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INVESTIGANDO O PAPEL DO MONITORAMENTOCOGNITIVO-DISCURSIVO E DA META-REFLEXÃO NA
FORMAÇÃO DE TRADUTORES
Célia MagalhãesUniversidade Federal de Minas Gerais
Fabio AlvesUniversidade Federal de Minas Gerais
Resumo: Partindo de abordagens cognitivas e discursivas dos estudos datradução, este artigo visa a um refinamento de proposta didática, feita emestudos anteriores (Alves, Magalhães e Pagano, 2002; Alves e Magalhães,2004), para o desenvolvimento de competências em tradução por meio doincremento de uma interface cognitivo-discursiva. Seu objetivo é analisarretextualizações e relatos retrospectivos produzidos por tradutores novatoscuja formação inicial se fundamentou na aquisição de conhecimentosdeclarativos sobre a linguagem e na reflexão sobre seus próprios processosde tradução. No desenvolvimento das competências destes tradutores novatosno contexto da sala de aula, foram usados conceitos das abordagens sistêmicae cognitiva dos estudos da tradução. Posteriormente, analisaram-se seusrelatos retrospectivos com o suporte da análise crítica do discurso. Os métodosusados foram a prática de leitura crítica com base nos conceitos de coesão,registro e gênero; e de escrita crítica, com base em reflexão sobre o processocognitivo auxiliado pelo uso do software Translog. Posteriormente, procedeu-se à análise crítica do hibridismo de tipos textuais, gêneros e discursos nosrelatos retrospectivos dos tradutores. Os resultados mostram que há efeitospositivos de desenvolvimento do conhecimento declarativo e da meta reflexãodos tradutores novatos, interpretados através da configuração genérica dosrelatos e dos discursos neles construídos.Palavras-chave: abordagem cognitivo-discursiva, competência em tradução,leitura e escrita crítica, meta cognição, análise crítica de relatos retrospectivos.
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Abstract: Building on cognitive and discursive approaches to translationstudies, this article aims at improving a didactic proposal made in earlierstudies (Alves, Magalhães e Pagano, 2002; Alves e Magalhães, 2004) todevelop expertise in translation by adopting a cognitive-discursive perspec-tive in translator’s training. The article’s main goal is to analyze translationsand retrospective protocols produced by novice translators whose initialtraining was based on the acquisition of declarative knowledge about lan-guage and reflections about their own translation processes. Concepts drawnfrom systemic-functional linguistics and translation process studies wereused in order to enhance the translation competence of novice translators.Afterwards, their retrospective protocols were analyzed from a critical dis-course analysis perspective. Methods used in the study comprised the de-velopment of critical reading, by means of concepts such as cohesion,register and genre, and critical writing, based on reflections on cognitiveprocesses carried out with the aid of the software Translog. Critical dis-course analysis was the basis for the investigation of hybridity of text types,genres and discourses in the retrospective protocols produced by transla-tors. The results point out that there are positive effects on the developmentof declarative knowledge and meta-cognition among novice translators, in-terpreted through the generic configuration of the retrospective protocolsand the discourses constructed therein.Keywords: cognitive-discursive approach, translation competence, criticalreading and critical writing, meta-cognition, critical analysis of retrospectiveprotocols.
Introdução
A partir dos estudos de natureza processual, pode-se argu-mentar que a formação de tradutores deve-se pautar pelas evi-dências encontradas na literatura sobre competência em tradu-ção. Nesta área, contudo, também gera polêmica a discussão sobrequais seriam os componentes-chave para o desenvolvimento dacompetência do tradutor. Por um lado, Robinson (1997), PACTE(2003) e Hurtado Albir (2005), entre outros, argumentam que acompetência do tradutor é um conhecimento eminentementeprocedimental e se desenvolve subliminarmente. Por outro lado,Kiraly (1995), Alves, Magalhães e Pagano (2000), Alves, Maga-
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lhães e Pagano (2002), e Alves e Magalhães (2004) defendem oponto de vista de que a competência do tradutor tem uma baseexplicitamente vinculada a conhecimentos declarativos específi-cos e que o desenvolvimento da competência específica em tra-dução (cf. Gonçalves, 2003; Alves e Gonçalves, no prelo) acon-tece a partir de um processo de conscientização de base metareflexiva.
Como refinamento desta proposta de competência em tradu-ção de base declarativa e simultaneamente meta reflexiva, bus-camos a noção integradora de tradução de Hurtado Albir (2005),como operação textual, evento comunicativo e processo mental.Nossa abordagem, todavia, difere daquela proposta por HurtadoAlbir (1999), a qual privilegia o enfoque por tarefas enquantoabordagem para o ensino de tradução. A abordagem de Alves,Magalhães e Pagano (2000), de base processual e discursiva,baseada principalmente em Hansen (1999) e Baker (1992), con-templa a análise textual articulada ao monitoramento do processono ensino/aprendizagem de tradução e propõe uma abordagembaseada na identificação de problemas por parte do tradutor apren-diz e no desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos de-clarativos, relativos à análise discursiva, incluindo-se os elemen-tos que dizem respeito à tradução enquanto gênero (cf. Hatim,2001), que possam vir a se tornar procedimentais à medida que opercurso do aprendiz avance no continuum que permeia nossaconcepção de competência em tradução.
Revisão da literatura
A preocupação com a integração de dados de produto e dadosprocessuais pode ser encontrada numa revisão de teóricos que atu-am na área de estudos do processo tradutório. Hansen (2002) apre-senta uma coletânea de propostas que conjugam o estudo do pro-cesso e do produto da tradução. Nessa coletânea, Hansen (2002),
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por exemplo, além de focalizar o processo, utiliza as abordagensfuncionalistas para a avaliação da qualidade das traduções produ-zidas no âmbito de seus experimentos; Andersen (2002) usa asconsiderações sobre a tradução da metáfora de Peter Newmarkno estudo do processo; Lorenzo (2002a) faz uso do modelo deanálise textual de Christiane Nord; Jensen (2002) faz uso do mo-delo de avaliação da qualidade de traduções de Juliane House, edo modelo de análise textual de Christiane Nord, além do modelode análise de gênero textual de Bhatia e de análise do discursousado por Wolfgang Lörscher para análise de protocolos verbais(TAPs); Livbjerg e Mees (2002) usam a proposta de Alves, Ma-galhães e Pagano (2000), embora se concentrem prioritariamentena estratégia de uso de dicionários; Jakobsen (2002), baseado emdados quantitativos e utilizando o conceito de ritmo cognitivo pro-posto por Schilperoord (1996), define o produto de tradutores ex-perientes como textos mais duráveis. Vale observar, entretanto,que todos os autores que participam do volume organizado porHansen (2002) focalizam o texto traduzido como produto, a partirde bases teóricas discursivas diversas, para efeito de avaliaçãoda qualidade do referido produto, e não como proposta a ser in-corporada na formação do tradutor. Nesse sentido, não prevêemo desenvolvimento da análise dos gêneros como tarefa anteriorao monitoramento do processo de retextualização, visando a umaconscientização discursiva desses gêneros.
Um trabalho com descrição de dados do processo de traduçãoimportante para a proposta de ensino que fazemos é o de Lorenzo(2002b). A autora analisa dados do processo de tradutores nova-tos no par lingüístico dinamarquês/espanhol, argumentando que ouso do software TRANSLOG©1 tem permitido uma descriçãoabrangente das fases do processo tradutório e que este uso podeser expandido para a situação de ensino de tradução. Outra pro-posta também importante é a de Olk (2002) que combina o uso deTAPs com um trabalho de desenvolvimento de consciência críti-ca da linguagem, utilizando dados do processo como reveladores
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de aspectos da construção discursiva dos tradutores participantesdos experimentos.
Por uma abordagem cognitivo-discursiva na formação detradutores
Apesar de o trabalho de Olk (2002) abrir uma nova frente paraa integração das perspectivas processuais e discursivas, sua abor-dagem ainda não trabalha a interface produto/processo e não rela-ciona as verbalizações dos tradutores com seus produtos, como ofazem Alves, Magalhães e Pagano (2002). Estes autores advogamo uso de métodos empíricos em tradução na formação de traduto-res para levá-los a uma percepção do texto baseada em conheci-mentos meta reflexivos. O foco de seu estudo é a leitura crítica deRelatos Retrospectivos (daqui em diante, RRs) como ferramentapara compreender o processamento cognitivo e auxiliar naconscientização dos tradutores novatos, visando a promover umamaior autonomia. Também fazem uso de análise discursiva dosprodutos, correlacionando-os aos RRs, com base em pressupostosda análise crítica do discurso, especialmente as questões relativasa gênero. Em continuidade a esse primeiro estudo, Alves e Maga-lhães (2004) propõem uma abordagem combinada que integra tra-ços cognitivos e discursivos na formação de tradutores, com o ob-jetivo de melhorar o desempenho de tradutores novatos, levando-os a desenvolver ritmos cognitivos mais próximos daqueles obser-vados em tradutores expertos, um nível mais alto de consciênciacrítica da linguagem e, em termos de processamento qualitativo,de maior durabilidade (Alves, 2005a), entendida como o resultadode uma configuração de desempenho específica que evidencia umpadrão de processamento e monitoramento da produção textualpassível de ser associado ao gerenciamento cognitivo eficiente e aoexercício de meta-reflexão sob uma perspectiva meta-cognitiva.Para a análise comparativa dos RRs e produtos, introduzem a aná-
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lise textual baseada em corpus, especialmente o uso das linhas deconcordância e a consulta a bancos de dados para interpretação dascolocações, ou co-ocorrências convencionais de palavras nas lín-guas do corpus paralelo em estudo. Alves (2005a), a partir dasnoções de ritmo cognitivo e durabilidade, analisadas através daseparação do processo de tradução em três fases distintas — orien-tação, redação e revisão — propõe um desenho experimental como intuito de aferir parâmetros de análise do desempenho processu-al de tradutores novatos e experientes a partir da relação de seusprocessos e suas traduções com níveis de meta reflexão e experi-ência. Para análise dos produtos, visando correlacionar dados pro-cessuais e textuais no escopo do conceito de durabilidade, o autorusa o modelo de Klaudy e Károly (2000), adaptado de Hoey (1991),focalizando padrões coesivos de repetição. Pagano, Magalhães eAlves (2005) revisam trabalhos desenvolvidos na interface cogniçãoe discurso, destacando o papel relevante do conhecimento declara-tivo relativo a aspectos da construção discursiva de um texto e desua retextualização numa outra língua na formação do tradutoraprendiz e apontando a necessidade de se desenvolver um experi-mento controlado que permita, de fato, confirmar essa hipótese.Alves (2005b), revisitando a dicotomia entre conhecimentoprocedimental e declarativo na formação de tradutores, baseia-seem princípios conexionistas (Elman et al., 1996) e na teoria darelevância (Sperber e Wilson, 1986/1995) para propor a incorpo-ração dos dados colhidos com o TRANSLOG© no ensino de tradu-ção como insumo para desenvolvimento da meta reflexão de tradu-tores novatos. O autor alinha-se à proposta apresentada pelo grupoPACTE (2003) e por Hurtado Albir (2005) sobre a relevância docomponente procedimental da competência tradutória que se con-solida a partir da pré-competência tradutória através do domínio cu-mulativo de práticas específicas. Todavia, Alves (2005b) se reportaao conceito de prática deliberada (Ericsson, 2002) para justificar suaafiliação a princípios conexionistas e destaca que o domínio dessabase procedimental é reforçado por conhecimentos declarativos, de
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natureza meta reflexiva, que possibilitam ao tradutor o controle maisconsciente das fases do processo de tradução. Nesse sentido, Alvesvincula-se novamente às propostas anteriores de Alves, Magalhãese Pagano (2000, 2002), de fomento da formação de tradutores a par-tir de processos de conscientização das características cognitivas ediscursivas intrínsecas ao fazer tradutório.
No âmbito de uma proposta de investigação vinculada ao CorpusProcessual para Análises Tradutórias (CORPRAT) e ao CorpusDiscursivo para Análises Lingüísticas e Literárias (CORDIALL),a presente proposta está baseada numa abordagem conexionistaem interface com uma abordagem discursiva para o desenvolvi-mento de um corpus processual sobre a aquisição de competênciaem tradução. Tomamos como ponto de partida a abordagem deMunday (2001), na interface da Lingüística Sistêmico-Funcionalcom a Lingüística de Corpus, proposta pelo autor como base paraos estudos descritivos da tradução, com vistas ao levantamento dehipóteses com relação às mudanças e possíveis padrões emergen-tes na tradução. Embora não alinhados com os estudos descritivosda tradução, estamos propondo usar tal interface na formação detradutores para a análise das retextualizações, associada à descri-ção dos dados do processo colhidos com o TRANSLOG© e a umaanálise crítica dos relatos retrospectivos de tradutores novatos.
Analisamos um corpus de traduções desses tradutores, no esco-po da noção de tradução como operação textual, com foco nas co-locações (estudo que pode ser implementado com o auxílio das li-nhas de concordância produzidas através da ferramentaCONCORD, do software WORDSMITH TOOLS, quando se tra-tar de um corpus de dimensão maior). Analisamos, ainda, o âmbi-to da tradução como processo mental, com base na descrição dosdados do processo colhidos através do TRANSLOG© e na análisecrítica do discurso dos relatos retrospectivos, com base nohibridismo deste gênero e com o auxílio das listas de palavras pro-duzidas através da WORDLIST, outra ferramenta doWORDSMITH TOOLS.
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Nossa concepção de registro e gênero parte da LingüísticaSistêmico-Funcional (Halliday e Hasan, 1985) e da análise deregistros e gêneros (Eggins e Martin, 1997) numa interface coma análise crítica do discurso (Fairclough, 2001; 2003). Partindodo conceito mais amplo de “contexto de cultura”, que nos ofe-rece uma rede de escolhas para o uso da (e a ação e a significa-ção com) a linguagem em “contextos de situação” específicos,os quais geralmente determinam a probabilidade de ocorrênciade determinados usos lingüísticos, tomamos registro como umconstruto teórico que representa a noção consensual de que usa-mos a língua de acordo com o “campo” (“ação social”), as “re-lações” (“estrutura de papéis dos interlocutores”) e “modo”(“organização simbólica”) da linguagem. Tais variáveis do con-texto de situação podem ser associadas às funções da lingua-gem, quais sejam, a experiencial, a interpessoal e a textual, eao estrato semântico-discursivo da linguagem (Martin, 1992;Eggins, 1994). O registro, então, daria conta do contexto de si-tuação. Já o conceito de gênero faz a ligação entre o contexto desituação e o de cultura, explicando o funcionamento das institui-ções sociais dentro deste último. Gêneros são “tipos relativa-mente estáveis” usados em diversos contextos de situações deinteração nas instituições (entrevista, relatório, romance, etc.),usando convenções pré-determinadas pelas comunidades que par-ticipam das mesmas, para atingir determinados propósitos oucausar determinados efeitos, construindo ou naturalizando ide-ologias. Geralmente podem ser mais ou menos híbridos, depen-dendo do poder da instituição que pode cristalizá-los e não per-mitir que incorporem recontextualizações de outros gêneros, ou,em outras palavras, não permitir que se construam em cadeiacom outros. Uma representação dessa concepção da linguagem,que se compõe dos estratos semântico-discursivo e léxico-gra-matical, e está associada aos contextos de situação e de culturaé apresentada na Figura I:
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Figura 1: Léxico-gramática, semântica-discursiva e contexto (adaptada de Eggins,1994)2.
Ao contexto mais amplo, de cultura, vinculam-se os gênerosproduzidos pelas instituições sociais, a partir de suas ideologias.Ao contexto específico de uso da linguagem, de situação, vincu-lam-se as variáveis de campo, relações e modo, associadas porHalliday ao conceito de registro. Tais variáveis estão estreitamen-te relacionadas com as com as funções experiencial, interpessoal etextual da linguagem, que fazem parte do estrato semântico-discursivo (cf. Martin, 1992), e se instanciam no texto por meiodas relações lexicais, a estrutura interacional, e a referência econjunção. Tais relações lexicais e lógicas e estrutura interacionalse realizam por meio dos componentes do estrato léxico-gramati-cal da linguagem, a transitividade, o modo oracional e a estruturade Tema-Rema. Tal representação é bastante adequada para a aná-lise de registro.
Para a análise de gênero, precisamos fazer uma interface destaproposta com a proposta de Fairclough (2001, 2003). Este autor,por sua vez, em diálogo com Bakhtin e Foucault, provê um aparato
Ideologia
Gênero
Registro Campo Relações Modo Contexto
Relação Estrutura ReferênciaSemântico- Lexical Interacional e conjunção LinguagemDiscursivo
Experiencal Interpessoal Textual
Léxico- Transitividade Modo Oracional TemaGramatical
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teórico que apresenta o conceito de discurso(s) como “modos designificar a experiência a partir de uma perspectiva particular”(Fairclough, 2001: 39), conceito diferente daquele usado por Martin(1992), quando expande o estudo de coesão de Halliday e Hasan(1976), criando o estrato “semântico-discursivo”, com a noção de“discurso” representando as relações lexicais no texto e não entrefrases. Fairclough também apresenta a noção de interdiscursividadecomo “a constituição de um texto a partir de discursos e gênerosdiversos” (Fairclough, 2001: 39), que permite uma análise maisabrangente de gêneros por tentar explicar seu hibridismo atravésdos discursos a ele associados.
Neste artigo, tomamos como ponto de partida a posição defen-dida por Alves, Magalhães e Pagano (2000, 2002) e nos propomosa analisar, através de um estudo de base processual e discursivo, aaquisição da competência em tradução em dois grupos de traduto-res novatos que, por um ano, durante um semestre cada um, rece-beram treinamento com base em conhecimentos declarativos nosmoldes das propostas de Alves, Magalhães e Pagano (2000) ePagano, Magalhães e Alves (2005), publicada a posteriori. A in-corporação de subsídios da lingüística de corpus se dá, em conso-nância com trabalhos anteriores (cf., sobretudo, Pagano, Maga-lhães e Alves, 2005), em virtude do potencial comprovado dos es-tudos de corpora aplicados à tradução (Hunston, 2002; Olohan,2004), que surgem como uma contrapartida empiricamente funda-mentada e consistente para se tratar textos traduzidos de formaquantitativa e qualitativa. Configuram, nesse sentido, uma aborda-gem do produto da tradução que se apresenta com característicasmetodológicas semelhantes àquelas defendidas pelos pesquisado-res ligados à corrente processual, ou seja, uma abordagem quetrabalha de forma indutiva e descritiva objetivando a comprovaçãoempírica de hipóteses sobre o processo e o produto de traduções.
Com base em estudos de corpus de pequenas dimensões, torna-se factível e relevante o uso desse tipo de corpus especializadopara investigar o produto de traduções e contrastar os dados resul-
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tantes desta investigação a dados processuais obtidos através demétodos tais como relatos retrospectivos e representações do pro-cesso tradutório a partir do software TRANSLOG©. A análise dosprotocolos registrados pelo TRANSLOG© observa alguns aspectosdo desempenho dos tradutores tais como distribuição de pausas etempo despendido nas fases de orientação, redação e revisão, con-forme definidas por Alves (2003). São complementados, dessa for-ma, dados do processo com dados do produto e, através de suatriangulação, torna-se possível consubstanciar a análise de proces-sos cognitivos subjacentes à tarefa de tradução. Ao invés de sepropor estudos em larga escala, envolvendo um grande número deinformantes e variáveis, estimula-se a investigação correlata atra-vés de vários estudos de caso que sigam desenhos metodológicossemelhantes no processo de coleta e análise de dados. É de se es-perar que esses estudos de caso, utilizando-se a técnica detriangulação de diversos métodos de coleta de dados, possam serfeitos em diferentes pares lingüísticos, enfocando problemas par-ticulares, mas que, em última instância, estejam inter-relacionadose possam ser submetidos a análises correlacionais. Chegar-se-ia,dessa forma, a um conjunto de dados que, dada a congruência dametodologia de pesquisa, poderiam ser agrupados e utilizados paratecer generalizações sobre aspectos mais abrangentes a respeito dodesempenho de tradutores tanto novatos quanto experientes. Final-mente, sugere-se que tal metodologia de análise de dados seja ade-quada para utilização como método para a formação de tradutores.
Aplicações da abordagem cognitivo-discursiva na formaçãode tradutores: desenho e descrição de um estudo piloto
Com o intuito de testar a metodologia de análise de dados des-crita na seção anterior assim como sua aplicação a programas deformação de tradutores, um estudo piloto foi conduzido pelos pes-quisadores do Núcleo de Estudos da Tradução da Faculdade de Letras
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da Universidade Federal de Minas Gerais ao longo de dois semes-tres letivos no ano de 2004. Foram agrupados em um mesmo grupoalunos de bacharelado das habilitações em línguas alemã, espanho-la e inglesa que tinham como interesse a formação em tradução.Ao todo, 28 alunos participaram do estudo piloto divididos em duasturmas de 14 alunos, com carga horária de 60 horas/aula, tendosido ministrada uma disciplina no primeiro semestre e a outra nosegundo semestre letivo de 2004.
Inicialmente os alunos foram expostos a aspectos teóricos elingüístico-discursivos relevantes para o campo dos estudos da tra-dução que mencionamos anteriormente. Foram alocadas 30 horas/aula a essas atividades que, a partir da proposta de Alves, Maga-lhães e Pagano (2000, 2002), tinham como objetivo introduzir re-flexões sobre fatores micro e macro textuais e conscientizar osparticipantes sobre sua relevância no contexto de tarefas de tradu-ção. Posteriormente, em uma segunda fase da disciplina, com car-ga horária de 30 horas/aula e tomando por base as propostas deAlves (2003) e Alves e Magalhães (2004), os alunos refletiramsobre as características cognitivas do processo de tradução comdestaque para os padrões de segmentação que geram unidades detradução e para o gerenciamento de fases diferenciadas do proces-so de tradução, quais sejam, orientação, redação e revisão.
Esta segunda fase do estudo piloto tinha por objetivo a produçãode três traduções. Para tanto, foram selecionados textos de partidacorrelatos em alemão, espanhol e inglês, cujas traduções para oportuguês pudessem ser analisadas conjuntamente pelos alunos dastrês habilitações. Os textos foram selecionados seguindo critériosde fontes semelhantes (i.e., manuais multilingües, jornais eletrôni-cos, folhetos turísticos), tamanho (aproximadamente 300 palavras),complexidade e grau de dificuldade congruentes. Alves (2005b)apresenta uma descrição detalhada dos três textos utilizados noestudo piloto. Para fins de análise, o presente artigo enfoca apenasa tradução de um primeiro texto intitulado SONY, qual seja, umacarta de apresentação do produtor de um aparelho eletrônico ao
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cliente que o adquiriu, mencionando aspectos da garantia do produ-to e da rede de assistência técnica. O Anexo 1 apresenta os textosde partida em alemão, espanhol e inglês.
Para fins da coleta de dados, os alunos foram instruídos formal-mente sobre como lidar com o software TRANSLOG©, como ge-rar arquivos com extensão .log, salvar suas traduções como arqui-vos com extensão .txt, gerar protocolos de pausa através de arqui-vos do TRANSLOG© com extensão .rtf e, finalmente, produzirrelatos retrospectivos a partir da função replay do software. Parti-ciparam de um processo de familiarização da ferramenta de for-ma que esta não viesse a constituir obstáculo operacional à execu-ção das tarefas de tradução.
Dado o elevado número de participantes, optou-se no âmbito doestudo piloto, pela produção de uma versão escrita dos relatos re-trospectivos ao invés de se utilizar gravações dos relatos retros-pectivos, forma corrente na literatura sobre o processo de tradu-ção e na metodologia usualmente adotada pelo CORPRAT. Os par-ticipantes foram instruídos a usar a função replay do TRANSLOG©
para visualizar suas traduções imediatamente após sua conclusão ea pausar a função replay cada vez que um problema de traduçãofosse detectado. Deveriam, então, localizar o tempo real de pro-dução do segmento em pauta, marcá-lo em um arquivo com exten-são .doc e tecer comentários sobre a tradução em curso. Destaforma foi possível, para fins da análise aqui apresentada, cruzar osRRs com protocolos de pausa e com os textos de chegada produzi-dos pelos alunos. O objetivo principal do estudo piloto era averi-guar se a instrução formal recebida na primeira fase da disciplinarepercutia nos RRs através de comentários sobre a naturezacognitiva e discursiva intrínsecas ao processo de tradução e, au-mentando o nível de conscientização dos sujeitos, interferia na pro-dução das suas traduções. Com o intuito de garantir que a análisenão tivesse impacto meramente circunstancial, a coleta de dadosfoi feita em dois grupos distintos que receberam a mesma instru-ção formal, declarativa e procedimental. Almejava-se verificar se
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os efeitos observados em um primeiro grupo se repetiriam de for-ma semelhante no segundo grupo.
Para garantir o devido anonimato, os sujeitos foram numeradosde T01 a T28 sendo que aqueles agrupados entre T01 e T14 partici-param do estudo piloto ao longo do primeiro semestre, enquantoque aqueles agrupados entre T15 e T18 o fizeram no segundo se-mestre. Para fins de análise dos dados, foram selecionados aleato-riamente nove sujeitos por turma, sendo três para cada par lingüístico(alemão-português, espanhol-português e inglês-português), perfa-zendo um total de 18 sujeitos. O Anexo 2 apresenta em forma detabelas os dados dos sujeitos T03, T05 e T07 (alemão 1/2004), T20,T23 e T26 (alemão 2/2004), T04, T09 e T10 (espanhol 1/2004),T19, T24 e T28 (espanhol 2/2004), T02, T06 e T11 (inglês 1/2004)e T15, T17 e T22 (inglês 2/2004) incluindo os RRs e os textos dechegada produzidos a partir dos textos de partida em alemão, espa-nhol e inglês incluídos no Anexo 1.
Análise Discursiva dos Dados
Esta abordagem dos dados se baseia na análise crítica do dis-curso, focalizando o gênero RR e os discursos neles representa-dos. Reuniram-se as (re)textualizações nos pares lingüísticos ale-mão/português, espanhol/português e inglês/português e os referi-dos RRs em apenas um arquivo eletrônico para leitura e interpre-tação crítica, com base nas representações que se constroem nes-tes relatos. Foram, ainda, feitos arquivos separados dos RRs emformato .txt para aplicação da ferramenta WORDLIST e levanta-mento dos processos usados pelos tradutores em seus RRs, paraauxiliar na análise das representações. Os processos usados e asrelações lexicais feitas pelos tradutores em seus RRs, para alémdo uso adequado de colocações em suas retextualizações, revelama influência dos conhecimentos declarativos básicos introduzidosna primeira metade dos cursos, cuja proposta foi desenvolver es-
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ses conhecimentos como subsídio para a segunda metade do trei-namento, ocasião em que os alunos tomam contato com noções doprocesso cognitivo, o software TRANSLOG© e sua utilização parasubsidiar os relatos retrospectivos, feitos após o término do expe-rimento. Cabe ressaltar que os RRs produzidos ao longo do estudopiloto apresentam um caráter híbrido, diferente dos relatos retros-pectivos geralmente produzidos pela metodologia utilizada peloCORPRAT. Esse hibridismo deve-se sobretudo ao fato de os par-ticipantes terem sido instruídos a registrar os tempos em que ocor-reram as questões que relatam. Essas instruções levaram os parti-cipantes a tematizar a circunstância de tempo, representada porminutos e segundos separados com hífen, nas orações e/ou perío-dos. Os RRs são ainda predominantemente feitos por meio de nar-rativas, mas apresentam também nominalizações itemizadas, comose fossem títulos das etapas do processo, ou um relato distanciadodestas etapas, além de conter cópias de trechos dos arquivos .log,gerados com o uso do TRANSLOG© , com os signos semióticoscaracterísticos destes arquivos, e trechos das próprias traduções.
Análise Crítica dos RRsConforme descrito em seção anterior, o experimento contou
com 18 tradutores novatos que traduziram um excerto de um ma-nual da marca Sony, mais especificamente, uma breve carta doprodutor do aparelho ao cliente que o adquiriu, mencionando as-pectos da garantia do produto e da rede de assistência técnica; oprimeiro agradecendo a preferência e dando instruções ao segun-do para o caso de defeito no produto comprado. Cabe lembrar quenos três textos de partida (cf. Anexo 1) é feita referência a umasigla que remete a Espaço Econômico Europeu (EEE) – termo usu-al em português —, apresentado em alemão como EuropäischerWirtschaftsraum (EWR), em espanhol como Area EconómicaEuropea (AEE) e em inglês como European Economic Area (EEA).Como a tarefa de tradução pedia a tradução do manual para o mer-cado consumidor brasileiro, tornava-se desnecessária a referên-cia de que a garantia do produto era válida para o Espaço Econô-
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mico Europeu, haja vista que o produto teria assistência técnica egarantia no território brasileiro. Esta característica não foiexplicitada pelos pesquisadores durante o processo de coleta dedados e consistia em um dos pontos-chave para observação do im-pacto dos conhecimentos declarativos sobre tradução transmitidosna primeira parte dos cursos no processo de tradução dos traduto-res novatos.
No corpus aqui apresentado, os 18 tradutores se subdividiram emtrês grupos de seis, de acordo com a língua de textualização do excerto,isto é, alemão, espanhol e inglês. Apresenta-se, abaixo, uma descri-ção sucinta dos relatos dos tradutores do grupo de alemão. T03, T05e T07 fizeram parte do grupo que trabalhou no primeiro semestre doano; T20, T23 e T26 trabalharam no segundo semestre. Uma conso-lidação desses relatos é apresentada no Anexo 2:
T03Apresenta seu RR como uma seqüência de frases separadas, tematizando acircunstância de tempo, representada por minutos e segundos separados comhífen da narrativa, com nominalização itemizada ou não. Seu processo seinicia sem a fase de orientação, porém é interrompido para voltar a estafase, com a leitura global do texto, bem como para explicar a tarefa para umcolega retardatário. Revela preocupação com a grafia, léxico e gramática,tendo como unidade mínima a palavra, mas também revelando reconhecer oprincípio de idiomaticidade das línguas, a frase e o texto como unidadespossíveis. Não revela ter usado recursos externos como dicionários ou aInternet. As fases de tradução e revisão completam o processo.
T05Apresenta seu RR em narrativa ou relato corrido, tematizando a circunstân-cia de tempo na maioria de suas orações/frases, a maioria das circunstânci-as representada por minutos e segundos. Revela ter noção de gênero atravésde comentários que podem ser associados ao conhecimento do princípio deidiomaticidade e dos recursos de coesão das línguas, dando-se a liberdade defazer acréscimo ao texto em função destes recursos. Usa recursos externos,incluindo discussões com colegas durante o processo e uso da Internet. Oprocesso se dá em três fases.
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T07Apresenta seu RR como um gênero híbrido, com o relato em seqüência, cujaintrodução é feita por um grupo de nominalizações complexas, sempretematizando e separando com hífen a circunstância de tempo, representadaem minutos e segundos. Revela ter noção de gênero, através da explicaçãodas escolhas léxico-gramaticais; revela, ainda, conhecimento do princípiode idiomaticidade, quando menciona adequação das palavras. Usa recursosexternos, isto é, dicionários impressos e da Internet. Do grupo, é o único atentar uma solução para a tradução de EWR (Europäischer Wirtschaftsraum).Faz a tradução seguindo as três fases do processo, retornando, no início daretextualização à fase de orientação com a leitura global do texto.
T20Apresenta seu RR como uma seqüência de grupos de nominalizações com-plexas itemizadas, sempre tematizando a circunstância de tempo, usandocolchetes para separar minutos e segundos do relato distanciado. Revela ternoção da frase e do texto como unidades de sentido, através do foco na frasee da preocupação com a coesão e com o princípio de idiomaticidade, resga-tável através de itens lexicais tais como “estética”, e “colocação”. Parecenão fazer uso de recursos externos; entretanto, fala em “resgate mental” ediscussão com colegas. Seu processo revela a ausência da fase de orienta-ção. Na fase de revisão, revela preocupação com a aceitabilidade de umaexpressão ao mudá-la.
T23Apresenta um RR bem curto e híbrido, numa seqüência de grupos denominalizações complexas itemizadas, uma delas acrescida de uma narrativae/ou descrição do relato, sempre tematizando a circunstância de tempo, minu-tos e segundos usados entre colchetes, separados do relato distanciado. Os doisúnicos comentários com relação a decisões de tradução revelam a noção degênero, através da preocupação com uma léxico-gramática aceitável pelo lei-tor brasileiro. Faz uso de recursos externos, como dicionários e sites de pro-dutos eletrônicos, representando seu processo de tradução em três fases.
T26Apresenta um RR longo e híbrido, numa seqüência de parágrafos iniciadospor uma nominalização que pode ser pensada como título descritivo da etapado processo, antecedidos pela circunstância de tempo, minutos e segundos,
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destacados entre colchetes. Revela noções do contexto de situação, compreocupações relativas ao público alvo, nos níveis situacional e cultural.Toma decisões com relação à estrutura interacional da carta, refletindosobre mudanças relativas às convenções do gênero discursivo e a questõesdas ideologias nas culturas (como a marca de gênero social e o sexismo doportuguês brasileiro). Menciona explicitamente o conhecimento declarativoadquirido na primeira parte do curso. Usa mais eficaz de recursos externos,o que atribui ao seu conhecimento declarativo sobre gêneros e textos. Pare-ce não ter sido dedicada uma fase ao final para revisão a qual foi feitadurante a fase de tradução.
Podem-se fazer algumas especulações adicionais sobre os RRsou interpretações deste gênero, com base nos dados acima. Porexemplo, se houvesse possibilidade de comparação com RRs fei-tos antes do uso didático do TRANSLOG©, talvez pudéssemos ob-servar que houve uma mudança discursiva em função do uso doarquivo .log deste software no gênero RR, anteriormente com pre-dominância da narrativa, e apresentando alguma descrição. Con-forme mencionamos anteriormente, o gênero ainda é predominan-temente narrativo; entretanto, apresenta certos traços novos. Ascircunstâncias de tempo que marcam a seqüência de eventos sãoatualmente representadas com a precisão que lhe permite o softwareusado na retextualização, em minutos e segundos devido à lingua-gem do mencionado arquivo. Apresenta, ainda, nominalizaçõesitemizadas, como se fossem títulos das etapas do processo, ou umrelato distanciado destas etapas.
Para além das especulações, pode-se observar que a maioria dostradutores, à exceção de um (de cuja fase de orientação não há re-gistro), tem consciência das três diferentes fases do processotradutório, ainda que nenhum deles, curiosamente, faça a escolhalexical explícita de “orientação”, fazendo escolhas como “releitura”ou “leitura prévia” que nem sempre podem ser entendidas em seusentido amplo de conhecimento das convenções de produção e con-sumo dos textos. Metade dos tradutores não usa explicitamente oitem “revisão”, substituindo-o, entretanto, por outros, como o pro-cesso “revisar”, que se associam ao referido item lexical.
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Apresenta-se, abaixo, a descrição sucinta dos RRs dos traduto-res novatos de espanhol. T04, T09 e T10 fizeram parte do grupoque trabalhou no primeiro semestre do ano; T19, T24 e T28 traba-lharam no segundo semestre. Uma consolidação desses relatos éapresentada no Anexo 2:
T04Apresenta seu RR em uma tabela com duas colunas, tempo e comentário.Na coluna de tempo, as linhas representam as circunstâncias de tempo,descritas em minutos e segundos. A coluna de comentário é um híbrido detítulos (nominalizações) e de narrativas e descrições. Tece comentários so-bre o caráter “literal” da sua tradução e, simultaneamente, reflete sobre aléxico-gramática das línguas. Embora o foco possa parecer o item lexical,reflete sobre o princípio de idiomaticidade das línguas, a coesão no texto econvenções do gênero. Revela ter usado recursos externos apenas para solu-cionar a tradução da sigla AEE. A reflexão revela, ainda, conhecimento dasetapas do processo.
T09Apresenta seu RR como uma lista de oito frases, a primeira descritiva e asdemais narrativas. Usa a circunstância de tempo tematizada, em minutos esegundos apenas na quarta frase. Revela ter noção das convenções dos gêne-ros discursivos nas duas línguas, através de comentários que podem serassociados ao conhecimento do princípio de idiomaticidade e à preocupaçãocom “translationese”. Revela não usar recursos externos, registrando pro-blemas de infra-estrutura (teclado desconfigurado) e necessidade de revisãoquando não era mais possível. Fica ambíguo na reflexão se houve a fase deorientação; estando as demais fases registradas.
T10Apresenta seu RR em uma tabela com duas colunas, de tempo e comentári-os, e quatro linhas. Nas linhas da primeira coluna, registra as circunstânci-as de tempo, em minutos e segundos. A reflexão revela preocupaçãomicrolingüística apenas, no nível do léxico e da gramática. Não revela o usode qualquer recurso externo; revela, entretanto o uso de recursos internos.Nas linhas da segunda coluna, não fica claro se há conhecimento da terceirafase do processo, podendo-se resgatar as fases de orientação e de tradução.
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T19Apresenta seu RR em uma seqüência de seis parágrafos bem definidos, comcircunstância de tempo tematizada em cinco deles, quatro delas representa-das em minutos e segundos, separados entre colchetes. Revela o predomínioda frase como unidade de sentido e, ao mesmo tempo, nas pausas longas,parece caminhar em direção ao texto como unidade, revelando, ainda, ternoção do princípio de idiomaticidade das línguas. Explicita que não fez usodo dicionário por considerar o texto fácil. Seu processo revela a ausência dafase de orientação e a reflexão posterior sobre o prejuízo dessa ausência;revela ainda uma revisão contínua gerando pausas longas (aquelas tematizadasem quatro dos parágrafos).
T24Apresenta um RR longo e híbrido, dividido em duas seções cujos títulos sãoTempos e Comentário. Na primeira seção, há dezoito subdivisões, com acircunstância de tempo representada por minutos, segundos e uma terceirasubunidade (sempre representada por zeros), destacadas do relato por hí-fens. Seis dessas subdivisões são nominalizações e parecem constituir umrelato distanciado do processo; as demais são narrativas e descrições; sendoduas delas mais longas. As reflexões nas duas seções do RR revelam, emsua maioria, decisões de tradução baseadas na palavra como unidade e rara-mente (duas vezes) no princípio de idiomaticidade e um foco de atençãoacurado. Revelam, ainda, explicitamente, pouco conhecimento declarativosobre a língua portuguesa, cuja lacuna o tradutor pensa em preencher nofuturo. Uso de recursos externos, como dicionário eletrônico é registradoapenas uma vez; os recursos internos parecem ser os mais usados. O relatoapresenta o processo de tradução em três fases.
T28Apresenta um RR longo e híbrido, em duas seções, a primeira, uma lista desete frases, sendo três delas complexas, iniciadas pela circunstância de tem-po, em minutos e segundos, destacados entre colchetes do restante da narra-tiva do processo; a segunda, destacada pelo título “Comentários”, um textocorrido composto de seis parágrafos, dois deles mais longos, em que predo-mina uma interpretação do processo. Revela ter dificuldades com os proce-dimentos do software TRANSLOG© e com a leitura do arquivo .log parasubsidiar o RR. Revela alguma familiaridade com o gênero “manual”, atra-vés da preocupação com a estrutura interacional e a coesão do texto, bem
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como com o princípio de idiomaticidade das línguas. Revela, ainda, umapreocupação com questões culturais imbricadas na referida estruturainteracional. Faz referência explícita à eficácia do conhecimento declarativoadquirido na primeira parte do curso. Não faz uso de recursos externos comodicionários e outros, mas conta com o apoio do grupo de colegas. A represen-tação da fase de orientação é feita de forma ambivalente na segunda seção.
Novamente, o hibridismo do gênero RR parece ser resultado dautilização de recursos tecnológicos, como o software TRANSLOG©
(o qual parece ter estreita relação com a conscientização emonitoração do processo de tradução pelos tradutores formação).Na maioria das reflexões, pode-se interpretar que há consciência ealguma monitoração do processo, sendo a fase de orientação a me-nos desenvolvida e/ou representada como “leitura” do texto, e afase de revisão explicitamente mencionada por três dos tradutores.Dois dos tradutores que subdividem o seu RR em duas seções en-tendem a seção de “comentários” como espaço para interpretaçãodo seu processo. As reflexões dos tradutores novatos do espanholrevelam que três deles, embora um em menor nível, não atingiramo domínio desejado do conhecimento declarativo discursivo, intro-duzido no início do curso. Pode-se especular que essa constatação,aliada à constatação de que a maioria tende a não usar recursosexternos, pode ser atribuída a semelhanças lingüísticas entre o es-panhol e o português, ambas línguas românicas, ou, mesmo, a umalacuna desta habilitação do curso de Letras com relação ao ensino/aprendizagem de noções discursivas relativas à produção e consu-mo dos textos. Entretanto, cabe enfatizar que dois dos RRs apre-sentam um hibridismo mais explícito através de suas duas subseções,uma de narrativa, outra de interpretação do processo, o que apontapara um distanciamento do relato com conseqüente reflexão.
Apresenta-se, finalmente, a terceira descrição sucinta do últi-mo grupo de RRs, aqueles dos tradutores novatos do inglês. T02,T06 e T11 fizeram parte do grupo que trabalhou no primeiro se-mestre do ano; T15, T17 e T22 trabalharam no segundo semestre.Uma consolidação desses relatos é apresentada no Anexo 2:
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T02RR representado como texto corrido, com períodos simples ou em parataxe.Não há circunstâncias de tempo explícitas, mas trata-se de narrativa dasdecisões tomadas. O tradutor explicita a falta da noção de texto como unida-de de sentido e preocupações com o contexto de situação e de cultura, pormeio da consciência da importância das colocações e da organização daestrutura das frases. Não registra uso de recursos externos, apenas de inter-nos. Não se representam as fases do processo.
T06O gênero RR apresenta a circunstância de tempo, em minutos e segundos,destacada com hífen no início de cada narrativa ou descrição. As reflexõesapontam para um conhecimento declarativo não discursivo, com palavras ecom a sintaxe das orações, revelando um uso inadequado de termos como“sentença” que podem corresponder a grupos nominais e a orações. Regis-tra um grande problema no texto que pode ser atribuído à sigla, mas geraambigüidade. Não registra uso de recursos externos, apenas de internos.Registra problemas de configuração do teclado. Não se representa a fase deorientação e as demais estão implícitas.
T11O gênero RR é uma narrativa/descrição em texto corrido, com períodossimples ou complexos, geralmente com a tematização da circunstância detempo, a qual, no entanto, constitui-se mais de itens lexicais e menos dedígitos. As reflexões revelam um conhecimento declarativo mais discursivo,podendo-se resgatar noções tais como as de colocação, contexto de situaçãoe de gênero, que estão implícitas nos comentários às pausas mais longas.Registra o uso de recursos internos bem como de externos, tais como sítiosde busca. Registra dificuldades com a configuração do teclado. Não ficademarcada no processo a fase de revisão que parece ter sido feita continua-mente.
T15O RR é híbrido, apresentando a circunstância de tempo, em minutos e se-gundos com o primeiro componente inicial de horas sempre em zero, desta-cada da narrativa ou descrição com hífen. As reflexões representam algumanoção de colocação, texto, registro e gênero. Representam, ainda, uma pre-ocupação com a pontuação que aponta para o uso desta nos gêneros nas
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diferentes línguas. Está implícito em apenas uma das reflexões o uso derecursos externos. Representam-se as fases de orientação e de tradução comrevisão contínua.
T17O RR apresenta uma introdução com reflexões mais ou menos discursivasdo texto, explicitadas como atividades da fase de orientação. Esta introdu-ção finaliza listando dois problemas de tradução encontrados, os quais sãodescritos ou narrados, com a circunstância de tempo, em horas (zero), minu-tos e segundos, destacados da descrição com uma seta que parecem remeteràs pausas mais longas e, portanto, aos problemas. Na introdução, está repre-sentada a noção de “gênero textual”. Na descrição dos problemas, estãorepresentadas preocupações com a aceitabilidade de um segmento e com asolução de tradução da sigla. Está explicitado o uso de recurso externoapenas para a busca de solução para a tradução da sigla. Explicita-se a fasede revisão como tal.
T22O RR é um híbrido do arquivo .log com trechos da tradução entremeadoscom outros signos como quadrados e colchetes, antecedidos pela circunstân-cia de tempo, em três segmentos – horas, minutos e segundos – destacadauma linha acima da retextualização e seguida do comentário listado poritens numerados com o relato de problemas e tomadas de decisão parasolucioná-los. Na reflexão, está representada a noção de “gênero textual”,“texto paralelo” que remete às noções de contexto de situação e de cultura,com o devido reconhecimento do princípio de idiomaticidade das línguas.Detalha-se, com avaliação, o uso de recursos externos, como dicionários,impressos ou eletrônicos, mono ou bilíngües; ferramentas de busca na Internete um manual próprio de um discman. Não há registro explícito da fase deorientação, havendo, em contra partida, explicitação da fase de revisão.
Na descrição acima, a influência de outras mídias no gêneroRR se confirma na representação de três dos tradutores, incluindoo sofisticado hibridismo de uma delas, com a representação daspausas em circunstâncias de tempo destacadas do texto, como títu-lo das narrativas, com excertos das traduções conforme represen-tados pelo arquivo .log do software e os relatos comentados listadosabaixo de cada excerto. Um tradutor, dentre os tradutores de in-
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glês e os demais tradutores de alemão e espanhol, revela consciên-cia plena das três fases do processo, incluindo uma reflexão sobrea primeira fase, a de orientação, de leitura num sentido abrangentede domínio das convenções de produção e consumo de textos. Amaioria demonstra certo grau de monitoração do seu processocognitivo. Destes tradutores, apenas um ainda tem um nível inade-quado de conhecimento declarativo discursivo, o que pode apontarpara uma maior exposição dos tradutores a este conhecimento nasdisciplinas cursadas e/ou participações em atividades de iniciaçãoà pesquisa e, portanto, reflexão teórica, durante seu curso de gra-duação.
Com o auxílio da WORDLIST, fizemos uma lista de todas aspalavras dos RRs dos tradutores novatos. Desta lista, seleciona-mos os tipos de processos3 (cf. Eggins, 1994) usados pelos traduto-res para representar sua experiência à medida que reviam seu pro-cesso através da função replay do software TRANSLOG©.
A seguir, apresentamos uma tabela com os tipos, número e por-centagem de processos usados pelos tradutores em seus RRs:
Tabela 1: Tipos de processos usados pelos tradutores nosRRs
Processo Número PorcentagemMaterial 310 50,74%Mental 122 19,97%Relacional 84 13,75%Comportamental 69 11,29%Existencial 10 1,64%Verbal 16 2,60%
Total 611 100%
A Tabela 1 mostra que (a)os tradutor(a)es novatos se represen-tam como Atores, Experienciadores, Portadores de Atributos ou
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Identificadores e Comportantes no processo, nesta ordem de fre-qüência. Dentre os processos Materiais se destacam “traduzir”(35), “usar” (21), “fazer” (20), “procurar” (15), “encontrar” (12),dos quais apenas os dois últimos remetem a uso de recursos exter-nos. Dentre os processos Mentais, cuja ocorrência é a segundamaior nos relatos, destacam-se “decidir” (23), “pensar” (21),“achar” (16) e “optar” (14) que mostram um equilíbrio entre pro-cessos que representam a busca a recursos internos, automáticos,e processos que demonstram cognição de caráter mais deliberado,apontando para o desenvolvimento da capacidade de escolha e de-cisão dos tradutores.
Destes resultados, é importante ressaltar que os tradutores serepresentaram em seus RRs prioritariamente como Atores, agindomais como produtores mais imediatos de seus textos e menos comopesquisadores de recursos externos. Representam-se também comoExperienciadores, com alguma tendência a participarem de proces-sos de cognição mais deliberada. As representações de processosRelacionais incidem nas descrições que fazem de seu processocognitivo, identificando e/ou atribuindo valores às entidades descri-tas. As representações dos tradutores como participantes de proces-sos Comportamentais, no limite dos Materiais e Mentais, ou seja,como Atores que são seres conscientes também podem apontar parauma reflexão deliberada sobre a tarefa de tradução.
Considerações Finais sobre a Análise Discursiva dos RRs
A análise discursiva dos RRs indica que este gênero, apesarde híbrido, em função da multimodalidade presente em sua pro-dução, ainda faz uso predominante da narrativa a qual, entretan-to, se destaca com circunstâncias precisas de tempo como Te-mas. Revela, ainda, que os tradutores estão gradualmente desen-volvendo competência para o uso de recursos externos, eexplicitando conhecimento declarativo discursivo sobre a lingua-
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gem (colocação, coesão, registro e gênero) e conscientização doprocesso cognitivo (as fases de orientação, produção e revisão)na retextualização. Revela, simultaneamente, que ainda se ori-entam por noções como a de uso de léxico e gramáticadescontextualizados e a de tradução como uso automático de re-cursos internos. Cumpre, ainda, observar que a noção inculcadade tradução “literal”, em seu sentido coloquial, se faz represen-tar com muita freqüência nos RRs dos tradutores novatos.
Esta preocupação com o caráter “literal” da tradução pode sertalvez melhor explicada se acompanharmos, a título de exemplo, oRR e a tradução feita por T07 (cf. Anexo 2) no que diz respeito aoproblema sobre a tradução das siglas EWR/AEE/EEA, apontadoanteriormente. Se observarmos a tradução proposta por T07, verifi-camos que o tradutor novato preferiu omitir a referência a EWR(Europäischer Wirtschaftsraum) e optar num primeiro momento pelamenção a “dirija-se ao revendedor onde ele [o produto fabricadopela Sony] foi adquirido”. Contudo, ao dar seqüência ao texto acres-centando “ou, na Europa, a um de nossos serviços de assistênciatécnica autorizada”, T07 não leva em consideração a instrução ex-plícita que acompanhava a tarefa de tradução, qual seja, traduzir omanual de instrução tendo em vista sua comercialização no mercadobrasileiro. Preocupava-lhe, sobretudo, a tradução de EWR. O RRde T07 parece corroborar esta interpretação haja vista que o tradu-tor novato comenta que “não sabíamos como traduzir EWR, se cen-tro comercial europeu ou simplesmente Europa. Decidimos utilizarEuropa”. Pelo RR de T07, constata-se que a tentativa de soluçãoadotada foi resultado de sua incapacidade de compreender o signifi-cado da sigla EWR como correlata a EEE em português. Entende-mos que T07 revela, portanto, uma das características prototípicasdo processo cognitivo de tradutores novatos, qual seja, pautar-se pelaobservância estrita de traduções de itens lexicais.
Esta preocupação com a tradução “obrigatória” de entradaslexicais revela-se interessante quando comparamos as seis tradu-ções feitas a partir do alemão (com a sigla EWR), com as outras
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doze traduções — seis a partir do espanhol (com a sigla AEE) eoutras seis a partir do inglês (com a sigla EEA).
Observa-se que os seis tradutores novatos trabalhando a partirdo alemão tinham na composição do termo EuropäischerWirtschaftsraum referência a Raum (“espaço”, na primeira acepçãolistada pelo dicionário bilíngüe alemão/português publicado pelaEditora Langenscheidts). Contudo, apenas um deles, T03, chegoua fazer referência ao Espaço Econômico Europeu nos RRs apósum processo de busca de apoio externo com duração de aproxima-damente seis minutos. T03, porém, fornece poucas informações aesse respeito e somente relata que “de 11’05’’ a 17’00’’ – consultaa site de busca de informações sobre a expressão EWR”. Os de-mais tradutores, além da supressão da sigla já apontada para T07,optaram por fazer referências datadas ao Mercado Comum Euro-peu (MCE) ou à Comunidade Econômica Européia (CEE), formasde organização anteriores à existência da atual União Européia.
Por outro lado, os textos de partida em espanhol e inglês trazi-am referências explícitas a “área” através das siglas AEE (AreaEconómica Europea) e EEA (European Economic Area) correlatasao termo “espaço” corrente no uso da sigla EEE (Espaço Econô-mico Europeu) em português. Talvez por este motivo, 11 dos 12tradutores neste grupo mantiveram a referência a “área” em suastraduções. Apenas um dos tradutores preferiu fazer menção aoMercado Comum Europeu, de forma semelhante ao comportamentodos tradutores do par lingüístico alemão-português. Nenhum deles,contudo, conseguiu desvencilhar-se da noção de “tradução obriga-tória” de cada item lexical.
Esta tendência de observação estrita à tradução de entradaslexicais, talvez pautada por uma noção arraigada de tradução“literal” em seu sentido coloquial, pode ser melhor ilustrada aoacompanharmos o processo de T17, traduzindo do inglês para oportuguês. Em seu RR sobre a tradução da sigla EEA, T17 co-menta que
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Neste momento, não tinha certeza sobre como traduzir Euro-pean Economic Area (EEA). Não sabia se havia uma traduçãoconsagrada pelo uso para o português. Pensei em MercadoEconômico Europeu, mas na dúvida, preferi deixar ÁreaEconômica Européia. Procurei em alguns sítios de busca du-rante a revisão, e como não achei nenhuma referência ao termo,terminei a fase de revisão optando pelo uso de Área EconômicaEuropéia. Contudo, após a tradução, este fato me incomodou,e fazendo nova busca na internet, descobri uma referência aoEspaço Econômico Europeu, e após checar a informação nosítio http://www.europarl.eu.int/factsheets, constatei ser estaa tradução para European Economic Área. Como não haviamais como mexer na tradução, pelo menos não no programaTranslog, alterei a minha tradução no programa Word. (T17)
Percebe-se que T17 tentou solucionar um problema de traduçãoque lhe parecia importante, mas não conseguiu se desvencilhar deuma noção arraigada de que deveria traduzir todas as entradaslexicais do texto de partida, mesmo diante da incumbência explíci-ta de traduzir o texto para divulgação no mercado consumidor bra-sileiro. Por isso, sua preocupação em conseguir uma alternativaem português para EEA (Europena Economic Area). Posterior-mente, quando as traduções foram comentadas e explicitado o pro-blema relativo à contextualização da sigla na tradução dos textosde partida para o português brasileiro, T17 manifestou uma reaçãointeressante, transcrita aqui de forma livre uma vez que, por tersido feita a posteriori, não consta do RR do tradutor.
puxa, depois de ter discutido tanto sobre convenções de gêneroque podem variar de acordo com as ações das instituições decada contexto contextual, ainda caio na armadilha da traduçãopalavra por palavra e deixo no meu texto algo que não fazsentido, apenas porque foi mais forte a noção de que o queestá escrito é sagrado, nada pode ser retirado ou acrescentado.(verbalização espontânea de T17)
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Acreditamos, à luz dessas reflexões corroboradas pelos dados queapresentamos no Anexo 2, poder apontar entre os tradutores nova-tos uma observância estrita e reiterada da necessidade de traduçãode cada item lexical contido nos textos de partida, sem que hajauma reflexão sobre a necessidade da tradução desses itens lexicais.A análise dos RRs aponta, entre esses tradutores, para um incre-mento nos níveis de conscientização cognitiva e discursiva. Contu-do, tal conscientização ainda não é forte o suficiente para fazerprevalecer os conhecimentos declarativos recém adquiridos sobretradução. Esta observação corrobora nossa suposição que a intro-dução de conhecimentos declarativos traz consigo a possibilidadede conscientização por parte dos tradutores novatos sobre aspectosprocessuais e discursivos vinculados aos seus desempenhostradutórios e pode trazer-lhes benefícios na aquisição e desenvolvi-mento da competência em tradução. Reitera, porém, em conso-nância com as abordagens conexionistas, a necessidade que estaconscientização aconteça de forma gradual e cumulativa de formaa permitir a modificação de padrões cognitivos e discursivos pré-existentes e a manutenção de novos padrões decorrentes dessasmodificações.
A partir desses resultados, o que podemos propor, para um es-tudo futuro, é um experimento, de caráter longitudinal e avaliadopor medições repetidas, em duas turmas distintas de formação detradutores. Numa delas, o programa de formação seria compostode três módulos: o primeiro, de ensino/aprendizagem de conheci-mento declarativo discursivo, através de leitura crítica de gênerosvariados; o segundo de produção escrita através do TRANSLOG©,com relato retrospectivo do processo cognitivo vinculado a essaprodução, e o terceiro o de análise crítica desses relatos enquantoações sociais (gêneros) e representações (discursos). A outra tur-ma seria utilizada como controle, portanto, sem os módulos pro-postos para a primeira. A título de exemplificação, poderia rece-ber treinamento com base em Robinson (1997) ou Hurtado Albir(1999), ambos dando destaque ao caráter procedimental do treina-
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mento de tradutores em sua fase inicial. A expectativa seria vali-dar a proposta cognitivo-discursiva na formação de tradutores comofundamental para o desenvolvimento da competência em tradução.Enfim, as reflexões resultantes do estudo piloto aqui apresentadoparecem se revelar promissoras e motivaram o início de um traba-lho conjunto entre pesquisadores da UFMG e UFOP para testar odesenho aqui discutido em um estudo longitudinal.
Notas
1. Trata-se de software desenvolvido por Arnt Lykke Jakobsen, pesquisador daCopenhagen Business School, para fins de registro e mapeamento do processotradutório em tempo real. Os leitores não familiarizados com o software poderãoobter mais informações em Alves (2003) e Jakobsen (2002).
2. A Figura 1 foi adaptada de Eggins (1994), com modificação de apenas um dostermos do estrato semântico-discursivo. A Estrutura Conversacional, vinculada àsRelações, variável do Registro, é denominada de Estrutura Interacional, para melhorabranger os gêneros da linguagem escrita. Os autores agradecem ao técnico VitorBrandão pela reprodução da figura.
3. Os autores agradecem aos pesquisadores Roberto Carlos de Assis e VivianeSeabra Pinheiro pela listagem e classificação dos tipos de processos dos RRs.
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SPERBER, Dan e Wilson, Deirdre. Relevance: communication and cognition.Oxford: Blackwell, 1986/1995 (2ª edição).
Investigando o papel do monitoramento... 107
Anexo 1
Textos de PartidaFonte: Sony Manual de instruções
Sehr geehrte Kundin, sehr geeherter Kunde,wir freuen uns, dass Sie sich für ein Produkt von Sony entrchiedenhaben und wünschen Ihnen viel Spass damit. Sollte ihr Sony-Produktinnerhalb der Garantiezeit einen Defekt aufweisen, wenden Siesich bitte an Ihren Fachhändler, bei dem Sie dieses Gerät gekaufthaben oder an eine unserer Autorisierten Kundendiensstellen imEuropäischen Wirtschaftsraum (EWR), deren Adresse Sie aus demTelefonbuch sowie aus unseren Produktkatalogen ersehen können.Um Unannehmlichkeiten zu vermeiden, sollten Sie dieBedienungsanleitung sorgfältig durchlesen, bevor Sie sich an IhrenHändler oder an eine unserer autorisierten Kundendienststellenwenden.
Apreciado Cliente,Le agradecemos su deferencia al adquirir este producto Sony yesperamos que esté satisfecho de su compra. En el caso de queeste aparato Sony precisara algun servicio durante el periodo degarantia, pongase en contacto con el distribudor que se lo vendio ocon un miembro de nuestra red de servicios autorizados en el AreaEconómica Europea (AEE). Podrá encontrar el número de teléfonoen la guia telefónica y en los catálogos de nuestros productos. A finde evitarle toda molestia innecesaria, le sugerimos que lea atenta-mente el manual de instrucciones antes de recurrir al Distribudoro a nuestra Red de Servicios Técnicos Oficiales.
Dear Customer,We thank you for having bought this Sony product and hope you will
108 Célia Magalhães e Fábio Alves
be happy with it. In the event that your Sony product needs guaranteeservice, please contact the dealer from whom it was purchased ora member of our authorized service network in the EuropeanEconomic Area (EEA), which are available in the telephonedirectory and our product catalogues. In order to avoid anyunnecessary inconvenience on your part, we suggest reading theinstruction manual carefully before contacting the dealer or ourauthorized service network.
Investigando o papel do monitoramento... 109
Anexo 2Tradutores novatos no par lingüístico alemão-portuguêsColeta de dados no primeiro semestre de 2004
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116 Célia Magalhães e Fábio Alves
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126 Célia Magalhães e Fábio Alvespr
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Investigando o papel do monitoramento... 127
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