7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
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E S I U D O S C U L T U R E
D O I S P A R A D I G M A S
No t r aba lho_In te lec tua l
se"iio
e crjtico n a p existemJ inicios
absolutes" e
poucas
sao as
continuidades inquebrantadas.
N ao basta o
in te rminave j
desdobr amen to da t radicap , tao caro
a histpria das ideias , nem tampouco o absolut ismo da
" rup-
tura epistemologlca", pontuando o
pensamento
em suas partes
"certas" e
"falsas",
ou t r or a f avor ec ido pelos al thusser ianos.
A o inves disso, o que se percebe e u m
desenvolv imen tp
desordenado
porem ir regular . O que impor ta sa o
a s/
rupturas}
"f^ignificatLYaa— em que velhas correntes depensamento sap
rompidas, velhal fconstelacoes de^Irjcj.d
e~velrios
s a o
r eag r upados ap r edor _de
u j _
prefnissas
e
temas. Mu da n c a s
em uma
problematica t rans- /j _ '
^.
—forfnarfrsignificativamente a
natureza
das questoes propostas , ^
. , ———— ••....••IN < » . . . < . >
• —i^—
»•• —•• • • • [fJ V *
as formas
cofno
sa o propostas e a
mane i r a
como
podem
se r
/V
' ° • <
——-
' • - •
•-——
— ™
-——— ->-
- . ^ -ilf-f
adequadamente respondidas. Tais
rnudancas-de^perspectiya -^ —
1< v
r
,^
reflefem"fiao"so~os""resultados do proprio trabalho intelectual, ^
I| F
. ;
m as t a m b e m
a
m a n e i r a c o m o
os
d e s e n v o l v i m e n t o s
e a s
verdadeiras transformapoes historicas sao apropriados no
pensamen to e fo r necem ao
Pe n s a me n t o ,
nao su a g aran t ia
de "corre^ao", mas
suas or i en t a^oes
f undamen ta l s ,
suas con-
digoes de existencia. E por causa dessa art icu lacao complexa
en t r e p e n s a m e n t p j e reaiidajde
hjstorjca,
ref let ida nas
ca t e -
gor ias
socials
do pensamen to e na c on t mu a dialetica entre
"R P ^e-Tl^ . ' ^or ihec imen to" , que t a i s r up tu r as sao d ig nas
de registro.
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CO
b f -
(ps EstudosOilnirajs)como prpblematica distinta.
emerggm
de u m m o m e n t o desses ,~nos m e a dos da de c a da de_19Sfl.
C e r t a m e n t e n a o
f o i
a"'prlmeira
vez que suas questoes ca r ac -
teristicas for am colocadas na mesa. M u i t o
pelo
con t r a r io .
Qs
dois livros
qu e a judaram a
mar ca r
o ovo
t e r r eno
— As
utiliza$oes
da cultura, de Hoggar t , e Cultura e sociedade
1780-1950,
de
Wflliams
1
—
sa o amfeos,
die
m aneiras dis t intas ,
t r a ba lhos
( em parte) de r ecuper a^ao . O livro d e Hog g ar t teye
como
r e fe r enda
o
"debate cul tural"
ha muito
su^ntado_nas
discussoes
acerca da
"sociedade de
massa",
bem
c o m o
na
t raSi^ao do t r aba lho in t e l ec tua l iden t i f icado co m Leavis e a
revista
Scrutiny.
C«/fMr^ejrpr fe^r fe.recpjwtni i ii_i inia longa
tradicao definida
por
W il l iams como a quela que,
em
resumo,
cbrisiste"c o "registro de um
n u m e r o
de
i mp or t a n c e s
e con-
t inuas reacoes a . . . mudancas em nossa vida social , econo-
mica
e politica" e que
oferece
"u m
tipo e special
de
mapa pelo
qua l a na tu r ez a das mudancas pode ser expiorada". O s l ivros
par ec i am,
in ic ja lmente .
simples
atuaU^a,cAes._djessa5_pr£jQcu
:
P _ a c _ o e s anteriores, com
r e fe re nda
ao
m undo jdo pos-gue r ra .
R et r ospec t ivamen te , suas
" ru p t u ra s "
c om a s
t r adicoes
de
p e n s a m e n t o
em que estavam si tuados parecem tao ou mais
impor t an t es
do que sua
con t inu idade
c om a s
mesmas.
As
utilizacoes da cultura
propos-se
— m u i t o no e spi r i to da
"cri t ica
prat ica" — a ler a cul tura da classe t rabalhadora em
busca de valores e significados incorporados e m seus pa droe s
e est ruturas : como se fossem certos tipos de
"textos".
P or em,
a apl ica^ao desse
m e t o d o
a uma cu l tu r a viva e a rejeicao dos
termos do deba te cul tu ral (polar izado em to rno da dis t incao
de
a l t a /ba ixa cu l tu r a )
foi um
desvio r adica l .
Cultura e socie-
dade, num un ico e mesmo m ov im e nto ,
c on s t i t u i u
uma t r a -
dic a o (a t r adicao de "cu l tu r a -e -soc iedade" ) , de f in iu a sua
^
ir
unTclade"
(nao
e m
t e r mos
de posifoes
c o m u n s ,
m a s de
p r e o c u p a c o e s
caracteristicas
e
formas
de expressao de
suas
indaga^oes). e
fe z
uma contribujgao
d|sjintajiiente_jpo_de;rn_a_ao
assunto ao mesmo tempo em _gue escreYia se u epitafio^ O
livro
de
W i l li ams
que o
suc e de u
—
Th e Long
Revolution
—
indicou c l a r amen te que o modo de
ref lexao
cul tura-e-socie-
^de^^_r jp^^r ia__ser_
comple tado
e
desenvolvido
a ^ p a r t i r d e
ou t r o
lugar
— um t ipo de analise stgnificativarnente
di feren te .
ConTsulTtentativa de "teorizar" a partir de uma tradicao cujo
132
estilo
de
pensamento
er a
decididamente empir ico
e
par t icu-
larista, mais a densidade e xper imental de seus concei tos e
o
es for co
g e n e r a l i z a n t e de sua a rgum e nta c a o ,
T he
Long
Revolution deve sua dificuldade de lei tura, em par te , ao fato
de ter a
determinacao
de
m u d a r
(o
t r aba lho
de Will iams, at e
o mais recente Politics and Letters e exemplar precisamente
por causa de seu desenvolvimentismo consistente). As partes
"boas"
e
"ruins" dessa obra
provem do seu
status
de
"obra
de
ruptura" .
O mesmo pode se r dito de A formacao da classe
Qperdriain^lesa,
de E. P . Thom pson,
2
.que pertence decisiva-
mente a esse "momento", ainda que tenha surgido, cronolo-
g icamen te ,
u m
pou co mais tarde. Esse
tambem foi um
t rabalho
pensado den t r o
de
cer tas tradicoes his tor icas especificas:__a_
historiografia
marxista
inglesa
e a
historia
economics e "do
trabaTHo^TMas, ao destacar questoes 5e~cultura' ,"c6nscigncia
e exgeriencia^e en f a t iz a r o ag enc iamen to , t ambem r ompeu
decisivamente
com uma certa"f67ma~u
f
e~evolucionisrno
tecno-
logico, com o economicismo reducionista-js_com o determi-
nismo organizacional .
Entre
eles, esses^tres livroj^ onslituiram
a cesura da qual — entre outras coisas —^emergiram o s
EstudosJ)
Cu l tu r a i s .3 ~— —
--
E ram, c l a r o , textos seminais
e de
for macao .
N a o
e r am,
e m caso a l gu m,
"livros-textos"
pa r a a fundap io de uma nova
subdisciplina
academica:
nada poderia ter sido mais estranho
ao seu
impulse intrinseco. Quer fossem historicos
ou
contem-
pora ne os
em seu
foco, eles propr ios cons t i tu iam respostas
as
pressoes imedia t as
do
t e m p o
e da
sociedade
em que
fo ra m escritos, ou era m focalizados ou organ izados por tais
respostas . Eles nao apen as lev aram a^ 'cul tura
1
; a
scrip,,
como
uma dimensao sem
a
qu^af^sJffa^^ormago^'Kis^oricas, pas-
saclas^e~presentes
)
simplesmente nao poder iam ser pensadas
de man e i r a adequada . E r am em s i mesmos "culturais" , no
senfflcTd&lffilturae
sociedade.
Eles
forcaram
seus
lei tores
a a ten tar para a tese de qu e
f
^con centrgdas na^BalayjaJcultura ,
exis tem questoes
d i re ta m e nte propgstas
pe l as g r andes mu-
d a n g a s hist6ric^s_qu^^sjTnodifica^^ej.naJndjjs^m
na demo-
cracia
e nas
classes sociais representam
de
mane i r a p r opr i a
e
as quais a arte responde t ambem, de forma semelhante'^^
Esta era uma questao para os anos 60 e 70, bem como para o s
anos I860 e 1870. E talve z seja um ponto a nota r que
essa
l inha de pensamento coincidia mais ou menos com o que
133
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0
s
te m
sido
chamado de "agenda" da Nova Esquerda , qua
esses
escritores
e
seus
textos, de uma
forma
ou de
ou t ra ,
pertenciam. Essa l igacao colocou a^pol i t i ca do t r aba lhqjn t e -
l ec tua l"
bejn-Ccijgentro
dos Es tudos Cul tura is
desde
o inicio
—
um a p r eocupag ao da qual , fe l izmente , eles n u n c a foram
n em jamais
poderao
se r liberados.
N u m
sen t ido profundo, o
"acer to de contas" em
Cultura
e sociedade, a
primeira
parte
de The Long Revolution, certos aspectos p a r t i c u l a r m e n t e
densos e concretes do estudojde Jioggart sobreji
c u l t u r a
da
clas.se trabalhadora
e da
recon
s t rugap
h is torica
da
for-
m a c a o da c u l t u r a de classe e das t r adi soes p op u l a re s do
periodo e nitre
1790/1830,
feita p o r T h omps on — e m c on j u n t o
—
cons t i tu i ram a ruptura e
def iniram
u m
n o v o espaco
e m
que uma nova area de es tudo e_pratica brotou, Em termos de
• \*-**-^~™*^^-~
—
---- —
—
—
--"
—
- •*•
-i"**^^ -
m
*——*-*^^~' -
^
marcac.6es e gnfases in te lec tua is , esse fo i — se e que algo
assim pode s e r veri f icado — o mome n t o de
"re- fundacao"
do s
Estudos Cul tura is . A ins t i tuc iona l iz ag ao
deles
— primeiro ,
no
centro
em B i rmi n gh a m, e depois, por meio de cursos e
pub l i cag oes provenien tes de varias fon tes e lugares , c om suas
perdas e
ganhos caracteristicos, pertencem
ao periodo dos
anos 60 em
dian te .
era o l oc a l de c o n v e r g e n c i a . M a s , qu e de f i -
nicoes
desse concer to
ceritral"ernergiram
desse
c on j u n t o
de
obras?
E, em
t o rn o
de
qu a l espaco fo ra m u n i f ic a da s
a s
suas
preocupacoes e
conceitos, ja
qu e
decisivamente essa
l inha
de pensamento moldou os Es tudos Cul tura is e representa a
t r adicao au toc tone
ou
"nativa" mais formativa?
O
fato
e que
n e n h u m a d e f i n i g a o
u n i c a e nao
p r o b l e m a t i c a
de
c u l t u r a
se
encpjil£a_aa,.uL
O _conce i j j
.—
um local
f ede
interesses
convergentes , em vez de uma ideia logica ou
c o n c e i t u a l m e n t e
c l a r a .
Es s a " r i qu e za " e u ma a re a de c on -
t i n u a
t e n s a o e di f icu ldade n o campo. Pode ser necessar io,
por t an to ,
re s u mi r b re v e me n t e
as
enfases
e
dimensoes
carac-
teristicas
pelas
quais
o cg |
chegou
ao seu a tua l
[1980]
esta^ode
B
£ii^^ten^n
i
a^^
(A s
carac teriza^oes que se seguem
sao nece ssa r iamen te grosseiras e simplificadas,
sintet icas
e m
vez de
precisamente analiticas.) . Somente duas problematicas
principals sao discu t idas .
Duas manei ras di feren tes ddfconcei tuar a
cu l tu r aNpodem
se r e x t ra i da s d a s
v a r i a s
e s u ge s t i v a s fo r fn u l a c oe s f e i t a s
po r Ra ymon d W i l l ia ms em The Long Revolution. A primeira
134
relaciona[cultura-a soma das^escngogsjdisponiveis
pelas quais
as sociedades dao sentido^ refletem^j_suas_exp_erigngas
CQmun|M
Essa definic.ao recorre a enfase
primi t iva"sobre~as
"ideias",
m a s
submete -a
a
todo
u m
t ra b a l h o
de
r e f o rmulacao .
A
concepcao de cu l tura e , em s i mesma, socia l izada e d e m o -
cra t izada. N ao
consiste
mais
n a
soma
de o "melhor que foi
pensado
e dito", considerado como o s apices de uma civili-
zagao
p lenam ente rea l izada — aquele ideal de
o qual ,
n u m
sentido
an t igo, todos aspi ravam. Mesmo
— des ignada
an t e r io r men te
como
u m a
posicao
de
privi legio,
u m a
pedra-de-toque do s mais a l tos va lores da c iv i l i z a f ao
— |e a go ra re de f i n i da c omo apenas u m a formajesr jecia l_^ le
processo
social geral: o dar e t oma r s i gn i f i c a dos e o l e n t o
d e s e n v o l v i m e n t o
dos
s igni f icados comuns ; i s to
e , u ma
cul -
t u ra comum:
a
"cul tura"^neste sen.tido^especial,__"e prdinari_a"j^
( t o m a n d o emprestado u m a d a s p r i m e i r a s t e n t a t i v a s d e
W i l l i a m s
de
t o r n a r
su a
posicao
b a s i c a
mais
acessivel). '
5
S e
a s
descricoes
mais sublimes e re f i n a da s d as obras l i terar ias
t ambem fazem "parte
do processo
gera l
qu e
cria convenc.6es
e
instituicoes,
pelas quais os s igni f icados a que se a t r i b u i
valor n a comunidade sa o compart i lhados e at ivados",
5
entao
nao
exis te nenhum
modo
pelo
qu a l
esse processo pode
ser
desvinculado, dis t inguido ou isolado de out ras pra t icas qu e
f o rmam
o
processo
historico:
•^
Ja que a nossa maneira de ver as coisas e li teral me nte a nossa 1
manei ra de v iver , o
processo
de comunica^ao, de
fa to,
e o i
processo
de comunhao : o compar t i lhamento de
significados
comuns e ,
dai,
os
propositos
e a t iv idades comuns; a
oferta ,
recepcao e c omparacao de novos s ign i f icados , que l evam a
tensoes ,
ao cr esctmento e a mudanca.
6
Assim,
de
manei ra a lguma
as
descricoes li terarias, entendidas
dessa
fo rma ,
podem
se r
isoladas
e
comparadas corn
as
ou t ra s
coisas.
Se a ar te € par te da sociedade, na o existe unidade solida fora
dela,
para a qua
nos concedemos
p r ior idade pela
forma
de
nosso q u e s t i o n a m e n t o . A arte existe ai como u ma a t iv idade,
j u n t a m e n t e com a p roducao, o comercio, a poli t ica, a cr iacao
de
filhos. Para
es tudar as rela?6es adequadame nte , p r ecisamos
estuda-las
a t ivamente , vendo todas
as
atividades como f orma s
par t i cula res
e
con temporaneas
de
energia h u m a n a .
7
135
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S e essa primeira enfasejeyanta e
r e - t r aba lha
a _._
do_terjnc<^u]tura)com
o
dominio
das
"ideias".
a
segunda
enfase: € jriais
deliberadamente antropologica
e e n f a U z a ~ o
se refere as praticas sociais. E a
—
- --
-- .,-
5sMjr~i **
•
—l, iL,
partir dessa segunda enfase
que uma defin icao de
certo modo
s impli f icada — ^a^ultura_ejjrn_mpdo dejvida_global" —
tern
sido a bs t r a f d a
de
f o rm a
u m
tanto pura.
W il l iams
relacionou
esse aspecto
do conceito ao uso mais documental do
termo
— isto e, descritivo ou
mesmo
etnografico. Mas a
d e f in i c a o
anterior
me
parece
a
mais central,
pois
nela
o
"modo
de
vida"
esta_integrado.
O
ponto
im p o r t a n c e
nessa discussao
se
apoia
nas relacoes aCivas e
indisso luve is
entre
elementos e
praticas
}
sociais normalmente isoladas.
E nesse
contexto
que a
"teoria
da c u l t u r a " e
defin ida
como "o estudo das relacoes ejitTg_elg-
-d.e.^ida_gJpJ3;al". A
cultura^ naQ_tLurna .
p r a t i c a ; nem
apenas
a
soma
descritiva dos^Q^tyjnes e
"cul-
turas populares
[folkways]
_ d a . s sociedades, como e]a
po r
todas
as_pra t icas sociais _e cons t i tu i a
soma
dojjiter^rela-
cionamento das mesmas.
Desse
modo, a questao do que e_
^como
elsTe
estudada
se resolve por si
m e s m a j
A cultura e
es^e_qadTac^ de o r ga n iza c a p , essj_gj
?
orma^_£aj:a
fjer
'
5r
icas_de_
gj^giaJiumana_que4iQd£m.s_er descobertajuxtmqjeyeladoras
— "dentro
de
identidades
e
correspondencias
t
—
""
~~
~ *i$g8*&3?ss&5*£*~
ides^ge Cipos
nesperadas",
inespeHBbs"
8
—
d
p r ^ f i c a s sociais.
A a n a l i s e d a
cultura
e,
portanto,
" a te n t a t i v a
de~des coBrir a riatu reza da organizacao que fo rma o
complexo
desses
relacionamentos".
Comeca
com "a descoberta de
padroes
caracteristicos".
Iremos descobri-los nao
na
a r t e ,
producao, comercio, politics, c r i a c a o
de
filhos,
tratados como
atividades isoladas, mas atraves do "estudo da
o r g a n i z a c a o
g era l
em um
caso
par t icu lar" .
9
Analiticamente,
e
necessario
estudar
"as relacoes
entre
esses
padroes".
O propositp da
analisej entendej^cgjTjO^sjriter-re^acoes
de
todas
essas
pra-
ticas e_^rj^roes,,sao_yiyidas-e-e.x^jenmejitj^as_^^
em_urn_dadqi
^erlo.do:-essa
e sua "es t ru tura de experiencia"
[structure
of feeling].
~~
"
E
mais
faci l
ve r a que
W i l li a m s
estava chegando
e por que
ele seguiu
nesse caminho ,
se entendermos quais problemas
136
ele abordava e os percalcos que tentava e v i t a r . Isso e particu-
larmente
necessario, pois
The Lons Revolution
(como muitos
dos trabalhos de W i l li a m s) desenvolve um
dialogo
oculto,
quase
silencioso, com
posicoes alternativas,
que nem sem-
pre sao
t ao
claramente identificadas quanto
se desejaria. Existe
u m
claro e n g a j a m e n t o
j :om_as
d e f in igo e s "i
de cultura
^
" ideias" , na
tra-dicacMdeaJista,
quanto
a ass imila^ao de c u l t u ra
aTim^e«j;,,_cj4£_r e3:al ^^
_tura l" .
M a s h a
tambem
u m e n g a j a m e n t o
mais extenso
c o m
certas
fo r m a s
de marxismo, contra as quais conscientemente
se
voltam
as d e f in i c o e s de W il l iams. Seu
posicionamento
se
dirige
contrariamente
a operacao
l i t era l
da m e ta fo r a base/
superestrutura, que no marxismo class ic o c o n f e r i a o dominio f/J
das^ideias e
significados as "sja r je rest ruturas^T concebidas
r r
como
meros r e f l e x o s
determinados
de
maneira simples
pela
base,
e sem
qualquer efetividade social propria. Quer dizer,
o araumentgde
W i l li a m s
e dirifiido contra um
i
v u l g a r
e um determinismp
economico.
Ele
o fe r e c e ,
em seu
l ug a r ,
um in te r ac ion ismo
radical:
a
in t e r a c a o
m u t u a de
todas
as
praticas, contornando
o
problema
da determinacao. As
distincoes
entre
as
praticas
sao
superadas pela visao
de
todas
elas
como f o rm a s variantes de praxis — de uma ativi-
dade e
energia humanas
genericas. Os padroes
subjacentes
que
dis t inguem
o
complexo
das
praticas
numa
sociedade
espe-
cifica em determinado
periodo
sao
" formas
de organizacao"
caracteristicas
que embasam a
todas
e
que, portanto, podem
ser
tracadas
em cada uma
delas.
Var;as
revisoes r a d i c a l s
dessa primeira postura
te rn
ocor-
r ido:
e cada qual tem contribuido muito para a redefinicao
daquilo
que os
Estudos
Cu l tu r a i s sao ou deyerianx.sei^Ja
recpnhecemos
a
natureza
exemplaFdo^r j rQJeto
. ..
de Willia ms .
de
_rep_ensar
e^
r e v e r
consfan tem£nte_aj ;gumentos
mais antigos
— de
continuar
pensando.
Contudo, somos
surpreendidos
por
uma~Tiflnir33^c^nti^^
nessas revisoes
Sjejninais. U m
desses
momentos ~€ aquele em que ^W uT i a m s
reconhece o
trabalho
de Luc ien
Goldmann
e,
atraves deste,
do conjunto de pensadores marxistas que haviam dado atencao
p a r t i c u l a r as
fo r m a s
superestruturais e c u j a obra comecara,
pela primeira vez,
a aparecer em
traducoes inglesas
em
meados
da
decada
de
I960.
E
nitido
o
contraste entre essas tradicoes
137
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marxistas alternativas que susten taram autores como Go ldmann
e
L u k a c s ,
se c om pa ra do a pos ic a o isolada de
Wi l l i ams
e a
t radicao marxista
e m pobre c ida da
qu a l
e l e s e va l e r a . M as
os
p o n t o s
de conver g enc ia — tanto aqui lo a que se opoe m
qua n to aqu i lo a que se
r e f e r e m
— s a o i d e n t i f i c a d o s d e
maneiras que nao divergem
inteiramente
de seus
argumentos
anter iores . Aqui esta o pon to neg a t ive , que e le percebe como
a
ligacao de seu
t r aba lho
com o de
G o l d m a n n :
Passei a crer que tinha que abandonar ,
ou
pelo menos deixar
de lado, aqui lo que eu conhecia como t rad icao marx is ta : a
t enta t iva de desenvolver u m a teor ia da to ta l idade socia l ; ver
o
e s t u d o
da
c u l t u r a
como o es tudo das
r e l a c o e s
e n t r e os
elementos numa forma in tei r a de v ida; encon t r ar meios de
es tudar a es t ru tu ra . . . que pudessem m a n t e r c o n t a t o c o m
fo rmas e
obras
de arte especificas e
i lumina-las,
ma s t ambem
c o m a s
formas
e
re lacSes
de uma
vida socia l mais
gera l ;
subs t i tu i r a
formula
da base e superestrutura pela ideia mais
a t i va
de
ur n c a m p o
de
fo rcas mutuas
s e n a o i r r e g u l a r m e n t e
d e t e r m i n a n t e s .
1 0
E
aqui o
ponto
posi t ive — em que se
marca
a convergencia
entre a "est rutura de exper iencia" [structure of feeling] de
Wil l iams
e o
"estruturalismo genet ico"
de G o l d m a n n ;
Descobri
em meu p ropr io
t r abalho
que eu
t lnha
qu e
desen-
v o l v e r
a
ideia
de uma
e s t r u t u r a
de
e x p e r i e n c i a
. . . Mas
ai
desco bri G oldmann par tindo . . . de
u m
conceito de estrutura
que continha em si mesmo uma relacao entre os fatos social e
l i terario.
Essa relacao, insistia
ele, nao er a uma questao de
conteu do, mas de estrutu ras mentais: "categorias que simulta -
neamente organizam a consciencia empir ica de um grupo
social especifico
e o
mundo
imaginative cr iado
pelo
escritor".
F or definicao, essas
estruturas
nao sao
individualmente cr iadas,
mas sim coletivamente.
11
A enfase dada all a interat ividade das praticas e as totalidades
subjacentes , b em como as homologias entre elas , e caracte-
ristica e s ig n i f ica t i va . E con t in ua : "A correspondent em
termos de con teudo en t r e u m escritor e seu m u n d o e menos
significante do que essa correspondent e m termos de orga-
nizacao, de es t rutura."
138
U m seg undo momento
e o ponto
emjque^WUliams rea l -
mente leva em conta a
critica
de E. P. C[hompso^) sobre Th e
Long Revolution?
2
segundo a qual nenhum "modo de virla
global" existe sejn^ua_dimensao
de
luta
e
confronto
co m
modes
de
vida
opostos, e
tenta repensar
as questoes-chave
^e^etermina^ao e de dominacao at raves d o conceito 3e~rTege^~
monia de Gramsci. Esse^ensaio^— "Base a nd Supers t ruc ture in
Marxist Cul tural Theory"
13
— e
seminal, especialmente
por sua
elaboragao sobre as prat icas culturais dominantes, residuals e
emergentes e seu retorno a problematica da determinaca o
como
"limites e pressoes".
Contudo",
a
enfase anter ior
vol ta
co m
forca:
"nao podemos
separar li teratura e
arte
de
outros
t ipos de prat icas
socia ls ,
de fo r ma a sujei ta- las a leis especi-
f icas
e distintas". E
"nenhum
m odo de producao e, por conse-
g uin t e , nenhuma soc ie da de dpminan te
o u
ordem social
e ,
por tanto, nenhuma|cu l tura dominant^) de fato. esgota a pratica.
^ a e n e r g i a
e a intencao hunianas"7 E
esta nota
v ai a lem — na
r ea l idade , e
r adica lmen te
acen fuada — n a mais recente e
sucinta defesa a sua posicao:
Marxismo
e
literatura.
14
Em
oposigao
a en fase es t r u tu r a l i s t a n a espec i f i c idade e a u to -
n omi a ^ da s
prat icas
e sua
separacao analitica
das
sociedaries
errjJnstanciag_dis]mtas.
a enfase de W il l iams recai
sobre
a
"at ividade
cons t i tu tiva"
em geral, sobre a "atividade
h u m a n a
sensual , enquanto prat ica" ,
da
pr imeira "tese"
de
M ar x sobre
F e u e r b a c h ; sobre as diferentes prat icas concebidas c om o
"pratica
indissoluvel em seu todo"; e
sobre
a
total idade.
Logo, ao con t r ar io de um desenvolvimento no marx ismo, n ao
e a
base
e a
superestrutura
qu e
precisam
se r
estudadas,
m as
processes
reais especificos e
indissoliiveis,
den t ro do s quais
o r e lac ionamento decis ive , de um ponto de v ista marx is ta , e
aquele expresso pela ideia complexa
de determinacao
l5
Em u m dado n i v e l , pode-se d iz e r que o t r a b a l h o de
Xhnmps&n convergem
em
tor no
do s
termos
da mesma p r ob l emat i ca , a t r aves da oper ag ao de uma
t e o rU
zacaojviolenta
e
esqueniaticamentejiicotomica.
Q
fundamento
organizador
da obra de
Thompson
— as
classes enquanto
relacoes, a luta popular, as formafoes historicas de consciencia,
as
c u l t u r a s
de
classe
em sua
par t i cu l a r idade h i s to r i ca
—
e
a lhe io
a o modo mais
ref lexive
e "g ener a l i z ador " como
139
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 6/15
Williams
tipicamente
trabalha.
E o
dialogo
entre
eles
comega
com um
encontro brusco.
A
revisao
de
The
Long Revolution,
empreendida
por Thompson, fez duras
cobrancas
a
W i l li a m s
nor seu modo evolucionista de conceber a c u l t u r a
como
"uma forma
inteira de
vida";
por sua
tendencia
a
absorver
os
conflitos entre
as
cuituras
de
classe
aos
termos
de uma
"conversacao" ampli ada; por seu torn impessoal —
acima
das
classes concorrentes,
por assim
dizer;
e pelo
alcance
imperializante de seu conceito de
" c u l t u r a "
(que, de
f o r m a
heterogenea,
tudo abarca em sua
orbita,
pois
tratava-se do
estudo
dos
inter-relacionamentos
das f o r m a s de
energia
e
organizacao subjacentes a
todas
as praticas. Mas nao era ai
— perguntava Thompson
— que a
historia entrava?). Pouco
a
pouco,
podemos ver como
Williams persistentemente
repensou os termos de seu paradigma original para levar em
conta tais
criticas
— embora isso se realize (como ocorre tao
frequentemente em Williams) obliquamente:
pela
via de uma
apropriacao especifica de Gramsci, em vez de uma modifi-
cacao
mais direta.
Thompson
tambem
opera com uma distincao mais "classica"
do que o faz
Williams entre
ser
social
e
consciencia social
(termos
que
prefere muito mais
aos
conhecidos "base
e
supe-
restrutura"). Logo, onde
W i l li a m s
insiste na absorcao de
todas as praticas a uma totalidade da
"pratica r e a l
e indisso-
luvel", Thompson lanca mao de uma dist incao mais antiga
entre o que e "cultura" e o que "nao e c u l t u r a " .
"Qualquer
teoria da
c u l t u r a
deve incluir o conceito de interacao diale-
tica entre cultura e algo que nao e cultura". Ainda assim,
a
definicao
de
cultura
nao
esta
tao
distante daquela
de
W i l li a m s :
Devemos supor que a materia-prima da experiencia de vida
se
local iza
em um po lo , e
t o d a s
as disciplinas e sistemas
h u m a n o s infini tamente
complexos, ar ticulados
e desar ticulados,
fo rmal i zados
em
insti tuicoes
ou
disperses
em
modos m e n o s
formais, os quais "lidam com", ransmi tem o u distorcem essas
mater i as -pr imas ,
estar iam situados em outro
polo .
16
De f o r m a
semelhante,
a respeito do
carater
comum da pratica
que subjaz a todas as praticas distintas,
ele a f i r m a :
"E no
processo ativo — que 6 ao mesmo tempo o processo pelo
qual
os
homens
f a z e m
sua
historia
— que insisto."
17
E as
duas
posicoes se
aproximam
em
torno
— de
novo
— de
distintos
pontos negatives
e positives.
Ne^a^tyjmj£nle^cQntra^a. meta-
f o r a
''base/sup^exesuiuxuxa.
1
'
e uma definicao
reducionista
ou
economicistade determinacao.
Sobre a primeira: "A
relac.ao
dialetica entre o ser social e a consciencia social — ou
entre
'cultura'
e
l
n«o-cuitura'
— esta no amago de qualquer
compreensao do
processo historico dentro
da
tradicao mar-
xista... A tradicao herda uma dialetica que e certa, mas a
metafora
mecanica especifica que a expressa esta errada.
Derivada
da engenharia c i v i l , essa metafora ...
deve,
em
qualquer caso,
ser
inadequada para descrever
o f l u x o do
conflito, a dialetica de um processo social em
mudanca...
Todas
as
metaforas
que saq_gejalmentg
-
apresentad^gjdm
uma
tg^dgricj^^a__cond.u_2ir__a jtnente
a modos_esqjje^naticj3.s._e,
a f a s t a ^ l a _ j d ^ _ j n t e r a c j i p
da
consciencla-de-ser".
E sobre o
reducioni smo: "O reducionismo e
urrrHpso~na~16gica histo-
rica
pelo
qual acontecimentos politicos
e
culturais
sao
'expli-
cados'
ef n
termos das
af i l i agoes
de classe dos seus atores...
M a s a mediacao entre 'interesse' e
'crenga'
nao passa pelo
'complexo das superestruturas' de que fa la
Na i r n ,
mas
pelas
proprias pessoas."
18
E
mais positivamente
— uma
simples a f i r -
macao que pode ser considerada como
definicao
de quase
toda
a
obra historica
de
Thompson, retirada
de
Aformafao
da classe
operdria inglesa,
ate Whigs and
Hunters,
A miseria
da
teoria™
— e mais alem:
A sociedade c apital ista
fundou-se sobre
formas de
explorafSo
que sao ao mesmo t e m p o economicas , morais e cu l tu r ais .
Tomemos a definifao essencial de r e lacionamento produtivo
...
se a inver termos ela se r evelar a ora sob um
aspec to
(o
t r abalho assalariado) , or a sob
outro
(u m ethos aquisitivo), ora
so b
outro ainda
( a
a l ienacao dessas faculdades intelectuais como
aLgo
na o
necessario
ao trabalhador em sua
f un^a o
produtiva.
20
Aqui, entao, a despeito de
varias
diferencas importantes,
esta o_esbcic^__de uma H n h a s i g n i f i c a t i v a de
pensamento
dos
<Q Estudos_Cul tu r ais j ) dir-se-ia,
fa paradigma^omlnante\
Ele se
opoe ao papel
resLdu^^_de_nierg_reflexo
atribuido aoj^cul^
t u r a l " .
Em suas varias
f o r m a s ,
ele conceitua a
cultuj-a como
se entrelaj:a a todas as praticas sociais; e essas
140
141
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 7/15
prat icas , por sua vez, como u m a fo r m a c omu m de a t i v i da de
J u i m a n a : como praxis sensual
T Jum a na ,
c omo a ativTcTarr^
a t r a v e s d a q u a l ~ h o m e n s e m u l h e r e s f a z e m a
h is to r ia . Ta l
p a r a d i g m a se opoe ao
e s q u e m a b a s e - s u p e r e s t r u t u r a
de
f o r m u l a c a o d a r e l a c a o e n t r e a s f o r c a s ideais e
m a t e r i a l s ,
e s p e c i a l m e n t e o n d e
a
b^se_eude£ ij iida-CQmo-jjetermiria$a
o
pelo-"economico",
em um
sentido s imples . Essa l i n h a
de
p e n s a m e n t o p r e f e r e
a f o rmulacao
m a i sa r j a p l a
— a
dia le t ica
_ ^ .
J
^ -_
A
_
_
J
_ |
i ———-
.1
Centre
o ser e a consciencia socia l : inseparaveis em seus polos
distintos
(em
a l g u m a s f o r m u l a c o e s
alternatives^
a dia le t ica
e n t re " c u l t u ra "
e
"nao-cul tura") . El a def ine ^hu^oojnesmo
temfjo^omo os sentidos e valo res que nascem^entre_j^_classes
egrupos sociais d i f e r e n t e s , comjjase em_s,iia.s relacoese
condicoes^lTtstoricas,
rjej£s_c|uaJs-eie^JUdam_com suas
concU£oes_de_existencia e
respondem
a
estas;
e tambem
como
as t rad i goes e pra t icas v jyidas a t raves das qua is esses "enteji-
di me n t os " saQ_expresso.s._g n os qu a i s e s t a o incorporados.
W i l l ia m s
j u n t a
esses
dois aspectos —
de f in icoes
e modos de
vida
— em
torno
do
proprio concei to_de.cu l tura . Thompson
-•n»BBH«aiissasisSSBiigS£HSS3 =
s
" *
reune os dois e lementos — consciencia e
condicoes
— em
t o r n o do c on c e i t o de " e x p e r i e n c i a " . A m b a s as posicoes
e n v o l v e m c e r t a s
oscilacoes
c omp l i c a da s
em
t o r n o
dessas
a l a v r a s - c h a v e . W i l h a m s ^ a b s o r v e
tao compJetamente as
Mef in ic6 es^_c le_exper ienc ia^ )
ao
nosso
s^ rnodo_de_vida^)
e
* > a m B o s i e m
u ma indissoluvel
g r a ti c a ^ em - ge r a l, £ e a l e r n a t e r i a l
f
ITpontcrcle
"pefc lerde-vis ta
qualque^cUsjy^aojentrg^"
cu l tu r a^
e "
a
r i a o - c u l t u ra ' ' . T h omp s on , a s v e ze s , u t i l iza "experiencia"
no
s e n t i do m a i s c omu m
de
c o n s c i e n c i a , c o m o
os
me i os
coletivos pelos quais
os
h o m e n s " l idam c om, t r a n s mi t e m
ou distorcem" suas condicoes de vida , a materia-prima da
vida ; as vezes como
o
d o m m i o
do
" v i v e n c i a do" ,
o
meio-
termo en t re
"condicoes"
e " c u l t u ra " ; e as vezes como as pro-
prias
condicoes
obje t ivas — as quais sao cont rapo s tos certos
/ modos
part icu lares de consciencia . Mas , quaisquer que
sejam
os
termos , ambas
a s
posicoes t e n de m
a
le r as_es tru turas
da s
relacoes em
termos
de
como estas
sao
"vividas"
e
"experi-
mental"
asTA
"estrutura de
experiencia"
[structure
of
feeling]
w i l l i a m s i a n a
— c o m s u a d e l i b e r a d a condensacao de ele-
me n t os a p a re n t e me n t e incompat ive is — e algo caracteristico.
M as o mesmo
€
va l ido para Thompson, a despei to de seu
e n t e n d i me n t o mui to mais his tor ico do c a r a t e r de g ra t u i da de
142
e de e s t r u t u r a c a o das relacoes e condicSes nas q u a i s
h ome n s e mu l h e re s ,
de-^modo
necessario e
invo lun ta r io ,
se
insereni ; e de sua atencaxS mais c la r a a " d e t e r m i n a c a o " exer-
cida
pelas
re l a c oe s
de producao e de exploracao sob o
capi-
ta l ismo. Isso
ocorre
como conseqiiencia de uma a t r i b u iga o
t ao cen t ra l ao papel da experiencia e da consciencia cu l tu ra l
n a
analise. Atrofao da
experiencia
nesse
paradigma e a
enfase
dada
ao
cria t ivo
e ao
agenciamento h is torico cons t i tuem
os
dois e lementos-chave
no
humanismo dessa
posicao.
Conse-
quentemente, cada q u a l c p r i f e r e
a
"experiencia"
u m a
posicao
a u t e n t i c a do ra errrqualquer a n a l i s e cu l tu ra l . I jm u l t ima aria-
Use,
trata-se de
onde
e c omo as pessoas e xp e r i me n t a m s u a s
condigoes^
de
yida,
L
com^^^e£inem_e_a
-
^lj^_xg3pondeJB_g_
^quej_para
T h omp s on , v a i d e f i n i r • a r a z a o de cada modo de
proclucaoser tambem uma cu l tura . e cada
luta
entre as classes
se r
sempre
u m a
lu ta en t re modal idades cu l tu rais ;
e
isto, para
W ill iams, cons t i tu i aqui lo que , em
u l t ima ins tanc ia ,
a anal ise
cu l tu r a l
de v e o f e re c e r . Na gexperiencia^)todas^s^rxaticas,jg
_e.njjgcruzam;
dentro da^ 'cu l tura" todas as pra t icas
in teragem
—
ainda que_de-£cmna
des ig ua l
e m u t u a m e n t e de t e rmi n a n t e .
Nesse sentido
a
to ta l idade cu l tura l
— do processo
historico
em seu
conjunto
—
u l t ra p a s s a qu a l qu e r t e n t a t i v a
de
m a n t e r
a
distincao
entre a s rns tanc ias e e l e me n t os . A v e rda de i ra
conexao e n t re estes, sob certas condicoes h is to r icas , deve
ser a c o m p a n h a d a pelo mov i me n t o t o t a l i za do r "no p e n s a -
m e n t o " d u r a n t e a anal ise . Tal
percepcao
e s t a b e l e c e p a ra
a mb os
os
mais fortes protocolos c ont ra qualque r forma
de
abstracao analitica que distinga as praticas ou que se proponha
a tes tar o "verdadei ro movimento h is torico" em toda a sua
p a r t i c u l a r i d a d e e c o m p l e x i d a d e a r t i c u l a d a por q u a l q u e r
operacao logica ou a n a l i t i c a de ma i o r e n v e rga du ra . T a i s
posicoes,
e s p e c i a l me n t e em suas
versoes
h is toricas mais
c on c re t a s (Aformacao, O campo e a cidade)
sao o
c on t ra r i o
da busca hegel iana das essencias subjacentes . Contudo, por
su a tendencia
a
r e d u z i r
as
p ra t i c a s
a
p ra xi s
e
de s c ob r i r
"formas"
c omu n s e homologas subjacentes as areas aparen te-
mente mais diferenciadas , s e u m o v im e n tCL e "essencializante".
Possuem uma fo rma especif ica de c omp re e n de r a totali^cle.
—
embora es ta
seja com um
"t "
minuscu lo , seja
c on c re t a
e
h i s t o r i c a me n t e de t e rmi n a da ,
i r r e gu l a r
e m s u a s c o r re s p on -
dencias. Essas posicoes a c omp re e n de m " e x p r e s s i v a m e n t e "
14 3
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 8/15
E uma vez que cons t an t emen te modu lam a
a n a l i s e
mais
t r adic iona l
n a
direcao
do n ivel_experiencia l o u
interpretam
as outras es t ruturas
e
relates
de
cima
para baixo,
do
ponto
de
vis ta
de c om o
es t as
sa o
"vividas" ,
essas pos icoes sa o
p r o p r i a m e n t e (mesmo
que nao
adequada
o u
in t e i r amen te )
caracter izadas como "culturalistas" em sua enfase: mesmo
q u a n d o t o d a s
a s
adver t enc ias
o u
restr icoes
a
" t eor i z acao
dicot f imica" por demais rapida
t e n h a m
sido feitas.
21
A
vertente^jcjjlturalista
no s Estudos Culturais foi
in terrom-
p|da_2ela_diegada dos
estrutufafismos
ap cenario.
Possivel-
mente mais
diversfficatios~que"os~ciTlfuralismos,
e les todavia
compar t i lham
de
ce r t as orientacoes
e
posicoes
qu e
t o r n a m
su a de s igna c a o sob um
unic o
t i tu lo nao to t a lmen te equ ivo-
cada. Nota-se que, embora
o
paradigma cul tural is ta
possa
ser definido sem se recorrer a uma referenda concei tual ao
termo "ideologia" (a palavra,
e
c laro , aparece, mas nao e um
concei to-chave), ajjjmejyerig^s^ejjr^^
mente articujajdaj^jGaJXHm)^esse concei to: em conco rdancia
com sua
l inhagem mais impecavelmente marxis ta ,
"cultura"
n ao
f igura
a i
tao proeminentemente. Embora isso possa
se r
verda deiro para os es t rutu ral is tas marxis tas , e , na melhor
das h ip6 te se s ,
m e n o s
da metade da verdade a respei to da
empr e i t ada es t r u tu r a l i s t a . M as ag ora e um erro
c o m u m
con-
densa r esse u l t imo apenas e m to r no do impac to causado
p or A k h u s s e r e t udo o que se seguiu n a onda de sua in t e r -
v e n c a o — onde a ideologia teve um pape l seminal, mas modu -
lado — e omit i r a importancia de Lev i-Strauss. Con tudo, em
termos e st r i tamente his toricos, foram Lev i-Strauss e a semio-
t ica inicial que operaram a primeira r up tu r a . E embor a os
es t ru tura l ismos marxis tas os tenha m suplanta do, seu
debito
(freqiientemente rechacado ou degradado a notas de pe de
p a gi n a , na busca por uma or todoxia ret rospect iva) para com
a
obra de
Levi-Strauss_fqi
e con t inua
sendo
enor me. Foi o
estrujj jmlismo_jie| 'Levi-Strauss\quie
t
em sua apropr iacao do
,p_aradi^ma
linguistico,
a pos
Saussure, ofereceujis "ciencias
hum a na s da c ul tura " a
promessa~3'e"um
paradigma capaz de
torna-las cientificas e r igorosas de uma forma inteiramente
-
n
_
ov
;_E
q u a n d o ,
na
obra
de
Al thusser,
os
t emas marxistas"
mais classicos foram recuperados, Marx con t inuou sendo "lido"
—
e
reconst i tuido
—
pelos termos
do
paradigma lingiiistico.
Em Lendo O Capital, p or exemplo, argumenta-se que o m odo
144
de produ^ a o — cunhando a expressao — poderia se r melhor
compr eendido como "es t r u tu r ado como u m a l i ng uag em"
(a t r aves
da
combinagao selet iva
de e lementos
invar iantes).
A enfase ais t6r ica e s incronica,
c on t ra r i a me n t e
as va loracoes
historicas d o "culturalismo",
advinha
de uma fonte semelhante.
Assim
tambem uma
pr eocupag ao
com "o
social,
su i
gener is
— usado nao como adjet ivo, mas como substant ive: um uso
que L evi -S t r auss de r ivou nao de Ma r x , m a s d e D u r k h e i m
(o
D u r k h e i m
qu e
ana l i sou
a s
categor ias sociais
de pe nsa -
mento — por exemplo , em Formasprimitivas de
classifica$do
—
em vez do
D u r k h e i m
de
Da
divisdo
do
trabalbo
social,
que se
to r nou
o pa i
f u n d a d o r
do
fu n c i on a l i s mo e s t r u t u r a l
a m e r i c a n o . ) .
P or vezes, Levi-Strauss_t)rincou com cer tas fo rmu l a c oe s
marxistas. Assim,
"o
marxismo, se na o
o
propr io Marx,
co m
freqiiencia excessiva
f
j jsou uma logica que pressupunha que
as
pra t ic a ssuc e de sse m cUretamente
a pjraxis. Sem quest ionar
a
i n d u b i t a v e l p r i ma zi a
da s
in f r a - es t ru tu ras , creio
que ha
sempre u m mediador entre a praxis e a s prat icas , qual
seja,
o
esquema conce i tua l cu ja o p e r a c a o con cret iza como est ru-
tu r as
a
mater ia
e a
forma,
ambas
desprovidas
de
qualquer
exis tencia independente, is to e , faz
delas
en t idades t an to
empir icas quan to inteligiveis ." Mas isso, para cu nha r outro
termo, foi
basicamente
um
"gesto". Esse estruturalismo c ompar-
t i lhou
c om o cu l tu r a l i smo a r up tu r a r adica l c om os t e r mos
da me t a fo ra base /super es t r u tu r a , de r ivada de A ideologia
alema.
E
embora fosse
"a
essa teor ia
da s
super es t r u t r u r as ,
quase intocada por Marx" que Levi-Strauss aspirava a co ntr i -
buir , sua c ontr ibuicao significou uma ruptura radical em todo
o seu
termo
de
r e fe r enda , assim como
f izeram
defini t iva
e
i r revogavelm ente o s cul tural is tas . Aqui — e devemo s incluir
A l t h u s s e r n e s s a c a r a c t e r i z a c a o
—
U mto
o s
c u l t u r a l i s ta s
quanto^s^st^lur^lista^s^t^bujram
aos_domlnios^
a . t e ^
e n ta o
definidos como
"
superestrutu rais" ta l
especificidag^e_eficacia,,.
t a f^ r l rna z ia cons t i tu t iva ,
que os
empur r ou pa r a a l em
do s
term^^e^r^ex^cia..da,"base.lfeJLsupete
.
L evPSTrauss
e Al thusser
e ra m
tambem ant i-reducionis tas e an t i economi-
cistas em suas f o rmas de racioc inio, e a tacaram cri t icamente
aquela causal idade t ransi t iva que, por tanto
t empo, hav ia
se
passado como "marxismo classico".
145
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 9/15
TevkStrauss t r a b a l h o u
consiste.nteme_n_te
com o termo
4j.?^^gc ' ™ ' * ~ ~ ~ ~ — — - — - - * . ,
3 -
El e
considerou
as "ideologias"
algo
de
b em
m e nor
irnprtlncia: m e ra s " r ac iona l i z acoes secundar i as" . Como
W ill iams e
G o ldm a nn, t r a ba lhou
na o no
nive l
da s
corres-
pondenc ias entre o
conteudo
de um a prat ica, mas no nivel de
suas formas
e
e s t ru tura s . Pore"m,
a
m a ne i ra c om o
elas
f o r a m
concei tual izadas era
diferente
do "culturalismo" de Will iams
ou do "estruturalismo genetico" de Goldmann. Essa
diver-
gencia
pode se r
identificada
de ire's modos
distintos.
Prjmeiro,
jle conceituou
"cultura"
como as^categorias^e^quadrQSjlej^fe-
rencia
lingiiisticos e de pensamento atraves dps^giiajs_a.s_dife-
rentes socie^atieTTt^jficam^s.uas^cQJldidoes
de existencia
— sobretudo
(ja que Levi-Strauss er a
antropologo),
as
relacoes
e nt re os m undos h u m a n o e n a t u r a l . Se gundo , pe nsou e m
como
essas
categorias
e
referencia is mentais e ram produzidos
e
t r ans for mados ,
em
grande parte
a
part ir
de uma
a na logia
com as maneiras como a propria l inguagem — o principal
meio
da
"cultura"
— operava.
Identificou
o que era
especifico
a
elas e a sua operacao e n q u a n t o "producap de sentido":
eram, sobre tudo. praticas_ sismficantes. Terceiro, depois de ter
flertado
inicialmente com as categorias sociais do pensamen to
de
D ur khe im
e
Mauss,
e le abandon ou pra ticamente a questao
da
relac.ao
entre praticas significantes e
nao-significantes
—
entre "cultura " e
"nao-cul tura" ,
para usar outros te rmos —
para dedicar-se as relacoes existentes no interior de prat icas
significantes po r
meio
da s
quais
a s
categorias
d e
sentido eram
produzidas. Isso deixou a
questao
da determinacao, da to ta-
l idade, em grande parte em suspenso. A logica causal de
determinacao f o i
a ba ndona da
em favor da
ca usalidade estru-
turalista
— uma logica do arranjo, das re lacoes inte rnas , da
a r t i cu l acao das
partes dentro
de uma
e s t r u t u r a .
Cada u m
desses aspectos
tambem esta
posit ivamente presente na obra
de Althusser e dos
es t ru tura l is tas
marxistas, mesmo quando
os termos de re fe re nda ha v ia m s ido r e funda m e nta do s na
"imensa
revolucao
teorica" de Marx. Em uma das
formulacoes
seminais de Althusser sobre a ideologia — definida em temas,
c onc e i tos e r e p r e s e n t a c o e s a t r a ve s d a s q u a i s o s h o m e n s
e m u l h e r e s
"vivem", n u m a
r e la c a o
imaginaria ,
sua re lacao
co m
suas
condicoes
reais
de existencia —
22
podemos
ver o
esquele to dos "esquemas concei tuais" de
Levi-Strauss
"entre
a praxis e as pra ticas". A s "ideologias" sao a qu i concebidas
146
nao
como conteudos
e formas
superficiais
de
ideias,
m as
como
categorias inconscientes pelas quais as condicoes sao repre-
sentadas e vividas. Ja comen tamos sobre a
p resenca
a t iva ,
no pe nsa m e nto de A l thusse r , do pa ra d igm a
lingiiistico
— o
segundo e lemento identificado acima.
E
e m bora ,
no
conceito
d e " s o b r e d e t e r m i n a c a o " — u m a d e
sua s
c o n t r i b u i c o e s
ma i s
o r i g i n a i s
e
f r u t t f e r a s
—
A l t h u s s e r t e n h a r e t o r n a d o
ao s p r o b l e m a s das relacoes
entre
as praticas e a questao da
determinacao
(propondo, inciden ta lmente ,
um a reformulacao
inte iramente nova e a l tamente
sugestiva,
que recebeu
muito
pouc a atencjao subseqiiente) , el e t e nde u a reforcar a "auto-
nomia relativa" da s
diferentes praticas
e
suas especificidades
i n t e rn a s ,
condicoes e e fe i tos as custas de uma concepcao
"expressiva"
da tota l idade , com suas homologias e corres-
ponde nc ia s
t ipicas.
Alem dos universes
inte lec tuais
e
conceituais to ta lmente
distintos dentro
do s
quais
esses
paradigmas
al ternat ives se
de se nvo lve ra m , hav ia certos pon tos onde, apesar de suas
superposigoes aparentes,
o a j l t u r a i i s m o e
o^
estmtural ismo
_ s _ e c p n t r a s l a v a m n i t i d a m e n t e . P o d e m o s
i de n t i f i c a r
essa
c o n t r a p 6 s i £ a o e m u r n deseus pontos mais agudos, precisa-
mente em to rno d o conceito de "experiencia" e no tocante a o
pape l
que o
termo exerceu
e m
cada
perspectiva
1
E n q u a n t o
no
"cu l tura l ismo"
a experiencia era o solo — o^ te r re no do
"viy idol—
em que interag^am_a
c^i^j .C
L
ao^eacpnsc ienc ia , o
es t ru tura l fcmn
insistia
qite aj^ O
poderia s^ r^ fu j ida rnen to de coisa ajguma, pois so se_poc]ia
"viver^ e exper imentar as
proprias..c.Qndicoej
j
.^g?l?rQ^ atraves^
de categc>rias , c lassifica^oes e
quadrqs
c l e j -e fe r enc ia da
c u l t u r a .
Essas categorias,
c o n t u d o , n a o
surgiram
a
pa r t i r
da
e xpe r ie nc ia
o u
ne l a : antes,
a
experiencia
e r a um
"efeito"
de ssa s c a te goria s . O s c u l tura l i s t a s ha v ia m de f in ido c om o
coletivas
as
fo rm a s
de
consciencia
e
c u l tura .
M as
f i ca r am
longe da proposicao radica l segundo a
qual ,
em cultura e
l inguagem,
o
sujeito
e ra
"falado" pelas categorias
da
cu l tura
em que
pensava ,
em vez de
"fala-las". Tais categorias
n ao
e r am, entre tanto, somente cole t ivas,
a o
inve s
d e
individuals:
eram, para o s e s t ru tura l is t a s , e s t ru tura s
inconscientes.
E por
isso que, embora
Levi-Strauss falasse
somente
de cultura,
se u
conceito forneceu
a
base para
a
facil
t r aducao
pa ra
a
es t r u tu r a
conceitua l
da
ideologia feita
por
A l thusse r :
Sistema Tntegrado
de Bibliotecas/UFES
147
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 10/15
Ideologia e na
verdade
um sistema de
representacoes
mas na
maioria
das vezes, essas representa^oes nao
tern
nada a've
co m
a
consciencia ... € como e s t ru tu ra s
q ue
elas
se
impoem
a
ampla maioria dos
homens ,
nao via consciencia .... e dentro
desse inconsc ien t e
ideologico que os
homens
conseguem
alterar as experiencias vividas entre eles e o m u n d o e adquirem
um a nova forma especif ica
d e
inconsciente ,
que se
chama
consciencia.^
uma
fonte
autent icadora ,
ma s
cgjnojjm
efeitoj
na o como um
reflelfo"cIo~reaT7nias como um a "reiac.ao imaginar ia" . Fal tava
bem pouco
— apenas o passo que separa
A favor
de
Marx do
ensaio "Aparelhos ideologicos
de Estado" — para o
desen-
volvimento de um relate de como essa
"re lacao
imaginaria"
servia nao meramente ao dommio de uma c l asse gover -
nante sob re
um a
cl asse dominada ,
m a s (pe la rep roducao
das
relacoes de producao e a constitui£ao de uma forga de
trabalho adequada
a
exploracao capitalista)
a
ampla repro-
ducao do
proprio
modo de p roducao . Muitas das demais
linhas de divergencia entre os dois paradigmas fluem deste
ponto: a concepgao dos
"homens" como por tadores
da s
estruturas
que os
falam
ou situam, em vez de agentes ativos
n
const rucao de sua propria histor ia; a enfase sobre a
"logica" e strutural,
em vez da historica; a
preocupacao
com a
constitui^ao
— em
"tese"
— de um
discurso
cientffico
nao-
ideologico; e
da i
o
privilegio
do
t rabalho concei tual
e da
Teoria
como
algo
garantido;
a
remodelac.ao
da
historia como
u m marcha de es t ru tu ras : ... [Ver
A miseria da
teoria] a
"maquina"
es t ruturalis ta . . .
N ao ha como seguir as varias ramificagoes que surgi ram
e m um ou
outro
desses
g randes parad igmas
do s
Estudos
Culturais. Embora de nenhum modo deem conta de todas
o u
mesmo de quase todas as estrategias adotada s, eles
defi-
niram
as
principals
bases de desenvolvimento do campo. Os
debates
seminais foram polar izados em torno de suas tema-
i s e
a lguns
d os
melhores t raba lhos
concretes surgiram do s
esforc.os
que se f izeram por ope racional izar um ou outro
paradigma em prob lemas e
mater iais especi ficos. Dado
o
clima
sectario
e
au tocomplacen te
do
t r aba lho in te l ectua l
critico
na
Ing la te r ra ,
jun to
com sua
marcan te dependenc ia
e
de se
esperar
que os
a rgumentos
e
deba tes t enham
148
sido mai s f requentemente po la r izados
no s
seus extremes.
Neles ,
t a i s a rgumentos e deba tes mui tas
vezes
aparecem
somente
como m eros reflexes ou inversoes um do outro. Aqui ,
as pr incipals apologias que viemos trabalha ndo — em consi-
dera^ao
a uma exposicao adequada — tornam-se uma
prisao
para o pensamento.
Se m
sugerir que haja qualquer sintese facil entre os dois,
convem dizer neste ponto que nem o "cul turdismo" nem o
"estruturaligrjoo", em
suas atuais man ifes tacoes,
se
adaptam
a
tarefa
d e c o r s t r . u e t u d o u t u r a
Mesmo
ass im, a lgo impor tan te emerge da com paracao rud im enta r
entre suas respectivas
forc.as
e
limitacoes.
A grande
vantagem
do s
estruralismos
e a enfase dada as
"condi^oes determinadas". Eles nos
lembram
de que, em qual-
quer anal ise, a nao ser que se mantenha realmente a diale-
tica entre as duas metades da
proposi^ao
segundo a
qual
" os
homens
fazem
a historia . . . com base em
condicoes
que nao
escolhem", o resul tado sera inevi tavelmente
ur n
humani smo
ingenuo, com sua necessaria
conseqiiencia:
um a pratica poli-
ticaPvoTuntarista
e populista. N ao se deve permitir que o
fato
de os
homens poderem
se
tornar conscientes
de
suas con-
dicoes,
se
organizar para lutar contra elas
e, ate
mesmo,
transforma-las
— sem o que e
impossfvel
conceber, muito menos
praticar, qualquer politica ativa — apague a consciencia de
que,
na s
relacoes capitalistas, homens
e
mulheres
sa o
colo-
cados
e
posicionados
em relacoes que os
consti tuem como
agentes. "Pessimismo do intelecto e otimismo da vontade" e
um ponto de partida
melhor
do que uma simples
afirmagao
heroica. O
estruturalismo
no s
possibilita
comegar a
pensar
—
como insistia Marx — as rela oes de uma estrutura em outros
termos que nao as reduzam as relacoes entre as
"pessoas".
Esse era o
nivel
de
abstracao
privilegiado por
Marx:
aquele
qu e
Ihe permitiu romper
com o
ponto
de
par t ida obvio,
mas
incorreto, da "economia politica" — os meros individuos.
M as isso se H ga a uma segunda vantagem: o reconheci-
mento
pelo estruturalismo
nao so da
necessidade
de
abstracao
como
instrumento do
pensamento pelo qual
a s "relates
reais"
sao apropriadas, mas tambem da presenca, na obra de Marx,
de um movimento continuo e complexo entre
diferentes nweis
149
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
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de abstragao. Tambem
e
verdade, como
os
culturalistas argu-
mentam, que, na realidade h i s t o r i c a , as praticas nao apa-
recem nitidamente separadas em suas respectivas
instancias.
E nt r e t a n to ,
para pensar ou analisar a
complexidade
do real,
e
necessaria
a pra t ica do pensar e isso requer o uso do poder
da
abstracao e analise, a fo r m a ca o de conceitos com as quais
se pode recortar a complexidade do real, com o proposito de
revelar e trazer a luz as relacoes e estruturas que nao podem
se
fazer
visiveis ao
olhar
nu e
ingenuo,
e que
tambem
nao
podem
se apresentar
ne m
autenticar a si mesmas. "Na analise
das formas economicas, nao podemos recorrer nem ao micros-
copic,
nem aos reagentes quimicos. O poder da abstracao deve
substi tuf-los." De
fato,
o estruturalismo f r equentem ente levou
essa proposicao ao extremo. Um a vez que o pensamento e
impossivel
sem o
"poder
da abstracao", o
estruturalismo
confunde
isso,
dando primazia absoluta
a
formacao
de
conce itos — e somente no nive l de abstrafao mais alto e
mais abstrato: a Teoria com "T "
maiusculo,
entao, se torna
juiz
e
jur i .
Mas isso significa, precisamente, perder de vista o
insight conquistado a par t i r da propria prat ica de Ma r x . Por-
que esta claro, por
exemplo,
em O capital, que o metodo —
embora claramente tenha lugar
"no
pensamento"
(e
onde mais
ocorreria? perguntava M a r x na Introducao de 1857)
2
^ — nao
se
apoia sobre
o simples exercicio da
abstracao,
mas sobre o
movimento e as
relacoes
que o argumento constantemente
estabelece entre os
diferentes niveis
de abstracao: em cada
um, as premissas que estao em jogo devem ser distinguidas
daquelas
que — em considerable ao
argumento
—
tern
de
ser
sustentadas permanentemente.
O
movimento
em direcao
a um novo nivel de grandeza (para usar a metafora do micros-
copic)
requer
a especificacao de outras condicoes de exis-
tencia ainda nao disponiveis em um nivel anterior mais
abstrato:
desse
modo,
por
sucessivas
abstracoes de
diferentes
magnitudes,
mover-se
em direcao a constituicao, a reprodufao
do "concrete no pensamento" como efeito de um certa fo r m a
de pensar. Esse metodo nao e apresentado adequadamente
nem no
absolutismo
da
Pratica teorica
do
estruturalismo,
nem
na posicao de antiabstracionismo de Miseria da teoria (de
E.
P. Thompson), em direcao a qual o culturali smo parece ter
sido dirigido
ou se
dir igiu, como resposta. Mesmo assim,
se
150
mostra intrinsecamente
teorico
e deveria se-lo. Aqu i , a insis-
tencia do estruturalismo de que o pensamento nao
reflete
a
realidade,
mas se
articula
a
partir dela
e
dela
se
apropria, £
um ponto de partida obrigatorio. Uma perlabora cao ade-
quada
das
conseqiiencias
desse
argumento pode comecar
a
produzir
um
metodo
que nos
livre
das
permanentes oscilacoes
entre abstracao/antiabstracao e das faisas dicotomias entre
Teoricismo
versus Empi r i smo, que marcaram, bem como desfi-
guraram, o encontro entre o culturalismo e o estruturalismo
ate
agora.
O
estruturalismo tern outra vantagem,
na sua concepcao
do "todo". Embora o culturalismo sempre insista na particu-
laridade radical de suas praticas, em certo sentido, seu modo
de conceituar a "totalidade" tem por
t ras
algo da complexa
simplicidade de uma totalidade expressiva. Sua complexi-
dade e constituida pela f lu idez com que certas praticas se
sobrepoem:
mas essa complexidade e
redutivel conceitual-
mente a "simplicidade" da praxis —
a
atividade humana
enquanto ta l — em que as mesmas contradicoes constante-
mente aparecem
e de
modo homologo
se
refletem
em
cada
uma delas. O estruturalismo vai
longe denials
ao erigir a ma-
quinaria da "Es t rutura" , com suas tendencias autogeradoras
(uma "eternidade spinoziana",
cuja
f uncao e somente a
soma
de seus
efeitos:
um
verdadeiro desvio estruturalista), equi-
pada com suas instancias especificas, Mesmo assim, repre-
senta um
avanco
em
relacao
ao cultura lismo na
concepcao
que este tem da necessaria complexidade da unidade de uma
estrutura (sobredeterminacao e uma fo r m a mais bem-suce-
dida de pensar essa
complexidade
do que a combinatoria
invariante da causalidade estruturalista).
M a i s
ainda, por sua
capacidade conceitual de pensar uma unidade que seja cons-
truida
atraves
das
diferengas,
e nao das homologias, entre as
praticas.
A q u i
de novo se logrou uma
in tuicao cri tica
acerca
do metodo de M arx : podemos pensar nas var ias passagens
complexas
da Introducao de 1857 aos
Grundrisse,
onde
M a r x demonstra como
e possivel
pensar
a
unidade
de uma
formacao social como algo que se constroi a partir da dife-
renga e nao da identidade. Obviamente, a
enfase
na di fe renca
pode
ter
levado
ou
levou
os
estruturalismos
a uma
heteroge-
neidade conceitual fundamental, em que todo sentido de
151
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
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es t ru tu ra e to ta l i dade se perde. Foucau l t e ou t ros pos-
al thusser ianos tomaram esse caminho tortuoso
em
di recao
a autonomia
absoluta,
na o a relat iva, das prat icas, atraves
da postulate
de sua
necessaria heterogeneidade
e da sua
"nao-correspondencia
necessaria".
M as a
enfase
na
unidade-
na-diferenca, na unidade complexa — a "unidade de multiplas
determinates" que define o concrete em
Marx
— pode se r
t rabalhada
numa outra e, em ultima instancia, mais
frutifera
direcao:
a
problematica
da
autonom ia relativa
e da
"sobrede-
terminacao",
e o
estudo
d a
articula ao.
D e
novo aqui, articu-
lacao e algo que corre o risco de um alto formal ismo. M as
possui
a
grande vantagem
de nos
possibilitar pensar como
praticas especificas
(articuladas e m
torno
de contradicoes que
na o surgem da mesma forma, no momento e no mesmo
ponto)
podem todavia
se r
pensadas conjuntamente.
O
parad igma
estruturalista, se
desenvolvido c orretam ente,
no s
permite,
de fato, conceituar a especi ficidade de prat icas di ferentes
(anal i t icamente di ferenciadas e abstraidas),
sem
perder de
vista o conjunto po r
elas constituido.
O culturalismo
afirma
constantemente a especificidade de praticas diferentes — a
"cultura" na o deve ser absorvida
pelo
"economico": mas Ih e
falta
uma ma neira adequad a de estabelecer essa especifici-
dade teor icamente.
A terceira vantagem
que o
estruturalismo exibe reside
em
se u
descentramento
da "exper iencia" e seu t rab alho or iginal
de
e laboracao
da categoria negligenciada de "ideologia". E
dificil
conceber um pensamento em Estudos
Culturais
dentro
de um parad igma ma rxista que seja inocente da categoria de
"ideologia".
E claro, o
cul tural ismo constantemente
se
refere
a esse
conceito:
mas ele de
fato
nao se situa no centro de seu
universe
concei tual . O poder autenticado r e a referenda da
"exper iencia" impoem uma b arrei ra entre o culturalismo e uma
concepcao
adequada de " ideologia". Contudo, sem ele, a efi -
cacia da
"cul tura"
para a
reproducao
de um modo
especifico
de producao nao pode se r compreendida. E verdade que ha
um a
tendenc ia
marcan te
nas concepcoes
mais recentes
de
"ideologia" de dar a ela uma lei tura
funcionalis ta
— co m o
o cime nto necessar io da formacao social. A par t i r dessa
posicao,
e de
fato impossivel
— como o culturalismo afirmaria
corretamente — conceber tanto as ideologias que nao sao,
po r definicao, "dominantes" ou a ideia de
luta
(o surgimento
152
desta no famoso ar t igo da
A IE
de A l thusser fo i — para
cunhar
ainda outro
termo
—
basicamente
" um gesto") . C o n -
tudo , tern sido feito um trabalho que sugere formas pelas
quais
o
campo
da
ideologia pode
s er
adequadamenle conce-
bido
como
um
ter reno
de lutas
(pela obra
de
Gramsci
e,
mais
r ecen temente , de Laclau)
25
e estes tern referenciais estrutu-
ralistas, em vez de c ul tural istas .
A s vantagens
do
cul tural ismo podem
se r
der ivadas
da s
deficiencias
da
posicao
estruturalista ja notadas acima e de
seus
silencios e
ausencias
estrategicas. Ele
insistiu,
correta-
mente, no momento afirmativo de desenvolvimento da orga-
nizacao e da luta consciente como elemento necessario a
analise da historia, da
ideologia
e da
consciencia: contraria-
mente ao seu persistente rebaixamento no paradigma estru-
turalista.
D e
novo,
e
Gramsci ,
em boa
par te,
que nos
fornece
um
conjunto d e catego rias mais refina das atraves das quais
podemos vincular as categor ias Cul turais em grande par te
"inconscientes" e ja dadas do "senso comum" com a formacao
de ideologias mais ativas e organicas, que sao capazes de
intervir
no piano do senso comum e das tradicoes populares
e, atraves de tais
intervencoes,
organizar as massas de homens
e
mulheres. Nesse sentido,
o
c ulturalismo restaura
adequada-
mente a
dialetica existente entre
o
inconsciente
da s
categorias
Culturais e o
momento
de
organizacao consciente: ainda que,
de mane i ra caractenst ica, ele tenda a igualar a excessiva
enfase
do estruturalismo sobre as
"conduces"
com uma enfase
demasiado inclusiva sobre a " consciencia". P or tanto, o cul tu-
ralismo n^o apenas recupera
—
como mom ento nece ssario
de
qua lquer ana l i se
— o
processo
por meio do
qua l
as
classes em si, definida s princ ipalm ente pela forma atraves
da
qual
as
re lacoes economicas pos i c ionam
os
"homens"
como agentes, se to rnam
forcas
politicas e historicas ativas
—
para-si — mas tambem
requer
que — contra seu
proprio
b om senso anti te6r ico — ao ser
adequadamente
desenvol-
vido, cada momento seja entendido
em
termos
do
nivel
de
abstracao em que a anal ise esta operando. Mais um a vez,
Gramsci comeca a apontar o caminho entre essa
falsa
polari-
zacao,
em sua
discussao
da
"passagem entre
a
es t ru tu ra
e a
esfera da s superes t ru tu ras complexas" , e suas di ferentes
fo rmas e momentos .
153
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 13/15
N os concentramos aqui, principalmente,
na
caracter izacao
daquilo
que nos
parece constituir
os
dois paradigmas seminais
em
acao
no s Estudos
Cul turais .
O bviamente , eles nao sao os
unices paradigmas ativos. Novos desenvolvimentos
e
linhas
de
pensamento
nao estao
adequadamente captados
po r seus
termos. E ntretanto,
esses
paradigmas podem, nu m certo sen-
tido, se r
empregados para medir aquilo
que nos
parece
se r
as
fraquez as radicals
ou as
deficiencias
dos que se
oferecem
como pontos d e
convergencia
alternativos. Aqui , brevemente,
identificamos
tres.
O primeiro e aqueie que sucede a Levi-Strauss. E
u m
seguimento
Idgico, mais do que temporal: a primeira semio-
tica
e os termos do paradigma linguistico, e o centramento
sobre as "praticas significativas", movimentando-se atraves
de conceitos
psicanaliticos
e
Lacan
ate um
recentramento
radical
de
todo
o ter reno do s Estudos C ul turais em torno do s
termos "discurso"
e "o
sujeito". Uma
forma de
compreender
essa
l inha
de pensamento e ve- a como
um a
tentat iva de
preencher aquela lacuna no estrutural ismo inicial (seja em
suas variantes marxistas ou nao-marxistas)
onde,
em discursos
anteriores ,
era de se esperar que "o sujeito" e a subjetividade
aparecer iam, mas nao o
fizeram.
Este e, precisamente, um
dos
pontos-chave
onde o cul tural ism o faz sua cr i tica aci r rada
sobre os
"processes se m
sujeito" do estruturalismo. A dife-
renga
e
que, enquanto
o
culturalismo corrigiria
o
hiperestru-
turalismo
dos modelos anteriores pela restaurac.ao do sujeito
unificado
(coletivo ou individu al) da consciencia no centro
da "Es t ru tu ra" , a
teoria
do
discurso,
po r
i n te rmedio
do s
concei tos freudianos
d o
inconsciente
e dos
conceitos laca-
nianos de como os sujeitos sa o constituidos na l i nguagem
(pel a en t r ada no
Simbol ico
e na L e i da C u l tu ra ) , r es tau ra
o su je i to descentrado, o su je i to con t r ad i to r i o , como um
c o n j u n t o
de
posicoes
na l inguagem e no conhecimento, a
partir do
qual
a cul tura
pode
parecer e nunciada . Essa abor-
dagem i den t i f i ca c l a r amente uma l acuna , nao apenas no
es t ru tura l i smo m as no proprio m arxismo. O problema e que
a maneira de
conceitualizac.ao desse
"sujeito" da cul tura
te m
um carater
transistorico
e "universal " : e la aborda o sujeito-
em-geral ,
nao os sujei tos sociais histor icamente determi-
nados ,
ou
linguagens especificas socialmente determinadas.
Assim, e incapaz, ate aqui, de movimentar suas proposic.6es
154
em
geral
ao
nivel da analise
historica
concreta. A segunda
dif iculdade e que os processes d e contradicao e luta — alo-
jados
pelo
primeiro estruturalismo inteiramente
no
nivel
da
"estrutura" — estao agora,
gracas
a uma daquelas persistentes
inversoes —
aiojados exclusivamente
no
nivel
do s
processes
psicanaliticos inconscientes. Talvez, conforme um argumento
comum
no culturalismo, o
"subjetivo"
seja um
momento
neces-
sario
de
qualquer anal ise desse tipo.
M as isso e algo
mui to
diferente do desmantelamento do con jun to do s
processes
sociais do s diversos modos de
producao
e formac.6es sociais,
e sua reconstituigao exclusiva ao nivel de processes incons-
cientes psicanaliticos. Embora
um
trabalho importante tenha
sido feito dentro deste paradigma, tanto para defini-lo quanto
para desenvolve-lo, suas alegacoes
de ter
substituido todos
os termos do s paradigmas anteriores por um conjunto mais
adequado de conceitos parecem desvairadamente ambiciosas.
Suas
pretensoes de haver integrado ao marxismo um materia-
lismo
mais adequado sao, basicamente, uma reivindicacao
semantica, em vez de conceitual.
Um segundo desenvolvimento
e a
tentativa
d e
retorno
ao s
termos de uma "economia
politica"
de cultura mais classica.
Essa
posi^ao
argumenta
que a
concentrac.ao sobre
os
aspectos
culturais e ideologicos tem sido exagerada. E la restaura os
termos mais antigos da "base/superestrutura" , encontrando,
na determinacao em ultima instancia do cultural-ideologico
pelo
economico, aquela hierarquia de
determinates
qu e
parece faltar a amb as as alternativas. Essa posicao insiste que
os processes economicos e as estruturas de produgao cultural
sa o mais significantes do que seu aspecto cultural-ideologico
e que estes sao um tanto adequadamente apreendidos na
terminologia mais classica
do
lucro, exploragao, mais-valia
e
a analise da cultura como
mercadoria.
E la
retem
a nocao de
ideologia enquanto
"falsa
consciencia".
Naturalmente ,
ha certa vantagem na afirmativa de que tanto
o estrutural ismo quanto o culturalismo, de formas distintas,
negl igenciaram a anal ise economica da p roducao cu l tu ra l
e
ideologica .
Me s m o
assim, com o retorno a esse ter reno
mais "classico", mui tos problemas que o cercavam
tambe 'm
reaparecem. A especificidade do efeito da
dimensao
cul tural
e ideo 6gica rnais uma vez tende a desaparecer . T ende a
155
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 14/15
c o nc e b e r o
nivel
economico nao apenas como uma expli-
cacao
"necessaria" ,
m as "suficiente" , dos
efei tos
cu l tu ra i s
e
ideo 6gicos.
Seu foco sobre a analise da forma de merca-
doria, semelhantemente,
obscurece todas
as distincoes cuida-
dosamente estabelecidas entre
as
diferentes praticas,
uma vez
que sao os aspectos mais genericos d a forma de mercadoria
que atraem a
atencao. Portanto,
suas deducoes se restringem
basicamente
ao nivel epocal de
abstracao:
as generalizacoes
sobre a forma de mercadoria se aplicam verdadeiramente a
toda a era capitalista.
Muito
pouco
dessa analise concreta e
conjuntural
pode ser deduzido nesse alto nivel de
abstracao
da
"logica
do
capital".
Ela tambe"m
tende
a seu
proprio
funcio-
nalismo — um funcionalismo da
"logica",
e nao da "estrutura"
ou da
historia. Essa abordagem, t ambem, possui discerni-
mentos
qu e
valem
a
pena acompanhar.
M as ela sacrifica
muito
daquilo que dolorosamente assegurou, sem ganho compensa-
torio em sua capacidade explanativa.
A
terceira posicao esta intimamente relacionada a iniciativa
estruturalista, mas
seguiu
o
caminho
d a " diferenca" ate" a
hete-
rogeneidade radical.
A
obra
de
Foucault
— que
atualmente
goza de um daqueles periodos de discipulado acritico pelo
qual os
intelectuais
britanicos
reproduzem hoje
su a depen-
dencia
da s
ideias francesas
de
ontem
—
tern surtido
um efeito
soberbamente positive, sobretudo porque,
ao
suspender os
prob lemas quase inso luve i s
d e
de te rminacao , Foucaul t
possibilitou
u m grato retorno a analise concreta de formacoes
ideologicas
e d iscursivas especificas e aos
locals
de sua
elabo-
racao. Foucault
e
Gramsci, entre
eles, sao responsaveis por
muitas das obras mais produtivas sobre analise concreta hoje
em
andamento
na
area; desta
forma reforcando e —
parado-
xalmente —
sustentando
o sentido da instancia
historica
concreta que
te m
sido sempre u m dos pontos fortes do cultu-
ralismo.
Mas,
novamente,
o exemplo de
Foucauft
e positive
somente se sua
posicao epistemologica geral
nao for engo-
l ida por inteiro. Pois, de fato, Foucault suspende ta o resolu-
tamente a
crftica
e
adota
um
ceticismo
t ao extreme a
respeito
de
qualquer
determinacao ou
relacionamento entre
as
praticas,
a
nao ser aquelas basicamente
contingentes,
qu e
somos
auto-
rizados a
ve-lo
nao como um
agnostico
em
relacao
a essas
questoes,
m as como alguem
profundamente
comprometido co m
a necessaria
nao-correspondencia
de
todas
as
praticas
umas
156
com as outras. D e
ta l
posicao, nem uma
forma^ao
social,
ne m
o
Estado,
pode se r
adequadamente pensado.
E, de
fato,
Foucault constantemente cai no bur aco que
ele
mesmo cavou.
Pois quando — contrariamente as suas
posicoes epistemo 6-
gicas bem-definidas — ele se depara com certas "correspon-
dencias"
(por exemplo,
o
simples fato
de que os
momentos
mais importantes de
transicao
que ele
tracou
em cada um de
seus estudos — sobre a
prisao,
a sexualidade, a medicina, o
hospicio,
a linguagem e a economia politica — parecem
todos
convergir exatamente em torno
daquele ponto
em que o
capita l ismo
industrial
e a
b urguesia
fazem
se u
rendez-vous
historico
e decisive), Foucault cai
n um
reducionismo
vulgar,
que desfigura inteiramente as posicoes sofisticadas que ele
avancara alhures. Ele e bem
capaz
de
conduzir ,
pela
porta
do s fundos , as
classes
qu e
acabara
de
expulsar
da
frente.
Eu disse
o suficiente para indicar que, na
minha visao,
e a
vertente
do s
E studos C ulturais
q ue
tentou pensar
partindo
do s melhores elementos dos paradigmas
culturalista
e estru-
turalista, atraves de
alguns
dos concei tos
elaborados
po r
Gramsci,
a que mais se aproxima das exigencias
desse
campo
de estudo. E a razao para tal deve agora ser obvia . Embora
ne m o culturalismo nem o estruturalismo bastem, como para-
digmas
auto-suficientes para o estudo, eles sao centrals para
o
campo,
o que falta a todos os
outros contendores, porque,
entre
si — em suas
divergencias, assim como
em
suas conver-
gencias —
eles
enfocam o que deve ser o problema
central
do s
Estudos C ulturais. Eles
no s devolvem
constantemente
ao terreno marcado
pela
dupla de concei tos forteme nte
arti-
culados, mas nao mutuam ente excludentes, de
cul tura/ ideo-
logia.
Juntos, eles p ropoem os
problemas
que advem de
pensar tanto a especificidade de
prat icas
diferentes como as
formas
de
unidade articulada
qu e
constituent. Fazem
um
constante —
embora fraco
—
retorno
a metafora
base/superes-
trutura.
Estao corretos
er n
af i rmar
qu e
esta questao
— que
resume
todos os
problemas
de uma
determinacao
nao-redu-
tiva — e o
cerne
d a
questao;
e que da solucao desse
p rob lema
depende
a saida dos Estudos Cul tura is da osci lacao entre
ideal ismo e
reducionismo. Eles confrontam
—
mesmo
em
modos
radicalmente distintos
— a
dialetica entre
condicoes
e consciencia. Em outro nivel, colocam a questao da relacao
entre a logica de pensar e a "logica" do processo historico.
157
7/23/2019 Estudos Culturais 2paradigmas Stuart Hall-2
http://slidepdf.com/reader/full/estudos-culturais-2paradigmas-stuart-hall-2 15/15
Continuam a sustentar a
promessa
de uma teoria realmente
materialista da cultura. Em seus duradouros
antagonismos,
que se reforcam mutuamente,
nao
prometem uma
sintese
facil.
Entretanto,
entre si, definem o espaco e os
limites
dentro
dos quais essa sintese podera ser constituida. Nos Estudos
Culturais,
eles
sao "o que
ha".
[ H A L L S.
C u l t u r a l S tud ies :
T w o
Paradigms. Media
Culture
and Society,
n. 2, p.
57-72 ,
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Tra duca o
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Ca r o l ina
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No
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autor: W I L L I A MS ,
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