8/19/2019 Recuero (2012)
1/60
3
A CONVERSAÇÃO
EM REDEcomunicação mediada pelo
computador e redes sociais na Internet
Raquel Recuero
8/19/2019 Recuero (2012)
2/60
4
R311c Recuero, Raquel.A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e
redes sociais na Internet / Raquel Recuero – Porto Alegre: Sulina,2012.
238 p. (Coleção Cibercultura)
ISBN: 978-85-205-0650-9
1. Comunicação Digital. 2. Internet. 3. Cibercultura. 4. Redes Sociais. 5. Conversação. I. Título CDD: 302.2 303.483
CDU: 316.77
© Raquel Recuero, 2012.
Capa:Eduardo Miotto
Editoração:Vânia Möller
Revisão:Gabriela Koza
Rvs grác:Miriam Gress
Editor:Luis Gomes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIPBibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza – CRB 10/960
Todos os direitos desta edição reservados àEditora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 – Bom FimCep: 90035-190 Porto Alegre-RSTel: (0xx51) 3311-4082Fax:(0xx51) 3264-4194www.editorasulina.com.bre-mail: [email protected]
{Maio/2012}
IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL
8/19/2019 Recuero (2012)
3/60
7
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .......................................................................................
INTRODUÇÃO .............................................................................................
1 ComuniCação mediada pelo ComputadoR e ConVERSAÇÃO ...............................................................................................1.1 A conversação como apropriação no ciberespaço .......1.2 Características da conversação mediada pelo com-putador .....................................................................................................
1.2.1 O ambiente da conversação ..........................................
1.2.2 Escrita “oralizada” ..............................................................1.2.3 Unidade temporal elástica: os tipos de conversa-ção mediada .....................................................................................1.2.4 Públicas e privadas: os tipos de conversaçãomediada .............................................................................................1.2.5 A representação da presença .......................................1.2.6 Migração e multimodalidade ........................................
2 A ORGANIZAÇÃO DA CONVERSAÇÃO MEDIADA PELOCOMPUTADOR ......................................................................................2.1 Turnos e pares ...............................................................................2.2 Rituais da conversação mediada pelo computador ......2.3 A noção de polidez .......................................................................
3 O CONTEXTO NA CONVERSAÇÃO MEDIADA PELO COMPUTADOR ................................................................................................3.1 Microcontexto e macrocontexto .............................................
3.2 A construção dos contextos .......................................................3.3 A recuperação do contexto .........................................................3.4 A negociação do contexto ............................................................
9
15
2127
3740
45
49
565860
65667486
95100
104113117
8/19/2019 Recuero (2012)
4/60
8
4 A CONVERSAÇÃO EM REDE ...............................................................4.1 Problematizando a conversação em rede ..........................
4.1.1 Redes sociais na Internet e sites de rede social ...
4.1.2 O capital social e as redes sociais na Internet .......4.2 Os processos da conversação em rede ................................4.2.1 prs c cvrsõs ..............................................4.2.2 as cxõs cvrs ........................................
4.3 O problema do contexto ............................................................4.3.1 o úbc rv s cvrsõs ...4.3.2 A visibilidade na conversação .......................................4.3.3 Multimodalidade, migração e multiconversação
4.3.4 Capital social e a polidez nas redes sociais .............5 ESTUDANDO A CONVERSAÇÃO EM REDE .................................
5.1 Mapas de conversação em rede .............................................5.1.1 A análise de redes sociais e a conversação ...........5.1.2 Caso 1: #GTCiber .................................................................5.1.3 Caso 2: #BeloMonte ..........................................................5.1.4 Cvrsõs r ccs: cssAmy Winehouse e Oslo ...............................................................
5.2 Efeitos e impactos da conversação em rede ......................
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O FENÔMENO DA CONVERSAÇÃO EM REDE ............................................................................................
ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS ......................................................
REFERÊNCIAS ............................................................................................
121123127
134138139143146146152155
160171173174177187
195201
215
221
223
8/19/2019 Recuero (2012)
5/60
9
APRESENTAÇÃO
A conversa é uma prática de linguagem genui-namente cotidiana, pois, todos os dias, conversamos unscom os outros, respondendo, contestando, concordando,opinando. A conversação, portanto, realiza-se de muitas formas e maneiras, graças a sua relação com o contextoimediato. Nesse sentido, como já assinalaram Sacks,Schegloff e Jefferson (1974), a conversação é o gêneromais básico da interação humana e, por isso, foiconsiderado por esses autores como a pedra sociológica
fundamental da interação entre os homens. Nessa mesma
direção, nos anos 20 do século passado, Bakhtin ([1953]2000) já analisava a conversa como sendo um dos gênerosprimários mais ligados às esferas do discurso cotidiano.A conversa, segundo este pensador russo, não apenas estáassociada às necessidades cotidianas das pessoas comotambém é um gênero fundamental para a constituição deoutros que Bakhtin denominava de secundários, como oromance, por exemplo.
Se a conversação é o gênero mais básico e maisprimário da interação humana, é importante olharmos
8/19/2019 Recuero (2012)
6/60
10
para ela como um gênero basilar o qual é afetado porseu contexto imediato e pelas tecnologias que sustentam,rgsr z s rbrõs s qsss ss gêr. a, “ cg rjestratégias de textualização, gera um novo gênero esubverte, até certo ponto, cânones bem estabelecidos noprocesso de construção social” (Marcuschi, 2000, p. 10).
É exatamente nessa direção que Raquel Recuerotraz à lume o seu novo livro: A conversação em rede:
comunicação mediada pelo computador e redes sociais naInternet . Neste trabalho, Recuero mostra com acuidadeacadêmica que as ferramentas computacionais há muitodeixaram de ser apenas isso: ferramentas. Elas evoluírampara serem “espaços conversacionais” importantes, jáque os usos que fazemos delas reelaboram a conversa es ss r rs fõs. e f ss, rde uma problematização do conceito de ComunicaçãoMediada pelo Computador (CMC), Recuero ofereceum exercício de sistematização dos usos sociais docomputador e de outros artefatos digitais que permitema prática do gênero mais antigo da humanidade:a conversação.
Nessa empreitada, teorias da Pragmática Lin-guística, como a Sociolinguística Interacional e a Análiseda Conversa, são convocadas pela autora para explicaro conceito de conversação, o qual é delineado como“um processo organizado, negociado pelos atores, quesegue determinados rituais culturais e que faz partedos processos de interação social”. Nesse sentido, porter base epistemológica no interacionismo simbólico,Rcr rõ q cvrs vr sj como um caso de apropriação, isto é, “as ferramentas da
8/19/2019 Recuero (2012)
7/60
11
CMC são apropriadas com caráter conversacional pelosusuários”. Logo, o conceito de apropriação é muito bemconstruído no primeiro capítulo do livro.
Por meio dessa discussão, o leitor compreende-rá, por exemplo, que algumas idiossincrasias da conver-sação na web resultam muito menos da determinação dasferramentas computacionais e muito mais dos usos queas pessoas fazem delas. E quais seriam as característicasdessa apropriação? Qual o papel do ambiente no proces-
so de apropriação? Como explicar o fenômeno da orali-z scr q rg s cvrsõs gs?Quais os tipos de conversa que emergem da apropriação?Como as presenças dos interagentes são representadaspelos que praticam a conversação na web? E como a mul-timodalidade e a migração afetam as conversas digitais?esss qsõs s b scs rr cí, q frc sós rxõs crc s crcríscsda Comunicação Mediada pelo Computador.
Após essa caracterização, somos conduzidospela autora, no segundo capítulo, por meio da seguinteproposição: se a conversação é um evento organizadocom uma sintaxe que lhe é própria, então podemos nos
perguntar se essa organização se manifesta de outro modoquando lidamos com a conversa em rede. Nesse sentido,Recuero discute ainda sobre a organização da conversa bs gs , r ss, r s õs r rs, gr rs cvrs r conclui o capítulo do livro discutindo a noção de polidezlinguística, pois, segundo Kerbrat-Orecchioni (2006, p.77), a polidez evidencia “os aspectos do discurso quesão regidos por regras cuja função é preservar o caráterharmonioso da relação interpessoal”.
8/19/2019 Recuero (2012)
8/60
12
Dando prosseguimento e contorno à discussãosobre a organização da conversa nos ambientes digitais,a autora nos fala acerca da relevância do contexto paraa conversação mediada pelo computador. A noção decontexto, entretanto, não é simples e, por isso, Recueroa problematiza no terceiro capítulo, oferecendo ao leitor q scssõs q r mcrcx Macrocontexto. A discussão sobre o contexto é relevanteporque, conforme salienta Recuero, ele não é algo
dado e/ou estanque. Pelo contrário, por ser essencial àorganização da conversação, os contextos não apenas s rs r c bé cvc provocam os interagentes a se engajarem em um exercíciomútuo e constante de (re)construção, recuperação e ne-gociação dos contextos de suas conversas.
No quarto capítulo, A conversação em rede,encontramos uma importante contribuição para quemse interessa pelo estudo das redes sociais, já que Recueroajusta sua lupa para examinar as características espe-cícs s cvrsõs s rs scs Internet.Cuidadosamente, a metáfora da rede é apresentada ediscutida neste capítulo para, na sequência, dar realce à
importante noção de capital social para a conversação emr. t ss rx é f à z s írcs,que sustentam a discussão teórica proposta pela autora,o que a torna mais vigorosa do ponto de vista acadêmico.
Próximo à conclusão do livro, Recuero apresentao capítulo Estudando a Conversação em Rede o qualmostra a Análise de Redes Sociais como sendo umarelevante alternativa teórico-metodológica para o estudoda conversa em rede sociais. Com base nessa perspectiva,s áss fs r Rcr õ c vrss
8/19/2019 Recuero (2012)
9/60
13
mapas de conversação em rede, os quais evidenciamalguns efeitos e impactos da conversação, salientandoseus aspectos estruturais e semânticos. Nesse sentido,a alternativa teórico-metodológica se mostra produtivadevido ao fato de que o objeto de estudo – conversa emrede – é complexo, portanto estudá-lo sob apenas um viésseria depauperar a análise.
Com base nessa sumária apresentação, é pos-sív rr q s vr ér cêc
apenas por ser muito bem escrito, mas também porreunir elementos que certamente despertarão o interesseamplo de pesquisadores da área de Linguística Aplicada, Cc Sc rs ár s. iss sjsc q frc crbõs órcs,metodológicas e empíricas para que se entenda melhora conversa em rede à luz da Pragmática Linguística e daaás Rs Scs. Grs s ss s órcsque o tecem, o livro mostra com lucidez que a conversaçãoem rede não é somente aquela conversa tão antiga quantoa linguagem, mas, no contexto das ferramentas digitais,ela é uma “conversação emergente” que, em função dosusos das ferramentas computacionais, passa por vários
rcsss rbrõs. C b cc Rcr,“o ponto fundamental é aquele onde essa conversaçãoreconstrói práticas do dia a dia, mas que, no impacto , c-s rz vs ss r compreensão de seus impactos nos atores sociais”.
Prof. Dr. Júlio AraújoDocente do Programa de Pós-Graduação emLinguística da Universidade Federal do Ceará.Fortaleza – CE, janeiro de 2012.
8/19/2019 Recuero (2012)
10/60
14
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: MartinsFontes, 2000.
KERBRAT-ORECCHIONI, C. Análise da conversação: prin-cípios e métodos. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais Emergentes no Contextoda Tecnologia Digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. S.Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do
sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. A SimplestSystematics for the Organization of Turn Taking forConversation. Language, 50 (4), p. 696-735, 1974.
8/19/2019 Recuero (2012)
11/60
INTRODUC O
Recentemente, o Facebook
1
atingiu a marca de
800 milhoes de usmirios em todo o mundo, tornando
se uma das maiores ferramentas de comunicac;:ao na
Internet em numero de usuarios.
2
0 Orkut
3
, no final de
2009 tinha mais de 30 milhoes de usuarios apenas
no Brasil, de acordo com dados do lbopejNielsen.
4
5
, ainda outra ferramenta bastante popular, tern
cerca de 200 milhoes de usuarios estimados
em
marc;:o
de
2011.
6
Essas ferramentas pertencem a categoria
cada vez mais popular dos sites de rede social ,
ou
1
http:/
www.facebook.com
2
Dados de http :/ jwww.facebook.com/
pr
essj
info.php
?s
tatisti
cs
Acesso
em dezembro de 2011.
3
http:/
www orkut.com
4
Dados de novembro
de
2009.
5
http:/ ;www.twitter.com
6
ht
tp :/
jwww
.bbc.eo.uk
/newsjbus
iness-12889048. Acesso em de
zembro de 201 1.
15
8/19/2019 Recuero (2012)
12/60
seja, ferr ment s que proporcion m a publicayao e
a construyao de
redes
sociais. s redes sociais
s o
s
estrutur s
dos
grup mentos humanos, constitufdas
pelas interay5es,
que
constroem os
grupos
sociais. Nessas
ferramentas, essas redes sao modificadas, tr
nsform d s
pela mediayao d s tecnologias
e,
principalmente, pela
apropriayao delas
p r
a comunicayao.
Com a
popu
larizayao dess s ferramentas, as
praticas
de
uso
de
computadores, notebooks, celulares
etc.
p r troc r
ideias e conectar-se a outr s
pesso s
p ss r m
a fazer
p rte
do dia a dia
de
milhares
de
pesso s
em
todo o mundo,
incorpor d s
no cotidiano de
su s
praticas
de comun
icayao.
Com
isso, essas tecnologias
p ss m
a proporcion r espayos conversacionais, ou
seja, espayos onde a interayao
7
com
outros
indivfduos
dquire
contornos semelh ntes queles
d
conversayao,
busc ndo est belecer ejou m nter
layos sociais
8
.
Passam
a
represent r
urn espayo
de
lazer
9
, Juga
res
virtuais onde as
7
Os
te
rmos
int
era
8/19/2019 Recuero (2012)
13/60
praticas
sociais comec;am a acontecer, seja
por
limitac;oes
do espac;o fisico, seja por limitac;i5es
da
vida
moderna se
ja
apenas
pela
comodidade da
interac;ao
sem
face. Tratam-
se de novas formas de ser social
que possuem
impactos
variados
na
sociedade contemporanea
a partir
das
praticas
estabe
lecidas no ciberespac;o. Essas praticas sao
tambern dependentes clas limi
tac;i e
s tecnicas dos espac;os
construidos
para
a interac;ao
que
vao reconstruir, atraves
da
apropriac;ao,
sentidos
e convenc;oes para a conversac;ao
on
line.
Ao
mesmo
tempo,
essas
conversac;oes tern novas
formatos e sao
constantemente
adaptadas e negociadas
para acontecer
dentro
das
limitac;i5es, possibilidades e
caracterfsticas
das
ferramentas.
Este livro e focado nas conversac;i5es
que
eme
rgem e
es
tabelecem os
rastros
dos usuarios nes-
ses
espac;os.
Ma
is do
que mera
s interac;oes,
essas
milhares de trocas entre
pessoa
s que
se
conhecem,
que
nao
se
conhecem ou
que
se
conhecedio
representam
conversac;oes que permeiam estabelecem e
constroem
as
redes sociais na
Int
ernet. As caracteristicas dos sites
de
rede soc ial, nesse contexto,
acabam
gerando uma nova
forma conversacional, mais publica, mais coletiva, que
chamaremos de
conversac;ao em r
ede
. As conversac;oes
que acontecem
no Twitter,
no
Orkut, no Facebook e em
outras ferramenta
s com caracteristicas semelhantes sao
muito mais publicas, mais permanentes e rastreaveis
do que outras. Essas caracteristicas e sua apropriac;:ao
sao capazes
de de
line
ar redes,
tra
zer informac;oes sabre
sentimentos
coletivos, tendencias, interesses e intenc;oes
de
grandes grupos de pessoas. _?ao essas conversas
publicas e coletivas
que
hoje influenciam a cultura,
constroem fenomenos e espalham informac;:oes e memes,
17
8/19/2019 Recuero (2012)
14/60
debatem e organizam protestos, criticam e acompanham
~ o e s
politicas e publicas. nessa c o n v e r s ~ o
em
rede
que nossa cultura
esta
sendo
interpretada
e reconstrufda.
Compreender essas pniticas, assim, e chave
para
que possamos tambem
compreender
de modo
mais aprofundado essas redes e
seu
impacto no mundo
contemporaneo. Essas c o n v e r s a ~ o e s nao sao, desse mo-
o, determinadas pela existencia desses novas meios,
mas elementos de apropriac;:ao dos grupos sociais de .
ferramentas com potencial comunicativo.
1
Nesse sentido,
e
importante salientar
a p e r c e p ~ a o
da c o n v e r s a ~ a o
me-
) diada pelo
c o m p u t d o r
c o ~ o uma p r o p r i ~ o de urn ·
sistema tecnico para uma pratica social. Ela e
portanto
,
criativa, dinamica e dificil de
ser
capt
u
rada
e
enquadrada
em urn unico foco e em uma unica
perspect
iva.
este
o risco de elencar suas caracteristicas . Par serem
dinamicas, elas mudam com o tempo e com as
pr6prias
ferramentas
que su
rgem e sao
reapropriadas
pelos atores.
Este Jivro, assim, busca
ser
urn infcio de
discussao. Queremos, atraves dessa
s i s t e m a t i z a ~ a o
e do
debate das
a p r o p r
i ~ o e s correntes, oferecer subsfdios
para a discussao de praticas que ainda nao aconteceram
e formas de estudo
que ainda
nao foram pensadas.
Dentro dessa perspectiva, este trabalho busca di
scut
ir
como compreender essa
c o n v e r s a ~ a o
em
rede
a partir
dos conceitos de o m u n i c a ~ a o Mediada par Computador,
procurando ve-la atraves de urn prisma social e cultural.
1
Primo (2006), por exemplo,
j
a
tent
a pa ra o perigo
de se
poder
perceber a interac;:ao como apenas
depend
e
nte
do meio, explicando
qu
e epreciso compreende-Ja como
um
processo
cr
iativo.
18
8/19/2019 Recuero (2012)
15/60
Assim o livro organizado em cinco capitulos. No
primeiro procuramos
discutir
o conceito de conversac;:ao
no espac;:o
da
mediac;:ao digital do
computador
como
uma
apropriac;:ao. Discutimos ali al
gumas
perspectivas
te6ricas a respeito do conceito e suas caracteristicas.
seguir no segundo capitulo pensamos nessa conver-
sac;:ao
a partir
de suas
caracterfsticas organizacionais
ou
se
ja de urn modo especffico a estrutura
de
pares
os rituais da conversac;:ao e o conceito de polidez
focando como a mediac;:ao altera
esses
elementos.
No
terceiro capitul
o
focamos o debate do el
emento
que
consideramos o mais crftico: o contexto. Esta e para
n6 s a questao crucial
da
conversac;:ao mediada tanto
pel
as
ca
ract
erfsticas e limita
c;:oes
do meio quanto pelas
apropriac;:oes possfveis que sao criadas pelos atores.
No
quarto
capitulo
trazemos
a ideia
de
conversac;:ao
em
re
d
e
explicitando suas caracterfsticas a
partir
dos sites de
rede
social e
da
apropriac;:ao das redes sociais no ciberespac;:o.
No quinto e ultimo capitulo apresentamos algumas
propostas de estudo das praticas da conversac;:ao em rede
e suas possfveis contribuic;:oes.
Com
esta estrutura
buscamos assim
constru
ir
urn conjunto de observac;:oes debates e ideias a respeito
da conversac;:ao no espac;:o da mediac;:ao focando de modo
rna is especffico no que chamamosde conversac;:ao em rede:
aquela que
surge
dos
milhares de
atores interconectados
que dividem negociam e constro
em
contextos coletivos
de
interac;:ao troc
am
e difundem informac;:oes criam
l
ac;:os
e estabelecem redes sociais.
E
importante salientar ainda que neste livro
vemos a rede social como o grupo de atores que utiliza
determinadas ferramentas
par
a publicar suas conexoes e
19
8/19/2019 Recuero (2012)
16/60
interagir. Assim o Orkut ou o Facebook n o
s
o rede socia
,
m s
sim o s p ~ o tecnico
que
proporciona a emergencia
dessas
redes
.
As rede
s sociais
desse
modo nao sao pre-
construidas
pe
las ferramentas
e,
sim a
pr
opr
iadas pelos
tores sociais que lhes conferem sentido e que as adaptafn
p r suas praticas sociais.
20
8/19/2019 Recuero (2012)
17/60
COMUNIC C O
MEDI D PELO
COMPUT DOR
CONVERS C O
Ana chega da escola corre
p r
o
comput dor
.
Ali por meio de diversas ferramentas conver
s
com
s amigas e coment os
tontecimentos
do dia. Joao
fa
z urn pequeno
int
ervalo p r o cafe no seu trabalho.
Enquanto
tom
cafe checa seus e-mails e convers com
os amigos via Inte
rnet
no cel
ul
ar combin ndo um
happy
hour. Ester
prep
ara-se para conversar com os netos que
estao vi sitando outro pafs us ndo seu novo laptop.
As
cenas embor ficticias descrevem pr ticas cotidianas
cada vez mais comuns em tod s as
p rtes
do mundo._Q
computador mais do que um ferramenta de pesq
ui
sa
de processamento de dados e de trabalho e hoje uma
\fe
rr ment
soci
aT
1
caracterizada pr incipalmente pelos
usos conversacionais.
Isso
quer
dizer que os computa
dore
s foram propriados como ferramentas sociais e que
esse sentido em muitos aspectos undamental
p r
a
co
mpreens o
d sociabilidade na contemp
or n
eidade.
21
8/19/2019 Recuero (2012)
18/60
Assim
neste capitulo, discutiremos como a Comunicas;ao
Mediada pelo Computador da espas:o para
as
praticas
conversacionais e como esses dois conceitos podem ser
vistos diante das aproprias;oes sociais que lhes dao forma
e conteudo. Para iniciar a apresentas:ao desse
tema
, e
preciso, antes, discutir o que sao e como se
apresentam
essas praticas conversaciona is.
As praticas de conversas;ao na medias;ao do
computador
sao comumente referidas na literatura
dentro
do estudo da chamada Comunicas;ao Mediada
por
Computador CMC
11
. Essa perspectiva de estudos
abarca todo urn conjunto de praticas sociais decorrente
das aproprias;oes comunicativas das ferramentas digitais
e e discutida
por
diversos
autores
desde
0
prindpio dos
estudos a respeito do impacto do ciberespas:o como
ambiente comunicacional na vida social. lsso porque
propria historia da Internet confunde-se com a historia
da aproprias;ao conversacional da tecnica que lhe deu .
origem. 0 projeto da Web,
por
exemplo,
foi
comentado
e apresentado por Tim Berners-Lee em urn forum de
discussao
12
enquanto
o
mesmo
era
construfdo
em
1991.
0 proprio surgimento das
primeiras redes
se
fa
z enquanto
milhares desses programadores estao, justamente, tro-
11
E
no
se
nticlo
de
C o m u n i c a ~ a o
Mediada pelo Computador
que
a
sigla
sera
usada neste trabalho.
2
http://group
s.go
ogle.com/group/a
l
t.hypertext/tree/browse
_
frm/
thread/7824e490ea
164c06
/f61 c1
ef93d2a8398?rnum=
l&h
l=en&
q =g
rou
p:al t.hypertext+a uthor:Ti
m+author: Berners-
Lee&_done=
I
gro
up
l
t.hypertext/browse_frm/thread /78
2
4e49Oea
164
c0
6
f61 c
lef93d2a8398?tvc%3
D1 26q 3
Dgro up:alt.hypertext+au thor:Tim
+author:Berners-Lee%26hi%3Den%26&pli=l. Acesso em
deze
mbro
de
2011.
22
8/19/2019 Recuero (2012)
19/60
cando mensagens a respeito
de
como
imp
lementa-las.
Assim, a
C o m u n i c a ~ a o
Mediada pelo
Computador
foi
consolidada como a area de estudo dos processos de
c o m u n i c a ~ a o
hum
a
no
s realizados
atraves
da
m
d i
a ~ a o
das tecnologias digitais .
Para Baron (2002, p. 10), ~ M e definida de
modo amp lo como quaisquer mensagens de linguagem
natural que sejam transmitidas jou recebidas atraves de
urn computador. Falando de modo geral, o termo CMC se
ref
ere
a
inguagem n
at
ur
al
escrita env
i
ada
via Internet .
13
0 conceito de Baron da uma
p e r c e p ~ a o
bastante in-
te ressa
nte
do que
eo
foco da o m u n i c a ~ a o Mediada pelo
Computador, mas e datado, pois fal ha ao
considerar
outros
aspec
tos nao
escr
itos, como a linguagem oral e visual.
Dece
mb
er (1996) da uma d e f i n i ~ a o semelhante, focando
tambem
os aspectos tecnicos
da
m e d i a ~ a o
amp
liando-
a para a troca de i n f o r m a ~ o e s
usando
s e v i ~ o s de te-
l e c o m u n i c a ~ o
e s
em rede outro elemento fundamental.
Entretanto, o conceito de
CMC
nao diz respe ito
ape
nas
aos
eleme
nt
os tecnicos
das
ferramentas e nem
apenas
a linguagem escrita. Ha uma pluralidade de aspectos
soc
iais e culturais
que tambem
precisam
ser
observados.
Herring (1996) da urn conceito mais completo. Para
a a
utor
a, a C o m u n i c a ~ a o Mediada pelo Computador
e a
c o
m u
n T a ~ a o
que aco
nt
ece entre
seres humanos
atraves da instrumentalidade dos computadores
14
(p. 1).
13
Tradw;:ao da autora para: Is loosely defined as any natural language
messaging
th
at
is
tran
sm
itted and
/or
received via a
computer
connection. Generally
spea
king, the
term CMC
refers to a written
natural language message sent via
th
e
In
ternet .
14
r a d u
~ a o
da autora
para
: Is com
mun
ication that takes place
between
human
beings via the instrumentality
of
computers .
23
8/19/2019 Recuero (2012)
20/60
Herring tambem salienta a importancia do estudo
dos aspectos sociais e culturais da
CMC
bern como
a
necessidade
do estudo da linguagem que emerge
nessa ferramenta. Consideramos essa perspectiva como
mais adequada pais vai
alem
do foco
na
CMC como
um
a ferramenta
ou
co
mo
restrita as ferramentas
mas
observando tambem as relac;oes que ali emergem e as
praticas sociais e lingufsticas
que
ali tomam forma. De
fato
h
inumeras
ferramentas
que
proporcionam
esse
ambiente algumas focadas apenas em texto outras em
imagem outras em
some
outras ainda que compreendem
todos esses elementos.
Mas a
CMC
nao e influenciada
somente pela
s suas
ferramentas. Ela e tambem, urn produto
da
apropriac;ao
social
gerada
pelas ressignificac;oes
que
sao
construfdas
pel
os
a tores sociais quando dao sentido a essas ferra-
mentas em seu cotidiano. Jones 1995) constr6i alem
disso uma definic;ao que foca esse elemento. Para ele
a CMC nao e apenas constitufda de urn conjunto de
ferramentas, mas
e urn motor de relac;oes sociag>_ que
nao apenas estrutura essas relac;oes
mas
tambem pro-
porciona urn ambiente
para
que elas ocorram. na CMC
que as relac;oes socia is sao forjadas pelas trocas de infor-
mac;ao entre OS indivfduos e e principalmente
atraves
das conversac;oes que essas
praticas
sao estruturadas.
Comunicac;ao M
ediada
pelo
Computador
e assim urn
conceito amplo aplicado a
capacidade
de
proporcionar
trocas entre dais
int
eragentes via computadores.
pesquisa em Comunicac;ao Mediada pelo
Computador tern sido desenvolvida de forma ampla
principalmente por linguistas e soci6logos
em varias
partes do mundo.
De
urn modo geral podemos
apontar
4
8/19/2019 Recuero (2012)
21/60
algumas vertentes importantes. Ha aqueles
que
estudam
o discur
so
produzido na CMC tambem apontado por
alguns como "discurso mediado
por
co
mputador
").
Herring (2001) explica
que
a diferens:a
desta
perspectiva
e
seu
foco "na linguagem e no uso da linguagem nos
ambientes em
r
ede
dos computadores". Por
outro
ado,
tambem
ha uma perspectiva interacional, focada n
as
trocas sociais que emergem dessas trocas linguisticas e,
de modo mais pontual, nos efeitos dessas trocas (vide, por
exemplo, o trabalho de Wellman, 2001), desenvolvidos
principalmente por pesquisadores das n c i s sociais.
E
dificil, no entanto, separar as du
as perspect
ivas. Por
exemplo, o
li
vro Computer-Mediated
Co
mmunication:
Linguistic Social and Cross-Cultural Perspectives orga
ni
zado
por
Herring 1996), traz uma abordagem mais
ab
r
ange
nt
e do conceito,
ap
re
sentando
nao
apenas
p
ers
pectivas linguf
st
icas e discursivas, mas perspectivas
tambem
sociais e cultura is. Essa perspectiva trfp
li
ce e
que faz tao rica a pesq
ui
sa na area de CMC.
Neste livro,
optamos
por focar a conversas:ao
como a principal forma
de CMC
toma
ndo
esta
visao
trfp
li
ce como ponto
de
partida.
De
urn ado,
uma
per
spect
iva linguis
ti
ca
de
es
trutur
a e organizas:a
o; de
outro, os aspectos culturais das aproprias:oes; e, fi nal
me
nt
e, os efeitos dessas trocas a partir desses doi s
elem
en
tos. Ea partir daf que vemos a conversas:ao em
rede: tra
ta
-se de urn fen6meno novo, que exige dos
estudiosos e pesquisadores novas fo
rmas
e
per
spec
tivas de estudo. Essa conversas:ao em rede e uma das
formas de CMC. Entretanto,
antes
de irmos
adiante
e
pr
eciso discutir como
esses
conceitos p
er
meiam-se e
conf
und
em-se em nossa perspectiva.
5
8/19/2019 Recuero (2012)
22/60
A Comunica
8/19/2019 Recuero (2012)
23/60
da conversa
8/19/2019 Recuero (2012)
24/60
o que constitui o fenomeno
no e s p a ~ o
offline
17
. Assim,
iniciaremos debate
ndo 0
que e e como e
compreendida
a c o n v e r s a ~ a o
Quan
do pe
n
samos
em
conversar ,
rapidamente
imagin
amos um
a
ser
ie
de
fenomenos caracterfsticos
da
linguagem
oral
e
da i n t e r a ~ a o hum
anas. Por exemplo,
a imagem
de urn di;Hogo evoca uma serie de elementos,
pertencentes
tanto
ao pjano daquilo
que
e dito, quanta
tambem
ao
do
modo
como e dito e as circunstancias
qu
e
sao relevantes
. Enquanto interagentes,
estamos
constantemente conectados a todas as i n f o r m a ~ 6 e s
que nos auxiliam a perceber e a interpretar
aquila que
e
dito
pe
los outros e a negociar
aq
uila que dizemos de
forma a apontar algum sentido que desejamos transmitir.
Qualquer urn
de
n6s que ja tenha, em algum
momenta
observado a ocorrencia de
uma
c o n v e r s a ~ a o percebe,
em certa medida, que elementos sao esses. Num dialogo,
tudo e
i n f o r m a ~ a o :
el.:_mentos pros6dicos (como 0 tom
da voz, a
e
n t o n a ~ a o e as pausas da fala), elementos
gestuais e, evidentemente as palavras. A ocorrencia
de uma c o n v e r s a ~ a o necessita, deste modo,
de
que os
part
icipantes
compreendam
e legitimem
os enunciados
urn do outro, alternando-se na fa la e negociando o
contexto
no
processo.
A c o n v e r s a ~ a o e comumente referenciada pela
literatura como
uma parte
importante do processo
de
o u n i c a ~ a o
entre
dois
ou
mais indivfduos. Marcuschi
(2006),
por
exempl
o
define a c o n v e r s a ~ a o como uma
17
Empregamos o termo offl ine como referencia ao s p a ~ o que nao e
mediado pelas tecnologias digitais.
8
8/19/2019 Recuero (2012)
25/60
i n t e r a ~ a o verbal
centrada,
que
se
desenvolve d
urante
o
tempo
em
que
dais
ou
mais interlocutores voltam sua
a t e n ~ a o visua l e cognitiva para
uma
tarefa comum (p.
15). A
c o n v e r s a ~ a o
e
assim como dissemos, a po
rta
atraves
da qual
as
i n t e r a ~ 6 e s sociais
acontece
m e
as
r e
a ~ 6 e s sociais se
estabelecem
. E por me io deJa
que
estabelecemos
tambem nossas
primeiras
experiencias
sociais.
Pridham (2001, p. 30)
exp
li
ca que a
c o n
v e r s a ~ a o
e basicamente
,
qualquer
troca
int
erativa falada
ent
re
duas ou
mais pessoas .
18
Como Marcusc
hi
, o conceito
de
Pridham
foca, principalmen te, a c o n v e r s a ~ a o como
pratica falada. 0 dialogo,
enquanto
pratica falada, implica,
necessariamente, uma a l o c
u
~ a o i n t e o c u ~ a o e urn
processo
de i n t e r a ~ a o
Kerbrat
-Orecchioni,
200
6)
.
Essa
i n t e r a ~ a o consiste na s i t u a ~ a o
comunicat
iva, construfda
e dividida
pe
los participantes,
erg
uida
pe
la
n e g o c i a ~ a o
entre eles. A
a l o c
u
~ a o
refere-se
a
existencia
de ou
tro
part
icipante, e a i n
e r
o c u ~ a o
a
roca de
pa
lavras. Assim,
o
exerdcio
da fa la e a c o n v e r s a ~ a o portan to, nao sao
ape
nas constitufdas
de
linguagem oral,
mas
igualmente,
de
uma
serie de elementos como tom de voz
e n t o n a ~ a o
s
il
enc
io
s e elementos, nao ver
ba
is
que
vao delimi
tar
o
sentido
daquilo
que
e
dito
cons trui
ndo
a
s i t u a ~ a o
comunicativa. Esses elementos sao facilmente percebidos
quando
imaginamos uma
s i t u a ~ a o conver-saciona l.
Ora para
que
exi
sta
o dialogo, e
prec
iso
que
alguem
esteja
fa
l
ando
com urn outro (
o c
u ~ a
o ,
que
essas fa
las
a c o n t e ~ a m
em
turnos
ou
ainda, que
estejam
organizadas
8
Tradu
8/19/2019 Recuero (2012)
26/60
e sejam interlocut6rias) e que a situas;ao contextual
onde
acontece o processo seja demarcada pelos participantes.
conversas;ao, portanto, e urn processo complexo, que
envolve
elementos
diferenciados e possui caracterfsticas
espedficas, tanto em
seus
aspectos organizacionais
quanta sociais e culturais. Mas quais seriam os elementos
da conversas;ao?
Marcuschi (2006) cita cinco caracterfsticas
praticas, constitutivas da organizas;ao de uma conver-
sas;ao, a partir daquela definis;ao, como sendo:
1. interas;ao
entre
pelo menos dois falantes;
2. ocorrencia de pelo
menos
uma troca de
falantes;
3. presens:a
de
uma
sequencia
de
as;oes
coordenadas;
4. execus;ao em
uma
identidade temporal;
5. envolvimento numa interas:ao 'centrada '
(Marcuschi, 2006, p 15).
Os
elementos
de
Marcuschi
sao bastante
perceptfveis nos processos conversacionais cotidianos.
interas;ao
entre
os falantes e a ocorrencia da troca de
posis;ao
entre os
dois focam a caracterfstica dial6gica da
fala. Ao mesmo tempo, os
outros tres
elementos
apontam
a construs;ao de urn contexto conversacional, ou seja,
dos elementos
externos, negociados pelos
interagentes
durante o processo.
Aconversas:ao e tambem ritualistica.
Ou
seja,
seu
processo e constituido
de
diversos rituais construfdos
culturalmente, que delimitam suas fronteiras e fornecem
contextos de interpretas;ao, conforme nos explica
3
8/19/2019 Recuero (2012)
27/60
Goffman (1974, 1981). Assim, ha rituais de
abertura
da
conversac;:ao
por
exemplo,
Oi, tudo
bern? , cujo
sentido
ede
limit
ar
uma abet
·t
·a
para
a conversac;:ao) e rituais de
fechamento
por
exemp
lo, Entao ta, tchau ).
Ha
rit
uais
para a troca
de
falantes,
para
a linguagem
eo
formato da
fala, e todos dependem do contexto onde a conversac;:ao
esta
in
se
rida. Assim,
uma
conversac;:ao
que ocorra entre
dois
debatores em
urn congresso nao tern os mesmos
rituais daquele dialogo que ocorre
entre
amigos, em urn
encontro
informal.
Do
mesmo
modo, nao
sao
os
mesmos
rituais
da
conversa
entre
pessoas de idades e classes
sociais diferentes.
conversac;:ao e, portanto, urn processo orga-
nizado, negociado
pe
los atores, que
segue
de
terminados
rituais
l t u r
i s
e
que
faz
parte
dos
processos
de
interac;:ao
social. Nao
se
LTat
a
apenas
daqueles dialogos
orais
diretos,
mas
de inumeros fenomenos que
compreendem
os
elementos
propostos e
constituem as trocas
sociais
e que sao
construldos
pela negoc
iac;:ao,
at
ra
ves
da
linguagem,
de
contextos comuns de
int
erpretac;:ao pelos
ato res sociai
s.
9
Essas
caracterlsticas
e
elementos,
no
entanto,
nao
sao
imediatamente
evidentes
no
ambiente
do
ciberespac;:o. Comunicac;:ao Mediada pelo Computador
opera sabre varias ferramentas
, com
caracterfsticas
e limitac;:oes
pr6prias,
que vao tambem influenciar
as
praticas conversaciona
is
que
emergem
no ciberespac;:o.
Ora,
se
ha
comunicac;:ao
mediada pelo computador
construlda no ciberespac;:o,
ha
tambem conversac;:oes
9
De forma a naloga aos state o alk de Goffman.
31
8/19/2019 Recuero (2012)
28/60
que
tern Iugar neste ambiente. Mas como podemos
observa-las?
A
primeira
concepc;:ao
de conv
ersac;:ao
no
ciberespac;:o deu-se atraves
da pe
rcepc;:ao
da
interac;:ao e
do dialogo como con
str
ufd
os atraves da
linguagem escrita
possib
ili
tada por
essas tecnologias.
Herring (2010)
argumenta que, no
infcio, essa concepc;:ao
era po
lemica, e a
percepc;:ao das trocas textuais no ambiente dacomunicac;:ao
mediada
por
computador
era vista simplesmente
como
uma
metafora
para a conversac;:ao, mas
nao como uma
conversac;:ao em si mesma,
que
so acontecia atraves
da
fa
la. En
tr
etanto, com o desenvolvimento da
pesqu
i
sa na
area,
a autora
exp li
ca
que
ha
evidencias cada
vez
maiore
s
de que ,a conversac;:ao
no
ciberespac;:o possui elementos
tfpicos
da
conversac;:ao
ora
l e que,
portanto,
e e
deve
ser
cornpree
ndida como conversac;:ao e
nao como
simulac;:ao
ou
metaforas.
Na
c o v e r s a ~ a o casua l, os us
uar
ios da
Internet
fr
equcntemcntc
referem-
se
as trocas
textuais como
c o n v e r s a ~ o e s usando verbos co mo falei'', disse
e ouvi ao inves de digitci , cscrevi ou li pa1a
descrever s uas atividades na CMC Mesmo au tores
publicados, algumas vezes, referem-se,
de
forma
inconsciente, parece-me, aos falantes mais do que
aos escreventes , conversa
mais do qu
e
trocas
digi tadas , turnos
ma
is do que mensagens e daf por
diant
e qua
ndo
reportam
-se
a
CMC
0
uso
linguf
stico
atesta ao fa to que
a experiencia dos
usuar
ios na
CMC
e
fundalmenta
lmen te s im ilar aquela da c o n v e r s a ~ o
fa
lada, apesar da CMC ser
produ
zida e recebida por
meios
cscr
i
tos
20
(Herring, 2010,
on
line).
32
8/19/2019 Recuero (2012)
29/60
Observamo
s, deste modo,
que essa similaridade
vern, em parte, da i n c o r p o r a ~ a o dessas ferramentas ao
cotidiano
das
pessoas,
construfda
pela r e s s i g n i f i c a ~ a o de
suas
potencialidad
es diante dos
in
teresses
e motiva(,:5 es
dos grupos sociais. Epor isso que defendemos que essa
c o n v e r s a ~ a o e
uma
a p r o p r i a ~ a o
Ou
seja,
as ferramentas
da CMC sao apropriadas com carcHer conversaciona l
pelos usuarios.
Diversos autores
tem
consistentemente com-
parade
as
i n t e r
a ~ o e s
online
com
c o n
v e r s a ~ o e s
como
Primo e Smani
otto
(2006), AraC1jo
(2004
), Scobie e
Israel2
1
(2006), dentre outros. lsso porque as trocas
interativas
ent
re os atores
nesses
ambi
en
tes possuem
muitas
s imilarid
ades
com a c o n v e r s a ~ a o oral. Herring
(1996, p. 3), por
exemp
lo, argumenta que a linguagem
da CMC apresenta uma linguagem digitada, escrita,
mas
rapida
e informal como a linguagem
fa
lada ,
que
constitu
i a
c r i a ~ a o
de elementos Cmicos, como o uso
do
s emoticons, elementos grMicos, lexicos especiais e
z Trad
w;:ao da autora
par
a: In
casua
l
par
lance, In
ternet
users
often refer to textual exchanges as conversations, using ver s such
as 'talked
,
'said,' and 'heard
rather
than 'typed,' 'wrote,' or read ' to
describe their CMC activit i
es
. Even published authors sometimes
r e f e ~ unconsciously, it seems, to 'speakers' rather than online writers',
'talk' rather than 'typed exchanges','turns' rather than
messag
es;
and so forth,
when reportin
g on
CMC.
This
li
nguistic usage
att
ests to
the fact th
at
users exper ience CMC in fundamen tal ly similar ways to
spoken
conversation, despite CMC being
produced
and received by
written means.
21
Os auto res usam o
termo
naked conversations (conversas:oes
nuas).
33
8/19/2019 Recuero (2012)
30/60
acr6nimos. Mas, a
autora
ressalta que a linguagem
da CMC
nao e homogenea e se manifesta atraves
de
diferentes
est
ilos e gen
er
os, alguns, inclusive, determinados pela
ferramenta tecnol6gica. Baron 2002) tambem associa
as ferramentas
de
CMC
a dialogos, dizendo que algumas
dessas
ferra
menta
s geram conversac;ao entre
dais
ou
mais participantes. Essa conversac;ao e fruto do uso
da
s
ferramentas, que nao sao necessariamente voltadas
para
a conve
rsa
c;ao
ora
l.
Na
verdade, a
per
cepc;ao
de
conversac;oes que nao se desenham ape
na
s no espac;o da
oralidade e uma clas
primeiras
observac;oes a respeito
cia
conversac;ao no espac;o
da
mediac;ao do computador.
Nesse
se
nt
iclo
December (1996) aponta ainda que
essas caracterlsticas orais
da CMC
implicam o fato
de
que
o cliscurso
nao precisa
ser
b
asea
do
em
s
om
para
ter caracterfsticas orais. Boyd, Go l
der
e Lotan (2010),
outro exemplo, analisam as conversac;oes no Twitter
clemon
strando
a negociac;ao de co
nt
exto e de praticas de
direcionamento
dos
participantes, de uma
forma
similar
a Honeycutt e Herring (2009). Ora, o
Tw
itter e outro meio
onde as interac;oes sao pr
edo
minantemente textuais.
Pr
imo e Smaniotto (2006), seguindo
es
sa perspectiva,
tambem
analisam as
int
erac;oes que acontecem
nos
blogs
como conversac;oes, discutindo que
essas
trocas
sao
sim
parte de urn dialogo.
Do
mesmo modo, Araujo (
2004)
defende
os
chats como
tr
ansmutac;oes
das
conversac;o
es
orais, onde outros el
eme
n
tos
sao incorporados, como
imagem e som.
que se observa
na
literatura, portanto, e
que,
embora
as tecnologias nao
tenham
sido,
em sua
maioria, construidas
para
simular conversac;oes, sao
34
8/19/2019 Recuero (2012)
31/60
u t i l i z a d a ~
9este modo, construindo, portanto, ambientes
conversacionais.
Essas pniticas de
c o n v e r s a ~ a o
deste modo,
vao aparecer, conforme dissemos, como
a p r o p r i a ~ o e s
como formas de uso das ferramentas de
CMC
para
construir
contexto e proporcionar urn
ambiente
de trocas
interacionais. Lemos (2002) define a
a p r o p r i a ~ a o
como
a essencia da cibercultura. Para o autor, a
a p r o p r i a ~ a o
e
o produto do uso da tecQologia pelo homem, tendo duas
dimens6es, uma
i m b l i c ~
uma tecnica.
E
nesse
sentido
que tambem utilizamos o conceito aqui. A a p r o p r i a ~ a o
tecnica compreende o aprendizado do uso da ferramenta.
A simb6lica
compreende
a construyao de sentido do uso
dessa ferramenta, quase
sempre
de forma desviante, ou
seja, com praticas que vao sair do escopo do design de
uso desta.
Se
observarmos,
por
exemp
lo
, os recados
do
Orkut,
e
imediatamente perceptfvel que se
trata
de uma
forma assfncrona de
i n t e r a ~ a o n
e que as
c o n v e r s a ~ 6 e s
que ali sao desenvolvidas espalham-se pelos perfis dos
envolvidos, que respondem cada qual no perfil do outro
interagente. No entanto, ja foram observadas praticas
sincronas
3
,
como aquela de marcar urn encontro em
urn perfil aleat6rio e fazer dele urn chat. Trata-se de uma
a p r o p r i a ~ a o ao
mesmo tempo
tecnica - o aprendizado
do uso - e simb6lica - o uso para a
c o n v e r s a ~ a o
A
22
Assfncrona no sentido de que nao se constitui em uma troca onde
os dais atores dividem o
mesmo
espas;o ao mesmo tempo, mas uma
troca onde um deles nao
esta presente
. Esta ideia sera discutida
adiante neste capitulo.
3
Os
conceitos
de
conversas;ao sfncrona e assfncrona na media
s ao
do
computador serao retomados adiante neste capitulo.
35
8/19/2019 Recuero (2012)
32/60
a p r o p r i a ~ a o em sua dimensao simb6lica e, portanto,
criativa, inovadora e
capaz de
suplantar os limites
tecnicos da CMC
A
c o n v e r s a ~ a o
no c i b e r e s p a ~ o e tambem
capaz de
simular, sob muitos aspectos, elementos
da c o n v e r s a ~ a o oral. C o n v e n ~ o e s sao criadas para
suplementar, textualmente, os elementos da linguagem
ora
l e
da
n t e r a ~ a o gerando uma nova escrita oralizada .
Contextos sao convencionados pelos interagentes atraves
da negocias;ao. E uma conversas;ao em rede, multipla,
espalhada, com a participas;ao de muitos, e que permanece
gerando novas aproprias;oes e migrando entre as diversas
ferramentas. Essas praticas provem caracterfsticas que
permitem examinar a conversas:ao online como analoga a
c o n v e r s a ~ a o ora
l, com elementos semelhantes,
mas
ainda,
como p r o p r i a ~ a o simb61ica e tecnica Essas praticas sao
co
nstantemente
alteradas e renegociadas pelos
atores
que passam a us
ar
essas ferramentas, cri
ando
novas
convens:oes e novas formas de expressao.
Sao tambem praticas
oriundas
de uma nova
estrutura
proveniente do
advento da
int
erconexao
entre
os atores no espas:o online, possibilitadas
pe
las
redes
sociais. Essa estrutura de rede, caracterfstica tambem
que influencia essas aproprias:oes, gera urn contexte
novo de
n e g o c i a ~ a o
dessas praticas. Interconectados,
os atores precisam, tambem,
aprender
a conversar em
rede. E a
rede
nao oferece urn contexte simples, pois a
conversas:ao e capaz de migrar,
estrutura-se
de forma
multimodal e coletiva. Essas caracteristicas, entretanto
serao aprofundadas no capitu lo 4. Antes delas, e precise
discutir elementos mais gerais da conversas;ao
em
rede,
decorrentes dessas praticas de
a p r
o p
r
a ~ a o .
36
8/19/2019 Recuero (2012)
33/60
0 estudo dessas praticas ainda incipiente em
suas variadas forma s
foi
aqui brevemente explicado
atraves
de
uma tentativa de
s i s t e m a t i z a ~ a o
de suas
caracteristicas, que serao aprofundadas a seguir.
No
entanto,
por ser
fruto
da
a p r o p r i a ~ a o a c o n v e r s a ~ a o
mediada pelo computador e mutante, transformadora
e
produtora
de novas redes sociais. Esses elementos
auxiliam a compreensao dela, mas nao dao conta de sua
integralidade. Praticas conversacionais caracterfsticas
de urn determinado grupo podem
ser
diferentes em
outro grupo dentro de uma mesma f
er
ramenta, por
caracterfsticas especfficas da rede social que a apropriou.
Justamente
por
isso, epreciso estudar essas g n i f i c a
~ o e s
e sistematiza-las buscando compreender aquilo que
se chama de
c o n v e r s a ~ a o
mediada pelo computador e
seus efeitos.
1 2
Caracterfsticas d
c o n v e r s a ~ a o mediada
pelo
computador
A
m e d i a ~
a o
digital, ou seja, a
i n t e r m
e d
i a ~ a o
da c o n v e r s a ~ a o por suportes de
i n f o r m a ~ a o
digitais
transforma essa c o n v e r s a ~ a o
0 suporte, que nao
caracteristico da pratica, esubvertido pela a p r o p r i a ~ a o
que lhe da_sentido e he confere form
as
de
o r g a n i z a ~ a o
e
24
McLuhan (1964, p. 21) em seu trabalho apo
nt
a para os impactos
da m e d i a ~ a o no
e s p a ~ o
da
c o m u n i c a ~ a o
explicando que o meio
interfere profundamente tambem no sentido da mensagem.
0
meio
e a mensagem."
37
8/19/2019 Recuero (2012)
34/60
e s t r u t u r a ~ a o
coletivamente estabelecidas, transformando
a pn1tica e
subsequentemente,
as pr6prias
p r o p r i a ~ 6 e s .
Quando focamos o e s p a ~ o
da
m e d i a ~ a o digital
como urn
e s p a ~ o
co
nver
sacional, ha, como dissemos,
pontos diferentes daqueles da c o n v e r s a ~ a o oral. Urn
primeiro ponto e 0 fato de que a larga maioria das
ferramentas
de CMC
ainda)
opera
sobre bases
de
linguagem predominantemente textual. E o caso dos
chats, e-mails, micromensageiros
25
e f6runs. Ainda
que
ferramentas
predominantemente
orais tenham surgido
nos ultimos tempos
26
-
como o Skype
27
,
por exemplo,
que proporciona
i n t e r a ~ 6 e s
com vfdeo e voz, e seguro
dizer
que
a
maior parte
da
CMC
ainda
ocorre
de forma
textual. Do mesmo modo, a
c o p r e s e n ~ a
dos interagentes
envolve
uma
complexa
r e p r e s e n t a ~ a o
de identidades e
indivfduos,
que
nao e evidente
em
todas
as
ferramentas.
0
propr
io conceito
de unidade
temporal
torna-se
elastico, a l
terando
tambem a
p e r c e p ~ a o de
contexto,
pois as ~ 6 e s acontecem,
muitas
vezes,
durante e s p a ~ o s
de
horas e a te dias.
Ferramentas como o Twitter
http:/ w w w
t w i t t e
~ c o m ou
o Plurk
http: / www.plurk.com). Sao definidas como se
melhantes
aos
weblogs, mas permitindo apenas
que
se publique mensagens com
l l l l pequeno numero de caracteres, que sao visiveis para uma rede
de seg
uidores.
6
E mesmo es
sas
ferrame
nt
as, por envolver m a ~ a o nao dao a
mesma dimensao de um dialogo ora l pois nao conseguem
tran
smi tir
todos os elementos nao verbais que
normalm
ente acompanham esses
eventos. Assim,
por
exemplo emuito mais dificil negociar
os
tu
rnos
de
fal
a quem fala quando) em uma ferramenta mediada como um
Hangout
do
Google+
p
lus.google.com).
27
http:/ www.skype.com.
38
8/19/2019 Recuero (2012)
35/60
A
c o n v e r s a ~ a o
no
ambiente
mediado pelo
computador, assim,
assume
idiossincrasias
pr6prias que
sao decorrentes da a p r o p r i a ~ a o dos meios para o uso
conversacional. Ela e portanto, menos uma
e t
e r m
i n a ~ a o
da ferram
enta
e-mais uma pratica de uso e c o n s t r u ~ a o de
significado dos
int
eragentes, sejam essas ferrame n
tas
constr
uidas
pa
ra isso ou nao. Falamos em apropria
8/19/2019 Recuero (2012)
36/60
Oeste modo, urn dos elementos mais diffceis
de sistematizar
sao as caracterfsticas
da conversac;ao
mediada pelo computador. lsso porque de
urn
ad
o,
essas
caracterfsticas
sao tambem
decorrentes
das
apropriac;oes
dessas ferramenta
s e,
portanto,
sao
mut
antes. Alem disso,
ha elementos
que sao
dife
renciais
por
conta
da
propria
tecnologia
que
apoia
essas tro
cas. A seguir, faremos
uma discussao das caracteristicas mais importantes
observadas
pela
literatura
e pelos
est
udos
empfricos
dessas
praticas
conversacionais.
1 2 1 ambiente da
c o n v e r s ~ o
A
primeira
m
ud
anc;a
no processo de
conversac;ao
mediad a
pelo computador
e a utilizac;ao e a criac;:ao de urn
novo
amb ient
e
de
conversac;:ao.
Trata-se de
um
ambiente
mediado, que,
portanto, poss
ui caracterfs ticas e limi
tac;:oes
especfficas
que
se
rao apropriadas, subvertidadas
e amplificadas pela conversac;ao. 0
ambiente
da
convcrsac;ao,
ass
im, e o ciberespac;o.
:ll
E por i
ss
o muitos
rituais
constr
ufdos
no
espac;o digital
perpa
ssam
varias
ferramentas
utilizadas para a conversac;ao.
Embora
o ciberespac;:o,
em
princfpio, seja urn
es
pac;o virtual,
constitufdo
pelos fluxos de informac;ao
e comunicac;ao
que
circulam pela infraestrutura da
com
unicac;ao digital (Levy,
1999), ele
e urn espac;o
tambem
consb·uido e negociado pela participac;:
ao
dos
atores
atra
v
es
da conversac;ao.
l A alucinac;ao consensua l proposta
por
William Gibson em seu
livro Neuromancer de 1
984
.
4
8/19/2019 Recuero (2012)
37/60
Apesar de a n o ~ o
de
ciberespac;o parecer in
te
irame
nte
descon
ectada daquela que temos
do
e s p ~ o
ffsico,
esse
nao
e
o caso. A
noc;ao
de espac;o
e
construf
da
pela
nossa
percepc;ao e
por
ela delimitada Fragoso,
2000). Portanto, o espac;o
sempre
urn constructo e
ja
mais algo
un
iversal. Fragoso 2000)
questiona
a aparente
falta
de
conexao entre o ciberespac;o
eo
espac;o
ff
sico,
de
monstrando
que
as
metaforas
utilizadas pe los interagen
tes
para
referir-se a
seus
contextos os reconstroem como
espac;o
e
inclusive, como territ6rio vide Fragoso, Rebs e
Barth, 2010). Fragoso
argumenta ainda em se
u trabalho
que
o ciberespac;o
e
urn espac;o relacional, ou seja, que
emerge
das
n t e r r e l
~ o e s
e
ntre
os
dados,
suas represen-
t ~ o e s
grMicas, os fluxos
de
i n f o r m ~ o e as i n t e r ~ o e s
dos indivfduos. Dentro
desta
perspectiva, o ciberespac;o
econstitu fdo tambem das nossas percepc;oes de espac;o,
trazidas
pelos conceitos
de
espac;o geografico, informa
cional e social Fragoso, Rebs e Barth, 2010).
Com isso,
podemos
perceber que o ciberespac;o,
como
ambiente da
conversac;ao, e con
str
ufdo
enquanto
amb
i
ente
social e
apropriado enquanto
ambiente
tecnico.
Ha portanto duas
dimensoes
que
nos
sao
re
levantes: como esse espac;o fornece elementos para
a construc;ao da c o n v e r s ~ o atraves das
ferramenta
s
utilizadas pelos grupos sociais e como
esses grupos
constroem
e
se
apropriam do contexto gerado por elas
e por
sua
experiencia no ciberespac;o como eleme
nto da
conversac;ao. Enquanto os aspectos tecnicos, de certa
forma,
podem dir
ecionar a interac;ao, os aspectos sociais
e culturais
podem
perpassar diversas ferramentas. Assim,
por exemplo, embora a h
ashtag
seja
uma
apropriac;ao
41
8/19/2019 Recuero (2012)
38/60
caracterfstica do Twitter, ela tambem e
usada
em outras
fer
ramenta
s com o
mesmo
sentido.
Outra ideia
interessant
e
para
ana
lisar o ambiente
fla
conver
sa
8/19/2019 Recuero (2012)
39/60
Entretanto, a media
8/19/2019 Recuero (2012)
40/60
Boyd explica que, enquanto
no
s publicos nao mediados
e possfvel perceber a audi€mcia pela
sua
copresenya
fisica,
no
es
payo
da
m e
a ~ a o
essas
a u d H ~ n c i a s
sao
invisiveis.
E
possfvel perceber a existencia desses grupos,
mas nao sua p r
e s e n ~ a diretamente.
Finalmente, como
caracteristica especifica da rede esta a buscabilidade, que
permite que as n f o r m a ~ 5 e s e
express5es
sejam buscadas
e recuperadas
atraves
de
ferramentas de
busca.
Como
esses
publi
cos
em rede constituem-se
no
amb
iente
da
conversayao, e possivel
depreender
que
essas caracterfsticas influenciam, tambem a conversayao
que
emerge
nesses
e s p a ~ o s
Entretanto, ha outros ele
mentos
que
tambem podem
ser apresentados e que sao
decorrentes da m e d i a ~ a o
do computador.
0
e s p a ~ o
dig
it
al
e
urn
s p a ~ o
fundamentalmente
anonimo, g r a ~ a s
a
mediac;ao. Co mo o corpo ffsico,
el
emento fundamental da
c o n
s t r u ~ 5 o da
s i t u a ~ a o
de
i n t e r a ~ a o nao e urn
partkipe
do processo no espayo
mediado, ha uma p r e s u n ~ a o
de
anonimato
gerada
pela
propria
p e r c e p ~ a o
deste
. por isso que as audiencias
sao
invisiveis
par
princfpio.
Ha
urn
distanciamento
fisico causado pela m e d i a ~ a o entre
os
interagentes, e
essa nao proximidade
esta
relacionada ao descol
amento
do processo conversacional
da
c o p r e s e n ~ a
Assim,
e
co
mum
que a lin
guagem
e
os
contextos utilizados
para
a
o m u n i c a ~ a o neste ambiente sejam apropriados
pelos
atores
como eleme
nto
s de
c o
n
s t r
u ~ a o
de i
dentidade
(Donath, 1999; Herring, 1999; ~ o y d 2007). Essa
construyao, n
ecessar
ia para a visibili
dade
daq uele com
quem
se fa Ia, e fundamental
a
n t
e
r l o c u
~ a o .
A partir dessa
construc;ao, tem-se a presenya, a
inda que
virtual ,
que
permite a s i t u a ~ a o
da
conversac;ao.
44
8/19/2019 Recuero (2012)
41/60
Ja dissemos, tambem, que a conversac;:ao e
uma apropriac;:ao, nao apenas urn fato. Ela e construfda,
significada e
moldada
de acordo com as limitac;:oes e
possibilidades da mediac;:ao, mas
tambem
a
subverte
e
reconstr6i.
1.2.2 Escrita oralizada
As tecnologias de informac;:ao e comunicac;:ao e
seu desenvolvimento
sempre
tiveram efeitos variados
sabre a linguagem das populac;:oes e sabre
as
relac;:oes
estabelecidas atraves dessa
linguagem entre
os
interlocutores. Baron
(2001)
explica que p
arte
dessas
mudanc;:as quanta
a
mediac;:ao do digital esta focada
no
apagamento ou hibridjzac;:ao das linguagens escrita e oral,_
tradicionalmente diferentes, ainda que intrinsecamente
relacionadas.
Embora a separac;:ao entre fala e escrita seja
secular
em
termos
linguisticos, e caracteristica dessa
apropriac;:ao do ciberespac;:o o estabelecimento de uma
escrita
falada" ou "oralizada".
34
que
isso quer dizer? As
ferramentas
de comunicac;:ao
mediada
pelo computador,
inicialmente, suportavam apenas a linguagem escrita.
Com isso, a conversac;:ao
no
ciberespac;:o acontece,
em
grande
parte,
atraves da linguagem escrita.
35
I
31
Enquanto alguns
autores
consideram que h uma
h i b r i d i z ~ o
dessas linguagens (vide Herring, 2008), outros ainda consideram que
euma nova linguagem (ou "netspeak , co mo afirma Crystal, 2006).
3
" Herring (2010) expl ica que,
embora
hoje em di a outras formas de
c o n v e r s ~ o
que focam a linguagem oral (como o VolP por exemplo)
estejam acontecendo,
~
u n i y o textl gl t ~ m precedencia.
hist6 rica e continua a mais
ti]J
rca da fnteri1et e a mais interessante do
ponto de vista te6rico.
45
8/19/2019 Recuero (2012)
42/60
Com a a p r o p r i a ~ a o
para
a
c o n v e r s a ~ a o ,
essa
linguagem precisou
ser
adaptada. Em outras palavras, ela
precisou incorporar formas de indicar elementos que sao
essenciais para a t r a d u ~ a o da lingua escrita em lingua
falada, como elementos que dao dimensao pros6dica da
fala e elementos nao verbais, como gestos e express6es.
Sem esses elementos, a fala seria
extremamente
ruidosa no e s p a ~ o
on
lin
e.
Por exemplo, como indicar a
urn
int
erloc
utor
que
se
esta sendo sarcast
ico?
No
dialogo
oral, o sarcasmo pode ser construfdo pela e n t o n a ~ a o
voca
l
pela expressao facia l ou mesmo, pelos gestos que
acompanha m o enunciado. Entretanto, como dissemos,
esses elementos nao acompanham a linguagem escrita.
Assim, como transmitir essa i n f o r m a ~ a o na c o n v e r s a ~ a o
mediada, cujo univ
erso
possfvel
de
transmissao com
preendia apenas a linguagem escrita?
Ora, foi
pr
eciso u r n ~ a p r o p r i a ~ a o . E
uma
das
primeiras a p r o p r a ~ 6 e s dos interagentes fo i o uso dos
caracteres simb6
cos de que dispunham para, justamen
te, criar formas de simular
esses
elementos nao verbais.
Uma dessas primeiras
o n v e n ~ 6 e s
foi
o u
so de
emoticons.
Emoticons sao conjuntos de caracteres do teclado que
simbolizam express6es faciais como, por exemplo:
:-) - sorriso
:- -
tristeza
:-P- lingua
de
fora
Embora nao tenham sido, exatamente, uma
c r a ~ a o exclusiva da Internet ( o uso de emoticons ja
acontecia, por exemplo, nas cartas), foi a m e d i a ~ a o do
computador
que
os
popu
larizou. Mesmo que inicialmente
46
8/19/2019 Recuero (2012)
43/60
fossem limitados a caracteres do teclado, hoje
quase
toda
a ferramenta inclui emoticons (inclusive animados )
de todos
os
tipos.
36
Alem disso, outras estrategias ca
racterfsticas
da
comunicac;:ao oral f
oram
incorporadas,
co
mo
o
usa
de
onomatopeias
e a repetic;:ao de
letras para
caracterizar
a pros6dia. Afinal, sem o cantata direto com
OS interagentes, a falta
de
contexto e Uill problema Serio
da conversac;:ao online.
Com o tempo, essas apropriac;:oes to rnaram
se
mais
complexas e mais detalhadas,
se
ndo, inclusive,
ut
il izadas com caracterfsticas de dialetos especfficos de
determinado
s grupos de usuarios
37
(como Baron, 2001,
demonstra).
Hoje,
ha
diferentes tipos
de
convenc;:5es
para
a conversac;:ao online, que
se
diferem em bora nao
total mente) tambern
entre as
varias linguas (vide Crystal,
2006
e Herring, 1999) .
sempre liiiiiiiiiiiiiiiiiiinda
ma
r i *-* born final de
semana
:*'u
(comentario observado em urn fotolog)
39
36
Essa pluralidade pode ser
vi
sta em ferram
entas
como o Microsoft
Live
Messenger eo Plurk,
por
exemplo,
que
permitem, inclusive, uma
p e r s o n
z ~ o dos
emo
ticons de acordo com a vontade do usuar
io.
37
Ha var ios trabalhos que relatam, no Bras
il
, o su rgimento de formas '
diferentes de
fa
la r na Internet, associadas, em gera l, a grupos
etarios, como o de Pimen tel (2006), que foca os adolescentes e
os blogs.
38
Todos os exemplos util i
zados
neste
l vro
foram anonimizados, com
raras e x c e ~ o e s e sao to
do
s frutos de pesquisas
de
campo anteriores
da autora.
39
Fotologs sao ferramentas de publi ca
8/19/2019 Recuero (2012)
44/60
No exemplo acima, vemos
uma mensagem que
e
parte de
um
a conversac;ao entre dais u
su
arios do Fotolog,
uma ferramente mais recente. Observa-se o usa da repe-
tic;ao
da letr
a i
como
forma de
simular
uma entonac;ao
oral
eo usa
dos emoticons
nao
tao convencionais
( *-*
e
:* ) representando,
respectivamente, olhos
arrega
lados
e urn be ijo. No caso, sao signos cri
ados
a partir de con
venc;6es
de uso da
linguagem
no
ciberespa
c;o
e fornecem
o contexto pa
ra
o dialogo, bern como
tran
sformam a lin
guagem em ac;ao. 0 usuario nao apenas manda um bei
jo, ele literalmente coloca uma co nvenc;ao de
alguem
(ele
mesmo?) que da urn beijo.
A informalidade da linguagem
tambem
e uma
caractcrfst
ica
dessa
oralizac;ao. A fala na
Internet
e
tambem associada
a u
rn
uso
informal
da
lfngua,
qu
e
tambem
e mais caracteristico
da
linguagem oral.
@usuarioA: Ta chovendo
nas
Pelotas?
@usuar
ioB: Hihihi Nao
sei
mas ta
sempr
e umido
nas Pelotas RT
No exemplo acima, temos uma resposta dada
par
um usuario (usuarioB) a outro (usuarioA)
no
Twitter.
Observa-se o uso coloquial
da
lingua
ja adaptado para
a
Internet, o ta , por exempio, e a expressao
nas
Pelotas ,
que
se
refere a uma cidade - Pelotas/RS. Mesmo o nao
u
sa
de
acentos pode
ser
atr
ibu fdo a
uma
forma mais
coloquial e pratica de
falar .
Crystal (2006) discute que a conversac;ao na
Internet
obedece a restric;6es que sao caracterfsticas do
meio ou
das
ferramentas utilizadas. Essas restric;6es aca
bam par
influenciar a ca
pacidade
lingufstica
prod
utiva e
48
8/19/2019 Recuero (2012)
45/60
receptiva dos interagentes, mas nao necessariamente do
mina-Ia Afinal, como e s p ~ o simb61ico, essas ferramen
tas vao oferecer espac;os
de
construc;ao
de
praticas que
vao
ampliar
a negociac;ao de sentido
de
seus
usuarios
criar convenc;oes (como os emoticons) e ajustar contex
tos que vao permitir a conversac;ao.
Assim
ferramentas
diferentes vao oferecer contextos de apropriac;ao dife
rentes da
linguagem. E
grupos
diversos podem, tambem,
ressignificar esses elementos de acordo com sua propria
percepc;ao
da
ferramenta e
seu un
iverso contextual.
Essa simulac;ao do oral da as trocas interacionais
realizadas no ciberespac;o
contornos
semelhantes aos
da
conversac;ao oral. A estrutura aparente
dessas
trocas,
relativamente organizada e onde
ha turnos
e convenc;oes
de
contexto (como demonstra o trabalho de Herring,
1999), e similar
de
uma conversac;ao. linguagem
e adaptada, convencionada e alt
erada para dar
conversac;ao dimens6es da oralidade.
Talvez por conta dessas caracteristicas, a
c o n v e r s ~ o no ciberespac;o seja tao relacionada a
construc;ao
de
relac;oes sociais e
agrupamentos
(vide
Rheingold, 1995; Recuero, 2009).
Assim
podemos dizer
que em
bora
nao seja constituida de fala na maioria das
vezes, a conversac;ao no
ambiente
virtual e constituida
de
interac;oes pr6ximas desta, que simulam a
o r g n i z ~ o
conversacional oral e que tern efeitos
semelhantes
nas
int
erac;oes sociais e na constituic;ao dos grupos.
1 2 3
Unidade
temporal elastica:
os tipos e
c o n v e r s ~ o
mediada
Outro elemento apresentado na conversac;ao
online e a sua caracteristica
de
acontecimento, pois
9
8/19/2019 Recuero (2012)
46/60
compreende trocas em
uma
unidade temporal na qual
os participantes constroem e dividem urn contexte
em
uma copresenr,:a.
No ambiente
do ciberespar,:o, no
entanto, essa unidade temporal torna-se mais elastica,
e a presenr,:a e compartilhada apenas pela persistencia
das trocas e dos contextos. conversac;ao
mediada
pelo
computador,
deste
modo, nao
necessariamente
ocorre
em
urn mesmo momenta temporal onde os interlocutores
estao
presente
s, com urn
contexte
negociado e construido
naquele momenta. Ao contnirio,
sao
unidades temporais
elasticas, que podem ser estentidas pelo tempo desejado
pelos interlocutores, cujo contexte precisa
ser
adaptado
para essas trocas no tempo. Es sa elasticidade e car
ac
teristica tambem do
amb
i
ente dessas
conversar,:oes.
conversar,:ao,
no
caso
da
mediar,:ao do
cornputador
e
constitufda
de
praticas que vao organizar
as trocas informativas entre os agentes para a construc;ao
de contextos sociais. Para compreende J
a
e precise
verificar a
inter
ac;ao e os elementos apontados entre
as re
presenta
c;oes
de
interlocutores no ambiente vir
tual, de
ntro
de urn m
esmo
contex
te
interacional
que
e negociado pelos interagentes. Assim, S contextos
sao
geralm
ente
construfdos
sabre duas ap
ropri
ar :oes:
a conversar,:ao sfncrona e a assfn crona. 0 conceito de
formas de
CMC
sincronas e assincronas e trabalhado
por muitos autores e fornece alguns eleme
nto
s para
compreender essa caracterfstica. Baron (2002), por
exemplo, explica que formas sfncronas sao aquelas que
possuem o potencial para a
int
erac;ao em tempo real
dos participantes, enquanto
as
assfncronas
sao aquelas
ferramentas que nao possu
em
esse potencial. Herring
(1999) refere-se aos ambientes
da CMC
como sfncronos
s
8/19/2019 Recuero (2012)
47/60
ou assfncronos, dentro da mesma perspectiva de Baron,
demonstrando que ambientes com potencial de tempo
real ainda sao capazes de simular mais a conversas;ao. 0
que
temos
aqui, portanto, e a nos;ao de que
OS
ambientes
da comunicas;ao mediada pelo computador sao capazes
de proporcionar contextos ampliados , que podem ser
recuperados, buscados e atualizados
por
novas inte
ras;6es, gerando conversas;6es que podem estender-se
por largos perfodos de tempo.
conversac;ao sfncrona e aquela que e carac
terizada pelo compartilhamento do contexto temporal e
midiatico. Ou seja, sao conversas;oes que acontecem entre
dais ou mais atores atraves de uma ferramenta de
CMC
e
cuja expectativa de resposta dos interagentes e imediata.
conversac;ao assfncrona e
uma
conversas:ao
que se
estende
no tempo, muitas vezes atraves de varios
softw res
(migrando,
por
exemplo, entre varios deles,
conforme veremos adiante). Com isso, o sequenciamento
da conversac;ao e diferente, pais esta espalhado no
tempo. Essas conversas;6es ja foram observadas
por
outros pesquisadores (vide Herring
t a/.
2005;
Primo
Smaniotto, 2006; Efimova
De
Moor 2005). Elas
sao, geralmente, perpetradas atraves de sistemas como
os weblogs, fotologs,
1
listas de discussao por e-mails,
micromensageiros ou, mesmo, nos sites de redes
sociais. Na conversas:ao assfncrona, a reconstrus;ao dos
pares conversacionais e dificultada, pois a ordenac;ao
e diferente no tempo (Herring, 1999). Ou seja,
OS
4
De estrutura
semelhante aos weblogs, mas focados em publicas;oes
de
fotos acompanhadas ou nao
de
comentarios.
51
8/19/2019 Recuero (2012)
48/60
atores envolvidos precisam de
mais envolvimento para
relacionar
as
mensagens com
seus pares e compreender o
sequenciamento das mesmas. A conversac;:ao assincrona,
em bora
i
gualment
e
com
um na CMC
tem s
ido menos
ado
tad
a
como
objeto de estudo
do
que a sfncrona.
A
conversas:ao mediada por
computador
em
sua
forma sfncrona e
geralmente, mais
associada
com
a conversac;:ao oral vide, por exemplo, o
trabalho
de Ko
2 6
enquanto a
modalidade assfncrona normalmente
relacionada pelos estud
ioso
s a forma
escrita por
exernplo, Herring,
2001). Herring 2010), entretanto,
expl ica que isso parece acontccer porque enquanto a
co
nv
ersac;:ao sfncrona exige uma ac;:ao
mais dinamica
na
elaborac;:ao e
envio
das mensagens, na
assfncrona
h um
tempo
maior para
revisar,
editar
e
ate
rn
es
rno, a
pagar
aqui la que
foi
dito. A a utora
sa
lic
nt
a, entretanto, que as
formas assfncronas de
conversac;:ao
sao par
isso,
ainda
mais interessa ntes c
dcsafiadoras
ern seu estudo, pois sao
conversac;:oes onde a
hibridiza
c;:ao entre a linguagem oral
e escrita parece ser
mais
co mp lexa e mais diferenciada.
Reid
1991), em
seu
trabalho
sabre
o
TRC
11
,
apontou que a comunicac;:ao
mediada
pelo computador
pode ser
compreendida
como sfncrona
ou
assfncro
na
a
partir
de s
ua
s
ferrarnentas. As
ferramentas sincronas
seriarn
aq
ue las que permitem uma expectativa de res-
pasta im
edia ta ou, em uma mesma identidade
temporal,
como
as
sa
l
as
de
chat.
Seriam
ferramentas
que
sirnu-
l
ariam uma troca de
informac;:oes
de forma se
melhante
1 1
Internet
Re
l
ay
Cha
t:
Protocolo de chat
muito
popul
ar
no inicio da
decada de 90.
52
8/19/2019 Recuero (2012)
49/60
a
uma
interac;ao face a face. Ja
nas ferramentas
assin
cronas, a expectativa
de respos
ta nao e imediata, mas
alargada
no
tempo
. Essas
seriam ferramentas
como o
e-mail e
os
f6runs
da
Web.
No
entanto, o conceito de sincronia e ass incron ia
e urn tanto quanta limitado. Por exemplo, quando
pensamos na
conversac;ao como pratica, ve-se claramen
te
que,
embora
o e-mail seja tradicionalm
ente apontado
pelos auto res como urn meio assincrono, ele pode
ad
quirir
caracteristicas sincronas
em seu
uso diario. lmaginemos,
por exemplo,
que
urn individuo A envia urn e-mail a urn
indivfduo 8, que imediatamente responde. Percebendo
que
8
esta
online, A
passa
a respond
er
im
ediatame
nte,
dando prosseguimento ao dialogo. Neste caso, o e-mail
passa a
ser
uma
ferramenta
sincrona. Murphy
Co ll
ins
(1999) e
Ko
(1996)
tamb
em
fazem considerac;ao seme
Top Related