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Page 1: Comandante da PSP de Aveiro dedica estudo à mobilidade suave

Sandra Simões

“A PSP tem uma estratégiapara dar resposta ao fenómenoda sinistralidade rodoviária en-volvendo ciclistas?” Foi estadúvida que motivou o comis-sário Luís Silva, comandanteda Divisão Policial de Aveiro daPolícia de Segurança Pública(PSP), no âmbito do 2.º Cursode Comando da Direcção Po-licial, a desenvolver um traba-lho de investigação centradona mobilidade suave. Na pas-sada terça-feira, e enquadradona Semana da Mobilidade, aPlataforma Tecnológica da Bi-cicleta e Mobilidade Suave daUniversidade de Aveiro, o Ci-claveiro e o NBicla – Núcleo daBicicleta da Associação Acadé-mica, convidaram Luís Silva amarcar presença num debatesobre a mobilidade em bici-cleta e sinistralidade rodoviáriae apresentar o seu estudo. Maisde 30 pessoas marcaram pre-sença, e não faltou a partilhade receios, experiências, ideiase boas práticas para a massifi-cação do “pedal”.

“Tocado” pelas bicicletas

Em Aveiro há oito anos,desde sempre se sentiu “con-tagiado” pela cultura ciclista daregião e quando teve que es-colher um tema para desen-volver no âmbito do Curso deComando não foi difícil pensarna bicicleta. “Estive, duranteanos, na divisão do Trânsito,uma área que muito aprecio, epor estar em Aveiro foi inevi-tável ser desperto para as bici-cletas”. Quer pela forte indús-

tria em torno das duas rodas,quer por a Universidade deAveiro ter uma plataformacentrada na mobilidade suave,ou ainda pelos grupos de ci-dadãos sensíveis a este tema eos convites para a PSP partici-par em encontros, feiras e de-bates que tenham com mobi-lidade urbana. “Há aqui umalinguagem comum e que, ine-vitavelmente me envolveu”,explicou ao Diário de Aveiro. Efoi mais longe: “se a esta reali-dade acrescentarmos umaprogressiva filosofia de vidaamiga do ambiente, defensorada qualidade de vida e maissaudável, podemos prever umaumento de utilizadores da bi-cicleta”.

E estaremos preparadospara lidar com este “boom” deduas rodas que se aproxima?Especialmente tendo em contaque “temos um ambiente ro-

doviário partilhado por viatu-ras, bicicletas e peões, sendo oprimeiro mais dominante, emprejuízo dos domínios maisfracos”, é urgente encontrar oequilíbrio entre os vários inter-venientes da mobilidade”, maspara lá se chegar há muito afazer e no seu estudo deixa al-gumas pistas de reflexão.

Números que dão que pensar

Luís Silva partiu de númerosdo último quadriénio (2012 –2015), a nível nacional: “verifi-caram-se 3.836 acidentes en-volvendo ciclistas, sendo quea sua grande maioria (81.2 porcento) diz respeito a acidentescom vítimas. No seu elevadonúmero (3.309) contabilizam-se 10 mortos, 170 ferido gravese 3.129 feridos leves. Peranteestes números e entre as res-postas que a PSP corporiza, o

destaque vai para duas: a maisenérgica, a fiscalização no âm-bito do trânsito, e aquela queaposta na educação e forma-ção dos vários actores do am-biente rodoviário, a Escola Se-gura, que é, comprovada-mente, uma “influência posi-tiva que a PSP tem junto da co-munidade educativa, fruto deanos de relação e cooperação”.Para Luís Silva, uma boa arti-culação entre estas duas for-mas de actuação pode tradu-zir-se numa melhoria das con-dições de segurança para os ci-clistas.

Fio de ligaçãoEste responsável defende a

necessidade de existir um fiocondutor que ligue todas aspartes em torno de objectivoscomuns. “De pouco vale aspartes se não existir o todo”,reforçou ao Diário de Aveiro,

admitindo que as “respostasexistentes, a sua estrutura emodo de funcionamento(ainda) não estão orientadasem torno desse objectivo”. Masfoi admitindo algum opti-mismo em relação ao futuro:“o tema dos modos de mobili-dade suave, colhendo algumaatenção pública, fervilha posi-tivamente na sociedade civil,mobilizando recursos e vonta-des. Isso trará necessidade deadaptação das várias institui-ções públicas que servem asnecessidades colectivas e ondese inclui a PSP”.

De acordo com o coman-dante, os serviços da PSP “têmcapacidade técnica e humanapara desencadear acções quecontrariem o flagelo da sinis-tralidade rodoviária e das suastrágicas consequências” e ape-sar de reconhecer a “ligaçãoentre todas as partes, em tornodesse objectivo comum”, a PSP“deve manter o diálogo, pro-curando as melhores soluções,no seu quadro de responsabi-lidades.

As ciclo patrulhas surgem noseu estudo como uma forma

positiva de actuar neste domí-nio porque reúnem vantagensem termos operacionais, quevão da fiscalização de trânsitoà consolidação dos itineráriosonde circulam. Estas equipastêm capacidade instalada paradisciplinar esses percursosatravés de fiscalização sobre osestacionamentos ilegais emvias banalizadas, pistas ou fai-xas destinadas aos ciclistas (ga-rantindo a continuidade, flui-dez e liberdade de trânsito) eincidindo nos utilizadores davia que oferecem maior riscopara os ciclistas, isto é, veículosmotorizados.

Este trabalho de consolida-ção de itinerários é visto porLuís Silva como uma forma de“cumplicidade positiva” e queresulta da circunstância de par-tilharem igual modo de trans-porte, estarem sujeitos aosmesmos perigos e obstáculos.Esta igualdade cria imediata-mente nos ciclistas uma sen-sação de maior segurança.

Por outro lado, o mapea-mento de percursos segurospara a escola, com “certificaçãode segurança da PSP”, poten-ciando juntos dos mais novose dos encarregados de educa-ção, a utilização segura da bi-cicleta, o que Luís Silva designade “estímulos gratificantes fu-turos”, pode ser um “excelenteexemplo”.

O comissário Luís Silva apre-sentou o seu estudo no pas-sado dia 7 de Julho e obteve anota máxima possível. |

QUINTA-FEIRA | 22 SET 2016 | 03

AVEIRO

Comandante da PSP de Aveirodedica estudo à mobilidade suavePrevenção A cultura ciclista que se respira em Aveiro e os números nacionais de sinistralidade envolvendo ciclistas inspiraram Luís Silva a dedicar um estudo de investigação à mobilidade suave

Luís Silva defende a articulação entre ciclo patrulhas, trânsito e Escola Segura, para bem dos ciclistas

PAULO RAMOS