+museu boletim n.º 5 | maio 2005

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boletim do Museu Municipal de Palmela O Dia Internacional dos Museus que se comemora a 18 de Maio, subordina-se este ano ao lema “Museus, pontes entre culturas”. Ao lançarmos um olhar atento à programação do nosso Museu Municipal no corrente ano, cumpre-nos salientar que os projectos em curso, alguns divulgados através deste boletim, correspon- dem – e não é de hoje – à vontade de estabelecer pontes intercul- turais. Estes contactos estão presentes no apoio e promoção de acções entre a Comunidade Educativa Local e, por exemplo, Cabo Verde, no âmbito da geminação Palmela/S. Filipe (ver +museu 4); mas também entre o tempo Presente e as culturas de outros tem- pos, uns mais longínquos, outros mais próximos da contempora- neidade, de que destacamos acções sobre Património Arqueoló- gico e sobre Património Etnográfico material e imaterial, caso dos trabalhos realizados em torno da necrópole de Quinta do Anjo e dos projectos de investigação em curso sobre a Cultura Caramela e o Património Vitivinícola. Estas acções são estrategicamente assumidas, sempre, com uma forte componente de trabalho com a Comunidade Educativa. Como instituição que aprende e incentiva à aprendizagem, o Mu- seu actua no território local que é marcado por uma multiplicidade de identidades, mais ou menos alicerçadas, em torno de referên- cias comuns. A musealização da Adega de Algeruz, que abrirá ao público em Julho, integra também uma vertente vocacionada para a intercul- turalidade, a desenvolver no Futuro, através de contactos com outros museus dedicados a esta temática, nacionais e/ou interna- cionais. Uma permanente articulação e abertura ao diálogo com os produtores vinícolas do nosso concelho e a perspectiva de se Educar para a Saúde, através da abordagem da temática do con- sumo do vinho com diversos actores locais, são também opções que marcarão a programação do novo núcleo museológico do concelho. Neste ano marcado, do ponto de vista da História Local, pelas Comemorações dos 820 anos do Foral atribuído ao concelho de Palmela por D. Afonso Henriques, a edição de um estudo crítico sobre os Forais de Palmela é igualmente uma forma de comuni- cação e reflexão sobre as comunidades muçulmana e cristã que coexistiram no concelho, nos primeiros anos da sua existência, e que, ainda hoje, marcam ambas presença nos nossos gestos e objectos quotidianos, com as necessárias diferenças que mar- cam o século XXI. As mais antigas memórias dos homens instalados em território do actual concelho de Palmela são-nos dadas pelas intervenções arqueológicas que, desde finais dos anos 80 no século findo, a Câmara Municipal tem incentivado e promovido de forma siste- mática. Uma campanha arqueológica, de finais do século XIX/ início do século XX, encontrou a necrópole de Quinta do Anjo; classificada, em 1934, como Monumento Nacional, a jazida é para muitos cidadãos locais uma presença “importante mas de signifi- cado pouco claro”. Para interromper este ciclo de fraco desco- nhecimento do significativo valor do monumento, na Comunida- de Local, o Museu e os alunos e uma professora da Escola de Ensino Básico desenvolvem, desde o ano lectivo 2003/04, um projecto bianual do qual nos falam neste +museu. As declara- ções dos alunos dessa turma do 3º ano de escolaridade falam- nos das aprendizagens que fizeram em torno de uma história “rein- ventada”, adaptada à sua idade. Esta é uma ponte entre o longín- quo Passado da aldeia de Quinta do Anjo, transportado para o Presente pela imaginação e pelo conhecimento arqueológico. As diversas exposições que teremos patentes durante o período estival divulgam também outros tempos, outras sociabilidades, passados e presentes. Descubra-nos nestas páginas, visite-nos, conheça-nos! A Presidente da Câmara Ana Teresa Vicente nº 5 • Maio 2005 Editorial Câmara Municipal de Palmela

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boletim do Museu Municipal de Palmela

O Dia Internacional dos Museus que se comemora a 18 de Maio,subordina-se este ano ao lema “Museus, pontes entre culturas”.Ao lançarmos um olhar atento à programação do nosso MuseuMunicipal no corrente ano, cumpre-nos salientar que os projectosem curso, alguns divulgados através deste boletim, correspon-dem – e não é de hoje – à vontade de estabelecer pontes intercul-turais. Estes contactos estão presentes no apoio e promoção deacções entre a Comunidade Educativa Local e, por exemplo, CaboVerde, no âmbito da geminação Palmela/S. Filipe (ver +museu 4);mas também entre o tempo Presente e as culturas de outros tem-pos, uns mais longínquos, outros mais próximos da contempora-neidade, de que destacamos acções sobre Património Arqueoló-gico e sobre Património Etnográfico material e imaterial, caso dostrabalhos realizados em torno da necrópole de Quinta do Anjo edos projectos de investigação em curso sobre a Cultura Caramelae o Património Vitivinícola.Estas acções são estrategicamente assumidas, sempre, com umaforte componente de trabalho com a Comunidade Educativa.Como instituição que aprende e incentiva à aprendizagem, o Mu-seu actua no território local que é marcado por uma multiplicidadede identidades, mais ou menos alicerçadas, em torno de referên-cias comuns.A musealização da Adega de Algeruz, que abrirá ao público emJulho, integra também uma vertente vocacionada para a intercul-turalidade, a desenvolver no Futuro, através de contactos comoutros museus dedicados a esta temática, nacionais e/ou interna-cionais. Uma permanente articulação e abertura ao diálogo comos produtores vinícolas do nosso concelho e a perspectiva de seEducar para a Saúde, através da abordagem da temática do con-sumo do vinho com diversos actores locais, são também opçõesque marcarão a programação do novo núcleo museológico doconcelho.Neste ano marcado, do ponto de vista da História Local, pelasComemorações dos 820 anos do Foral atribuído ao concelho dePalmela por D. Afonso Henriques, a edição de um estudo críticosobre os Forais de Palmela é igualmente uma forma de comuni-cação e reflexão sobre as comunidades muçulmana e cristã quecoexistiram no concelho, nos primeiros anos da sua existência, eque, ainda hoje, marcam ambas presença nos nossos gestos eobjectos quotidianos, com as necessárias diferenças que mar-cam o século XXI.As mais antigas memórias dos homens instalados em território doactual concelho de Palmela são-nos dadas pelas intervençõesarqueológicas que, desde finais dos anos 80 no século findo, aCâmara Municipal tem incentivado e promovido de forma siste-mática. Uma campanha arqueológica, de finais do século XIX/início do século XX, encontrou a necrópole de Quinta do Anjo;classificada, em 1934, como Monumento Nacional, a jazida é paramuitos cidadãos locais uma presença “importante mas de signifi-cado pouco claro”. Para interromper este ciclo de fraco desco-nhecimento do significativo valor do monumento, na Comunida-de Local, o Museu e os alunos e uma professora da Escola deEnsino Básico desenvolvem, desde o ano lectivo 2003/04, umprojecto bianual do qual nos falam neste +museu. As declara-ções dos alunos dessa turma do 3º ano de escolaridade falam-nos das aprendizagens que fizeram em torno de uma história “rein-ventada”, adaptada à sua idade. Esta é uma ponte entre o longín-quo Passado da aldeia de Quinta do Anjo, transportado para oPresente pela imaginação e pelo conhecimento arqueológico.As diversas exposições que teremos patentes durante o períodoestival divulgam também outros tempos, outras sociabilidades,passados e presentes.Descubra-nos nestas páginas, visite-nos, conheça-nos!

A Presidente da Câmara

Ana Teresa Vicente

nº 5 • Maio 2005

Editorial

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ela

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Arquitecturae Vivência Caramelas

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Convidamo-vos agora a entrar na habitação.Observemos o seu interior.A cozinha localiza-se, salvo algumas excep-ções, no lado direito da frente da casa, exac-tamente no ponto geográfico oposto ao cas-telo de Palmela. Tendo em conta, como atrásjá foi referido, que é uma casa funcional, esteé o espaço por excelência da habitação, ondea família se reúne, se alimenta e se conforta

ao calor da chaminé, nas noites frias deInverno. Sendo considerada o “lar da casa”, éobrigatório que seja o compartimento que fi-que mais resguardado dos ventos fortes quesopram do lado das históricas muralhas.Esta divisão tem apenas um acesso para oexterior

1, através de uma pequena porta de

madeira tosca, num vão sem cantaria, quecorresponde à principal entrada da habitação.

1 Posteriormente, tornou-se comum abrir um vão de janela para as traseiras da casa, para que passe mais claridade e sobretudo para escoar o fumo

proveniente da lareira.

(2ª parte)

em destaque...Memórias do Habitar

Uma cozinha que ainda mantém os traços tradicionais

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É pois, “na cozinha que se encontra o larenquanto conceito estrito mas primordial delugar onde se faz o fogo.” (Fernando Galha-no, 1985).A lareira, construída ao nível do solo, situava-se comummente no canto inferior direito. Naesquina paralela, o poial onde se colocava ocântaro de barro com a água sempre fresca,e por baixo, coberto por uma cortina de chi-ta, guardavam-se os utensílios de cozinhamais utilizados e por isso com um aspectomenos bonito, alguns condimentos quefaziam parte da alimentação, como o azeite,e o petróleo necessário para se acender oscandeeiros. Os pratos e canecas mais visto-sos eram colocados num escaparate, nor-malmente de cor verde, azul ou castanha.Uma pequena mesa com dois bancos, “mo-chos” (pequenos bancos de madeira tosca)de apoio à chaminé, e a máquina de costura,instrumento de trabalho imprescindível paraa mulher, costureira da família, são outroselementos que compõem este espaço.Por último, devido à inexistência de umacasa-de-banho, era também aí colocada umapia, onde os habitantes faziam a sua higienediária.As imagens apresentadas datam de 2004,obtidas numa casa ainda habitada no Valeda Vila. Embora com algumas diferenças, fru-to da evolução dos tempos, mantém o seuaspecto tradicional, verificando-se parte doselementos atrás descritos.

Uma porta interior dava acesso à sala ou“casa do meio”. Como o próprio nome indi-ca, este era apenas o local de passagem dosquartos para a cozinha. Porém, em ocasiõesexcepcionais – festas, enterros, ida do médi-co a casa – transformava-se na divisão maisimportante, local pelo qual os convidadosentravam e aí conviviam. Aqui encontramosa segunda e última porta de acesso ao exte-rior da habitação, e ao lado, uma pequenajanela. Ambas as aberturas estavam semprefechadas, à excepção dos momentos des-critos.Duas a três arcas assentes em travessas demadeira, utilizadas para guardar o enxoval dasfilhas casadoiras, uma mesa de madeira erespectivas cadeiras, colocada no centro dasala, e algumas floreiras de pé alto, são omobiliário que preenchia esta divisão.Por último, delimitados por finas paredes demadeira, encontramos dois pequenos quar-tos. A cada um corresponde uma pequenaabertura para a “casa do meio”, coberta mui-tas vezes, apenas com cortinas de chita. Oquarto dos pais situa-se sempre à esquerda,por ser este ligeiramente maior. No outro,dormiam as filhas. São divisões de reduzidadimensão, onde cabia apenas uma cama deferro no quarto dos pais, ou a tarimba noquarto das filhas, uma cadeira para colocar ocandeeiro a petróleo, o bacio (debaixo dacama), e uma colcha e tapete de retalhos.No quarto dos pais, encontramos regular-mente uma pequena janela que dá para afrente da casa, para permitir que o homempudesse fazer a vigilância nocturna. Por estemesmo motivo, era também ao pai que ca-bia o lugar da cama junto à abertura do quar-to, sendo este ocupado pela mulher quandoexistiam bebés na casa. Nesses casos, amãe, a quem cabia tratar das crianças,poderia chegar mais facilmente ao berço demadeira, colocado ao lado da cama.É muito raro encontramos aberturas para astraseiras da casa, verificando-se algumas ve-zes na cozinha, no quarto das filhas, e outrasainda, num terceiro quarto anexado à sala,construído para as filhas e filhos que acaba-dos de casar, aí permaneciam junto dos pais. Outro aspecto da cozinha

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4Como eram famílias muito numerosas, adimensão da habitação não permitia quetodos os elementos da família dormissem noseu interior, assim, considerando que as filhastinham de ser resguardadas antes do casa-mento, cabia aos filhos dormirem em ane-xos exteriores, como a adega ou o celeiro.“E não tínhamos lençol. Era uma manta maisvelha, é que tava lá, lá por baixo. Quem sefosse deitar mais cedo ia buscar o saco dofarelo pá cabeceira. Era uma coisa macia (...)”(Joaquim Cavaleiro)

Tal como o exterior, o interior era tambémmuito sóbrio, com poucos ornamentos. Adecoração cingia-se a papel colorido – querecortado com precisão e engenho, tomavadiversos desenhos e formas, sendo depoispendurado nas paredes –, a pequenasrecordações compradas nas feiras, e figurasde santos, especialmente da Nª Senhora daAtalaia.A limpeza do espaço consistia em salpicarde água o pavimento que era todo de barro,para que não levantasse pó, e em tirar as teias,por meio de um vasculho preso a uma com-prida vara de madeira, dos recantos damadeira da cobertura, que sem forro, permi-tia que se dormisse a olhar as telhas. Paraalém destes procedimentos, anualmente, poraltura da primavera, caiavam-se as paredesexteriores para que ficassem mais protegi-das da acção da chuva, tornando ao mesmotempos, a casa mais bonita, perante o olhardos vizinhos.A casa rural não é apenas o local onde sehabita, ela é concebida como um instrumen-to agrícola indispensável à vida campesina.À medida que os colonos iam adquirindo maisposses, crescia o número de anexos queserviam de suporte à economia doméstica.Construídos imediatamente ao lado da habi-tação, com acesso apenas pelo exterior, sur-giam os arrumos das alfaias agrícolas indis-pensáveis à exploração da sua parcela deterra, a abegoaria, onde repousavam os ani-mais, a adega, onde se fabricava vinho para

consumo próprio ou para venda ao público,o celeiro, onde se guardavam os alimentos ea salgadeira, e o forno para a cozedura dopão. Este poderia ser acoplado às traseirasda casa ou na parede lateral da cozinha, locaismais protegidos das intempéries meteoro-lógicas, ou então, construía-se um outroanexo, denominado por “casa do forno”,cujas paredes eram pintadas com oca, paraque o negrume do fumo pudesse ser dissi-mulado.

Para completar este cenário rural, existia opoço, o tanque, a pia para os animais, o cru-veiro para o porco, o coradoiro, e na zonamais húmida do terreno, a horta, a vinha e aceara, imprescindíveis para a pequena eco-nomia doméstica, sendo também que, algunsdos produtos hortícolas eram vendidos pelas“caramelas” nas ruas e feiras de Pinhal Novo,Palmela e Setúbal.

Aspecto do forno acoplado, de uma casa à entradade Pinhal Novo

Casa do forno nos Olhos d’Água

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Distribuição das casas caramelas

“A casa popular é um dos maissignificativos e relevantesaspectos da humanizaçãoda paisagem, em que, na suagrande diversidade de tipos,afloram, com popularevidência, numerososcondicionalismosfundamentais – geográficos,económicos, sociais, históricose culturais – das respectivasáreas e dos grupos humanosque as constróem e habitam.”

Oliveira e Galhano, 2000

A ocupação do território pelos caramelos foifeita, segundo Orlando Ribeiro, de um modoindividualista, visto que as casas eram cons-truídas com uma distância considerável umasdas outras, e algumas vezes, com a frenteda casa para as traseiras dos aceiros que lhesdavam acesso.Apesar desta dispersão espacial, que permi-tia proteger do olhar dos vizinhos a vida quo-tidiana, concluo, através das entrevistas quefiz, que os laços de vizinhança são muito for-tes e contribuem fortemente para a reprodu-ção social deste povo que enfrentou condi-ções económicas tão adversas.A matança do porco, a desfolhada, os casa-mentos

2, a própria construção das casas,

contava com a participação de vizinhos efamiliares, num sistema em que as pessoasdavam para receberem, que Mauss denomi-nou por dádiva e contra-dádiva, e conside-rou ser a base da racionalidade dos siste-mas de trabalho. Porque a migração, feitanestes moldes de uma sociedade campesi-na pobre, implica o desconhecimento e aimprevisão do futuro, assim, quando sematava um porco, a carne era distribuída por

outros, sabendo que, quando estes mataremo seu animal, também eles terão direito aoseu quinhão. O mesmo sucede com os res-tantes exemplos dados, nomeadamente naconstrução da habitação, árdua tarefa quenecessitava de muita mão-de-obra, pois ofacto de uma família contar com a ajuda dosvizinhos, obriga socialmente a que se dispo-nham também a ajudar.

A ocupação individualista foi dando lugar, aolongo do tempo, a diferentes núcleos quecompõem actualmente o nosso território con-celhio. Para a evolução deste processo deocupação, contribuiu ao longo das gerações,o crescimento do agregado familiar, pois filhase filhos construíram as suas casas no pró-prio terreno dos pais, ou em terrenos vizinhos.Este facto é perfeitamente visível pelas rela-ções familiares que todos estes núcleos en-cerram, tal como se verifica por exemplo naPalhota, onde as casas mais próximas de umindivíduo, pertencem a irmãos, primos ou tios.

É a estas pessoas que agora agradecer, porterem, pacientemente, contribuído com osrelatos das suas vidas, para o estudo do povoe da casa caramela, e para o entendimentoda importância deste património arquitectó-nico vernacular na história da região.Após a leitura deste artigo, convidamo-vos apassear pelos caminhos do concelho, e aten-tamente, observar a paisagem, para desco-brirem estes lugares de memória que espe-lham tristemente o abandono... Casas de terraque nos olham silenciosamente, algumasescondidas por entre o mato que cresce sel-vagem, poucas, as que ainda persistem vivas,com fôlego para respirar e resistir ao tempoque passa.

Teresa SampaioAntropóloga, Museu Municipal de Palmela

2 Através das recolhas orais, verificamos que grande parte dos namoros acontecia à escondida dos pais da rapariga. O casal aproveitava o caminho para

o trabalho e o regresso a casa, para de forma discreta, trocar as juras de amor. Todavia, era também comum as mulheres engravidarem ainda antes docasamento. Nestes casos, a cerimónia (frequentemente apenas civil) era apressada para que a gravidez fosse escondida dos olhares alheios.O casamento consistia numa festa que se realizava na casa dos pais da noiva, para a qual eram convidados os familiares e amigos mais chegados. Osvizinhos mais próximos contentavam-se com a oferta de comida, confeccionada propositadamente em maior quantidade por este motivo.Mas, além de ser um momento de festa, era também um momento socialmente muito complicado. Ao anoitecer, na maior parte dos casamentos,realizavam-se as ”Buzinas”, que consistia num ritual em que um grupo de pessoas, escondidas pela escuridão da noite, fazia barulhos ensurdecedoresperto da casa onde se celebrava, gritando, com a voz alterada para não ser reconhecida, defeitos e actos moralmente criticáveis da noiva. “Quando era oSábado ou ao Domingo quando havia um casamento, né?, era tantos búzios, tantos búzios ... Ó’depois apitavam: uh, uh…” (Adélia dos Santos Ratão)“No aceiro tal está um cabrão para se descobrir!” (Evangelino Romão)Era um momento muito angustiante, e ainda hoje, as mulheres com quem falei, mostram-se chocadas com tal episódio.

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As origens da instalação da Ordem de San-tiago em Palmela recuam ao séc. XII, aos pri-meiros tempos da sua acção militar no con-texto da reconquista. Graças às investigaçõesarqueológicas desenvolvidas na alcáçova, foipossível identificar uma necrópole de freirescavaleiros e vestígios estruturais que podemassociar-se a um primitivo edifício-sede daOrdem.

castelo de Palmela um convento-sede, decariz religioso mas também com valênciasde aquartelamento militar, preparado paraenfrentar o desafio do avanço português nasterras muçulmanas a sul. Aí terá permaneci-do até 1217, quando os interesses da Ordem,em sintonia com a estratégia de alargamen-to do jovem reino português, a fazem deslo-car para a recém conquistada Alcácer.

Património Local

O conventode Palmela

Vista para o Convento, anos 80

O castelo de Palmela foi doado aos freiresde Santiago em 1186, sendo mestre D. San-cho Fernandes. Entre 1186 e 1191, data dainvestida de Ya’qub al-Mansûr, é possível queos freires se tenham estabelecido em Alcá-cer do Sal ou em Palmela, mas são fortes asdúvidas para este período. A partir de 1194,quando Palmela volta à posse cristã e Alcá-cer se transforma num poderoso reduto mili-tar almóada, entendemos que a milícia deSantiago terá feito edificar na alcáçova do

A partir de D. João I, o mestrado da Ordemde Santiago passou para a dinastia de Avis.É nessa ocasião que o rei decide transferir asede da Ordem para Palmela. A construçãoda Igreja de Santiago e do Convento decor-rerá entre meados do séc. XV (1443?) e 1482.Esta igreja é considerada um notável exem-plar da arquitectura tardo-gótica portugue-sa, caracterizada pelo despojamento formale decorativo, onde se cruzam elementos ar-caizantes e outros de clara modernidade. Dos

novos dados

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edifícios que compunham o convento pro-priamente dito, pouco se sabe. O mais pro-vável é que inicialmente se desenvolvessema partir da cabeceira da igreja, onde resta hojeum conjunto edificado. Pelo menos a partirdo séc. XVI esse conjunto terá começado aevoluir para a área lateral sul da igreja e de-veria incluir os dois miradouros, ainda exis-tentes, e as dependências do Paço de D.Jorge. Será com D. Jorge, filho bastardo deD. João II e último mestre da Ordem, que oconvento e a igreja viriam a sofrer as primei-ras alterações significativas. Na capela-morfoi acrescentado mais um tramo aos dois jáexistentes, executou-se o coroamento demerlões, o coro alto e a abóbada estreladado tramo que inclui a porta lateral.O Regimento do Convento de Palmela, de1547, outorgado por este mestre, fornece-nos importantes informações sobre o quoti-diano da vida conventual. Mencionam-se, porexemplo, as procissões solenes que mereci-am particular atenção dos freires, com umpercurso da vila até ao convento: na Páscoa,no Corpo de Cristo, na festa do patrono S.Tiago. É também este Regimento que nos

7elucida que as providências em caso de ne-cessidade de obras.Nos finais de quinhentos as instalações con-ventuais encontravam-se ainda em mau es-tado, continuando-se as obras iniciadas notempo de D. Jorge. Em 1607 já não se falada recuperação mas da reedificação do con-vento. A nova planta foi encomendada, em1610, a Filipe Térzio, arquitecto régio e mes-tre de obras das Ordens de Santiago e deAvis. Caberá à equipa de mestres pedreirosde Baltazar Álvares a primeira fase da edifi-cação, que conhece o seu melhor ritmo notempo de Filipe II. Depois, até finais do séc.XVII, os movimentos de obra são lentos e sóem inícios do séc. XVIII deverá ter ocorrido aconclusão do novo edifício. Em 24 de Junhode 1711, D. João V deslocou-se ao conven-to com vasta comitiva real, sendo então men-cionada a visita das instalações. Em 1724albergava vinte e cinco freires, além do prior-mor. Na sequência do sismo de 1755, foisujeito a novas reparações.O arquitecto das ordens, Manoel Caetano deSouza, em 1781, desenha a planta do Cas-telo de Palmela com todos os seus edifícios.

O Convento antes da intervenção da DGEMN nos anos 70

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Trata-se de um documento iconográfico de-terminante para o estudo da evolução arqui-tectónica do conjunto monumental, da dis-tribuição e organização espaciais do conven-to e da casa do prior-mor.O final do século XVIII e o séc. XIX são umtempo de degradação e de delapidação doconvento e da igreja. Às descrições da cres-cente ruína dos edifícios acrescentam-se osapelos no sentido de os proteger e salvar. Em1910 o Castelo de Palmela e a Igreja de San-tiago são classificados como MonumentoNacional. Um pouco mais tarde (1932), sãoalvo de um projecto de intervenção da Direc-ção Geral dos Edifícios e Monumentos Naci-

Área fronteira à Igreja de Santiago, durante a escavação de 2003

onais, cuja primeira fase ficará concluída atempo das comemorações centenárias de 40.Quanto ao convento, irá permanecer aban-donado até aos anos 70, quando se executao projecto de adaptação do edifício a pousa-da de turismo.Em 2003 realizou-se uma intervenção arque-ológica no pátio fronteiro à Igreja de Santia-go, que permitiu concluir que o novo con-vento não aproveitou anteriores estruturasneste espaço e sofreu entretanto várias obrasde remodelação.Sabemos agora que entrada da Igreja de San-tiago era servida por uma grande escadariade 7 ou 8 degraus, seguida de patamar. Épossível que, entre os sécs. XV e XVII, estepatamar fosse um pátio mais vasto, ladeadopor algumas construções.Os materiais recolhidos nesta escavaçãoincluem objectos vários de uso quotidiano,lúdicos, ornamentais e simbólicos. Desta-quem-se um pequeno frade em terracota ealgumas faianças pintadas a azul com a cruz-espada de Santiago e a inscrição: COMVEN-TO.

Isabel Cristina Ferreira FernandesArqueóloga, Museu Municipal de Palmela

Fragmentos de faiança exumada durante a escavação de2003

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O Museu Municipal de Palmela (MMP) assu-me-se, actualmente, como um lugar deencontro onde o gosto pela descoberta, pelacompreensão da Memória Colectiva e doPatrimónio Cultural (material e imaterial) locaise pelo reconhecimento da Identidade Cultu-ral criam um ambiente favorável à aprendi-zagem. Para além de incorporar colecções,inventariar, conservar, investigar, expôr edivulgar conhecimento, o Museu integra umServiço Educativo no qual reside a essênciado serviço público do MMP.

Após analisar necessidades já evidenciadas,em anos anteriores, pela Comunidade Edu-cativa, e de um forte empenho da docentede uma turma do 3º ano de escolaridade– a Profª Ana Mendão –, o SE-MMP propôs aconcretização de um projecto a realizar em 2anos lectivos: “Um dia no Neolítico na Quintado Anjo”. A essência da iniciativa pretendeoperacionalizar uma etapa da taxinomia daEducação Patrimonial: a apropriação do Pa-trimónio, através de uma recriação histórica.

Viver no Neolítico, morrer no horizonte Cam-paniforme!É neste âmbito temporal que realizaremos,no final do presente ano lectivo, a recriaçãohistórica no local onde se situa a necrópolepré-histórica de Quinta do Anjo. Os proble-mas cronológicos para o projecto em ques-tão resultam do facto da necrópole ter sidoconstruída durante o Neolítico Final, ao longoda segunda metade do IV milénio e, ter sidoparcialmente abandonada no final do III e ini-cio do II milénio, o que corresponde à última

fase do Horizonte Campaniforme (Calcolíti-co Final).

A primeira fase da acção – sensibilizaçãoao tema de uma turma do 3º ano de escola-ridade – decorreu no ano lectivo de 2003-04:realizou-se a reconstituição de um ritual deenterramento nos Sepulcros Neolíticos deQuinta do Anjo, precedida pelo reconheci-mento do lugar e dos gestos de vida quoti-diana dos homens e mulheres que terãovivido na zona envolvente.Foi criado um enredo, ficcionado (vide histó-ria à frente) – dado o nível etário dos alunos –,com um sistemático acompanhamento deuma arqueóloga do Museu Municipal; foramenvolvidos artesãos na localidade através deuma visita ao Museu Nacional de Arqueolo-gia, onde está depositado parte do acervoarqueológico resultante das intervençõesrealizadas no local nos finais do século XIX/início do século XX; foram concebidos uten-sílios e vestuário para recriar a acção.Os resultados alcançados – entusiasmo dosalunos e da docente responsável, bem comode outros elementos da Comunidade Local– obrigaram a uma revisão do projecto e aoalargamento dos seus objectivos. Assim, asactividades principais do período Neolítico –agricultura, talhe, tecelagem e a olaria – fo-ram mostradas a toda a comunidade localnum espaço integrado no festival Queijo, Pãoe Vinho, em Abril de 2005, resultado dos ate-liers desenvolvidos pelos alunos, ao longo dopresente ano lectivo; este trabalho culminarána recriação propriamente dita, a realizar nopróximo mês de Junho.

Serviço Educativo

“Um dia no Neolíticona Quinta do Anjo”Um projecto: Serviço Educativo do Museu Municipal / EBJI Quinta do Ano

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Sendo este um projecto de parceria entre oSE-MM e a comunidade escolar da EscolaBásica de 1º ciclo e Jardim de Infância deQuinta do Anjo, a verdadeira essência desteartigo reside nas palavras dos principaisintervenientes: professora e alunos.

As vozes de quem vive este projecto...

“«Um dia no Neolítico» é umprojecto que me tem envolvido amim e à minha turma, desdeo ano anterior, porque sempretenho tido a preocupação desensibilizar os meus alunos paraque eles sejam cidadãosconscientes e que conheçame valorizem o patrimónioexistente, muito especialmenteaquele que está perto de nós.Os sepulcros neolíticosexistentes em Quinta do Anjo,por razões várias, têm sidopouco respeitados. Creio quegrande parte da população,que aqui nasceu e reside,desconhece a razão da suaexistência e o que ela significa.Pensámos que as nossascrianças poderiam ser um bommeio de informaçãoe sensibilização.

Para isso foi feita a propostaà turma, que se interessoue tem andado envolvida, emsaber como se vivia nesseperíodo, as suas actividades,as suas crenças e como elesse comportavam na alturaem relação às pessoas quemorriam.Queremos que as pessoaspercebam que aquele lugar estácarregado de significadoe devemos preservá-lo para queas gerações futuras possamverificar que esta região temprovas de que é habitada desdehá vários milhares de anos.Penso que esta será uma formade sensibilizar as pessoas paravalorizarem o patrimóniocultural e natural.Os meus alunos têm achadointeressante saber que há cincomil anos atrás, as pessoascaçavam e construíam os seusinstrumentos de caça,cultivavam aqui alguns produtoscomo o trigo, a cevada, a favae o feijão já utilizavam o tear,e trabalhavam o barro.”

Professora Ana Mendão 20/04/2005

As vozes “mais pequenas” que fazemcrescer este projecto...

“Eu acho que o projecto «Umdia no Neolítico» é muito bom,porque há muitas pessoas quenão sabem o que são ossepulcros (...) nós aprendemosa fazer bolsas, placas de xistoe ídolos que na altura eramobjectos de grande valore respeito.Eu já fiz uma bolsa. As coisasque eu gostei mais de fazeras bolsas e as placas de xisto.”

Lourenço

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“Este projecto do neolítico ébom para estarmos a trabalharporque as pessoas não sabempara que é que os sepulcrosservem. Serviam para enterraras pessoas antigamenteno tempo de Abaçai.”

Márcia Peralta

“Eu aprendi que os sepulcrosde Quinta do Anjo, são muitoimportantes e devemosprotegê-los.”

Helder Nascimento

“Gosto muito deste projectoporque faz-me recuar 5000 anosatrás e também tem uma dasáreas que eu mais gostoé a cultura antiga.”

Francisco Simões

Para nós, equipa do SE-MM, é gratificantepoder acompanhar a evolução deste projec-to, para o qual nos limitamos a dar as ferra-mentas de trabalho, e a observar os resulta-dos que estes alunos apresentam. Estamosa trilhar um caminho conjunto e juntos alcan-çaremos os objectivos a que nos propuse-mos – conhecer, preservar e divulgar o “nos-so” Património.

Para que seja entendida por todos vós amensagem transmitida pela voz dos maisnovos é importante divulgar a história queenvolveu estes alunos, levando-os a entrarnum mundo desconhecido até então: umarealidade tão distante mas, ao mesmo tem-po, tão próxima e ao alcance de todos: ossepulcros neolíticos de Quinta do Anjo

3.

3 Acerca desta jazida arqueológica, classificada como Monumento Nacional em 1934, apresentamos em números anteriores do +museu a bibliografia

disponível, facto que contribuiu também para base informativa da acção.A disponibilidade e entusiasmo de um outro parceiro local – Oficina Sebastião Fortuna – e do Museu Nacional de Arqueologia foram fundamentais paraa concretização da acção, nomeadamente através da recriação de alguns artefactos cerâmicos e pétreos.

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Uma história que reinventou o lugar,distante no tempo

Olá a todos!Eu, Carlos Ribeiro, sou arqueólogo e nopassado século XIX, depois de umaintervenção arqueológica, descobri estessepulcros aqui em Quinta do Anjo.Um arqueólogo é uma pessoa que sededica ao estudo dos costumes, ou me-lhor, do modo de vida dos povos maisantigos através dos materiais e objectosque encontra, descobre.Após ter descoberto estas “grutas”,como vocês lhes chamam actualmente,fiquei com muita curiosidade e decidiestudar os povos que por aqui passa-ram.Para isso, fiz uma grande viagem no tem-po e recuei milhares de anos, porque ahistória que vos vou contar aconteceu no3º milénio a.C..

No 3º milénio a.C. vivia no povoado deChibanes a tribo Quaraciema. Abaçai, olíder desta tribo era o elemento mais velhoe mais sábio de todos cuja missão eramanter o grupo unido.Na tribo Quaraciema viviam todos comose fossem só uma família, no entantoexistiam várias famílias que faziam partedesta tribo.Abaçai apesar de ser o líder de Quara-ciema tinha a sua própria família. Era ca-sado com Guavi, uma bela mulher, e tinha

6 filhos, 5 rapazes e uma rapariga (Taba-jara, filho mais velho e muito dedicado àfamília; Maceió, que adorava partir embusca de novas aventuras; Grajáu, quesó pensava no dia em que viesse a ser olíder de uma tribo; Naara, um jovemastuto que raramente se deixava enga-nar; Pitangui, que gostava de ser sem-pre criança e Maraneima, a única meni-na na família e a mais nova de todos osirmãos).A família de Abaçai era a mais rica detoda a tribo, pois eram eles quem tinhammais excedentes, ou seja, mais produ-tos agrícolas e mais caça para comereme para dividirem com os restantes ele-mentos da tribo.A tribo Quaraciema construiu as suascasas em Chibanes, porque é uma zonade planalto, mais alta, e por isso a queoferecia melhores condições para lá pu-derem viver, pois as tribos costumavamutilizar tudo o que a natureza lhes ofere-cia e em Chibanes aproveitaram asrochas para a construção das suas habi-tações.Era Abaçai quem distribuía as váriastarefas diárias por todos os elementos datribo e eram várias as actividades quedesenvolviam. A maior parte dedicava-se ao trabalho da terra, agricultura. Culti-vavam os cereais, o trigo e a cevada, eos legumes, a fava. Outros dedicavam-se à pastorícia e à criação de gado, comoas ovelhas, as cabras, os porcos, os boise as vacas. Havia, também, quem sededicasse à pesca e ao marisqueiro, paraisso deslocavam-se até às ribeiras, no rioSado, na costa Atlântica da Península deSetúbal onde costumavam pescar sar-dinhas, douradas, amêijoa e mexilhão.

Para além destas existiam, também,outras actividades, tais como a olaria, por-que construíam os seus próprios objec-tos para guardar e cozinhar os alimen-tos, os potes, os vasos, as taças e os

“A Mortede Abaçai,o Líderde Quaraciema”A acção realizada no ano lectivo 2003/04

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13copos, e os objectos que utilizavam nascerimónias, era por isso que o oleiro cos-tumava decorar as suas obras de arte; acestaria porque fabricavam as cordas; atecelagem porque precisavam de fiar alã e o linho para puderem fazer as suaroupas; e o artesanato, pois criavam vá-rios objectos de adorno, decoração,como os colares, as pulseiras, as brace-letes, os alfinetes e algumas estatuetasem formas de animais. Como as tribosacreditavam na vida para além da morteeram alguns destes objectos que costu-mavam acompanhar o corpo de quemmorria, para que fosse protegido e pre-parado para a sua vida futura.

Abaçai atribuía as tarefas mais pesadaspara os homens, ficando as mulherescom as tarefas domésticas, faziam o pão,o queijo, as roupas, teciam os fios da lã edo linho e todas as outras tarefas casei-ras. As crianças também tinham activi-dades, os rapazes costumavam guardare mugir o gado e depois das tarefas cum-pridas jogavam ao jogo das pedrinhas,muito parecido ao jogo dos berlindes. Asraparigas para além de ajudarem asmulheres mais velhas nas tarefas domés-ticas, costumavam fazer colares e pul-seiras com conchas e pedrinhas.À noite antes de dormirem, os mais novosda tribo, tinham o hábito de se reuniremcom Abaçai, em redor de uma fogueira,para ouvirem as suas histórias.A última história que Abaçai lhes contoufoi sobre um momento mágico-simbóli-co que tinha acontecido na sua família, onascimento de Majui, a sua neta, filha deTabajara, o seu filho mais velho, e Lanci-randY, a sua nora. No entanto, as histó-rias que contava mais vezes e das quegostava mais eram sobre as suas caça-das e é por isso que agora quero contar-vos a história da última caçada de Aba-çai.

Como faziam tantas vezes Abaçai eTabajara saíram bem cedo para mais umacaçada, juntamente com outros homensde Quaraciema. Costumavam ir semprepara a Serra da Arrábida e o que maiscaçavam eram coelhos, lebres e veados,se bem que Abaçai já há muito tempoque não tinha essa sorte.Naquela manhã Abaçai tinha dito aTabajara que sonhara com Bacuara, osábio, e o seu antepassado mítico. Aoouvir isto, Tabajara sentiu-se entristecerpois pressentiu que algo iria acontecer.Abaçai dizia muitas vezes que quandosonhavam com os seus antepassados ofim desta vida estaria perto e era apenasnestas palavras que Tabajara pensavaquando de repente avistaram um veadoao longe. Abaçai de imediato fez ponta-ria com seu arco e flecha e dominadopelo desejo de o caçar não prestou aten-ção a mais nada, apenas em alcançar oveado.A dada altura sentiu que Bacuara o cha-mava mas nem isso o impedia. Quantomais se aproximava do animal, mais for-te era o chamamento de Bacuara, masAbaçai não conseguia parar e provocoua tragédia…A seta foi certeira, atingindo-o nas cos-tas. Abaçai caiu de imediato no chão eperto de si estava Bacuara, que apenascom um olhar deu-lhe a perceber o errograve que tinha cometido.Abaçai tinha-se deixado levar pela suaambição e provocou a sua própria morteda forma mais trágica. Tinha-se coloca-do na mira do alvo do seu filho Tabajra,que tal como ele tinha avistado o veadoe feito pontaria com a sua ponta de seta.Tabajara não acreditava no que acabarade acontecer, tinha morto o seu própriopai...

Estava explicado o sonho de Abaçai e atristeza que Tabajara sentira ao ouvir as

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A partir de agora novas aventuras virão...

Aguardamos as novas aventuras que seencontram, agora, no imaginário destes alu-nos que ao longo deste ano lectivo dão vidaa este projecto.

Sandra Abreu SilvaAnimadora sociocultural

SE do Museu Municipal de Palmela

Michelle TeixeiraArqueóloga

colaboradora do Museu Municipal de Palmela

últimas palavras de seu pai.Tabajara seria o próximo líder de Quara-ciema, pois era o filho mais velho de Aba-çai e como tal tinha já à sua espera umadas tarefas mais duras… organizar o cor-tejo fúnebre e toda a cerimónia de enter-ramento de Abaçai.

O corpo de Abaçai é colocado em cimada padiola e vem acompanhado pela suafamília e restantes elementos da tribodesde Chibanes até aos sepulcros.Chegados aos sepulcros é preciso pre-parar o corpo e o espaço. Tabajara entrapara o sepulcro e acende o fogo paraproteger o espaço e purifica-o com aservas aromáticas., enquanto espera pelocorpo de Abaçai.Guavi, viúva de Abaçai, LancirandY, anora, e Maraneima, a filha mais nova,envolvem o corpo com tecido, prenden-do-o com alfinetes de osso. Depois en-feitam-no com colares e pulseiras e pol-vilham-no com ocre vermelho.O corpo de Abaçai e transportado pelosseus 4 filhos, Maceió, Grajáu, Naara ePitangui. Dentro da câmara vão deposi-tar o corpo sobre a esteira junto à pare-de-cabeceira, ou seja, vão colocá-lo decostas para a parede em posição fetal,que simboliza o seu regresso às origens,ao ventre da Deusa-mãe. Agora Maceió,Grajáu, Naara e Pitangui saem do interi-or da câmara, levando a padiola, e vãopara a ante-câmera.O resto da família coloca-se ao longo docorredor, dos dois lados. Guavi recolhe ataça com cereais e transporta-a para acâmara, pois simboliza a homenagemprincipal a Abaçai, e fica junto do corpocom Tabajara.

Maraneima e LandirandY recolhem osoutros objectos, um a um, e passam-nospor todos os elementos da família, quese encontram ao longo do corredor, es-tes vão passa-los para os filhos de Aba-çai, que estão na ante-câmera, que vãoentregar à sua mãe e a Tabajara para queos coloquem à volta do corpo.Tabajara coloca o mobiliário funerário, osobjectos de cerâmica que contêm ali-mentos e outras ofertas valiosas, em re-dor do corpo de Abaçai. No chão estãoalguns objectos de calcário que contêmocre para pintar o tecido que cobre ocorpo e alguns aromatizantes.Todos estes objectos que estão à voltado corpo de Abaçai eram seus e ele uti-lizava-os diariamente, principalmente aenxó e o machado, simbolizam o seupapel de destaque na vida desta tribo ea sua viagem de regresso para junto deBacuara, o seu antepassado mítico…Tabajara sai do sepulcro acompanhadopor todos os elementos da família. Cáfora é aclamado/aplaudido por todos.A cerimónia de enterramento terminou.Tabajara é o novo líder de Quaraciema!...

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15 Património Concelhio em documentos

Património concelhio em documentosNo âmbito das comemorações dos 820 anos do Foral de 1185, falamo-vos nestenúmero, sumariamente, dos três Forais de Palmela.O texto e algumas das imagens que abaixo se apresentam constituem parte deuma exposição monográfica itinerante que pode ser requisitada ao ServiçoEducativo do Museu Municipal.

Foral dos Mouros Forros

Foral dos Mouros Forros, 1170

Silos da Rua de Nenhures (Palmela)

Peças detradição

muçulmana

O foral de 1170 foi concedido no mês de Mar-ço por D. Afonso Henriques aos mouros for-ros de Palmela e também aos de Lisboa,Almada e Alcácer.Através desta Carta de fieldade e firmidooenos mouros que ficaram a habitar em Palmela,depois da conquista cristã, passaram a dis-por de protecção régia contra eventuais injus-tiças cometidas por cristãos e judeus e dodireito de eleger, entre os seus, alcaide que osjulgasse.Em contrapartida, ficavam estes muçulmanosobrigados ao pagamento de diversos tributosao rei (um morabitino por cabeça, a alfitra, oazaqui e a dízima do trabalho) e tinham de pres-

tar-lhe vários serviços relacionados com a agri-cultura (o adubo de vinhas, a venda de figos edo azeite de propriedade régia).

1170

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Foral de Palmela, 1185

Foral de Palmela

Em Março de 1185 D. Afonso Henriques, jun-tamente com seu filho D. Sancho, outorga fo-ral aos moradores de Palmela, homens livrescristãos, na intenção expressa de restaurar epovoar Palmela a quem tomamos aos sarra-cenos.Este diploma encerra uma grande riqueza deinformação de carácter social, jurídico e eco-nómico, permitindo-nos uma visão aproxima-da do quotidiano de Palmela no séc. XII.Começa por mencionar a obrigação de os

Insígniada Ordemde Santiago(sécs. XII-XIII)

Necrópole de Cavaleiros da Ordem de Santiago Canequinhas dos sécs. XII-XIII

cavaleiros de Palmela combaterem o infiel (fos-sado) precavendo que um terço ficasse nocastelo para garantir a segurança da vila. Oscavaleiros distinguem-se claramente dos pe-ões, correspondendo os primeiros a infançõese ricos-homens e os segundos a cavaleiros-vilãos. No âmbito municipal merecem referên-cia o concilio (concelho, assembleia), os vizi-nhos, os juizes, o saião. Vários são os ofíciose as ocupações, as categorias sociais regista-dos no foral: o servo e o vassalo, os clérigos,

1185

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Foral Manuelino, 1512

Foral Manuelino

O Foral Novo de D. Manuel I foi dado a Pal-mela em 1 de Junho de 1512.Por ordem de D. Manuel I os forais antigosforam sujeitos a reforma e substituídos pornovos diplomas que ficaram conhecidos porforais novos.No Foral Manuelino de Palmela reconhecem-se e apresentam-se alguns dos privilégios daOrdem de Santiago, então sediada no cas-telo da vila, bem como os direitos dos mora-

Cerâmicasquinhentistasdo MercadoVelho dePalmela

1512

os barões, o meirinho, o solarengo, o colonoou herdador, o caseiro, o hortelão, o moleiro.Os deveres consignados no foral traduziam-se em tributos a pagar ao rei, em dinheiro, emgéneros, através da prestação de serviços oude multas ou coimas, quase sempre pecuniá-rias.A agro-pecuária aparece no documento comoa vertente preponderante da economia localde então. Referem-se o gado ovino, suíno,

bovino, asinino e cavalar, o pão, o vinho, oazeite, o figo, a madeira. Mencionam-se tam-bém actividades e equipamentos relaciona-dos com a transformação e comercializaçãodas referidas produções: mercadores, vian-dantes, tendas, açougues, moinhos, fornos.Na actividade mercantil citam-se os panos delã e de linho, o fustão, o pão, o vinho, os cou-ros (de vaca, zebra, gamo ou cervo), a cera, oazeite, os coelhos, os escravos mouros.

dores do concelho. São mencionadas as ter-ras foreiras da Ordem nos Barris e na Várzea,os lagares e as estalagens da Ordem, as suassesmarias. Verifica-se o acautelamento dosdireitos dos moradores da vila em relação àOrdem, nomeadamente estabelecendo a pri-oridade de, nos lagares, ser em primeiro lu-gar moída a azeitona do povo e garantindoque qualquer pessoa da vila pudesse forne-cer dormida ou comida a quem lhe aprou-vesse, apesar da existência das estalagensda Ordem.Quanto aos montados, são indicados comopropriedade do concelho e o gado de ventocomo sendo do alcaide, por ordem régia.

Isabel Cristina F. FernandesArqueóloga – Museu Municipal de Palmela

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do Castelode Palmela Rostos do GRAC

Nos bastidores...

Além da Divisão de Património Cultural, ou-tro serviço partilha o privilégio de estar insta-lado no Castelo de Palmela e de desfrutardiariamente do sabor do vento, do sol, dorio, das planícies e serras – o Gabinete deRecuperação e Animação do Castelo (GRAC),que integra o Departamento Municipal deCultura e Desporto e tem como função: “umaintervenção integrada no Castelo de Palmelaaos vários níveis: arquitectónico, animaçãocultural, turística e económica e gestão cor-rente, visando transformar o castelo numa in-fraestrutura “moderna” e dinâmica, enquan-to equipamento catalisador de actividadecultural, lúdica e didáctica, numa óptica dedesenvolvimento sociocultural e económi-co.”

4

Falamos com os quatro rostos mais visíveisdesta equipa, acerca da sua experiência eda responsabilidade que sentem ao zelar porum monumento de importância nacional

5.

Manuel Pereira da Silva, de 41 anos, trabalhaneste serviço há 5 anos tendo a seu cargo alimpeza, manutenção e vigilância, funçõesfundamentais à necessidade de conservaçãoe preservação do castelo. O seu dia inicia-secom a abertura das portas de todos os es-paços que integram este conjunto patrimo-nial, tal como da Igreja Santiago, onde o an-tigo relógio espera as mãos que o ajudem acontar o tempo que passa. Seguidamente, énecessário retirar o lixo dos cestos de modoa que os primeiros visitantes encontrem o

4 Manual de Funções da CMP

5 O Castelo de Palmela foi classificado Monumento Nacional, pelo Decreto-Lei de 16 de Junho de 1910.

espaço limpo, e retirar a água dos desumidi-ficadores, equipamento imprescindível naprática de conservação preventiva de todoeste espólio. À tarde, após a limpeza, a suafunção consiste essencialmente em fazermanutenção e vigilância. Para além destasactividades, o contacto com o público é in-contornável visto que são os rostos semprepresentes do castelo. Assim, são muitas ve-zes interpelados com pedidos de informaçãoa que sempre que possível dão resposta, ouencaminham para o Posto de Turismo. E paraalém das actividades habituais, Manuel afir-ma que apoiam todas as actividades extra-ordinárias que aqui se realizam, quer do Mu-nicípio, quer de outras entidades que procu-ram o Castelo.

Da esquerda para a direita: Manuel, Nuno, Valdemar

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Paula Maria Mestre tem 41 anos e está nocastelo desde 1999. Desempenha a funçãode Auxiliar de Serviços Gerais, que consistena limpeza não especializada de todos os es-paços interiores tal como Igreja Santiago e res-pectiva Sacristia, Espaço D. Jorge, Serviçosde Arqueologia, GEsOS, Posto de Turismo,Sala de Serviço Educativo, galerias, Espaçode Transmissões militares e Sanitários. Tendoem conta que se trata de uma área muito ex-tensa, permanentemente exposta às agres-sões do pó, Paula considera que é um traba-lho exigente, especialmente porque tratando-se de um local visitável, deve ser mantido omais possível em condições.Nuno Manuel Camolas de Sousa, de 39 anos,é outro rosto que aqui podemos encontrar há9 anos. Hoje considera que “o castelo é a suasegunda casa”, e quando olha para trás, fazum balanço muito positivo do seu trabalho,sobretudo, porque na sua opinião é essencialque este seja cada vez mais um local de visi-tas, com um atendimento de qualidade. Umadas suas funções consiste na rega dos espa-ços verdes que o embelezam. Sempre des-perto para as questões ecológicas dos nos-sos dias, apela para o bom senso dos visitan-tes em não atirar lixo para o chão, massobretudo, para não atirarem as pontas doscigarros pela muralha, porque põem em riscoa mata que envolve o castelo, já parte do Par-que Natural da Arrábida.Outra questão levantada pelo Nuno, prende-se com a segurança dos públicos, pois mui-tas vezes os jovens aventuram-se perigosa-mente em alguns locais do castelo e é suapreocupação zelar pela segurança de todos.Dos públicos, destaca as crianças por seremmuito curiosas e não se coibirem de questio-nar, daí que considere que a parceria entre oGRAC e o Museu Municipal, nomeadamente

o SE, é fundamental porque ambos trabalhampara o mesmo objectivo: “fazer do castelo umlocal que o público aprecie”, considerando ain-da que “são estas actividades que o valori-zam”.Da mesma opinião é o mais antigo trabalha-dor deste serviço. Valdemar de Oliveira Cae-tano, de 68 anos de idade, afirma que as cri-anças dão vida ao castelo. Recordou-nos oestado de abandono em que encontrou omonumento quando aqui chegou, há cercade 11 anos atrás. Durante o seu primeiro anode trabalho, a sua função foi sobretudo limparcuidadosamente cada canto e recanto, devol-vendo o orgulho ao local. Foi também nestaaltura que se iniciaram as obras de melhora-mento, por parte da autarquia, com a adapta-ção das diversas galerias da praça de armas.Actualmente, esforça-se por manter o espa-ço sempre limpo e agradável, porque consi-dera importante a opinião dos visitantes: “Mui-tas pessoas têm dito que o castelo está muitobem conservado e é bom a gente ouvir quedá gosto em vir cá.” A um ano de se reformar,reforça a convicção da importância do monu-mento como “cartão de visita de Palmela”, esonha, que o caminho que ajudou a trilhar, sejapercorrido por outros, que como ele, contri-buam para dar dinamismo ao castelo.Embora o que mova estas pessoas, seja oresultado mais imediato do manter o espaçolimpo e agradável para bem receber todosaqueles que nos vêm visitar, eles, com o seuesforço, contribuem de forma decisiva parapreservar e valorizar um património de todosnós, parte da nossa memória. Além das suasfunções próprias, o GRAC é também uma pre-sença fundamental, por exemplo, nas acçõesde montagem de exposições do Museu; semo apoio desta equipa e da disponibilidade doseu coordenador Dr. Rafael Rodrigues, do téc-nico profissional José Carlos Fidalgo e da BinaDuarte, assistente administrativa, a acção doMuseu não seria a mesma.

A estes rostos que nos habituámos a ver, porentre as pedras da história, desejamos quenão percam o entusiasmo de se dedicar a estelugar.

Entrevistas realizadas por Teresa Sampaio

Paula

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A não esquecer…

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Pela primeira vez vêm à vila de Palmela osForais atribuidos em 1170 aos Mouros For-ros da comunidade local, em 1185 ao con-celho e, em 1512, por D. Manuel I.Integrados no acervo dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, estes documentos que mar-caram a vida local durante séculos, podemser apreciados de 1 a 30 de Junho na Igrejade Santiago – Castelo de Palmela.

No âmbito das comemorações dos 820 deForal de 1185 e do Dia do Concelho realizar-se-ão as seguintes acções:

Agende uma visita a esta antiga adegada Herdade de Algeruz, que abrirá emJulho próximo, após uma campanha deobras que visou garantir a abertura daAdega de Algeruz ao público, com umdiscurso capaz de mostrar ao público osistema de vinificação ali instalado, bemcomo memórias da Herdade recolhidasna Comunidade Local.

Núcleo Museológicoda Vinha e do Vinho– Adega de Algeruz

Horário daexposição

Forais vêm aPalmela pela

1ª vez

15h30 - Abertura da exposição:Os Forais de Palmela- Conferências pelos ProfessoresDoutores Filomena Barros, JoãoPaulo Oliveira e Costa e ManuelaSantos Silva, acerca de cada um dosForais- Lançamento de edição crítica dos3 forais de Palmela, estudados peloscitados conferencistas.

17h30 Músicas do Médio Oriente e Magrebpelo trio SamarcandaEspectáculo integrado na RotaAl-Mutamid

1 de JunhoIgreja de Santiago– Castelo de Palmela

de 3ª feira a domingo, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00(a Igreja encerra às 2ª feiras e feriados)

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21Exposições para ver e ouvir

30 Anos de Abril no concelhode Palmela– uma exposição a ver (ou rever)em Pinhal Novo

De 7 de Junho a 3 de Julho, na Praça daIndependência, em Pinhal NovoHorário nocturno durante as Festas Popula-res locais (de 7 a 12 de Junho) e por solicita-ção prévia de grupos ao Museu Municipalde Palmela.

Objectos e memóriasda Cultura Caramela

De 7 de Junho a 3 de Julho, no foyer do Au-ditório Municipal de Pinhal Novo, no horáriode funcionamento habitual da Biblioteca.Horário nocturno durante as Festas Popula-res locais (de 7 a 12 de Junho) e nos dias deprogramação do Auditório Municipal.

Sons para ver, ouvir e sentir– Instrumentos de MúsicaMecânica

O Limonaire Préres, instrumento de música mecânicafrancês, de 1900, é uma das peças de excepção quepoderá ouvir e ver na Igreja de Santiago – Castelo dePalmela.De 9 de Julho a 11 de Setembro de 2005, no horáriohabitual; a horas certas (a divulgar oportunamente)poder-se-ão ouvir alguns instrumentos.

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FUNDOSDOCUMENTAISESPECIALIZADOSPARA CONSULTAPÚBLICA, EM PALMELA

Novas Aquisiçõesdo Fundo Documental do GEsOS

• FERNANDES, Isabel Cristina Ferreira – O Conventoda Ordem de Santiago em Palmela (estudomonográfico dactilografado), Palmela, 2004

• IZQUIERDO BENITO, Ricardo e LÓPEZ ÁLVAREZ,Ana Maria (Coord.) – Juderías y sinagogas de laSefarad Medieval, “Colección Humanidades nº 73”,Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-LaMancha, 2003

• LUTTRELL, Anthony e PRESSOUYRE, Léon (Direction)– La Commanderie, institution des ordres militairesdans l’Occident médiéval, Paris : Comité des travauxhistoriques et scientifiques, 2002

Novas Aquisiçõesdo Fundo Documental do MuseuMunicipal

• GALHANO, Fernando e OLIVEIRA, Ernesto Veigade – Arquitectura Tradicional Portuguesa, 5ª ed.,Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2003

• MATOS-CRUZ, José de – Prontuário do CinemaPortuguês 1896-1989, s/l: Cinemateca Portuguesa,1989

• MUSA. Museus, arqueologia & outros patrimónios,vol. 1, Setúbal: Fórum Intermuseus do Distrito deSetúbal/Museu de Arqueologia e Etnografia do Distritode Setúbal, 2004

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CADA NÚMERO, UM JOGO

SITES A CONSULTARhttp://www.mun-guarda.pt/concelho/foral/folio1.aspSite da Câmara Municipal da Guarda, no qual se encontra a transcrição do Foral atribuídoàquele concelho por D. Sancho.

http://www.bib-lousa.rcts.pt/images/foral_da_lousa.htmSite da Biblioteca Municipal da Lousã, no qual se encontra a transcrição do Foral atribuídoàquele concelho por D. Manuel em 1513.

http://www.mun-setubal.pt/Concelho/historia.aspSite da Câmara Municipal da Setúbal, no qual se encontra referência ao Foral atribuído àqueleconcelho por D. Paio Peres Correia em 1249.

Na Primavera existem muitos insectos que provo-cam doenças às videiras. De todos eles o pior é afiloxera – uma pequena borboleta que ataca asraízes e as folhas das videiras.

Para combater este “mal das vinhas” o vitivinicultorprecisa de pulverizar a vinha com um remédio, acalda bordalesa (um liquido feito com água, cal esulfato de cobre). Como esta tarefa não é fácil, va-mos ajudar a combater a filoxera encontrando asolução para este desafio.O caminho – marcado por uma seta – entre duasvideiras numeradas, permite ao vitivinicultor pulve-rizar a vinha sem voltar a passar no mesmo sítio.Qual a rota que ele deve seguir para pulverizaras seis videiras?

1

4

5 3

6 2

Solução: 6,1,5,3,2,4

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Contactos:Divisão de Património Cultural - Museu MunicipalDepartamento de Cultura e Desportoda Câmara Municipal de PalmelaLargo do Município2951-505 PALMELA

Tel.: 212 338 180Fax: 212 338 189E-mail: [email protected]

Ficha TécnicaEdição: Câmara Municipal de PalmelaCoordenação Editorial: Chefia da Divisão de Património Cultural/Museu MunicipalColaboram neste número: Ana Mendão (Profª da Escola Básica/JI de Quinta do Anjo) e Alunosda turma envolvida no projecto “Um Dia no Neolítico na Quinta do Anjo”), Isabel Cristina FerreiraFernandes, Lúcio Rabão, Manuel Silva, Michele Teixeira, Nuno Camolas, Paula Mestre, SandraAbreu Silva, Teresa Sampaio, Valdemar CaetanoGrafismo: Paulo CurtoFotografia: Adelino ChapaImpressão: Armazém de Papéis do SadoCódigo de Edição: 228/05 - 3 000 exemplaresISBN: 927-8497-27-XDepósito Legal:196394/03

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Editorial

Em destaque... Memórias do Habitar– Arquitectura e Vivência Caramelas (2ª parte)

Património Local– o Convento de Palmela, novos dados

Serviço Educativo– Um Dia no Neolítico na Quinta do Anjo

Património Concelhio em documentos– os Forais de Palmela

Nos Bastidores... do Castelo de Palmela

A não esquecer...• 1 de Junho, Dia do Concelho• Exposições para ver, ouvir e sentir...• 8 de Julho: inauguração do Núcleo do Vinho e da Vinha – Adega de Algeruz

Fundos documentais especializadospara consulta pública em Palmela

Sites a consultar

Cada número, um jogo

Faz parte integrante deste número uma separata com o documento Programa Museológico Municipal de Palmelaaprovado na Assembleia Municipal de Palmela a 18 de Maio de 2004

Índice