Post on 06-Aug-2020
SERVIÇO SOCIAL na
área de EDUCAÇÃO
Perspectivas e Desafios
ELIZASIMONE@GMAIL.COM
Simone Lessa, assistente social do Instituto de
Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – Cap/UERJ
Tema contemporâneo pulsante:
• Educação: solução para todos os problemas ?
• Espaço ocupacional em expansão (não somente para o assistente social)
• Efetivação complexa como política pública: precarização
Para pensarmos na política educacional, é preciso que compreendamos bem o conceito de política social. Partimos da ideia básica de que as políticas sociais são contradição em
essência, expressão dos conflitos entre
capital e trabalho.
Políticas educacionais são contraditórias: respondem às necessidades da acumulação, no
sentido da reprodução ideológica da força de trabalho e da elevação de patamares produtivos, mas também podem responder às necessidades
dos trabalhadores no sentido do domínio da ciência, da compreensão do mundo e do
desenvolvimento tecnológico.
Para pensarmos nas Políticas Educacionais
• Precisamos compreendê-las historicamente, articulando-as ao mundo contemporâneo.
Para isso são necessárias mediações...
Mediações
• Diversas mediações precisam ser consideradas:
nossa inserção na economia mundializada,
nosso modelo de produção de Ciência, a
dinâmica interna do país, os interesses
conflituosos entre capital e trabalho, as
relações entre o Estado e a Sociedade
brasileira, as pressões dos trabalhadores e da
burguesia...
Pensar a educação na dinâmica internacional
• Este quadro guarda relação com as prescrições dos organismos internacionais para países
periféricos.
• Elevação dos níveis de escolaridade (à despeito da qualidade), a valorização das formações profissionais de nível básico, aligeiradas e determinadas pelo mercado de trabalho, as recomendações quanto à educação de mulheres
• Consideremos, ainda, as orientações no âmbito do combate ou minimização da pobreza
Pensar a educação na dinâmica nacional
• Qual o projeto de crescimento/desenvolvimento em voga?
• Qual o “lugar” dedicado EFETIVAMENTE (para além dos discursos) à Educação como política pública?
• O que a burguesia nacional espera da política educacional ? E os trabalhadores, o que esperam ?
Por isso, no trabalho do assistente social
• Todas estas reflexões precisam ser consideradas quando pensamos nas políticas educacionais e no trabalho do Assistente Social neste âmbito.
• Este não pode estar resumido ao fazer profissional imediato, sem considerarmos o contexto complexo onde este se gesta.
Por isso, é preciso...
• Que fujamos das análises românticas, que idealizam as funções da Educação
• Que não identifiquemos a Educação como “a” saída para os problemas nacionais (perspectiva Educacionista/Kropotkin)
• Que pesquisemos a área
Mudanças recentes: Brasil
• Em processo de ampliação e popularização da Educação
• Regularidade
• Espaço para a chamada “inclusão”
• Interfaces diversas com outras políticas sociais (saúde, trabalho, por exemplo)
• Abordagem da pobreza absoluta (vide PBF)
• Vinculada ao conceito de cidadania
Elementos históricos: sociedade burguesa contemporânea demanda
(educação não pode ser “descartada”)
• Ampliação dos processos de letramento e de profissionalização
• Inserção/integração ao modo de produção ascendente
• Respostas às demandas de organismos internacionais de financiamento
Mundo do trabalho demanda
• Comportamentos adequados ao trabalho desprotegido
• Disciplinamento/convívio coletivo
• “Empreendedorismo”
• Educação atitudinal
A “formação interessada” (Gramsci) se fortalece
•A escola e a formação,
portanto, mostram-se
adequadas às necessidades do
mundo burguês, inclusive no
sentido da perpetuação da
desigualdade presente no
espaço extra-escolar.
Capitalismo marca a Educação
•A Educação é atravessada pela dinâmica de classe;
•A escola é uma instituição de forte viés classista, ainda que, contraditoriamente, possa ser também espaço de resistência
Educação na atualidade: projetos em conflito
• Projeto burguês: formação estritamente para o trabalho (massa trabalhadora): interessada, alienada, conciliadora, produtivista, positivista
• Projeto dos trabalhadores: formação científica, desinteressada, ampla, complexa, capaz de dialogar com o conhecimento acumulado, crítica, integral, humanista, cidadã, protetora, não discriminadora
Que projeto de educação tem prevalecido?
• A formação tem sido limitada pelo
projeto de educação das atitudes,
ficando restrita ao domínio de
conhecimentos muito básicos para o
convívio numa sociedade que
naturaliza as diferenças.
• A “escola improdutiva” (FRIGOTTO,
1993), frágil, superficial, atitudinal, é
produtiva para o capital (nas periferias).
Vejamos projetos em curso...
• Amigos da Escola e afins
• Reuni
• Prouni
• Pronatec
• Parcerias público-privado no âmbito municipal
• EAD
• Privatizações tradicionais ou veladas (uso de recursos públicos na rede privada)
• “ONGUIZAÇÃO” da educação: descontinuidade de projetos
Vejamos alguns números....
• 16,2 milhões vivem em extrema pobreza (70 reais/mês): como aprender assim ?
• Analfabetos funcionais: 20,3% dos brasileiros (PNAD, 2009)
• 9,7% é nossa taxa oficial de analfabetismo
• PISA (Programa Internacional de avaliação de alunos): de 65 países ficamos em 53 em ciências e 57 em matemática
• Oitava economia do mundo e 73º no ranking de IDH (longevidade, educação e renda)
Vejamos alguns números....
• IDEducacional /Unesco (nível mundial) Brasil está em 88º
• Brasil: reconhecido internacionalmente por pagar mal seus educadores e por sua péssima infra-estrutura escolar
Algumas respostas contemporâneas por parte do Estado...
• Investimento em avaliação e não na qualidade do processo formativo
• Produtivismo: premiar por resultados nas avaliações
• Ações de voluntariado
• Parcerias público-privado (Pronatec)
• Ações Emergenciais (Brasil Alfabetizado)
Resistência dos trabalhadores
• Educação no MST/Escola Florestan Fernandes
• Lutas e efetivação de escolas públicas democráticas, acessíveis e de qualidade
• Projetos de Educação Popular
• Luta sindical (apesar de fragilidades)
As políticas educacionais são instrumentos suficientes de enfrentamento da “questão social”
?
• A questão social, em suas diferentes
expressões, tem estado presente no espaço
educacional e tem sido objeto de ações neste
campo ao longo da história. Este quadro não é
novo
• Vejamos as obras como “Maquinaria e Grande
Indústria” (Marx), ou compêndios sobre
História da Educação (Manacorda) ou sobre
História da Educação Profissional (Manfredi,
Cunha).
QUESTÃO SOCIAL e EDUCAÇÃO:
vínculo histórico
• O espaço educacional, portanto, sempre foi
utilizado na intenção
enfrentamento/minimização das sequelas da
“questão social”, em especial aquelas
relacionadas à pobreza.
• Este dado pode ser verificado em ações que
aliam práticas assistenciais ao espaço
educacional, ou mesmo na proposição legal
(vide a LDB, o ECA, a LOAS e Programas como
o Bolsa Família, o Família Carioca e afins).
Serviço Social da Educação
• Experiências no Sistema “S” na década de 1950 (trabalho do “menor”);
• Ações na Educação Popular
• Aproximação intensificada na década de 1990, com o advento de políticas que associam transferência de recursos à condicionalidade educacional
O trabalho do AS no espaço educacional hoje
• Precisamos encarar:
• Que a expansão educacional tem sido feita de modo descuidado e utilitarista;
• Que as ações compensatórias têm minimizado a
importância da formação;
• Que a Educação não é um “fetiche”;
• Que não temos todas as respostas para os reflexos da questão social na escola;
• Que o campo educacional não deve comportar emergencialismos;
Uma educação de qualidade supõe que os processos formativos recebam suporte
muito além da sala de aula
• Ninguém aprende somente na sala de aula
• Estudo é igual a Trabalho (Gramsci), demanda investimento longo e cuidadoso
• A aprendizagem é resultado, também, das condições de vida
• Estímulo vai muito além do espaço da escola
Demandas para a Educação
• Financiamento: 10% do PIB
• Melhoria de salários e equipamentos
• Controle social
• Participação intensa das famílias e dos estudantes nos ambientes de formação
Demandas para a escola (que se refletem no Serviço
Social) • Acolhimento (crianças/adolescentes e famílias)
• Qualidade
• Abertura e diálogo com a família e a comunidade
• Melhor organização da rede de apoio escolar
• Controle social
É preciso fundamentar teoricamente a prática
• É preciso conhecer o debate em torno da Educação brasileira
• A inserção do assistente social no campo educacional deve se concretizar indo além das demandas da instituição (em geral restritas ao controle dos “alunos problema”)
• Estimular um olhar mais totalizante em torno das expressões “questão social” no ambiente escolar: desvelar a complexidade do conceito “família/aluno” problema
Possibilidades...
• Projetos em torno das expressões da questão social no interior da escola são importantes;
• Articulação de recursos na organização de uma retaguarda de apoio aos processos educacionais;
• Ações no sentido de favorecer o espaço democrático e a aproximação família-escola (inclusive na gestão escolar);
• Organização de atividades de caráter multiprofissional
Desafios em um Colégio de Aplicação
• Público: pseudo-diversidade
• Questões que afligem as camadas médias urbanas na educação de seus filhos (não necessariamente relacionadas à destituição econômica)
• Tensão: “escola contra família e família contra a escola”
• Organização de um Programa de Bolsas (auxílio/inclusão/inserção)
• Desenvolvimento de Projetos (temas transversais, direitos humanos)
• Ampliação do olhar em torno das expressões da “questão social”
Serviço Social nos CAPs: experiência em
construção • UFMA
• UFJF
• UF Viçosa
• USP
• UFRJ
•Outras: IFETs
Educação
• A democratização do acesso à escola é fundamental e necessária, mas não retira do abandono, por si só, longas faixas populacionais condenadas à não existência;
Pertinência da poesia de Brecht
• Como pode não ser um embusteiro aquele que
Ensina os famintos outras coisas Que não a maneira de abolir a fome ?
Referências Básicas...
• FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. São Pulo: Cortez, 2003
• FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. SP, Cortez, 1993
• ___________. Juventude, trabalho e educação no Brasil. Perplexidades, desafios e perspectivas. IN, NOVAES, Regina. Juventude e Sociedade, trabalho cultura e participação. São Paulo, Ed Perseu Abramo, 2004
• MANFREDI, Silvia. Educação Profissional no Brasil. SP, Cortez, 2003
• MANACORDA, Mario A. História da Educação. SP, Cortez, 2000
• MARX, Karl. O capital, volumes I e III. Coleção os economistas, SP, Nova Cultural, 1987
• MÉSZÁROS, Istvan. Educação Para além do capital. Boitempo; Campinas (SP): 2002.