Carta 39

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    O personalista se assusta ante esta concepção filosófica.No entanto, em sua pregação se oculta a mesma ideia. Ele nãolimita o altruísmo do homem. Suponde que um homem che85gasse a ser perfeitamente altruísta sob o sistema personalista,como faríamos para distingui-lo dos perfeitos de outros sistemas?Aquele chegou a ser uno com o universo, o que é o fimde todos nós; porém o personalista não tem o valor de seguirseu próprio raciocínio até suas últimas conclusões lógicas.Karma-Yoga é a aquisição, mediante o altruísmo, dessa liberdadeque constitui a meta de toda natureza humana. Cada açãoegoísta retarda nossa chegada à meta, e cada ação altruísta aacelera; por isto a única definição que se pode dar da moral éesta: O egoísta é imoral, e o altruísta moral.No entanto, se entrardes em detalhes, já não nos parecerátão simples o assunto. Por exemplo: o ambiente faz com queos detalhes variem. Uma ação pode ser altruísta em certas circunstâncias,e egoísta em outras. Portanto, limitamo-nos a daruma definição geral, deixando que os detalhes sejam elaboradosem relação com as diferenças de tempo e de lugar. O queem um país é moral, é imoral em outro. O fim visado pela naturezaé a liberdade, e esta se obtém semente pelo altruísmo;cada pensamento, palavra ou ação isenta de egoísmo nos aproximada meta, e consequentemente, é moral.Como vedes, esta definição é aceita por todas as religiões

    e sistemas de moral. Em certas filosofias, a moral tem suaorigem num Ser Superior: Deus. Se perguntais porque deve umhomem fazer isto em vez daquilo, responder-vos-ão que é omandato de Deus. Porém, independentemente da origem, seucódigo de moral se baseia no mesmo princípio: não pensar noeu. Não obstante, pessoas de tão elevado conceito de moral seatemorizam ante a ideia de terem que abandonar ou renunciarsuas mesquinhas personalidades. Ao homem que se aferra àsua insignificante personalidade podemos pedir que considereo caso de uma pessoa perfeitamente altruísta, que não tenhaoutro pensamento nem preocupação senão os outros, e inteirarelegação do a si mesmo. Este a si mesmo lhe é conhecido86

    só quando pensa, age ou conversa para si mesmo; se sua consciênciaabarca só o universal, onde está o seu a si mesmo?Foi-se para sempre.Karma-Yoga, portanto, é um sistema de ética e religiãodestinado a obter a liberdade mediante as boas ações. O karmayoguenão precisa de nenhuma doutrina. Pode ser ateu, podenão se interessar pela sua alma nem o inquietar nenhuma especulaçãometafísica. Possui sua finalidade, seu modo especialde alcançar o inegoísmo, e deve alcançá-lo por si mesmo. Suavida tem de ser uma constante realização, porque deve resolverpela ação, sem auxílio de doutrinas nem teorias, o mesmo problemaao qual o jnani aplica a razão e o bhakti o amor.Surge agora outra pergunta: podemos fazer bem ao

    mundo? No sentido absoluto, não; em sentido relativo, sim.Não se pode fazer nenhum bem permanente ao mundo; se talfosse possível, o mundo não seria mundo. Podemos aplacar afome de uma pessoa durante um tempo mais ou menos prolongado,porém ela voltará a senti-la outra vez. O prazer que podemosoferecer é momentâneo. Ninguém pode curar definitivamenteesta febre de prazer e de dor.Pode alguém conceder ao mundo a eterna felicidade?Para que uma onda se erga à superfície das águas, deve haveruma depressão equivalente. As coisas boas deste mundo estão

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    relacionadas com as necessidades e inveja do homem. Não podemser aumentadas nem diminuídas. Considerai por um momentoa história da raça humana. Não encontramos as mesmasalegrias e infelicidades, os mesmos prazeres e dores, as mesmasdiferenças de classe? Não são uns ricos e outros pobres;estes altos e aqueles baixos; alguns sãos e outros enfermos?Pois o que acontecia com os egípcios, os gregos e os romanos,acontece hoje com os americanos. A história se repete indefinidamente;no entanto, podemos observar que ao lado dessas87incuráveis diferenças de prazer e dor, sempre houve luta poraliviá-las.