Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

6
,[. .,..,. ." <rqueolog" volume)número , 19'N 282 SAQUETE CHAMIZO, JoséCarlos- LasélitessocialesdeAugustaEmerita.Mérida:MuseoNacionaldeArte Romano- -FundacióndeEstudiosRomanos,1997.215p.(CuadernosEmeritenses; 13). É vastíssima a bibliografia que no último século tem sido produzida sobre Augusta Emerita, tendo há pouco mais de meia dúzia de anos sido elaborado um repertório composro por mais de 800 títulos respeitantes a esta cidade. Entretanto, mais alguns trabalhos, entre monografias e artigos, foram sendo publicados, dando boa parte deles conta das importantes descobertas epigráficas que a intensa actividade arqueológica a decorrer no subsolo da capital lusitana tem vindo a desvendar. Ante uma tal abundância de estudos, não era previsível que, num prazo tão curto, alguém viesse contar algo de novo sobre os primeiros tempos da colónia emeritense. Não podemos, por isso, deixar de manifestar o agrado que nos suscitou a leitura da monografia de José Carlos Saque te. Nesta admirável síntese, dividida em seis capítulos, cumpre salientar não só o excelente domínio das fontes clássicas e bibliográficas, mas também a competência com que o autor organizou e transmitiu o manancial de informações extraídas da valiosa colecção de monumentos epigráficos a que teve acesso. É claro que Saquete não teve a intenção de esgotar o tema, limitando-se a estudar as camadas socialmente mais elevadas da população, afinal, aquelas que aepigrafiaajudaa retratar com maior fidelidade. Esperamos sinceramente que este investigador venha a redigir uma monografia de outro fôlego sobre o passado de Mérida, cidade de que demonstrou ser um profundo conhecedor. Poucos serão certamente aqueles que, como ele, reúnem condições para levar a cabo um tal empreendimento. Particularmente interessante, por ser reveladora da perspicácia demonstrada por Saquete, é a identificação que ele estabelece entre as duas legiões fundadoras de Augusta Emerita e as que, com a mesma numeração, combateram ao lado de Marco António entre 43 e 31 a.c. (Keppie, 1983, p. 24-32) (p. 39-41). A partir desta descoberta, Saquete vê facilitada a sua tarefa no sentido de explicar as especificidades que caracterizaram a criação da colónia em apreço (p. 41-47). A despeito de não poder ser descurada a sugestão, formulada por Keppie (1983, p. 74), de que os legionários que haviam combatido por António receberam apenas umasomaem dinheiro aquando do seu licenciamento, o mais provável é que tal política tenha afectado os soldados desmobilizados em 30 a.c. após as batalhas de Actium e de Alexandria, e que não foram instalados em novas colónias mais ou menos periféricas (p. 42, 48). Não é de excluir que os veteranos instalados na colonia Fax luZia entre 31 e 27 a.c. (Faria, 1989) tenham integrado as tropas de António, sendo assim facilmente explicável a omissão, nos raros epitáfios de imigrantes erigidos no território colonial durante a época de Augusto, dos nomes das legiões a que eventualmente teriam pertencido, tanto mais que os povoadores desta colónia, ao invés dos colonos emeritenses, não podiam alegar como atenuante a participação nas Guerras do Noroeste (p. 43-45). Esta situação, a ter-se verificado, não pode confundir-se com a ausência de inscrições respeitantes a veteranos no território de Fax luZia(Le Roux, 1995, p. 91, 93); estes, pura e simplesmente, teriam ocultado a sua condição. É claro que a aparente inexistência de referências epigráficas a legiões nos epitáfios dos colonos pacenses pode servir de argumento a quem confere à colonização de Fax luZia uma natureza civil (Mantas, 1993, p. 496, 1996a, p. 21,1998, p. 43), teoria que também chegámos a perfilhar (Faria, 1997, p. 177). Porém, este mesmo fenómeno é extensível às colónias da Narbonense, que, todavia, foram inegavelmente povoadas por veteranos (Ebel, 1988, p. 580). Além do mais, ao arrepio do que sustenta Mantas (1998, p. 58, n. 40), também a denominação da colónia indicia uma deductio militar (Faria, 1989, p. 104; Zucca, 1996, p. 113). Reforçando talvez involuntariamente esta nossa teoria, é ainda Mantas (1996b, p. 54) quem invoca a existên-

Transcript of Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

Page 1: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

,[. .,..,. ." <rqueolog"volume)número, 19'N 282

SAQUETECHAMIZO,JoséCarlos- Lasélitessocialesde AugustaEmerita.Mérida:MuseoNacionaldeArte Romano-

-Fundaciónde EstudiosRomanos,1997.215p.(CuadernosEmeritenses;13).

É vastíssima a bibliografia que no último século tem sido produzida sobre Augusta Emerita,

tendo há pouco mais de meia dúzia de anos sido elaborado um repertório composro por mais

de 800 títulos respeitantes a esta cidade. Entretanto, mais alguns trabalhos, entre monografiase artigos, foram sendo publicados, dando boa parte deles conta das importantes descobertas

epigráficas que a intensa actividade arqueológica a decorrer no subsolo da capital lusitana tem

vindo a desvendar. Ante uma tal abundância de estudos, não era previsível que, num prazo tão

curto, alguém viesse contar algo de novo sobre os primeiros tempos da colónia emeritense. Não

podemos, por isso, deixar de manifestar o agrado que nos suscitou a leitura da monografia de

José Carlos Saque te. Nesta admirável síntese, dividida em seis capítulos, cumpre salientar não

só o excelente domínio das fontes clássicas e bibliográficas, mas também a competência com que

o autor organizou e transmitiu o manancial de informações extraídas da valiosa colecção de

monumentos epigráficos a que teve acesso. É claro que Saquete não teve a intenção de esgotar o

tema, limitando-se a estudar as camadas socialmente mais elevadas da população, afinal, aquelas

que aepigrafiaajudaa retratar com maior fidelidade. Esperamos sinceramente que este investigador

venha a redigir uma monografia de outro fôlego sobre o passado de Mérida, cidade de que

demonstrou ser um profundo conhecedor. Poucos serão certamente aqueles que, como ele,

reúnem condições para levar a cabo um tal empreendimento.

Particularmente interessante, por ser reveladora da perspicácia demonstrada por Saquete,

é a identificação que ele estabelece entre as duas legiões fundadoras de Augusta Emerita e as que,

com a mesma numeração, combateram ao lado de Marco António entre 43 e 31 a.c. (Keppie,

1983, p. 24-32) (p. 39-41). A partir desta descoberta, Saquete vê facilitada a sua tarefa no sentido

de explicar as especificidades que caracterizaram a criação da colónia em apreço (p. 41-47). Adespeito de não poder ser descurada a sugestão, formulada por Keppie (1983, p. 74), de que os

legionários que haviam combatido por António receberam apenas umasomaem dinheiro aquando

do seu licenciamento, o mais provável é que tal política só tenha afectado os soldados

desmobilizados em 30 a.c. após as batalhas de Actium e de Alexandria, e que não foram instalados

em novas colónias mais ou menos periféricas (p. 42, 48). Não é de excluir que os veteranos

instalados na colonia Fax luZia entre 31 e 27 a.c. (Faria, 1989) tenham integrado as tropas de

António, sendo assim facilmente explicável a omissão, nos raros epitáfios de imigrantes erigidos

no território colonial durante a época de Augusto, dos nomes das legiões a que eventualmente

teriam pertencido, tanto mais que os povoadores desta colónia, ao invés dos colonos emeritenses,

não podiam alegar como atenuante a participação nas Guerras do Noroeste (p. 43-45). Esta

situação, a ter-se verificado, não pode confundir-se com a ausência de inscrições respeitantes a

veteranos no território de Fax luZia(Le Roux, 1995, p. 91, 93); estes, pura e simplesmente, teriam

ocultado a sua condição. É claro que a aparente inexistência de referências epigráficas a legiões

nos epitáfios dos colonos pacenses pode servir de argumento a quem confere à colonização de

Fax luZia uma natureza civil (Mantas, 1993, p. 496, 1996a, p. 21,1998, p. 43), teoria que também

chegámos a perfilhar (Faria, 1997, p. 177). Porém, este mesmo fenómeno é extensível às colónias

da Narbonense, que, todavia, foram inegavelmente povoadas por veteranos (Ebel, 1988, p. 580).

Além do mais, ao arrepio do que sustenta Mantas (1998, p. 58, n. 40), também a denominação

da colónia indicia uma deductio militar (Faria, 1989, p. 104; Zucca, 1996, p. 113). Reforçando

talvez involuntariamente esta nossa teoria, é ainda Mantas (1996b, p. 54) quem invoca a existên-

Page 2: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

283Rt'CénlOe\ ololl"qr,.I'CI>

cia de um legionário oriundo de Pax lulia (HEp, 4, 1994, 1006), que poderá ter sido descendencede um dos derrotados de Actium.

Asupostafundação de Emerita porCésar, sustencada por Alicia Canto (1989,1990), constitUi

outro dos assuntos que Saquete abordou no livro em questão (p. 24-38), manifestando este

investigador posição diametralmente oposta à propugnada pela ilustre professora. Quis o acaso

que, mais ou menos na mesma altUra, elaborássemos um texto com a exclusiva finalidade de

rebater os argumentos esgrimidos por Canto na defesa daquela mesma teoria (Faria, 1998).

Impõe-se, desde já, que corrijamos algumas das afirmações aí exaradas.

Assim, não é verdade que a tribo Papiria seja, segundo Canto (1989, p. 161, 1990, p. 290-

-291), "própria das fundações cesarianas" (Faria, 1998, p. 162), tendoestaautoraapenas afirmado,

sem razão, que a mencionada tribo não tem paralelo entre as fundações hispânicas de Augusto

(Canto, 1990, p. 290). Tão-pouco corresponde à verdade que a referida investigadora tenha

remetido para a época de César a designação completa da cidade em causa: C(olonia) l(ulia)

A(ugusta) E(merita) (Faria, 1998, p. 163). Em vez de termos involuntariamente imputado à

Professora Alicia Canto um tão flagrante anacronismo, devíamos ter-lhe somente arribuído a

tese segundo a qual o nomen lulia, constance daquela titulatUra, constitUía um reflexo da criação

de um praesidium por parte de César. Consignadas estas duas rectificações, natUralmeme

acompanhadas de um pedido de desculpas à Professora Alicia Canto, passemos a expor as

passagens do livro de Saquete Chamizo que não merecem o nosso acordo:

.Se Narbo e Arelate (melhor que Are/atum), colónias cesarianas, receberam de Octaviano o

cognomentum Paterna a fim de as distinguir das que ele próprio fundou (Keppie, 1983, p. 32; Le

Glay, 1985, p. 247; Rivet, 1988, p. 74; Chastagnol, 1995, p. 115), não é de excluir a eventualidade

de, pelo facto de ostentar igualmente aquele cognomentum, a colónia de Bareino tenha também

sido criada porCésar, e não pelo seu filho adoptivo (p. 29) (Canto, 1990, p. 291, n. 18). No entanto,

não pode ser escamoteada a circunstância de os cidadãos barcinonenses terem sido inscritos na

rribo Galeria, o que indicia urna fundação de Octaviano. Terá assim de ser procurada urna ourra

explicação para o cognomentum Paterna.

.Estando os cidadãos de ltalica adscritos à rribo Sergia, parece legítimo concluir que nem

todos os cidadãos dos municípios cesarianos pertenciam à Galeria (p. 30)..Não é só na Pisídia (p. 34 e n. 72) que se conhecem colónias com o duplo títUlo lulia Augusta

posteriores a 27 a.c.; também as há na Gália (Christol e Heijmans, 1992, p. 40, 44) e na Mauretania(Mackie, 1983, p. 340). Todavia, os paralelos susceptíveis de seremaduzidos em abono daatribuição,

logo em 25 a.c., do nomen lulia a Emerita (p. 36) não são obviamente suficientes se não houver umtestemunho inequívoco de que assim sucedeu; e o facto é que não se conhece documentação

epigráfica nem, sobretudo, numismática que demonstre ter lulia feito parte da designação oficialda colónia desde a sua criação (p. 36-37; Faria, 1998, p. 163). É o próprio Saquete quem recorda

que todas as emissões monetárias hispânicas reproduzem inregralmente as siglas das respectivascidades emissoras (p. 36 e n. 82); são apontados os casos de Acei, Caesaraugustae LepidajCelsa, mastambém caberia indicar Noua Karthago,Iliei e Tarraco.Não faria, pois, grande sentido que o nome

oficial da colónia pudesse ser, nas moedas, sistematicamente encurtado de C(olonia)I( ulia)A( ugusta)

E(merita) para C(olonia) A(ugusta) E(merita). Aliás, nos raros casos em que a expressão Colonialulia

Augusta,aplicada a ourras colónias, surge abreviada, éAugusta, e não lulia, o qualificativo suprimido;vejam-se os casos de Aquae Sextiae (Gascou, 1990, p. 233, n. 40) e Berytus (RPC I, p. 648).

.Ao contrário do que é afirmado (p. 34), não é certo que Brixia, Nola e Placentia, que só

ostentam nas respectivas tirulaturas o epíteto Augusta, sejam colónias fundadas antes de 27 a.c.

(Keppie, 1983, p. 152, 190, 192-194).

Page 3: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

0 cogmornenturn iuba, a arribuiq50 do ilks l talic~m, a adscriqzo dos correspondentes colonr 1 tribo Pupinia e a reicerada presenqa de individuos portadores do nowlen Octaurus devern fazer dc

Accr urna coI6nia E~~ndada por Qccaviano (antes de 27 a.C.1 (Gonzalez Romin, 199 I , p. 99; Farla,

1992, p. 34, 19934 p. I32), e n8o de Augusto (apbs 27 a.C.) (p. 35) . Repare-sc que a coloniu Vrhr iulid Elseten-de Sephmnnomrn (Bezrersf, cujos cidadsos se encontravam igualmence inscritos na crlbo Pupinid, far fundada em 36 ou 35 a.C. (Rivet, 1988, p. 150).

Cremos que @ possivel inrroduzlr urna rnalor precrsio na cronologia das rnoedas que

docurnentarn a lcg~nda Augusta Emerita, geneslcarnente colocadas por Saquete enrre 23 a.C. e 14 d.C. (p. 3 5 ) . Tanto a analogia entre as legcndas dos anversos das moedas de Ebora, dataveis de 12 a.C. ou pouco depois, e as que figurarn nos anversos das de Aupstu Emct-itd corn0 a presenca da supracltada legenda em numismas segusamente anteriores a 2 2.C. (RPC 1 5-9, 1 1) levam-nos a

poscular para as rnoedas que reproduzem o coponimo Augasfd Emerita urna dacaqso enti-e 15 e 2 a.C. ou rnesmo entre 15 e 10 a.C. (Farla, h993c, p. 141; v. tambim Grant, 1$6q2, p. 220; Volk, 1997, p. 70).

Apesardaposi~50 de Saquete em sentido divcrso (p. 35-36), n5e ede afastaraeventual~dadc de o terrno coEonzd ja estar presente em moedas cunhadas antes de 2 a.C., se for csta a cronologta dos divisores pertcnccnces ao t ~ p o RPC 1 18.

Emhora a opinrlo ernitida por Saquete n5o scja muito clara a respelto deste assunto (p. 3 5 ) , ao conmino do que afirmamos, na esccira de Roddaz (1990, p. 76), o mals provavel e q u e A~gustd renha come<ado a preceder Ementa eensre 19 e 16 a.C., e n5o enrre 16 c 13 a.C. N S o podc, todavia, ser excluida a hipotese de aquele epitero ter incegrado o nome da c o l ~ n i a logo a partir de 25 a.C. (Faria, 1998, p. 164).

Uma data posterior ao reinado de TlbCr~o para a 1ntsoduq5o do cognomenturn Iulia na titulatura da colonia em apreqo, tese que, como vimos, Saquere n5o perfiIha (p. 3 6 ) , vem sendo sustentada desde h i virios anos (Bosc a p ~ d ~ l v a r e z Saenz de Buruaga, 1976, p. 2 1, 1982, p. 6; etienne e Mayet, 1984, p. 16 1; Faria, 1993c, p. 144).

Sobre a d~scussio do s~gnificado a atrlbulr ao verbo K ~ G C ~ L (p. 37-38), v. tarnbCm Farla, 1998, p. 163.

N5o escamos ainda totalmente couvencidos de que a rnenq5o b legifits V e X nas moedas erneritenses surja apenas depois de 2 a.C. (p. 45), ji que pelo menos os numismas do tip0 RPC I 18 poder50 ser antenores aquele ano.

PIinlo (nat. 4. 1 17) niio designa Pax I d i d corn e s ~ e nome (p. 55, n. 159), chamando-Ihe t5o-

-somente colonilt Pdcelm~i5.

0 prirneiro argument0 evocado por Canto no sentido de fazer recuar a Cisar a cria@o de Emerita, e que foi pos 116s indevidamente ignorado (Faria, 1998, p. 162) pel0 Facto de estar ausence do primeiro texto dedicado a esce tema (Canto, 1989), n5o sb n5o t refutado por Saquete (p. 24) - apesar de mals adiante (p. 25) considerar que "ninguna de las razones aportadas por la Dra. Canco" Ihe parece definitiva-, como chegaasubscrevE-lo sem reservas (p. 78). Consisre o mesmo

em situar a fundaqso de Emm'ta no contexto da degada cria~5o/prornoqZo por parte de Cksar de urna skrie de cidades da LusitSnia e daBae&tuna ctItica - N o h , Scallabzs, P a I d i d , Nertobriga, Vgultuaia, Sena e Segtda (Canto, 1990, p. 290). Contudo, a circunstsncia de codas elas incluirem o nomea h l ia na respecriva titulatura nPo significa que tenha existido urna Iigaqso de Cksar is tiltimas cinco cldades enumeradas. Em concrapartida, s50 maiores as probabilidades de Let sido Octaviano, entre 31 e 27 a.C., o responsAve1 quer pela fundaqno de P~uclttlla (Faria, 1989) quer peIa prorno~5o a municipia ou a oppida Latina das outsas quatro cidades (Galsterer-Kroll, 1975, p. 121-123).

Page 4: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

No que se reEere a conhecida inscriqiio emcricense dedlcada ao gCnio da crdadc, n2o nos parece possivel considerar que a mesma se reporre aogtnrus C(oloniae) I(ultae) A(tkgustae) E(rnerrt4eJ

(p. 85 e nn. 284-287) dada a inexistencia de urn ponto a separar o C do I, que serla facilmence inscsito caso se tratasse d e urn esro do lap~ctda. E por ~ s s o que a Ieitura CI(urtatts) se nos afigura a mais plausivel (Alvarez Martinez, 1971, p. 260; Farla, 1998, p. 163). A Malaca e a Italrca, a duas cidades pr~vilegiadas que, segundo Saquece, sHo inequivocarnente deslgnadas par ciuita~es na epigrafia (p. 85, n. 2833, h a que adicionar Ementa e Dertosa (Wiegels, 1985, p. 110, n. 6).

E verdadcque hsirnocdas de P. Carisio queacestam o cargndeIeg.propr. {p. 108); no cncanto, consldesando qwe se conhecem outras rnocdas, cunhadas depois deJuIhcl de 23 a.C., que qr~alrficam

P. Cari~io como leg. Ragam (BNC I, p. 165-166) t de admitir que Carisio tenha sidu leg. Aug pro

pr. (AlfoEdy, 1969, p. 9-10; Volk, 1997, p. 66).

Desconhecemos os motivos que esczo na bascda reconsritui~50 do nome do hornenageado na inscriq5o AE 1966, 177 {L. Pomponbs M Capto) (p. 11G), porquanto o quc sobrc ele se pode lerna foto daditaepfgrafe rcproduzidaporCruz(1986, p. 11 8, Fig. 2) e ~sto: IPONIO [JJAPITONI. De resto, a transcriq50 que deste texto I! fornecida no apPndice (p. 171, v. tarnbtm p. 132, n. 5 15) esta cheia de incompreensiveis incorrecqfies, ~gualrnente reproduz~das nuln recente trabalho do Prof. Caballos RuFino (1998, p. 224-2251, Alim de n i o Ter segura a identifica~iio do Paomen, que poderi ~ e r Aponius (Garcia, 199 1, p. 432), talnbtm niio e s d garanrida a mcnqiio ;l coionia Augusta

Emerita, dada a ~rovavcl presenqa de urn I depois de CQL AVG (lrnha 5). Tal c~rcunstbncia levou a que fossem apresentadas dvas propostas para o nomc da cidade cm causa: colonrd Augk~~st~~ Iuka Emerita (Cruz, 1986, p. 1 16, 1 19) e ~ 0 h l s i d Augusta luha Scaliabir (Garcia, 199 1, p. 493; HEp 4, 1994,

1084, Edmondson, 1997, p. 102, n. 5 1). Saquete escrcvc, aprophsito dapraefecturd Cderans, gue, quando num dcrerrnrnado ana era

oferecido ao imperador ou a algum membro da sua familia o cargo dc duunviro honoraria, era

nomeado urnpraefectcs Caesdris, que exercer~a sozinho as funqdes de duunviro (p. 126- 127). Ora,

este fenomeno es t i ates cado apenas duas vezes ances da chamada LexFIatkra Munznpalrs: a prlrncira na polemica emisszo rnoneraria RPC 1 483 e a segunda no ano em que Caligula For subsc~tuido por urn prefeito andrnimo em Noua Karthago (RPC I 182-184) (Menclla, 1989, p. 386); trata-se, pols, de apenas umpraefectus tpotlas, e n50 de dois (Menella, 1989, p. 38 1). Geralrnenre, quando aquele cargo esta presence em emissbes monetarias hispinicas, o norne do respectivo detentor P sempreacornpanhado pelo de outro prefeito ou ent i io pelo de urn duunviro ord~narro. Por outro laclo, os 6nicos casos conhecidos naPeninsulaIbericaem quese verificou o exercicio do duunvirato por urn rnaglstrado ordinario associado a urn duunviro honoririo, sem que tcnha havido lugar a norneagso de urn prefeiro, regiscaram-se em Noaa Karthago corn Cn. Atelisus Pontz( ...) e Juba I1 da MauritAnia (RPC I 1691, e corn C. heti i ius Apalus e PcoIemeu, filho de Juba I1 (RPC I 172- 173). Cremos, porcanto, que esces dois casos niio devern passar de excepcdes a regsa, que consistiria na nomeaq5o de urn prefeito quando aIgukm era convidado a exercer o duunvirato honorifico. Alim disso, n5o 6 possivel saber se norrnalmente erarn designados urn ou dois prefei tos quando o duunvirato eraexercido por dois membros da familiaimperial. Porim, o segundo caso enconrra- -se testernunhado numa emisszo monetiria de Noult Kartbago, m a qua1 os duunviros quinquenais honoririos Augusto e Agripa s20 substituidos respcctivamente por L. Bennius e por Q. V~dritcr Htberus (RPC I 162-165) (Faria, 1993b, p. 137). Parece ser rambkm este o caso dos prdeficti

rnencionados em AE, 1952, 116 (p. 126 e n. 46). Ficam por aqui os nossos comendrios a urna obra que, importa reconhecP-Io, constirui urn

importance avanqo no escudo de uma cidade que, cerca de urna dCcada depois da sua funda@o, viria a cornar-se a capital da Zusitznia.

Page 5: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·

,!Lf:OLIII', (;. (1'169) - k i o t+lrpa~rrcrjrcj rcn,rronrrlr Kr r~hrC~mtr rend Ofjiurw rbr L~II rpdn~r~htv~ 1'rtwtn:m (trr rnmrrchcn Krtchrs r.un rl,rg~et<ui bt.

U~ukl~~rcrn rS'rcsl>.~dcn: Srrlncr.

r i~Vri luG! ,ZI/I~~T~NEZ,J. hl. (11171) - El gctjlr? d t 1.1 Colnn1.1 Aul:u?ra Emrrrm. H.II.I~. Scv~lla. 2 , p 257.26 l

~LVI\RC% S ~ E N ~ . Df: RURCJACiA. [ i 1 676) . 1.3 fi~ndac tbn dc MPr~da. In ~ lupg r~ r t',rrcnls: AI.?<I$ r$($ ifntpr7r10 mtcrrs~ron~f ~~~~~~ITIII~JII'I~O ,ir.l

hf>nrlcrmnor/r hlenda (Ih-25 C h~or~rrnabr~rlr. 19-5). hladr~d- blu~irsrtrlo dr. tducac~on y C~rnrra. p. 19.13

11!VC I = T,lr\lCl>. 1.- W. ( 1976) - ll,bbotlibqrrc :Clrronrtlr* (hr~lngrtr ik; monndrcr dr. I ' l : rq? r r t , mntarn 1, Atq~rrstc l'ar~s I51L>l~otl1hqrrc Nnrrni~.~

CAR,\L.L.OS IIUI'INU. A. (1998) - [.OF cclu~tch y In r(~namica rnunls~pal dc 1.1 LLI\I[.I~~I~ 111 HFRNANI>L:Z GL'ERRA, L., SACrRt:! )<I S:\N

EIJST,\QLIIO, L.. eds. - F l pmcrprrr rlL, rrrsnrr~~prl~arcrrin r.n IJ tirrpnw rnlntlan r-r~ntnh~trrnnerpar.~ rrr rrtudtu \'.rllxdnlid. Cir~~rrr<ldari. p Ill.?-? U

CfiNTC7. :I bI ' (I'JKI?) - Colonw Irrlrlr ;l~<ptctfi Ernrnr.?. Conr~derarlone> en rc1rnn .I su iundac~lin y tcrra1orrr.l. Gcnnn ht~dl-1t3 7. (1 I-1'2-2115

(::\NTO, ,.\. hi .' ( 19911) - Ims [re> F~1n~laciru1e< rlr ilii,yrrr~.i l:'mrrrtx~ I n {'I< [L.Lhd ICH. W' ; %:\NKCH. I>.. eds. - SludtbrM lrnd ldt,or'np~~*. I la,

,Ll~~r~~ft~~c~~tf~tltj~~~n~n.~ t?rsp~n~ir/vp- .$l~rdlr* :JI~~TL/IL.?I I<cf,~f b/!i! t ~nd K.II~CT:L,II A'IJ~/O~~~IAII?? I~I hfadr~d rPovr ? 9. bfj 23 Okrc~bcr- 1 V 4 V hltr n ~ - ! i ~ ~ i l3,1! c! ! ~ ~ I ~ ~ I I

AkaJcniic dcr \V~ssrnsctialrczr, p 18'1 I'lCr

(:I lASl :lGNC7L, A. ( 1995) - Ed rn>nltrnr d lrdnrtt ldtln L.yon-I'ari~ [)c I%oriard

CI IRIS-TOL, h.I.: HEIJMANS, M. (1992) - Lcs colutlrr.i 1;lr~nrs dc Narlronn.i~re un nourt-au docurrirlir il'Arlr5 nlmrronnanr [a (:ulonru. t n b ~

Acrpiw Al~nnm. Gullrd. PR~LS. 49, p 37-44

CRU%. A1 43.; 1) C i . rla (1986) - A prr lp~lr i tu dc 11111.1 111~cril;itl h01101it;i.l do X I L L ~ ~ U Sat l r~r i l i l Arqllcnlogd. I'ortn. 14, p 115-1 !. 1

EVE[,, C . ( 1984) - Southcrn Gaul ~n t l l r trrrrmvrml pr.t-~od. a cnrtcnl ' r 3 ~ o f r~vn~ni /ar ton, A~n~r~canJnrrrn~rl ofl%floln~p. B.~lrinlurt. 10'1 1

1, 571 5'10.

Cr)Xi(INI)';<IS, J . (1997) - i - 5 ~ 0 dtd~car~uns rc, I l r r , r ~ i -4ri~11llrrrrr and llsru ,l~r,t~r;!.r t iom T\LESLISIS F~nrr l ra and t h e ~.arlv Jcvclnpr~icr~r h~Frl~,, 111ipcri.il

culr i r j IL l~r~ran~z re-exarn~r~cd. !Ih~(lnrlcr d!,tt,~~/or~~~~.n Xl.un/. 38, p 3')- I lli.

c f ' l t : ~ ~ ~ , R , &T,.\Yf<T, 1 ( 1 9 8 4 . 1.2 ci~t,c~u~iin.ir~<~tn .inrlqllt. 'it. hli,t,icia 1 f g i ~ r z r . ~ l ' t~ r t~ , N<~rri~!r~? tb\r~-.~c>rd~tiirit,: c t ~ l r c t i n c ~ ~ <it> c ~ r t ~ ~ ~ c ~ \ C,II,

11~1111~.113p~ni a L). C)orclingoc rtc I'lnhu 1lr.trld.in. 11 15'1-1-2

tT;\Rlh :\ \1 dc. (1989) - S R ~ I . ~ a data ria TIIII<I,I(~~> dl' /?I* lu11,~ C'nn~n~l~r-rq~ ( rr1nrlr.1. 28, 11. 10.3- 10'1

F;\Rl,1, ,\. >.I d c ( 1992) - C~dndcs c rnur-d.ir l i~ipanc~-n~m.rn:b~ .~iior~r,ir, .I 1isrn.111 I'lr,,,~nr-~dl Co~nrr,~? I .Arqrrt.olr~~~r.~ I'rwlo ??, r p 3 i- 5-

F:\UI.\. ,-\. hl. Jc (1993a) . (Recrnsir> a( X!,\R~,Y 11i7i%, Sf :\ (IQF8) . F8n1~r~~rrttn. rnlonr:,rcrt>n~ rrrrttrrctp.rbsnsorr rn (4 I-1riprnr.t ,r:(ml*/~<-.rt~,r. <;:-.~:i.t,!.~

Unr\ccr.iidad, 1988, 26R p ~'~{~~larcrl. ,\I]t~~rrcI. 2, p 13 I- 136

FARIA, A {dc (19931)) - [Reccnsirr a ] CCIR(:HIN, Lcvrlard A. Thr Local hlag~srrares of Roman Spain (I'hocn~x, Supplen>c~.trnrr- m>lunir.. ?HI.

Tnrontu: Urrevcrsi~ ofTo1-onru Prcss, 1990, 275 p I'rpdjc~l XIj~~srrcI. 2. p 136- 140.

FAIIIA. h. .\I. dc (1993~) . [Recendn a] HI IUNEIT :\ , A&I,\NDI<l'. XI.; f l l l 'C I~L i~5, 1'. 1' (1992) . llor>rrn I1rnr~f,ar~rr/ C~rns,fr: 1 R n u ~ tl-r. I)c~.rrh of

C~PLITIO fhr Drurh~f !-'rtrl/iu~ (44 BC-An f ig ) . Lonrlun-l'.~rts: B r - i r~~h ~~IUSCIIIII F'I.CSF - R~hl~nrhequc Natronalc. VI{IU~C,I A l l ~ ~ s r t ~ l 1. p. I 10-1 -I(>

t'hKIA, A. M dc (1997) - De nwo crrr rovnn da Filnda~%o dc Pux Itrlra- urn cxcrcicio dc -rontrovcrslsrno- l'tp~pjrcd. Aljtrsrrcl. 6. p I ? I. 18.;.

FARIA. A. M de (1998) - AIgumas qrlcsrhe7 s m torrlo da fiindaqlo dc A16gusCd Gnmrd. Rersista IJortwgr~erd d~'Arqrreolo,~lr. Lisboa. I. I. p. 16 1 - 16'

GRLSTERER-KROLL, B. (1975) - Zu den spanischcn Sr.idrrl~sten dcs Pl~nius. Arrhrin ~spdno/deArqrrro!~k. Madr~d. 48, p. 120 128.

GARC[A, J. M. ( 199 1) - RcltgGc~ untipr dr. l~urt,i~al: udrt~rt~~mmi c o&cn,~rcdn $3 "Kr l t~~&r du Luotrinm " dt. J. LrrEe rh Vurconcrlni. I.tsbo.i I rnprcns.1

Nacionnl - Casa da Mocda.

GASCOU,). ( I 990) - Le sratur d'Avignnn d'aprks lln prErendu faux i.pigr.zpltiqtte dr In cite <Ape (Vauclusc). R~rzue Archeolo,q~qr~~~dc ~~\~arbomm,rtfi~

Monrpc[ltcr. 23. p. 225-23.3.

(;ONZAI.FZ ROMAN, C. (199 I ] . Las colunlas rotrlnnas dr la Hispania rnend~nnal en sus srpcctos socio-jurid~cos. In G~h'%,i[.l '% R(I&I;~N. C . ~ d . - Lrr Dr;trra m ru ph lem i~ i ca hrsstincu. Granad.1: Un~versldad, p. R 7 - I 10.

GRANT. M. (19692) - Fmm impenurn to aucroriras. Carnhridgc: Ca~nbridgr University Press.

HEp = {Hispanid Epipphtcd. Madrid.

KEI'PIE, L. (1983) - Colonisufionandt.ekmn satrlemcnrrn IraLv 47-14 8.C London: Hritirh School ar Rome.

LE GL4Y, M. (1985) - Les premiers temps dc Carrhag rornainc. pour r l~ ic rkvis~on des dates. Bellrrin ArchPolo~iqncdu CTH.5. I'ans. Nnur- Skr~e.

I 9 R (I I~sroirc er Archtologie dc I'Artiqlur ~ I I Nord. II' Collnquc Inr~rnarional. Circnobte, 5-9 avril, 1983). p. 235-248.

LE ROUX, P. (1995) - L'Pniigration i tal iq~le en CirCricurc cr Ltrsirani? ji~squ'i la rnort de NCron. In BELTMN LLORIS, F.. ed. - CnIoqnm sobr-r

h m n y clnacimientode L culhru epigdfica cn (kcrdmtr- ( 4 a 6dc nosicnrbn-de 1992]. Zaragou: Insriruc~dn "Femaeldo el Car6llcn". p. 85-95,

MACKIE, N. K. (1983) - Augustan colonies in Maurccanid. Hirtoru. W~esbaden. 39.3. p. 332-358.

XIANTAS, V. G. (1993) - As hnda~dcs colontais no rcrrirbrio porcugues nos Finair da Rcpilblica c itiicios dn Irnpirio. I n Actas do 11 Con'~rc!jo

R.ninmlur dc Hirtdna Anti'ya (Cormbra, 18 a 20 01rtuhr0 dc 1990), (Inirnbra: Uni\,crsidadc, p. 467-5n0.

MANTAS. V. C. (I99ha) - Teledccccqio, ridade e tcrrirbrro: I"'u Iulru. Arquirn de BBcja. Bela. Serlr 3. 1. p. 5-30.

MANTAS, 'r' 6. (199Gb) - Em corno do problema da fundayio e estaturo de Pax Iulia. Arqui~vdeReja. Beja. Sene 3 2-3, p. 41-62

MANTAS, V Ci. (1948) - Colonizaq3o e aculturaqio 110 Alrntejo romano. A ~ a r v o dc Brjcr. Sirie 3. 74 , p. 33-61.

hlENEI.M, G (1989) - I pwfcrri mtrnicipali dcgli tn~perarori c dci ccsan n r i b Spagna romana I n CASTILLO. C let d.1, cds. - A c f a dr/Coloqs,n

Inrmracionul A.1.EG.L sobrc novrduder de cpipfilr ~undidlc~t mrnrana en e l riltrmo hcenro. Pamplona: Universldad de Navarra. p. 377.389,

RIVm, A. L F. (1988) - GalIra NarbDncnsisrrouthrm Fmncp In Knmn times. London: Earsford.

ROI3nAZ.J. M. (1990) - Agrippa e t la peninsulc !bi.rlque. [ n IIbimrNmanuB A,pppc. Cenwa: Unrver~ita. p. 57-81.

Page 6: Recensão bibliográfica: SAQUETE CHAMIZO, José Carlos … ·