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  • 7/31/2019 Transporte molecular_Resumo

    1/7

    Fenomenos de Transferencia I

    Jos Paulo Mota c 20112012, V. 1.0

    Contedo

    1 Transporte molecular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

    2 Exerccio 2.4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    1 Transporte molecular

    Pode demonstrar-se que os mecanismos de transferncia de matria, de quantidade de movi-

    mento, e de energia interna, devido presena de um gradiente espacial dessa propriedade,

    so anlogos. Desta analogia, resulta uma equao caracterstica para transporte difusivo de

    qualquer uma dessas propriedades moleculares:

    = , (1)

    em que o fluxo da propriedade representa a velocidade de transferncia dessa proprie-

    dade por unidade de rea, o coeficiente de difusividade da propriedade , e representa

    o respectivo gradiente de concentrao. A eq. (1) diz-nos que o fluxo difusivo diretamente

    proporcional ao oposto do gradiente de concentrao da propriedade.

    Convm notar que, no caso mais geral, tanto como representam quantidades vectoriais.

    Por exemplo, em coordenadas cartesianas (x,y, x), a eq. (1) escreve-se da seguinte forma:

    =

    xex +

    yey +

    zez

    , (2)

    em que ex, ey, e ez so os trs vectores unitrios segundo os trs eixos de coordenadas cartesia-

    nas. O fluxo tem, por isso, trs componentes: = xex + yey + zez, em que

    x =

    x , y =

    y , z =

    z . (3)

    Se a equao de transporte molecular for aplicada a uma quantidade infinitesimal de massa

    (ou de nmero de moles) de um componente A, obtm-se

    JA = DcA, (4)

    em que JA o fluxo difusional (quantidade por unidade de rea e por unidade de tempo, e.g.,

    molm2s1) do componente A, D o coeficiente de difusividade molecular (e.g., m2/s), e cA

    a concentrao do componente A (e.g., mol/m3).

    3A.1

  • 7/31/2019 Transporte molecular_Resumo

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    Fenomenos de Transferencia I

    Para um gs ideal, a relao entre energia interna, U, e a temperature, T, simplesmente

    dU = mCVdT, em que CV a capacidade calorfica a volume constante e m a massa do

    sistema; para um lquido ou slido, CP CV. Se a relao for expressa por unidade de massa,

    tem-se du = CVdT. A equao de transporte difusivo de u pode escrever-se da seguinte forma:

    q = CPT = kT, (5)

    em que o coeficiente de difusividade trmica (e.g., m2/s), a massa volmica do material

    (kg/m3) ou do fludo, e k (e.g., Jm2s1) a condutividade trmica do material ou do fludo.

    O transporte difusivo de quantidade de movimento um pouco mais complicado. Primeiro,

    relembremos que a quantidade de movimento, v, uma grandeza vectorial. Em coordenadas

    cartesianas, ter-se-

    v = (vxex + vyey + vzez), (6)

    em que v = vxex +vyey +vzez o vector velocidade do fludo e vx, vy e vz so as trs componentes

    do vector velocidade.

    Consideremos uma das componentes do vector velocidade, por exemplo, a componente vz

    segundo a coordenada z. Ento, a equao anloga eq. (1) escreve-se

    z = N(vz) vz, (7)

    em que z a tenso de corte no fludo (fluxo da componente z do vector quantidade de mo-

    vimento), N o coeficiente de difusividade de quantidade de movimento (e.g., m2/s), e a

    viscosidade do fludo (e.g., kgm1s1).

    3A.2

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    Fenomenos de Transferencia I

    2 Exerccio 2.4

    Enunciado

    Um leo flui laminarmente num tubo com dimetro interno de 1.27 cm e um caudal de 4 .55

    104 m3s1. Sendo = 300 cP e a densidade de 959.8 kg/m3, calcular:

    a) A queda de presso por metro de comprimento de tubo.

    b) A tenso de corte nas paredes.

    c) A velocidade no eixo do tubo.

    d) A posio radial do ponto no qual a velocidade igual velocidade mdia.

    Resoluo

    O sistema de coordenadas cartesianas, (x,y,z), no o sistema de coordenadas mais conveni-

    ente para descrever a geometria de um tubo cilndrico. As coordenadas mais adequadas para

    descrever esta geometria so as coordenadas cilndricas: (x, r, ), onde x a coordenada axial, r

    a coordenada radial e a coordenada angular. Este sistema de coordenadas est representado

    na Fig. 1.

    O leo suposto ser incompressvel (quero com isto dizer que a sua densidade ou massa

    volmica so independentes da variao de presso ao longo do tubo). Ns estamos interessa-

    dos no que se passa em estado estacionrio longe da extremidade de entrada do tubo. Nessas

    condies o escoamento est completamente desenvolvido: as componentes radial e angular do

    x

    y

    z

    r

    e

    er

    ex

    Figura 1: Sistema de coordenadas cilndricas (x, r, ).

    3A.3

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    Fenomenos de Transferencia I

    vector velocidade so nulas (vr = 0, v = 0),1 pelo que v = (vx, 0, 0), e a componente vx no

    varia com a posio axial, isto , (vx/x) = 0.

    J sabemos que na parede do tubo se impe a condio fronteira de aderncia ou de no

    deslizamento do fludo: a componente do vector velocidade tangencial parede do tubo nula.2

    No caso em estudo, a componente tangencial parede do tubo vx; por isso, tem-se:

    vx = 0 para r= R. (8)

    No centro do tubo tem-se uma condio fronteira que se diz ser de simetria:

    dvx

    dr= 0 para r= 0. (9)

    Para um iniciado em mecnica dos fludos esta condio pode no ser intuitiva; ela pode serderivada da seguinte relao a que vx obedece no interior do tubo:

    vx(r) = vx(r). (10)

    Esta relao bvia.

    Para determinar o perfil de velocidade, isto , vx(r), necessrio aplicar o balano de quan-

    tidade de movimento (relembrar que a quantidade de movimento, v, um vector) na direco

    em que o vector velocidade no nulo (direco axial). O balano de quantidade de movimento

    no mais do que a aplicao da segunda lei de Newton: a taxa de variao temporal da quan-

    tidade de movimento de um corpo (ou seja, a sua acelerao) igual soma das foras que

    actuam sobre ele.

    Como a coordenada irrelevante para o problema (vx no varia com ), o volume de

    controlo sobre o qual se faz o balano de quantidade de movimento um anel como o que est

    representado na Fig. 2.

    As reas das duas seces rectas do anel (coroas circulares) so A|x = A|x+x = 2rr; a rea

    da parede interna do anel A|r = (2rx)|r; a rea da parede externa A|r+r = (2rx)|r+r; o

    volume do anel V = 2rrx.

    1A componente vr nula porque o fludo suposto ser incompressvel e ocupar todo o espao do tubo; a

    componente v pode, no entanto, no ser nula junto da entrada do tubo se o escoamento entrar com rotao.

    2Junto a uma superfcie impermevel aplicam-se sempre duas condies fronteira: (i) a componente do vector

    velocidade perpendicular superfcie nula, seno o fludo atravessaria a superfcie; (ii) a componente tangencial

    do vector velocidade nula devido aderncia do fludo. No caso em estudo, a componente perpendicular parede,

    vr, nula em todo o domnio e, por isso, pode ser eliminada do problema.

    3A.4

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    Fenomenos de Transferencia I

    Figura 2: Volume de controlo para escoamento num tubo cilndrico.

    O balano de quantidade de movimento segundo x no volume V

    soma das foras que

    actuam segundo x no

    anel de volume V

    =

    taxa de quantidade de

    movimento segundo x que

    entra na face lateral A|x

    taxa de quantidade de

    movimento segundo x que

    sai na face lateral A|x+x

    (11)

    A presso, P, a fora (por unidade de rea) que actua nas faces A|x e A|x+x; a tenso de

    corte, rx , a fora (por unidade de rea) que actua na faces A|r e A|r+r. A soma das foras que

    actuam sobre o volume V ser ento

    Fx= (P|

    xA|

    x) (P|

    x+xA|

    x+x) + (

    rx|rA|

    r) (

    rx|r+r

    A|r+r

    ), (12)

    Fx = [P(2rr)]|x [P(2rr)]|x+x + [rx (2rx)]|r [rx (2rx)]|r+r. (13)

    A taxa de variao de quantidade de movimento, dada pelo lado direito da igualdade na

    equao (11),

    [(vx)(2rr vx)]|x+x [(vx)(2rr vx)]|x. (14)

    Mas este termo nulo porque vx|x+x = vx|x devido suposio inicial de escoamento comple-

    tamente desenvolvido (dvx/dx = 0).

    Substituindo a equao (13) na equao (11) e dividindo todos os termos por 2rx obtm-

    se:

    rP|x+x P|x

    x+

    (rrx )|r+r (rrx )|r

    r= 0. (15)

    Calculando esta expresso no limite em que o volume do anel se aproxima de um tamanho

    diferencial, isto , no limite em que x e r se aproximam de zero, obtm-se

    rdP

    dx+

    d

    dr(rrx ) = 0. (16)

    3A.5

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    Fenomenos de Transferencia I

    Reparar que a presso uma funo s de x e que a tenso de corte uma funo s de r; por

    isso, as derivadas na equao anterior so derivadas totais e no parciais. Na regio do tubo onde

    o escoamento est completamente desenvolvido, o gradiente de presso, dP/dx, constante.

    Para escoamento laminar de um fludo newtoniano tem-se

    rx =

    dvx

    dr

    . (17)

    Substituindo esta expresso na equao (16) obtm-se

    r

    dP

    dx

    =

    d

    dr

    r

    dvx

    dr

    dP

    dx

    r dr= d

    r

    dvx

    dr

    . (18)

    A equao anterior pode ser integrada desde r= 0, onde dvx/dr= 0, at um valor de rarbitrrio;

    o resultado

    dP

    dx

    0

    r dr=

    0

    d

    r

    dvx

    dr

    dP

    dx

    r2

    2=

    r

    dvx

    dr

    dP

    dx

    r

    2=

    dvx

    dr

    . (19)

    A equao anterior pode ser rearranjada e integrada desde um valor arbitrrio de r at r = R

    onde vx = 0:dP

    dx

    Rr

    r

    2dr=

    0vx

    dvx

    dP

    dx

    R2 r2

    4= vx vx =

    dP

    dx

    R2

    4

    [1

    (r

    R

    )2]. (20)

    A equao (20) indica que o perfil de velocidade, vx(r), parablico e que a velocidademxima atingida no centro do tubo onde r= 0: vmax = vx(0); o valor da velocidade mxima

    vmax =

    dP

    dx

    R2

    4. (21)

    A substituio desta expresso na equao (20) permite exprimir o perfil de velocidade, vx(r),

    em funo de vmax:

    vx = vmax

    [1

    (r

    R

    )2]. (22)

    O caudal volumtrico, Q, igual ao produto da velocidade mdia no tubo, vx, e da rea, A,

    da seco recta do tubo: Q = Avx. Mas Q tambm igual ao integral da velocidade local sobre

    a seco recta do tubo, isto

    Q =

    A

    vx dA ou vx =1

    A

    A

    vx dA =1

    R2

    R0

    vx 2r dr. (23)

    Substituindo na equao anterior a expresso de vx dada pela equao (21), obtm-se

    vx =

    2vmax

    R2R

    0

    [1

    ( rR)2]

    r dr=

    2vmax

    R2[r2

    2

    r4

    4R2]

    R

    0=

    vmax

    2 . (24)

    3A.6

  • 7/31/2019 Transporte molecular_Resumo

    7/7

    Fenomenos de Transferencia I

    Portanto, para escoamento laminar a velocidade mdia do fludo igual a metade do valor

    mximo do perfil de velocidade no interior do tubo.

    O resultado anterior permite exprimir a queda de presso, (dP/dx), em funo do caudal

    volumtrico; para isso basta ter em conta as equaes (21) e (24):

    dP

    dx

    =

    4vmax

    R2=

    8vx

    R2=

    8

    R4Q =

    128

    D4Q, (25)

    onde D = 2R o dimetro do tubo.

    Agora j podemos responder diversas alneas do problema.

    Resposta alnea (a). A viscosidade do fludo em unidades SI = 300 cP = 300

    103 Pa s = 0.3 Pa s. A queda de presso por metro de comprimento de tubo ser

    dPdx

    = (128)(0.3 Pa s)(4.55 10

    4 m3/s)()(0.0127 m)4

    = 213785 Pa/m = 2.14 bar/m.

    Resposta alnea (b). Das equaes (17) e (19), obtm-se

    (rx )|r=R =

    dvx

    dr

    r=R

    =

    dP

    dx

    R

    2= (2.14 bar/m)(0.0127/4 m) = 6.79 103 bar.

    Resposta alnea (c). J vimos que a velocidade no eixo do tubo igual velocidade

    mxima, vmax; vimos tambm que vmax = 2vx = 2Q/A. Logo,

    vmax =(2)(4.55 104 m3/s)

    ()(0.0127/2 m)2= 7.184 m/s.

    Resposta alnea (d). Pretende-se r tal que vx(r) = vx. Da equao (21) e sabendo que

    vmax = 2vx, tem-se

    vx(r) = 2vx

    [1

    (r

    R

    )2]

    1

    2= 2

    1

    r

    R

    2 r = R 3/4 = 5.5 103 m.

    3A.7