Cisterna: Esperança no Semiárido

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Cisterna: esperança no Semiárido Do chão brota o verde, dos olhos a esperança. As águas de inverno deixam para trás os dias de sofrimento de muitos agricultores e agricultoras e trazem beleza e fertilidade para o solo sertanejo. Agora, o cenário longínquo e bucólico do sertão é um lindo mar verde e produtivo. Quem entende e respeita os ciclos da natureza prossegue forte e resistente às adversidades do clima. Mais que isso: torna-se exemplo e inspiração para outras famílias sertanejas. É o caso do o agricultor José Paulo de Lima Filho. Em seus 50 anos de vida não aprendeu a ler e a escrever, mas dá uma lição quando o assunto é sustentabilidade. Ele não frequentou escolas nem cursos, porém, aprendeu a observar a natureza e conviver em harmonia com ela. Nascido no povoado Sítio Salgadinho, no município de Minador do Negrão (Al), que faz divisa com Bom Conselho (Pe), ele e mais seis irmãos e irmãs construíram suas casas e destinos nas terras de seu pai, que também ainda vive por lá. Mas José Paulo é o único que pratica agroecologia. “Nunca usei veneno na minha plantação, senão eu e minha família íamos comer veneno também”, comenta. Casado há 31 anos com Rosineide Pereira dos Santos e pai de nove filhos, sua preocupação sempre esteve voltada para a saúde e qualidade de vida da família, mesmo que com poucos recursos – atualmente sua renda é complementada com programas sociais do Governo Federal. Em uma pequena área onde a horta é cultivada, é possível encontrar uma boa variedade de alimentos: rúcula, alface, mostarda, feijão, berinjela, pimentão, coentro, cebolinha, couve, abóbora e quiabo. A família também tem Ano 8 • nº1683 Minador do Negrão Julho/2014

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Do chão brota o verde, dos olhos a esperança. Agora, o cenário do sertão é um lindo mar verde e produtivo. Quem entende e respeita os ciclos da natureza prossegue forte e resistente às adversidades do clima. É o caso de José Paulo de Lima Filho. Ele não frequentou escolas nem cursos, mas dá uma lição quando o assunto é sustentabilidade.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Cisterna: esperança no Semiárido

Do chão brota o verde, dos olhos a esperança. As águas de inverno deixam para trás os dias de sofrimento de muitos agricultores e agricultoras e trazem beleza e fertilidade para o solo sertanejo. Agora, o cenário longínquo e bucólico do sertão é um lindo mar verde e produtivo. Quem entende e respeita os ciclos da natureza prossegue forte e resistente às adversidades do clima. Mais que isso: torna-se exemplo e inspiração para outras famílias sertanejas. É o caso do o agricultor José Paulo de Lima Filho. Em seus 50 anos de vida não aprendeu a ler e a escrever, mas dá uma lição quando o assunto é sustentabilidade. Ele não frequentou escolas nem cursos, porém, aprendeu a observar a natureza e

conviver em harmonia com ela. Nascido no povoado Sítio Salgadinho, no município de

Minador do Negrão (Al), que faz divisa com Bom Conselho (Pe), ele e mais seis irmãos e irmãs construíram suas casas e destinos nas terras de seu pai, que também ainda vive por lá. Mas José Paulo é o único que pratica agroecologia. “Nunca usei veneno na minha plantação, senão eu e minha família íamos comer veneno também”, comenta. Casado há 31 anos com Rosineide Pereira dos Santos e pai de nove filhos, sua preocupação sempre esteve voltada para a saúde e qualidade de vida da família, mesmo que com poucos recursos – atualmente sua renda é complementada com programas sociais do Governo Federal.

Em uma pequena área onde a horta é cultivada, é possível encontrar uma boa variedade de alimentos: rúcula, alface, mostarda, feijão, berinjela, pimentão, coentro, cebolinha, couve, abóbora e quiabo. A família também tem

Ano 8 • nº1683

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um pé de acerola e cria algumas galinhas. A diversidade é importante porque se surgir alguma praga, ele não perde tudo.

A beleza e criatividade da horta chamaram a atenção dos familiares e vizinhança, que passaram a plantar mais e consumir hortaliças e legumes. “A gente só plantava feijão e milho, foi ele quem nos incentivou a plantar e comer

outras coisas”, diz Maria das Dores de Lima, irmã do agricultor.

Como não utiliza agrotóxico, o agricultor aprendeu uma mistura de calda de fumo com água, que funciona como um inseticida natural. Ele pulveriza as plantas com uma bomba emprestada ou mesmo com uma vasilha de desodorante. “Se tivesse mais água, plantaria mais, pois já cultivei aqui pepino, cenoura, beterraba e tomate”, acrescenta. Apesar de existir uma pequena barragem na propriedade, ela não é exclusiva para uso da família. “Na seca, os vizinhos e vizinhas vêm pegar água aqui. Não vamos impedir porque a água é para todo mundo”, garante José Paulo.

Graças ao trabalho do Instituto Terra Viva, desenvolvido em parceria com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e Fundação Banco do Brasil (FBB), o agricultor conquistará a cisterna calçadão. A notícia o deixou ainda mais entusiasmado. “Atualmente, o que plantamos é só pra gente mesmo, porque a produção é muito pouca. Com a cisterna, vamos nos fortalecer, aumentar a produção, formar a associação e vender bastante. Quero melhorar a vida para manter meus filhos sempre por perto”, comenta, ressaltando que quatro filhos foram para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades. Ele próprio já se aventurou por 12 vezes, ao Rio de Janeiro e a Mato Grosso, mas as raízes fincadas em sua terra natal sempre o fizeram voltar. “Nos tempos difíceis mesmo, viajava por três ou quatro meses. A única vez que passei mais tempo foi em 1990, quando fiquei oito anos no Rio, trabalhando como caseiro e fazendo outros bicos. Já fiz de tudo, mas a vida lá é muito difícil, você dorme no chão, passa fome, sai pra trabalhar de madrugada e volta meia-noite, e ainda tem muita violência”, conta. Apesar disso, a filha de José Paulo, Danúbia dos Santos Lima, 15, planeja viajar à capital carioca no final do ano. “Aqui não tem nada para o jovem. Minha rotina é de casa para escola”, diz a adolescente. No entanto, se depender da garra e do esforço de José Paulo e sua esposa, a viagem da menina será apenas a lazer. “Agora nós estamos ricos, comparado ao que já passamos. E a cada dia estamos melhorando”, destaca Rosineide. “Quero ter condições de meus filhos não mais saírem de perto de mim. E d e 1 9 9 8 p r a c á e s t á m e l h o r ” , complementa o agricultor.

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