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C NT EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT ANO XVI NÚMERO 188 ABRIL 2011 TRANSPORTE ATUAL LEIA ENTREVISTA COM O PESQUISADOR PAULO ROBERTO LEITE Sest Senat atinge marca histórica de atendimentos em 2010 e fortalece sua missão de melhorar a vida do trabalhador em transporte Ação pela cidadania Sest Senat atinge marca histórica de atendimentos em 2010 e fortalece sua missão de melhorar a vida do trabalhador em transporte

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CNTEDIÇÃO INFORMATIVADA CNT

ANO XVI NÚMERO 188ABRIL 2011

T R A N S P O R T E A T U A L

LEIA ENTREVISTA COM O PESQUISADOR PAULO ROBERTO LEITE

Sest Senat atinge marca histórica de atendimentos em 2010 e fortalece sua missão de melhorar a vida do trabalhador em transporte

Ação pela cidadaniaSest Senat atinge marca histórica de atendimentos em 2010 e

fortalece sua missão de melhorar a vida do trabalhador em transporte

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ENTREVISTA PAULO ROBERTO LEITE

Agregar valor econômi-co, ambiental e demelhoria da imagemda empresa são algu-

mas vantagens que podem serproporcionadas pela logísticareversa. Basicamente, esse con-ceito pode ser aplicado no retor-no de produtos ao longo dacadeia produtiva. Tanto no casode devoluções de clientes poralgum defeito ou outro motivo(logística reversa pós-venda),como em relação aos produtosque chegam ao final de sua vidaútil (logística reversa pós-consu-mo). Com a aprovação daPolítica Nacional de ResíduosSólidos, no ano passado, torna-se mais necessário que asempresas e a sociedade emgeral conheçam sobre o assuntopara que os planos de açõessejam de fato colocados em prá-tica. No mês de março, o CLRB(Conselho de Logística Reversa

do Brasil) promoveu em SãoPaulo o II Fórum Internacional eExpo de Logística Reversa, quereuniu representantes brasilei-ros e internacionais. A seguir,leia a entrevista com o presiden-te do CLRB, o professor e pesqui-sador da UniversidadeMackenzie, Paulo Roberto Leite.Engenheiro e mestre em admi-nistração de empresas, ele éautor do livro “Logística Reversa– Meio Ambiente eCompetitividade”, lançado em2003 e atualizado em 2009.

Muitas pessoas ainda nãoestão familiarizadas com otermo logística reversa.Como o senhor explicaria?

A logística reversa basica-mente se ocupa do equaciona-mento do retorno de produtosque foram ou não consumidos. Éo equacionamento desse retor-no, passando pela coleta, por

diversas regiões, selecionandoesses produtos e levando aáreas de destino adequadas,seja para reaproveitamento,reciclagem ou remanufatura. Oumesmo dando a destinação final.Essa ideia não é só ambiental,mas pode agregar valor econô-mico ao produto, valor de pres-tação de serviço, melhor ima-gem empresarial. Uma empresatem várias possibilidades deagregar valor ao produto queretorna. Não é só valor econômi-co, mas de imagem.

Ao falarmos do retorno deprodutos que não foram con-sumidos, estamos falando,por exemplo, de devoluçõesdo comércio?

Por exemplo, compra pelaInternet. Entre 5% a 10% do queé vendido pela Internet volta.Uma média de 5% a 6% do queestá no varejo não foi consumi-

do e volta também, podendo seraté mais. Produtos que estãofora de moda, que não giraramou têm pequenos defeitos, osque não foram consumidos. É oretorno ao longo da cadeia, queenvolve fabricante, varejista.Ainda dentro desses produtosque não foram consumidos eestão inseridos na logísticareversa, temos aqueles queestão na garantia e precisam deassistência técnica. Eles retor-nam, e é necessária toda umalogística reversa por trás dissopara poder satisfazer uma pres-tação de serviço com o cliente,para fidelizá-lo, mantê-lo con-tente e poder até suscitarnovas compras daquela marca.Isso é o que chamamos delogística reversa de pós-venda.

E temos também a logísti-ca reversa de pós-consumo?

A logística reversa de pós-

“A logística reversa se ocupa do equacionamento do retorno denão consumidos, passando pela coleta, por diversas regiões e sele c

Ganho econômico e POR CYNTHIA CASTRO

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e produtos que foram ou e cionando esses produtos”

consumo trata daqueles produ-tos que já foram usados, queestão no final da vida útil ouque o próprio utilizador não vêmais interesse em tê-lo funcio-nando. Um telefone celularantigo que não foi trocado. Nãonecessariamente o aparelhodeixou de funcionar, mas mer-cadologicamente o telefoneacabou para o consumidor.Deveria retornar, mas nãovolta. Na realidade, não voltamnem 2% dos celulares que vãopara o mercado. A mesma coisapara computadores que nãosão mais usados. Há estimati-vas de que retorna uma quanti-dade ínfima. Tem crescidoassustadoramente o númerodesses equipamentos queparam de ser utilizados.Certamente, eles vão ficandopor aí. Não se sabe onde, masserão descartados em algumlugar. Quando é um objeto

pequeno fica dentro de casa,quando é grande – como umageladeira, uma televisão – nin-guém sabe o que fazer com ele.

De que forma a logísticareversa se apresenta comouma oportunidade deganhos?

Ganhos econômicos, porexemplo. Retornando um apare-lho – um produto durável ounão –, você aproveita compo-nentes ou a matéria-prima ereutiliza, por meio da recicla-gem ou remanufatura. Essa reu-tilização certamente economizacustos com matérias-primasvirgens. O telefone celular é umexemplo péssimo porque templástico e muito pouco deoutros produtos. O reaproveita-mento é mínimo. Mas podemoscitar a bateria de automóvel.Ela retorna e é toda reaprovei-tada. Volta para o mercado

novamente como bateria deautomóvel. Basicamente, 100%são reaproveitáveis, e 90% dasbaterias de automóvel do Brasilsão baterias que foram reapro-veitadas. A lata de alumínio é amesma coisa e outros produtosque estão sendo recuperados. Oóleo lubrificante retorna comoóleo lubrificante. Vidro, metais.

Quais exemplos dos outrosganhos da logística reversa osenhor citaria?

No caso do ganho de presta-ção de serviços, você mandaum computador para ser con-sertado. Se em vez de um mês,levar cinco dias, com uma logís-

tica reversa bem montada, comassistência técnica bem locali-zada e sistemas velozes de res-posta, o cliente vai ficar conten-te. Ele vai pensar: “essa empre-sa me deu satisfação e vou con-tinuar comprando dela”. É umaforma de fidelizar clientes, deprestação de serviço quegarante a imagem da marca.

E ainda tem a agregaçãoambiental no caso do pós-consumo?

Algumas vezes, a gente vê asempresas tentando buscaralgum produto que não retornanaturalmente. Não fazer issopoderá riscar sua reputação,

ARQUIVO PESSOAL

ambiental

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sua marca. Eventualmente,componentes de seus produtospoderão não ser bem utilizadose as empresas se protegem.Mas tudo isso acontece aindade forma embrionária. Você nãovê proativamente um númerogrande de empresas trabalha-rem nesse sentido, pela ques-tão ambiental, porque o custoindividual de uma empresa émuito grande. Ela não vai que-rer sozinha trazer todos oscelulares, por exemplo. O retor-no disso é muito baixo e custacaro. Em alguns raros casos, háproatividade ecológica. Porcausa da ISO 14000, por exem-plo, a empresa não quer terpassivos ambientais e tentarealizar isso sozinha.

E nos casos em que não háo retorno natural, torna-semais importante haver legis-lação que obrigue?

Todos os produtos que nãoretornam de forma natural, comvantagens econômicas para aempresa, requerem um fatormodificador. Quando não vêmnaturalmente, tem de ter legis-lações. O fator legislativo vaimudar significativamente acondição de mercado. Pneu, porexemplo, era inservível atéhaver legislação no Brasil. Eraum produto que ninguém que-ria e todo mundo jogava fora.Hoje, depois da legislação que

obriga a cadeia industrial a cui-dar do retorno de pneus, e deutecnologicamente uma condi-ção para que isso se efetivasse,o pneu usado passou a ser umbem de valor. Mas quando oproduto não tem valor agrega-do econômico suficiente paragarantir o seu reaproveitamen-to e rentabilidade em todas asfases, desde a coleta até o rea-proveitamento, precisa subsi-diar para trazer o produto devolta. Uma parcela do reapro-veitamento vai ser utilizadacomo amenização dos custostotais da empresa, mas normal-mente não vão pagar esses cus-tos totais. Porque se o fizessem,eles retornariam naturalmente.

O senhor saberia dizeralgumas quantidades de pro-dutos produzidas no Brasilque podem ser reaproveita-das, por meio da logísticareversa?

Garrafa pet é um produtobem utilizado e retorna comcerta porcentagem no Brasil –30%, 40%, 50%. Os plásticos,de forma geral, retornam pouco– 15%. Mas isso não elimina oproblema causado nas enchen-tes, nos entupimentos, com asgarrafas pet que a gente vê nosrios. Hoje se produz mais de 20bilhões de garrafas pet por anono Brasil. São 15 bilhões de tetrapak por ano. E 14 ou 15 bilhões

de latas de alumínio. Mas a latavolta sozinha porque tem altovalor agregado. Quando aempresa tem uma vantagemeconômica interessante, ela vaibuscar e melhora o nível deretorno.

A Política Nacional deResíduos Sólidos, aprovadano ano passado, trata princi-palmente da logística reversapós-consumo. O que ela vaimudar?

Ela dá a todos os produtosa direção de que, se não há oretorno de forma natural, énecessário que a cadeia pro-dutiva se organize para pro-porcionar esse retorno e desti-nação correta. O que se enten-de por destinação correta éobedecer a certa hierarquia –até econômica – de reaprovei-

LEGISLAÇÃO Cadeia produtiva deve se o

“Uma empresatem várias

possibilidadesde agregarvalor ao

produto queretorna. Não é só valoreconômico,

mas deimagem”

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vamente organizados porquejá havia legislação. Entramagora, como novidade, as lâm-padas fluorescentes de mercú-rio e os eletroeletrônicos, quese constituem um grandebloco de lixo eletrônico, queestá crescendo assustadora-mente no mundo todo e noBrasil. Se lembrar que em 1994não tínhamos telefone celular,e hoje temos uma produção de80 milhões por ano no Brasil.

É uma legislação positiva? Extremamente inteligente, a

meu ver. Faz com que empresas,setores, cadeia produtiva pro-ponham um plano para fazertudo isso. Se a legislação colo-casse o plano, poderia não serexequível e entraria nas leisque não pegam. O Ministério doMeio Ambiente está solicitando

que as cadeias produtivas apre-sentem os seus planos de logís-tica reversa. E há comitês exe-cutivo e orientador, formadospor diversos ministérios, quepoderão dar consultorias eautorizar acordos setoriaissobre como esse processo vaiacontecer. Se não houver plano,por parte da cadeia produtiva, ogoverno vai propor um planosetorial de logística reversa.Esse plano vai se transformardepois em um acordo setorial.

Em março, o CLRB realizouo 2º Fórum Internacional eExpo de Logística Reversa.Qual balanço o senhor faz?

Foi muito positivo, com aparticipação de integrantesinteressantes, como o convida-do do Ministério do MeioAmbiente, que nos colocou deforma bem clara a PolíticaNacional de Resíduos Sólidos,entre vários outros participan-tes. O fórum foi complementadocom a exposição. Empresas queestão no mercado, os prestado-res de serviço estavam presen-tes. Também tivemos um núme-ro de cases maior que o fórumanterior. E separamos as áreasde pós-venda e pós-consumoporque os interesses dos parti-cipantes se dividem dessaforma. Alguns eram mais liga-dos a parte comercial, do pós-venda, e outros, à sustentabili-dade, no pós-consumo.

O senhor citaria algunscases interessantes?

Os Correios, por exemplo,apresentaram a logística reversade pós-venda. Tivemos também aPhilips, o Grupo Pão de Açúcar eoutros cases interessantes, comoo de uma empresa da área deprestação de serviço, a Chame oGênio. Ela atua com empresas deeletrônicos, prestando serviçopara ajudar clientes que nãoentendem manuais, por exemplo.E assim tenta evitar a logísticareversa pós-venda desnecessária.Muitos produtos que o consumi-dor devolve achando que estãocom defeitos, na realidade, nãoestão. A CNI (ConfederaçãoNacional da Indústria) levou suavisão sobre a Política Nacional deResíduos Sólidos e vimos tambéma visão governamental.

Como foi a participação daProeurope – entidade decoordenação dos programasde gestão de resíduos sólidosde mais de 30 países daEuropa e o Canadá?

Ela deu uma visão ampladesse mercado, das dificuldadesdos planos de gestão de resíduossólidos implementados, mostrouos países que estão mais avança-dos. Conhecer esses modelos émuito importante. Percebemosque há várias alternativas e mui-tas podem ser utilizadas nosdiversos planos setoriais queserão estabelecidos no Brasil. l

e organizar sobre retorno de produtos

CAÇULA DE PNEUS/DIVULGAÇÃO

tamento desses produtos. Issodistinguindo entre resíduossólidos e rejeitos. Rejeito seriaaquilo que iria para aterrosanitário. E resíduos seriamtratados em diversas etapas ecom possíveis reaproveita-mentos, até serem transfor-mados em rejeitos que irãopara aterros sanitários.

E nessa proposta entramtodos os produtos?

A ideia da diretriz da políti-ca são todos. Mas, na realida-de, como uma política nova, elaelege meia dúzia – alguns quejá estão relativamente organi-zados e outros não – para querealmente se organizem. Osprodutos são pneus, óleoslubrificantes, as pilhas e bate-rias, embalagens vazias deagrotóxicos. Esses estão relati-

“Pneu, porexemplo, era

inservível até haver legislação no Brasil”