferençasdizem respeito ao fato de que, na catalogação do livro, o seuconteúdo é tratado no todo, e os assuntos são fornecidos emuma escala limitada (um número de classificação para ar-ranjo nas estantes e um ou dois cabeçalhos de assunto paraacesso por meio do catálogo). Já na indexação de outrosmateriais, a tendência é o detalhamento, em que há maiorgenerosidade no fornecimento de termos para o acesso porassunto.

Realmente, o termo catalogação está relacionado ao ca-tálogo. Porém, como bem ressalta Silveira (2007), é impor-tante lembrar que o catálogo não se constitui apenas daspartes identificadas nos códigos de catalogação (descriçãobibliográfica e ponto de acesso), mas também de assuntosde um documento. As questões referentes ao conteúdo doitem não são atribuídas ao termo catalogação porque

os próprios códigos de catalogação, portadores deste nome eeditados por instituições biblioteconômicas respeitáveis, nãoabordam o ângulo conteúdo [...] A classificação e a indexação,embora componentes da catalogação, alcançaram desenvol-vimento próprio, com grandes avanços relacionados à teoriada informação (Mey, 1987, p.4-5).

Desse modo, segundo Silveira (2007), a catalogação deassunto passou a ser designada como representação temá-tica, e a catalogação descritiva referente à descrição biblio-gráfica e aos pontos de acesso passou a ser nomeada comorepresentação descritiva.

A catalogação de assunto, termo também adotado pelaDeclaração de Princípios Internacionais de Catalogação,realizada em 2003 na cidade de Frankfurt, compreende “aparte da catalogação que fornece cabeçalho de assunto/ter-mos e/ou classificação” (IFLA, 2008).

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O termo catalogação de assunto é utilizado nos EstadosUnidos, bem como na Austrália, na Nova Zelândia, noCanadá e na República Checa para orientações ao uso dalista de cabeçalhos de assunto da Library of CongressSubject Headings (LCSH) da Library of Congress (Esta-dos Unidos), no desenvolvimento de atividades de análisee representação temática da informação.

A International Federation of Library Associations andInstitutions (IFLA) possui, todavia, quatro seções, nome-adas por “Gerenciamento do Conhecimento, Bibliografia,Catalogação e Classificação e Indexação”, formadoras daDivisão IV – Controle Bibliográfico, com atribuições de-finidas no cumprimento de suas funções. Especificamen-te, a Seção de Classificação e Indexação (Classification andIndexing Section), criada em 1981, tem como propostaapresentar métodos de promoção ao acesso por assuntos emcatálogos, bibliografias e índices de todos os tipos de docu-mentos, incluindo os eletrônicos. A seção serve como umfórum para produtores e usuários de instrumentos de clas-sificação e indexação de assunto, visando facilitar o inter-câmbio internacional da informação sobre métodos de aces-so por assunto (IFLA, 2008, tradução e grifos nossos).

A indexação é entendida pelos autores Dias & Naves(2007) como o trabalho de organização da informação emcontexto de serviços de indexação e resumos com o objetivode organizar informações, especialmente, referentes a arti-gos de periódicos. Os referidos autores ressaltam que, nor-malmente, esse tipo de serviço não é feito por bibliotecas.

Os autores revelam que há uma tendência em conside-rar a indexação e catalogação de assunto (além da classifi-cação) como uma única atividade, uma vez reconhecida aexistência das etapas de identificação de assunto e traduçãodos mesmos para uma linguagem (tesauros, listas de cabe-çalhos de assunto e classificação). Dessa forma, a variaçãoterminológica acaba gerando confusão e incongruência.

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Contribuindo com essa diferenciação, Dias (2004),assim como Dias & Naves (2007), aponta as diferentesdesignações do profissional responsável pela análise deassunto do documento de que variará de acordo com seuambiente de trabalho e com o tipo de documento comque lida. Nas bibliotecas, há o profissional classificador,que atribui ao documento o número de classificação cor-respondente ao seu assunto a partir do sistema de classi-ficação utilizado, e o catalogador de assunto que determi-na os cabeçalhos de assunto ou descritores para odocumento. Em sistemas de informação produtores debases de dados, há o indexador, que determina o assun-to, geralmente, para periódicos científicos e livros comindexação em profundidade.

Há ainda outra característica que diferencia esses pro-fissionais: a formação inicial. Geralmente, os profissionaisque trabalham em bibliotecas têm sua formação inicial emBiblioteconomia, ou seja, são bibliotecários. Já os profissio-nais dos serviços de informação são especialistas na área deassunto em que trabalham.

No nosso ponto de vista, entendemos que a indexaçãoé um processo inerente aos grandes sistemas de informa-ção produtores de bases de dados que possuem índicesproduzidos por meio daquele processo. Já a catalogação deassunto nos remete ao conceito de produção de catálogosem bibliotecas, onde os documentos são armazenados erecuperados.

Sobre essa diferenciação, encontramos aspectos interes-santes nas Normas da ABNT (1992) e ISO (1985) sobre adeterminação de assuntos para a indexação.

Ambas explicam que têm por objetivo fixar as condi-ções exigíveis para a prática normalizada do exame de do-cumentos, da determinação de seus assuntos e da seleção determos de indexação. Além disso, esclarecem que essesprocedimentos devem ser aplicados especialmente em ser-

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viços de indexação independentes ou em rede e que utili-zam indexadores humanos para a sua realização, e não mé-todos de indexação automática.

Ainda de maneira semelhante, ambas definem o concei-to de documento como “qualquer unidade, impressa ounão, que seja passível de catalogação ou indexação”(ABNT, 1992). Em nota, elas afirmam que essa definiçãodiz respeito não somente aos materiais escritos e impressosem papel, mas também em suportes não impressos, obje-tos tridimensionais e realia.

Há, porém, algumas diferenças consideráveis entre asduas normas.

Nos seus objetivos, a Norma ISO (1985) apresenta doisaspectos importantes que não foram traduzidos pela Nor-ma ABNT e que consideramos importantes para efeitos donosso estudo. São eles:

• os métodos apresentados para a determinação dos as-suntos dos documentos podem ser aplicados tambémem sistemas nos quais os conceitos são representados erecuperados por meio de símbolos advindos de tabelase esquemas de classificação;

• promoção de uma prática padrão dentro de uma agên-cia ou uma rede de agências e entre diferentes agênciasde indexação, especialmente aquelas que fazem o inter-câmbio de registro bibliográfico.

A Norma ABNT (1992), por sua vez, acrescentou emsua tradução que os procedimentos por ela descritos tam-bém podem auxiliar os resumidores durante a fase de pre-paração dos resumos.

Assim, ressaltamos os seguintes aspectos que acredita-mos contribuir para a nossa fundamentação teórica sobrea indexação e a catalogação:

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• não há uma especificação sobre o tipo de documentoque pode ser submetido ao processo de indexação. Elespodem ser livros ou artigos (entre outros), e todos sãoconsiderados documentos;

• ambas trabalham com o termo indexação e catalogaçãoquando afirmam que os documentos constituem unida-des passíveis de serem catalogados ou indexados;

• apesar do fato de os procedimentos de indexação seremrecomendados para serviços de indexação, eles tambémpodem ser aplicados em sistemas que utilizam notaçõesde classificação (e não termos de indexação) e tambémcomo auxiliares dos profissionais que elaboram resu-mos. Desse modo, acreditamos que os procedimentosrecomendados pelas Normas podem ser utilizados porqualquer sistema de informação (sejam serviços de in-dexação especializados ou bibliotecas) que fazem o tra-tamento temático da informação com vistas à recupera-ção, seja ele a indexação, a catalogação, a classificaçãoou a elaboração de resumos;

• a intenção de padronizar a prática da determinação dosassuntos dos documentos, principalmente entre siste-mas que fazem o intercâmbio de registros bibliográfi-cos, vai ao encontro de nossos objetivos quando preten-demos a elaboração de uma política de indexação paraconstrução de catálogos cooperativos, principalmenteporque esse intercâmbio ocorre muito frequentementeentre bibliotecas.

Neste momento, ressaltamos dois aspectos que consi-deramos importantes para a compreensão e diferenciaçãodos processos de catalogação de assunto e indexação:

• ambos derivam de processos intelectuais para determi-nação de assuntos que melhor representem o documen-

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to para sua posterior recuperação, seja por meio de ín-dices ou por meio de catálogos;

• a tendência atual dos catálogos em atuarem como basesde dados, até mesmo com disponibilização de textoscompletos.

Por isso, adotaremos nessa pesquisa o termo indexa-ção para designar o procedimento realizado pelo biblio-tecário no ambiente biblioteca. Essa escolha se faz porconsiderarmos que, além da catalogação, responsávelpela representação descritiva dos documentos, o biblio-tecário também deve fazer a representação temática dodocumento, caracterizando o processo da indexação jun-tamente com o procedimento da catalogação. Afirmamosque o bibliotecário precisa compreender que deve atuarcomo um indexador, realizando a análise de assunto paracompreender o documento, identificando e selecionan-do os conceitos que melhor representem seu conteúdodurante o tratamento temático da informação com a fi-nalidade de preencher o campo de assunto nos formatoscatalográficos. Adotamos também o termo política deindexação para construção de catálogos cooperativos embibliotecas universitárias pelos mesmos motivos e tam-bém em razão de a literatura da área apresentar-se dessaforma.

Sobre isso, Fattahi (1998) apresenta interessante pontode vista sobre a tendência de integração entre as bases dedados bibliográficas e os serviços de indexação e resumosdentro do contexto dos catálogos on-line. Essa aproxima-ção faz com que se abra uma janela para todo o corpusbibliográfico, fazendo com que esses serviços sejam fa-tores de destaque para o catálogo. Nesse cenário, o usuárioespera maior consistência dentro e entre os dois sistemas.

O autor esclarece que a introdução de novas tecnologiasfez com que a catalogação nas bibliotecas e os serviços de

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indexação tivessem um maior impacto um sobre o outro emrazão dos seguintes fatores:

• integração e acessibilidade de diferentes catálogoson-line e serviços de indexação e resumos por meiode um único terminal;

• a capacidade de busca e a recuperação eficaz que a tec-nologia introduziu aos catálogos de biblioteca são copia-das dos serviços de indexação e resumos, indicando oimpacto desses serviços nas práticas de catalogação;

• a inclusão e a indexação de um amplo espectro de pu-blicações, tais como dissertações, anais de congressos,relatos de pesquisa, pelos serviços de indexação e resu-mos têm influenciado os princípios e as regras que sãousados para a criação de bases de dados;

• evolução das versões de CD-ROM e bases de dados,que agora são disponibilizadas aos usuários.

Esses fatores, segundo Fattahi (1998), demonstram apossibilidade de uso de um padrão igual ou compatívelpara criação de registros bibliográficos, desde que iden-tificadas as diferenças e similaridades entre a cataloga-ção realizada na biblioteca e os serviços de indexação eresumos.

Essas diferenças residem especialmente no fato deque a catalogação na biblioteca apresenta um conjuntode princípios firmados e reconhecidos mundialmenteque fornecem padrões para a elaboração de registros bi-bliográficos, contribuindo para a construção da área dacatalogação e para o intercâmbio de informações. Osserviços de indexação e resumo, por sua vez, não têm eapresentam diferenças entre seus métodos para descriçãoe pontos de acesso e diferentes padrões.

Além disso, devem ser considerados os objetivos e fun-ções de um catálogo e de uma base de dados; a estrutura e

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conteúdo de um registro bibliográfico do catálogo e da basede dados e a escolha e as formas de pontos de acesso.

Ainda segundo Fattahi (1998), a catalogação poderiaapreender alguns princípios dos serviços de indexação eresumos, tais como pontos de acesso adicionais de autor.Finalizando seu artigo, o autor afirma que a uniformida-de e a consistência são requisitos básicos para o controle eo acesso bibliográfico efetivo no ambiente global on-line eque a tendência crescente na integração, fusão e disponi-bilização de diferentes registros bibliográficos revela umaforte afirmação dos valores de consistência entre os dife-rentes tipos de bases de dados, o que ajudará o usuário abuscar de maneira mais fácil e eficiente entre a extensagama bibliográfica.

Apesar das considerações sobre os elementos que di-ferenciam a catalogação de assunto e a indexação apresen-tadas até o momento, entendemos que a indexação é oprocesso que, conforme perspectiva teórica e prática rela-tada até aqui, apresenta melhor sistematização de proce-dimentos e avaliação de desempenho na recuperação dainformação, que são vantagens importantes a serem acres-centadas na evolução atual dos catálogos on-line. Essa in-vestigação recomenda que bibliotecas e sistemas de bi-bliotecas introduzam os processos de indexação nacatalogação e elaborem políticas de indexação voltadaspara o atendimento mais especializado do catálogo na re-cuperação por assuntos.

Síntese

A partir da fundamentação teórica sobre indexação ecatalogação de assunto, verificamos que as divergênciasconceituais pertinentes a esses procedimentos estão ligadasà história e evolução de cada um.

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Autores como Milstead (1983), Fiúza (1985), Naves(2002), Lancaster (2004), Silva & Fujita (2004), Robredo(2005), Dias & Naves (2007) reconhecem a indexação ea catalogação de assuntos como conceitualmente equiva-lentes.

Fica claro, no entanto, que a catalogação de assuntosestá essencialmente ligada à construção de catálogos de bi-bliotecas, e a indexação, à construção de índices de biblio-grafias em serviços de informação bibliográficos que pro-duzem bases de dados.

A tendência, porém, é que os catálogos comecem a atuarcomo verdadeiras bases de dados. Acreditamos que isso sedeve a dois fatores: a dimensão que a internet deu aos ca-tálogos das bibliotecas, uma vez que agora eles estão dis-poníveis sem fronteiras espaciais e temporais, permitindoao usuário acessá-los de qualquer lugar a qualquer hora; ea exigência cada vez maior do usuário em querer que os ca-tálogos atuem como verdadeiras bases de dados, oferecen-do especificidade, rapidez e hiperlinks a textos completos.

Acreditamos, portanto, que o termo indexação deva serassumido também para designar o tratamento temáticorealizado durante a catalogação em bibliotecas universitá-rias. Entretanto, a mudança de nome não será suficiente senão vier acompanhada de filosofia e objetivos bem defini-dos descritos na política de indexação da biblioteca, a exem-plo do que ocorre com os serviços de indexação.

O processo de indexação durante a catalogação é de res-ponsabilidade de cada bibliotecário indexador, voltadopara a realização de uma representação temática condizentecom os conteúdos dos documentos (expressão do autor) edas necessidades informacionais de sua demanda, isto é, dousuário do seu sistema de recuperação da informação,exemplificado pelos catálogos coletivos on-line.

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