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1 Título: O consentimento a pagar dos consumidores face à redução do uso de pesticidas na produção de alimentos. Autores: Seabra Pinto, A. (INRB), Combris, P. (INRA), Bazoche, P (INRA), Berjano, M. (INRB), Giraud-Héraud, E. (INRA), Hannus, C. (INRA), Maia, R. (INRB) RESUMO Neste trabalho utilizou-se a metodologia dos mercados experimentais para medir o consentimento a pagar dos consumidores por maçãs e sumos de maçã com certificações que garantem diferentes reduções de uso de pesticidas. Os resultados encontrados mostram que existe um consentimento a pagar dos consumidores por alimentos produzidos com reduzido uso de pesticidas. O conhecimento detalhado deste consentimento a pagar é essencial na definição e no sucesso de implementação de políticas ambientais. Palavras-chave: consentimento a pagar dos consumidores, pesticidas, mercados experimentais, mecanismo BDM, certificação. 1. INTRODUÇÃO Os consumidores actuais estão mais sensíveis aos riscos associados à utilização de pesticidas na agricultura. Preocupações ligadas a questões ambientais e de saúde humana têm suscitado alterações no comportamento dos consumidores. O consumidor individual tem que escolher entre uma utilidade associada aos atributos organolépticos e de produto, uma utilidade ligada a um comportamento “ambiental” e uma utilidade relacionada com uma alimentação saudável. Desde os anos noventa que investigadores como Hammitt (1990), Huang, (1993), Buzby et al. (1998), Loureiro et al. (2002) e Chalak et al. (2010), procuram conhecer como os consumidores avaliam economicamente o risco associado ao uso de pesticidas. Estes trabalhos utilizam os métodos declarativos para avaliar as preferências dos consumidores e medir o respectivo consentimento a pagar. Outros trabalhos, como os de Roosen et al. (1998), de Rozan et al. (2004) e de Combris et al.

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Título: O consentimento a pagar dos consumidores face à redução do uso de pesticidas na produção de alimentos. Autores: Seabra Pinto, A. (INRB), Combris, P. (INRA), Bazoche, P (INRA), Berjano, M. (INRB), Giraud-Héraud, E. (INRA), Hannus, C. (INRA), Maia, R. (INRB)

RESUMO

Neste trabalho utilizou-se a metodologia dos mercados experimentais para medir o

consentimento a pagar dos consumidores por maçãs e sumos de maçã com

certificações que garantem diferentes reduções de uso de pesticidas. Os resultados

encontrados mostram que existe um consentimento a pagar dos consumidores por

alimentos produzidos com reduzido uso de pesticidas. O conhecimento detalhado

deste consentimento a pagar é essencial na definição e no sucesso de implementação

de políticas ambientais.

Palavras-chave: consentimento a pagar dos consumidores, pesticidas, mercados

experimentais, mecanismo BDM, certificação.

1. INTRODUÇÃO

Os consumidores actuais estão mais sensíveis aos riscos associados à utilização

de pesticidas na agricultura. Preocupações ligadas a questões ambientais e de saúde

humana têm suscitado alterações no comportamento dos consumidores. O

consumidor individual tem que escolher entre uma utilidade associada aos atributos

organolépticos e de produto, uma utilidade ligada a um comportamento “ambiental” e

uma utilidade relacionada com uma alimentação saudável.

Desde os anos noventa que investigadores como Hammitt (1990), Huang,

(1993), Buzby et al. (1998), Loureiro et al. (2002) e Chalak et al. (2010), procuram

conhecer como os consumidores avaliam economicamente o risco associado ao uso de

pesticidas. Estes trabalhos utilizam os métodos declarativos para avaliar as

preferências dos consumidores e medir o respectivo consentimento a pagar. Outros

trabalhos, como os de Roosen et al. (1998), de Rozan et al. (2004) e de Combris et al.

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(2010), utilizam a economia experimental para avaliar o consentimento a pagar dos

consumidores por alimentos com características ambientais.

Neste trabalho, desenvolveram-se mercados experimentais com o objectivo de

medir o consentimento a pagar dos consumidores por alimentos produzidos com uso

reduzido de pesticidas. No respectivo desenho experimental colocou-se em avaliação

maçãs e sumos de maçã com certificações que garantem diferentes níveis de uso de

pesticidas. Desta forma, as experiências permitiram avaliar o impacto da informação

relativa à utilização de pesticidas na produção daqueles alimentos frescos e

processados.

Para perceber se os diferentes comportamentos dos consumidores são

dependentes da localização geográfica, os participantes das experiências foram

recrutados ao acaso da população portuguesa e francesa.

Os resultados encontrados nos dois países mostram que existe um

consentimento a pagar dos consumidores por produtos produzidos com redução do

uso de pesticidas. O conhecimento detalhado deste consentimento a pagar dos

consumidores é essencial na definição e no sucesso de implementação de políticas

ambientais.

2. CONSENTIMENTO A PAGAR E AVALIAÇÃO DOS RISCOS DOS PESTICIDAS

A literatura sobre a avaliação económica dos riscos ligados à aplicação de

pesticidas cresceu bastante nas duas últimas décadas. O consentimento a pagar

identificado neste tipo de literatura liga-se, sobretudo, aos riscos de uso de pesticidas

para a saúde humana e/ou aos riscos causados nos sistemas agro-ambientais (Travisi

et al., 2006). Neste tipo de estudos, os consumidores são normalmente chamados a

responder a um inquérito cujo objectivo é valorizar as características ambientais dos

produtos alimentares. As metodologias mais utilizadas para avaliar o referido

consentimento a pagar enquadram-se nos conhecidos métodos das preferências

declaradas. A maioria destes trabalhos procura estudar os riscos associados à relação

que se estabelece entre a presença de resíduos de pesticidas nos alimentos (segurança

alimentar) e a saúde humana, em países onde as políticas de segurança alimentar são

prioritárias.

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Hammitt (1990), Misra, Huang & Ott (1991), Huang (1993), Eom (1994) e

Horowitz (1994) foram os primeiros autores a utilizar as metodologias das preferências

declaradas para avaliar a percepção dos consumidores face aos riscos ligados ao uso

de pesticidas.

O trabalho de Hammitt (1990) teve com objectivo estudar o comportamento

dos consumidores perante a redução de uso de pesticidas, tendo colocado em

comparação alimentos biológicos (sem pesticidas) e alimentos convencionais. Nas

discussões dos “focus-group” e através da realização de um inquérito, procurou

mostrar que os consumidores que adquirem produtos biológicos consideram que estes

produtos têm menos riscos que os respectivos produtos convencionais e revelam que

estão dispostos a pagar mais por eles.

Outros autores, tais como o Misra, Huang and Ott (1991), utilizaram a

informação obtida a partir de um inquérito para analisar as preferências dos

consumidores por alimentos frescos testados e certificados como não tendo resíduos

de pesticidas. Verificaram que a maior parte dos consumidores inquiridos preferem

produtos certificados sem resíduos de pesticidas, mas manifestam uma certa

resistência a pagarem preços mais elevados por esses produtos. Após este trabalho,

Huang (1993) procurou estudar a relação que se estabelece entre percepção do risco,

atitude e comportamento do consumidor. No inquérito realizado com o objectivo de

encontrar respostas para a relação que se estabelece entre as três variáveis em

estudo, o autor procurou, entre outras, relacionar os riscos de uso de pesticidas, a

atitude face aos pesticidas químicos e o consentimento a pagar por alimentos sem

resíduos de pesticidas. Os resultados mostraram que a percepção do risco tem um

efeito significativo e positivo na atitude face ao uso de pesticidas, que por sua vez

influencia o consentimento a pagar por alimentos sem resíduos de pesticidas.

Eom (1994) estudou as preferências declaradas pelos consumidores relativas

aos riscos causados pelos resíduos de pesticidas na saúde humana. O autor

desenvolveu uma estrutura metodológica na qual integrou a percepção dos riscos dos

consumidores e a metodologia das preferências declaradas, sendo as decisões dos

consumidores tomadas num ambiente de informação incompleta. Os resultados

empíricos mostraram que as preferências declaradas pelos consumidores por

alimentos mais seguros eram primeiramente influenciadas pelas diferenças de preços

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e pela percepção dos riscos, mas o mesmo já não se verificava quando a informação

técnica era analisada isoladamente. A relação entre preço e riscos revelou acréscimos

de preços elevados para pequenas reduções de riscos e pouca variação nos acréscimos

de preços entre reduções de risco alternativas.

O trabalho de Horowitz (1994) teve por objectivo a análise das preferências dos

consumidores por sistemas de regulação do uso de pesticidas. Através dos resultados

obtidos por inquérito, o autor mostrou que existe uma distinta preferência por uma

regulação do uso de pesticidas em alternativa ao cenário no qual era proposto uma

redução dos riscos ligados ao uso dos pesticidas.

Estudos como os de Mourato et al. (2000) e Schou et al. (2002) usaram os

métodos das preferências declaradas para estudar, em simultâneo, os efeitos dos

pesticidas na saúde humana e no ambiente.

Mourato, Ozdemiroglu & Foster (2000) consideraram que a importância

relativa destes dois efeitos é determinada pela disposição a pagar dos indivíduos para

evitar o aparecimento de uma doença e de um determinado dano na natureza. Os

resultados mostraram que os consumidores estavam dispostos a pagar mais por um

alimento “amigo do ambiente” e que as diferentes valorizações encontradas

permitiram definir diferentes taxas com base nos tipos de produto em análise.

Mais recentemente, Chalak, Balcombe, Bailey & Fraser (2008) utilizaram uma

metodologia das preferências declaradas para conhecer as externalidades negativas

associadas ao uso de pesticidas na agricultura. Verificaram que no caso da produção

de cereais, o principal impacto de uma redução de pesticidas é na qualidade do

ambiente; e que na produção de hortofruticolas, essa externalidade negativa surge ao

nível da saúde humana. Os autores converteram os diferentes consentimentos a pagar

em taxas a aplicar ao uso de pesticidas e por tipo de externalidade.

Outras metodologias têm vindo a ser aplicadas à avaliação do consentimento a

pagar dos consumidores pelas características ambientais dos alimentos,

nomeadamente, a metodologia dos mercados experimentais inserida na chamada

economia experimental. O método dos mercados experimentais é um método que se

caracteriza por criar um ambiente de mercado activo que tem por objectivo revelar

quais são os verdadeiros custos de oportunidade dos consumidores no momento de

avaliação dos produtos. Esta avaliação permite obter directamente um conjunto

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heterogéneo de valores de consentimento a pagar que, em teoria, representam o valor

real do produto. Neste tipo de estudos, os indivíduos encontram-se num ambiente

laboratorial, no qual é reproduzida, de uma forma simplificada, uma determinada

situação económica. A possibilidade de definir este tipo de ambiente, permite um

grande controlo das variáveis que poderão influenciar as decisões económicas dos

participantes no estudo.

Os consumidores são incentivados a revelarem os seus valores (ou “preços de

reserva”) através de mecanismos usualmente designados de “mecanismos de incitação

ou revelação”(Vickrey’s second price auction, Becker, DeGroot and Marschak - BDM

mechanism). Estes mecanismos são geralmente utilizados na licitação de valores para

produtos e serviços reais, na avaliação de novos produtos e serviços e são também

usados para licitar as preferências individuais, particularmente, as ligadas ao risco.

A economia experimental tem sido aplicada à avaliação de vários atributos dos

produtos, nomeadamente, aos atributos ligados à segurança alimentar, como a

redução dos riscos dos pesticidas (Roosen et al., 1998; Rozan et al., 2004), às doenças

patogénicas (Hayes et al., 1995), e à utilização da radiação na esterilização dos

alimentos (Shogren et al., 1999).

O trabalho de Roosen, Fox, Hennessy & Schreiber (1998) é pioneiro na

aplicação da metodologia da economia experimental à avaliação do consentimento a

pagar dos consumidores por alimentos sem resíduos de pesticidas. Os autores

adaptaram um desenho experimental criado por Shogren et al. (1994) e desenvolvido

por Melton et al. (1996) à avaliação do consentimento a pagar dos consumidores por

maçãs sujeitas a diferentes tipos de insecticidas. A avaliação dos diferentes tipos de

maçãs foi feita com base no respectivo aspecto exterior e segundo questões de

segurança alimentar ligadas à saúde. Ao longo da sessão, foi transmitida informação

relativa ao processo de produção de cada tipo de maçã e aos riscos associados aos

diferentes tipos de insecticidas utilizados. Os resultados mostraram que o

consentimento a pagar por maçãs produzidas sem insecticidas era significativamente

mais elevados que os atribuídos às maçãs convencionais. Igualmente verificaram que o

aspecto das maçãs tinha um efeito significativo (mas negativo) no consentimento a

pagar dos consumidores.

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Loureiro, McCluskey & Mitthelhammer (2003) utilizaram a metodologia da

economia experimental em conjunto com um inquérito para verificar se os valores de

consentimento a pagar declarados eram reveladores dos verdadeiros comportamentos

de mercado. Os autores pretenderam avaliar o consentimento a pagar por maçãs com

uma certificação ecológica (cuja informação transmite a ausência de resíduos de

pesticidas nos frutos), em comparação com maçãs biológicas e maçãs convencionais.

Os resultados mostraram que os consumidores que declararam pagar mais por aquele

tipo de maçãs foram também os que manifestaram um comportamento de compra

pelas referidas maçãs.

Rozan, Stenger & Willinger (2004) usaram os mercados experimentais para

medir o consentimento a pagar dos consumidores por alimentos certificados com

garantia de controlo de metais pesados em três alimentos (pão, maçãs e batatas). O

objectivo era perceber qual era o impacto da informação relativa ao significado da

certificação e aos aspectos ligados à saúde humana no consentimento a pagar dos

consumidores por estes três produtos. Os autores concluíram que a informação

relativa aos riscos causados na saúde não afecta a avaliação do produto certificado,

mas provoca um decréscimo na avaliação do produto convencional.

O mesmo tipo de conclusão foi encontrado no trabalho desenvolvido por

Bougherara & Combris (2009). Estes autores mediram o consentimento a pagar dos

consumidores por alimentos biológicos através de um mercado experimental no qual o

produto em análise era o sumo de laranja biológico. No desenho da experiência

colocaram em comparação três tipos de sumo: convencional, biológico e “amigo do

ambiente”. A informação transmitida aos consumidores permitiu-lhes conhecer o

significado de “sumo biológico” e “sumo amigo do ambiente”. Os resultados

mostraram que o consentimento a pagar por este dois tipos de sumo era

invariavelmente superior ao atribuído ao sumo convencional. Igualmente verificaram

que a informação transmitida sobre o sumo convencional não teve qualquer efeito na

respectiva avaliação.

Combris, Seabra Pinto, Fragata & Giraud-Héraud (2010) utilizaram a

metodologia dos mercados experimentais para avaliar a importância da informação

veiculada pelos atributos de qualidade da pêra Rocha no consentimento a pagar dos

consumidores. Os autores realizaram uma experiência cujo objectivo foi compreender

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o papel dos sinais de qualidade na transmissão de informação sobre diferentes

atributos de qualidade, nomeadamente da segurança alimentar. Os principais

resultados mostraram que o atributo segurança alimentar influenciou

instantaneamente o consentimento a pagar dos consumidores. Contudo, verificou-se

que o consentimento a pagar do atributo sabor foi superior ao do atributo segurança

alimentar; o sabor foi o atributo mais importante na definição do comportamento de

escolha dos consumidores.

Para concluir, a actual literatura económica está interessada em conhecer a

avaliação dos consumidores por alimentos com baixos ou sem resíduos de pesticidas.

Contudo, os resultados desta literatura mostram que os valores de consentimento a

pagar encontrados são bastantes díspares, tal como é evidenciado nos trabalhos de

Florax et al. (2005) e Travisi et al. (2006). Estes autores referem que são vários os

factores que conduzem à disparidade de valores entre os diferentes estudos: i)

metodologia de recolha de dados; ii) metodologia de avaliação das preferências dos

consumidores; iii) tipo de produtos; e iv) tipo de risco associado aos pesticidas

(segurança e ambiente).

3. OBJECTIVOS

Neste trabalho utilizou-se a metodologia dos mercados experimentais para

medir o consentimento a pagar (CAP) dos consumidores por maçãs e sumos de maçã

certificados segundo diferentes reduções de uso de pesticidas. Definiram-se três tipos

de maçã que se diferenciam segundo o modo de produção e o nível de uso de

pesticidas: i) “convencional” – maçãs produzidas respeitando as legislações nacionais

de aplicação de pesticidas; ii) “protecção integrada” – maçãs produzidas com uma

redução de pesticidas; iii) “biológicas” – maçãs produzidas sem pesticidas de síntese. A

maçã de protecção integrada e a maçã biológica foram apresentadas aos

consumidores com as respectivas certificações.

Procurou-se igualmente estudar o impacto da redução de uso de pesticidas no

CAP dos consumidores pelo produto processado: sumo de maçã. Os níveis de uso de

pesticidas foram idênticos aos definidos para as maçãs: i) sumo elaborado a partir de

maçãs produzidas no modo convencional; ii) sumo elaborado a partir de maçãs

produzidas em protecção integrada; e iii) sumo elaborado a partir de maçãs produzidas

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em agricultura biológica. Os dois últimos tipos de sumo tinham igualmente identificado

nos seus rótulos a respectiva certificação.

Para perceber se os diferentes comportamentos dos consumidores são

dependentes da localização geográfica, os participantes das experiências foram

recrutados ao acaso da população portuguesa e francesa.

4. MERCADOS EXPERIMENTAIS

O mecanismo de incitação BDM (Becker-DeGroot-Marschak, 1964), também

conhecido por “mecanismo de lotaria”, foi utilizado nos dois mercados experimentais.

O seu objectivo é incitar os participantes nos mercados experimentais a revelarem o

preço mais elevado que estão dispostos a pagar pelo produto em avaliação.

Participantes

O desenho experimental foi primeiramente aplicado em Portugal, em Lisboa e

102 consumidores distribuíram-se por 11 sessões do mercado experimental português.

Este mercado realizou-se na sala de análise sensorial do laboratório de estudos

técnicos do Instituto Superior de Agronomia. Posteriormente, o mesmo desenho

experimental foi aplicado em França, em Dijon, e 107 consumidores participaram em

10 sessões do mercado experimental francês. Este mercado realizou-se na sala de

análise sensorial do Institut National de Recherche Agronomique (INRA).

Nos dois países, os participantes foram recrutados segundo os mesmos critérios

e tendo em vista o objectivo principal do trabalho. Assim, as principais questões

colocadas foram: i) frequência de consumo de maçãs; ii) participação dos

consumidores nas compras de alimentos para a família; iii) conhecimentos relativos

aos preços de mercado das maçãs. Houve ainda o cuidado de assegurar que os

participantes nas experiências eram consumidores habituais de maçãs e de sumo de

maçã. Aos consumidores seleccionados foi-lhes enviada uma correspondência a

informar sobre o objectivo geral do estudo - avaliação de maçãs provenientes de

modos de produção distintos – e a explicar a forma como a experiência se iria

desenrolar.

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Produtos

As variedades de maçã utilizadas nos mercados experimentais foram as

seguintes: Royal Gala e Granny Smith, em Portugal e Golden, em França.

A escolha destas variedades teve por objectivo ir ao encontro dos diferentes

gostos dos consumidores e, desta forma, obter o menor número de recusas de compra

dos produtos em avaliação. Na primeira experiência, a portuguesa, colocou-se à

disposição dos consumidores duas variedades diferentes em termos organolépticos:

uma variedade mais doce (Royal Gala) e uma variedade mais ácida (Granny Smith). Os

resultados mostraram que os consumidores, apesar de manifestarem uma preferência

nítida por uma das variedades, não se recusaram a indicar o seu consentimento a

pagar para a outra variedade. Constatada esta situação em Portugal, tomou-se a

resolução de simplificar a experiência em França, o que fez com que, nessa experiência

se tenha utilizado uma só variedade de maçã. A variedade escolhida foi a Golden, pois

foi assumido que seria a que geraria menos recusas de compra, pelo facto de ser a

variedade mais consumida em França. No momento do recrutamento dos

consumidores franceses foi tido em atenção o consumo habitual desta variedade.

As diferentes maçãs apresentadas aos participantes tinham um calibre idêntico

à excepção da maça Golden biológica que era de calibre menor. Para evitar a

perturbação do efeito do tamanho da maçã na avaliação que se pretendia obter,

colocou-se, na experiência francesa, mais uma maçã de calibre idêntico à da maçã

biológica, sem qualquer tipo de informação a identificá-la.

Como já foi referido nos objectivos do trabalho, definiram-se diferentes tipos

de maçãs e de sumo de maçã, segundo três modos de produção diferentes aos quais

correspondem níveis de uso de pesticidas distintos, os quais permitiram identificar os

tipos de maçã como: convencional, protecção integrada e biológico.

Desenho da Experiência

Nos dois países, a experiência teve três etapas distintas: 1ª etapa - Avaliação de

diferentes tipos de maçã; 2ª etapa – Avaliação dos diferentes tipos de sumo de maçã;

e 3ª etapa – Venda de maçãs e de sumos de maçã.

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O objectivo da 1ª etapa foi medir o CAP dos consumidores por uma redução de

pesticidas na produção das maçãs. Pretendeu-se verificar se os resultados eram

dependentes ou não de alterações, tanto nas características intrínsecas dos produtos

(variedade, qualidade organoléptica, tamanho, etc) como nas características

extrínsecas (marca, origem). Assim, pretendia-se mostrar que um eventual aumento

do CAP, resultado de uma redução de uso de pesticidas, era condicionado pela

estabilidade das características organolépticas e/ou por outros atributos extrínsecos.

Estes resultados são importantes quando está em discussão o quanto é que os

produtores deverão reduzir na aplicação de pesticidas, tendo em conta os ganhos que

se poderão obter, quando características organolépticas (como o sabor) são reforçadas

e/ou quando atributos extrínsecos (como a origem) são evidenciados.

Nesta etapa foram definidas quatro situações de informação que serão

apresentadas e descritas mais à frente.

Na 2ª etapa – Avaliação dos diferentes tipos de sumo de maçã – o objectivo

desta etapa foi verificar se a avaliação realizada pelos consumidores era diferente da

realizada na avaliação das maçãs, uma vez que se tratavam de produtos

transformados. Foram apresentados três tipos de sumo, cujos rótulos indicavam o

seguinte: i) sumo elaborado a partir de maçãs produzidas no modo convencional; ii)

sumo elaborado a partir de maçãs produzidas em protecção integrada; e iii) sumo

elaborado a partir de maçãs produzidas em agricultura biológica. Os consumidores

avaliaram os diferentes sumos segundo a informação transmitida pelos respectivos

rótulos.

Na 3ª etapa - Venda dos diferentes tipos de maçã e de sumo de maçã – neste

última etapa da experiência procedeu-se à conclusão da aplicação do mecanismo de

incitação BDM, com o qual se procurou incitar os consumidores a revelarem os seus

valores de CAP. Todos os participantes tiveram a possibilidade de retirar

aleatoriamente de uma urna uma bola que identificava o tipo de maçã e a situação de

informação e de uma outra urna, que continha uma distribuição aleatória de preços de

mercado de 1 quilograma de maçã, uma outra bola identificada com um determinado

preço. O passo seguinte foi comparar o valor monetário que o participante atribuiu à

combinação maçã e situação de informação retirada aleatoriamente da urna com o

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preço retirado aleatoriamente. Duas situações puderam acontecer: o valor era

superior ou igual ao preço aleatório; ou o valor era inferior ao preço aleatório. No

primeiro caso, o participante teria que comprar um quilograma de maçã ao preço

saído aleatoriamente e no segundo caso não tinha oportunidade de realizar a compra

de um quilograma de maçã.

Importa agora identificar e descrever com algum detalhe as diferentes

situações de informação que se definiram na 1ª etapa da experiência. Nesta etapa, os

participantes avaliaram e licitaram valores para diversos tipos de maçã em diferentes

situações de informação. Foram definidas cinco situações de informação e em todas

elas foi pedido aos participantes que atribuíssem um valor monetário (ou “preço de

reserva”) para 1 quilograma de cada tipo de maçã. No caso de não quererem comprar

um qualquer tipo de maçã, solicitava-se que indicassem o valor zero.

1ª Situação de informação: avaliação das características intrínsecas; nesta

situação os consumidores realizaram uma “prova cega” dos três tipos de maçã em

análise. A única informação transmitida foi a identificação das variedades em estudo.

Após a degustação, os consumidores atribuíram-lhes os seus valores monetários.

Nesta primeira situação, e apenas para a experiência portuguesa, encontrou-se

a variedade preferida para cada consumidor, visto que estava em análise duas

variedades: Royal Gala e Granny Smith. Após este conhecimento, resultado dos

consumidores terem atribuído um preço de reserva médio superior à sua variedade

preferida, nas situações de informação seguintes, cada consumidor avaliou

unicamente os diferentes tipos de maçã da sua variedade preferida.

2ª Situação de informação: avaliação das características extrínsecas; nesta

situação os diferentes tipos de maçã foram apresentados em simultâneo aos

participantes e estes apenas puderam visualizar o seu aspecto e os sinais (“stikers”)

que identificavam a respectiva certificação. Nenhuma informação foi transmitida aos

consumidores e não lhe foi permitido provar as diferentes maçãs. Após a avaliação, os

participantes atribuíram os seus “preços de reserva”.

No final desta situação de experiência, e apenas na experiência francesa, foi

pedido aos participantes para responder a um questionário simples relativo ao seu

conhecimento sobre as diferentes certificações associadas a cada tipo de maçã. As

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questões colocadas foram do tipo: “Para todas as maçãs que lhe foram apresentadas,

qual é a que apresenta uma certificação que lhe garante: 1) sabor; 2) origem; e 3) uso

reduzido de pesticidas?”. Com este questionário simples pretendeu-se avaliar os

conhecimentos a priori dos participantes, pois na situação seguinte estava em

avaliação o efeito da informação sobre a redução de uso de pesticidas.

3ª Situação de informação: informação sobre as características extrínsecas;

nesta situação forneceu-se informação explicativa sobre as diferentes certificações.

Cada consumidor recebeu um documento no qual era explicado o significado de cada

um dos sinais (“stiker”) identificadores da respectiva certificação. A informação

transmitida aos consumidores foi a seguinte: todas as maçãs foram produzidas em

cumprimento dos limites nacionais de aplicação de pesticidas. No caso das maçãs com

o sinal “biológico”, referiu-se que era garantida uma produção sem utilização de

pesticidas químicos. No que se refere ao sinal de “protecção integrada”, houve uma

ligeira diferença no tipo de informação que foi transmitida aos participantes

portugueses e franceses. Em Portugal, informou-se que este sinal garantia uma

redução para metade dos pesticidas utilizados; e em França, a informação veiculada

apenas referiu que a maçã com o sinal de “protecção integrada” garantia uma redução

de uso de pesticidas. Após a leitura do documento e transmitida mais alguma

informação oral, os consumidores voltaram a avaliar as maçãs e a atribuir-lhes os

respectivos “preços de reserva”.

4ª Situação de informação: avaliação das características intrínsecas e

extrínsecas e informação; nesta última situação de avaliação dos diferentes tipos de

maçãs, pretendeu-se que os participantes avaliassem as diferentes características

intrínsecas e extrínsecas das maçãs, tendo em atenção toda a informação transmitida

ao longo da experiência. Solicitou-se, ainda, que provassem as diferentes maçãs e que

no final indicassem os seus preços de reserva.

5. RESULTADOS

Distribuição dos valores de consentimento a pagar

A figura 1 contém dois histogramas que correspondem à distribuição dos CAP

nos dois países, obtidos nas quatro situações de informação. Verifica-se que o número

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de recusa de compra foi idêntico nos dois países, 8% em Portugal, e 7% em França. É

também possível dizer que as distribuições, nos dois países, seguem uma distribuição

quase normal. Em Portugal, o valor médio do CAP situou-se à volta de 0,83€, sendo a

respectiva mediana de 0,8€. Em França, os valores foram um pouco superiores, com

um valor médio de CAP de 1,29€ e uma mediana de 1,2€.

Figura 1. Distribuição dos valores de consentimento a pagar em Portugal e em França

05

01

001

502

002

50

Fre

quê

ncia

0 1 2 3CAP

Portugal

0

100

200

300

400

Fre

quê

ncia

0 1 2 3 4 5CAP

França

Análise descritiva da evolução do consentimento a pagar

As figuras 2 e 3 mostram os intervalos de confiança para os CAP obtidos,

respectivamente, em Portugal e em França, em função das diferentes situações de

informação (denominadas: “PROVA” para a primeira situação, relativa à análise

sensorial; “STIKER” para a segunda situação, relativa à análise visual; “INFO” para a

terceira situação, relativa à análise visual com apresentação das respectivas

certificações; “PROVA+INFO” para a quarta situação, relativa à análise visual e

sensorial, ou seja, de informação total).

Em termos gerais, os CAP dos consumidores franceses são sensivelmente mais

elevados que os revelados pelos consumidores portugueses, entre 20% a 80%

consoante o tipo de certificação.

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Figura 2. Intervalos de confiança (95%) dos CAP médios por tipo de maçã e situação de

informação, em Portugal

CONPI

BIO

CON

PI

BIO

CON

PI

BIO

CON

PI

BIO

.5.7

5

1

1.2

5

CA

P (€

/kg)

PROVA STICKER INFO PROVA+INFO

Figura 3. Intervalos de confiança (95%) dos CAP médios por tipo de maçã e situação de

informação, em França

CON

PI

BIOPEQ

CON

PI BIO

PEQCON

PI

BIO

PEQ

CON

PI

BIO

PEQ

.7.9

51.2

1.4

51.7

CA

P (€

/kg)

PROVA STICKER INFO PROVA+INFO

Este resultado não é surpreendente visto existir uma diferença entre os salários

médios das duas amostras de população e, mais importante ainda, visto que existe

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uma diferença de preço de mercado das maçãs nos dois países1. O que foi mais

surpreendente foi a homogeneidade de respostas obtidas sobre o valor relativo do

CAP, tanto pela comparação das situações de informação, como na comparação dos

consentimentos a pagar pelos diferentes tipos de certificação.

O primeiro importante resultado diz respeito à reacção dos consumidores

numa situação em que não é tida em linha de conta a análise sensorial. Da observação

dos CAP obtidos na terceira situação, relativa à transmissão de informação sobre a

redução de pesticidas, constata-se uma hierarquia clara entre os três tipos de maçãs.

Em Portugal (figura 2), a maçã convencional (CON) foi avaliada em média de

0,56€ e a maçã de protecção integrada (PI) obteve um acréscimo relativamente ao

valor da CON de 0,30€ (+53,6%). A maçã biológica (BIO) aumenta o respectivo CAP

médio na ordem dos 0,54€ (+96,4%) relativamente à maçã CON. Em França os

resultados são idênticos, no entanto, para este país a avaliação da maçã BIO teve que

ser feita relativamente à maçã pequena (PEQ), por forma a anular o efeito negativo do

respectivo calibre. Para este país, a figura 3 mostra um CAP médio na situação 3 da

ordem de 1,01€ para a maçã CON, com um acréscimo de valor de 0,44€ (+43,6%) para

a maçã PI. A maçã BIO ganha cerca de 0,56€ (+72,5%) relativamente à maçã PEQ.

Importa dizer que, tanto em Portugal como em França, o acréscimo (ou o

reforço) da informação sobre a redução parcial de pesticidas, no caso da maçã PI não

trouxe quase nenhum efeito sobre a respectiva avaliação. Ao comparar-se os

resultados obtidos na situação 2 (“STIKER”) com a situação 3 (“INFO”), eles são

relativamente idênticos para a maçã PI. No entanto, a comparação das mesmas

situações para a maçã BIO, os valores mostram que esta beneficia de uma reavaliação

significativa entre as duas situações (um aumento médio na ordem de 0,12€, nos dois

países).

Embora os resultados descritos na avaliação da maçã BIO, na situação 3, se

justifiquem claramente pela procura dos consumidores por produtos resultantes de

modos de produção que usam teores reduzidos de pesticidas, os resultados obtidos

para a maçã PI devem ser analisados com maior cautela. Em França, o inquérito que se

1 O salário médio dos participantes portugueses era de cerca de 1000€ e em França de 1600€. O preço

médio do quilograma de maçã na semana das experiências era de 1,51€ em Portugal e 2,04€ em França.

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realizou para obter os conhecimentos a priori dos consumidores, mostrou que apenas

42% dos participantes tinham um conhecimento claro do significado real da

certificação PI. Assim, a transmissão da informação sobre o uso de pesticidas neste

tipo de certificação foi primordial para justificar a pertinência da procura dos

consumidores por uma redução parcial de pesticidas. Inversamente, a informação que

foi transmitida sobre a certificação biológica era já do conhecimento de 91% da

população testada. Neste caso, a informação transmitida entre a segunda e a terceira

situação corresponde, sobretudo, a uma focalização dos conhecimentos dos

consumidores sobre esta característica dos frutos. Verifica-se que esta focalização

suscitou uma reavaliação positiva e significativa do consentimento a pagar por este

tipo de certificação. No caso da maçã resultante do modo de produção biológico, o

acréscimo de valor relativamente à maçã CON é, em grande parte, resultado desta

característica do modo de produção (e não devido a um artifício da certificação do

produto em avaliação). O mesmo já não se pode afirmar para a certificação PI.

O segundo importante resultado que deve ser sublinhado é relativo à maçã

CON. Esta maçã é desvalorizada quando se passa da situação 2 para a situação 3

(sobretudo em França, onde a diminuição média do consentimento a pagar se situou

em 0,12€). Este efeito foi já revelado nos trabalhos de Rozan et al. (2004) e de Combris

et al. (2010). Num quadro de avaliação de diferentes certificações de produtos

alimentares, este tipo de resultado pode ser interpretado como uma modificação das

referências dos consumidores relativamente à sua aceitação por um certo modo de

produção. A informação “não positiva” sobre certos tipos de produtos alimentares

desencadeia um efeito negativo no consentimento a pagar, que se pode tornar mais

significativo que o efeito positivo, dado pela informação sobre a redução de pesticidas

nos produtos certificados. Este decréscimo do consentimento a pagar entre a situação

2 e a situação 3 é de resto significativa no caso da experiência francesa, com uma

diminuição média na ordem de 0,1€ (ver igualmente Fox et al, 2002, num outro

contexto de segurança alimentar).

Em suma, o efeito da informação sobre a redução dos pesticidas pode ter: i) um

efeito positivo significativo, quando está em causa uma redução total de pesticidas no

quadro da agricultura biológica; ii) um efeito negativo potencialmente importante para

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as maçãs resultantes do modo de produção convencional, no qual não é verificada

uma redução de pesticidas.

A interpretação deste último resultado liga-se à modificação do ponto de

referência dos consumidores após a obtenção da informação. A noção de referência é

essencial para avaliar o contexto em que os consentimentos a pagar se formam e as

diferentes partes de mercado susceptíveis de serem obtidas pelas diferentes

certificações. A avaliação sensorial do produto faz igualmente parte deste contexto,

visto que é difícil de adoptar, de forma credível, uma avaliação ceteris paribus,

desconexa de um parâmetro tão essencial como é a característica organoléptica do

produto alimentar.2 As situações 1 e 4, nas quais as maçãs foram efectivamente

provadas pelos participantes, permitiram ilustrar este fenómeno. Em Portugal, o ponto

mais significativo da situação 1 é que a maçã BIO não é tão bem avaliada no plano

sensorial (da ordem dos 10,8% mais baixa que a maçã CON). Este resultado explica

certamente em parte o porquê de a diferença de consentimento a pagar entre a maçã

BIO e a maçã CON não ser mais do que 34,4%, na situação 4, situação de informação

total; e, no entanto, essa diferença foi de 96,4% na situação 3. Em França, e na

situação 1, é a maçã PI que se diferencia (de uma forma positiva) relativamente às

outras maçãs (+ 40,4% relativamente à maçã CON). Constata-se que a avaliação desta

maçã na situação 4 é superior relativamente a todas as outras maçãs, chegando a

+87,6% relativamente à maçã CON (esta subavaliada no plano organoléptico) e

passando significativamente a maçã BIO de cerca de 8,5%. Assim, o lugar de destaque

dado à maçã BIO na situação 3, de informação sobre redução de pesticidas, é posto em

causa por um efeito elementar de característica gustativa.

Um último importante resultado diz respeito aos valores de CAP obtidos para a

2ª etapa da experiência - avaliação visual dos diferentes sumos de maçã. Os valores

encontrados foram semelhantes aos obtidos na terceira situação de avaliação dos

diferentes tipos de maçãs, embora as diferenças entre as diferentes certificações

tenham sido menos significativas. No quadro 2 é possível verificar que, nos dois países,

2 Sobre este ponto, ver igualmente a discussão de Combris et al. (2010).

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os acréscimos percentuais entre os CAP relativos às certificações e o CAP do sumo

convencional crescem com a redução de uso de pesticidas:

Quadro 1. Acréscimos percentuais dos CAP dos sumos de maçã segundo a redução de

pesticidas, em Portugal e França

50% de redução de pesticidas

Ausência de pesticidas de síntese

Portugal +21.8% +46.1%

França +28.2% +41.9%

6. CONCLUSÕES

Os resultados encontrados nos dois mercados experimentais mostram que

existe um consentimento a pagar dos consumidores por produtos produzidos com

redução do uso de pesticidas. Verifica-se que a informação transmitida aos

consumidores sobre a utilização de pesticidas na produção de alimentos aumenta o

consentimento a pagar pelo produto biológico, mas o mesmo já não acontece com o

produto de protecção integrada. O resultado mais importante mostra que a

transmissão da informação leva ao decréscimo do consentimento a pagar pelo produto

convencional. Este resultado verificou-se nos dois países: i) em Portugal, os CAP

médios relativos à maçã de protecção integrada e à maçã biológica são,

respectivamente, 53,6% e 96,4% superiores ao CAP médio da maçã convencional; ii)

em França, os CAP médios da maçã em protecção integrada e da maçã biológica são,

respectivamente, 43,6% e 72,5% superiores ao CAP médio da maçã convencional.

Importa ainda referir que para o produto processado (sumo de maçã), os acréscimos

de CAP médios não são tão elevados como os encontrados para os produtos frescos.

A interpretação dos resultados segundo os diferenciais relativos ao

consentimento a pagar pelo produto convencional permite prever a perda de mercado

deste produto relativamente aos outros tipos de produtos.

O conhecimento detalhado do consentimento a pagar dos consumidores por

uma redução nos diferentes riscos associados à utilização de pesticidas é essencial na

definição e no sucesso de implementação de políticas ambientais.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho de investigação foi financiado pelo 7º Programa Quadro da Comissão Europeia [FP7/2007-2011], projecto nº 212120. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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